quinta-feira, 26 de julho de 2012

Estou voltando para casa

Ontem foi o primeiro dia após muitos que eu dormi numa cama de verdade, com pés, cabeceira e estrado. Em março começou uma grande reforma no meu apartamento e o meu irmão me emprestou o apartamento dele para a família trololó morar durante as obras. Fiquei com vergonha de falar a verdade - a previsão eram três ou quatro meses - e menti: disse que durariam dois meses. Está completanto o quinto e não acabou.

Já estava constrangido de ficar usufruindo de um favor tão longo e impagável. Hoje em dia é difícil encontrar quem faça isto pelos outros. A raridade provocou um certo constrangimento e a sensação de privilégio imerecido. Terá a minha eterna gratidão.

No início de junho ele mandou um e-mail que perguntava quando iria terminar o empreendimento. Conversei com a Luiza e Luiza conversou com o pedreiro. Mais duas semanas.e tudo estaria pronto. Marquei a devolução do apartamento no dia 22 de julho, domingo. As duas semanas a mais não foram suficientes, mas decidimos não mudar os planos. Há algo de curioso nas reformas domésticas: elas não acabam nunca; em algum momento desistimos e encerramos os trabalhos.

Na sexta, 20 de julho, iniciamos o processo de arrumar o apartamento do André e fazer a nossa volta. Mariah se recuperava de uma gripe que transmitiu para a Luiza que transmitiu para mim e para a minha sogra. O final de semana foi caótico e conturbado.O reparo do aquecedor do apartamento do meu irmão só foi concluído na segunda, quando ele já estava morando. Ainda tenho algumas pequenas pendências para resolver no imóvel dele, porém o mais urgente era proporcionar um banho quente.

No meio da bagunça conseguimos montar a cama da sogra no domingo. Luiza e Mariah dormiram num colchão inflável de casal que nós compramos há alguns meses. Eu dormi em um colchonete. Na verdade, de tão finos, eram dois, um em cima do outro e mesmo desta forma não ajudava em nada, era praticamente dormir no chão. Como eu durmo parte do sono de lado (gordo vive mudando de posição), o quadril está dolorido até agora. Por isso ontem a nossa meta de era limpar e montar a nossa cama ainda quando eu chegasse do trabalho. A meta de hoje é voltar com TV a cabo, telefone e Internet.

Fazer pós-graduação, cuidar de uma idosa e uma criança de quatro anos e meio e ainda fazer uma obra no apartamento estressa qualquer um. Eu tenho consciência que fiz tudo e não fiz nada bem feito. O possível é cúmplice do que não é proposital. Eu também tenho certeza que sobrecarreguei a Luiza em quase todos os momentos. Ela realmente é muito especial.

sábado, 21 de julho de 2012

Quarentão junior

Adoro ouvir a coluna do Max na CBN. Normalmente eu acompanho no site da rádio, porém é muito melhor ouvir dirigindo, no estressante fluxo do caos que são as vias brasileiras.Um dia um ouvinte mandou um e-mail dizendo que queria mudar "radicalmente" de profissão. Queria começar do zero.

Max afirmou que provavelmente ele estava por volta dos 40. Fiquei bolado e achei no primeiro momento algo muito preconceituoso.

Sábio Max, vários amigos meus estão nesta situação e por volta dos quarenta. Professores querendo algo mais artístico - e mais distante dos alunos-, psicólogos desejando ser inspetores de soldagem (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e por aí vai.

Existe um grupo que está cansado do tipo de trabalho e decepcionado com o retorno que a sociedade dá aos seus esforços. Estes eu tenho muita, mas muita pena. O outro grupo eu não tenho pena nenhuma. São pessoas que escolheram os cursos e carreiras sabendo que seria muito difícil se sustentar e ainda por cima estudaram em escolas fraquíssimas, sem nenhum valor para o mercado. Foi tudo consciente. Achavam-se mais espertos ou especiais a ponto de seu destino profissional ser totalmente diferente da média. Apostaram alto, em uma roleta viciada e, ao perderem até as roupas íntimas, declaram-se "decepcionados com a profissão".

Um dia o meu grande amigo Ailton Arruda suspirou diante de uma situação: "Tem gente que só aprende quando fica velho e se descobre sozinho... As vezes todo mundo abandona o velho e pensa que os amigos e parentes são safados. As vezes quem foi safado a vida toda foi o velho". Seguindo a lógica Arrudiana, o fracasso profissional pode não ter sido causado por azar, recessão, crueldade do mercado ou qualquer outro fator externo. O fracasso pode ter começado e se desenvolvido internamente, materializado nas nossas escolhas.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Gabriela tem um pé na TV Manchete

Eu vejo Gabriela e não consigo não lembrar das novelas da TV Manchete. A estética está toda lá, principalmente nas cenas de sexo e nudez. Como pode uma emissora de vida tão curta influenciar até hoje a história da teledramaturgia brasileira? Por que a Manchete conseguiu o nível que qualidade global tão rápido e precocemente?

Para esta segunda pergunta eu tenho uma teoria. Em primeiro lugar a Manchete foi criada do nada. A Bloch era um sólido grupo de mídia impressa e rádios que ganhou algumas concessões de canais de TV. Se ela começou do nada, todos os equipamentos eram novos, enquanto as concorrentes da época (Bandeirantes de SBT, que eu acho que na época se chamava TVS) possuiam equipamento em uso. Tudo novinho, calibrado e com garantia de fábrica, da câmera ao transmissor. Isto garantiu a qualidade da imagem e explica parte do fenômeno.

A outra parte é meramente econômica. Ao contrário das concorrentes Paulistas, a Manchete era Carioca e seus estúdios ficavam em Parada de Lucas e na Glória. E esta é a chave do cofre: por um custo muito baixo, tipo 20% a mais de salário, a Manchete conseguia levar fácil parte do corpo técnico que trabalhava na Globo. Ela absorveu toda a tecnologia que a Globo levou anos para formar e que estava no capital intelectual, isto é, na cabecinha do figurinista, do operador de áudio, do eletricista, do iluminador, do câmera e demais técnicos. Esta gente normalmente ganha pouco e 20% a mais faz toda a diferença.

Agora pense: por 20% a mais você sairia do Rio de Janeiro para ir para São Paulo? Teria que alugar apartamento, mudança, trocar escola do filho, conjuge pedindo demissão... A fonte técnica do povo da Bandeirantes e SBT era o conhecimento aprendido dentro da própria emissora e talvez um pouco da indústria cinematográfica. Só que deste jeito eles jamais absorviam a tecnologia da Globo.

O resultado é que em pouco tempo a Venus Platinada ficou realmente preocupada com as novelas da Manchete (principalmente Pantanal, linda e inovadora ) e absorveu parte da sua estética.

É a criatura ensinando o criador.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Pipoqueiro e Héstia

"Todo amor é eterno. Se não era eterno, não era amor"
 (Nelson Rodrigues)


Eu lembro ao certo quando conheci a deusa Héstia. Só não sei se foi em 1996 e 1997, quando caí na turma dela no IBEU de Madureira pois o curso que eu fazia na Cultura Inglesa acabara após seis períodos e eu queria continuar os estudos. Um dia trocamos telefones, eu, ela, e mais alguns alunos, mas não com segundas intenções, e Héstia junto com o número escreveu um convidativo "Me liga". Era inocente. Deve ter escrito para todos.

Posso ligar para ti?



Algum tempo depois eu liguei. Não sei se eu estava trabalhando no turno da noite ou se foi em casa.. Era uma fase que eu estava muito infeliz. Chorava horrores, tinha uma angústia tremenda. A psicoterapia também não deveria estar num momento bom. É difícil precisar uma dor local de quinze anos atrás, princpalmente quando a gente hoje está bem e feliz, é passado, até a posição exata das cicatrizes são controversas.



Menino chrão

Héstia me acolheu pelo telefone, A deusa foi o meu doce e caloroso colo virtual. Acho que conversamos por quase três horas, até as duas da manhã. A orelha, avermelhada, fervia do contato com o telefone tão longo. Eu precisava daquela acolhida; eu me sentia muito rejeitado e carente e Héstia me fazia sentir bem.


Héstia passou no vestibular e entrou na faculdade. Mesmo as aulas de inglês sendo aos sábados e tendo bolsa integral acabou desistindo. Mantive contato pelo telefone e chamei-a para almoçar. Estava me apaixonando pela deusa. Um dia ela aceitou, depois de muita relutância. Foi apenas um almço de dezenas que se seguiram, porém me descobri louco por Héstia que trocou um namoro com uma pessoa que só falava mal por um insosso bem mais velho que ela.. Na minha ética eu jamais poderia tentar namorar com uma mulher que estivesse namorando. Seria violar o Décimo Mandamento, mesmo que "o próximo" seja sem sal e não tão próximo.

Quer alguém com mais tempero?


Fiquei em stand by, esperei por anos a minha vez, isto é, ela terminar o namoro e ficar sem ninguém para eu tentar namorá-la. Na verdade, neste meio tempo até me interessei por uma amiga de faculdade, porém felizmente levei toco.

Doeu, mas no final foi o melhor para mim


E o tempo escorria, caindo dos braços para as mãos e das mãos para o ralo, só que Héstia não ficava sem ninguém: durante um periodo de muda que durou algumas semanas ela ficou com os dois; traindo o anterior com o novo. Isto foi antes de me conhecer. Parecia aqueles pedreiros muito requisitados que antes de terminar a obra na sua casa está iniciando a obra na casa do próximo cliente. O décimo mandamento foi criado para torturar os amantes.

No meio de 1999 eu conheci a Luiza, começamos a namorar e Héstia foi naturalmente perdendo espaço e aqueles inesquecíveis almoços foram ficando mais raros. Ciúme compreensível da Luiza, mas nunca trocamos um mísero beijinho. Não que eu não tivesse muita vontade. Como pano de fundo uma amizade que eu, ingênuo, julgava sólida e eterna, danado foi o Karl Marx que disse tudo que é sólido desmancha no ar.

As vezes acho que Héstia também estava gostando de mim. Se sim, nunca saberei ao certo. A vaidade me coça as costas e deixa sedento por tirar a dúvida. Mas a resposta negativa eu já tenho e a positiva hoje é inútil. E ontem também pois eu jamais seria o pedreiro muito requisitado do coração dela. Sou muito rigoroso em certas situações, mesmo que no curto prazo me prejudique. No longo prazo Deus abençoa e compensa.

This is the question


Considere também que quando o assunto é namoro eu sou um pipoqueiro com doutorado. A grande questão deste post, no entanto, não é a minha letargia e procrastinação; é a eterna dúvida de se é possivel existir uma amizade totalmente desinteressada entre um homem e uma mulher. Eu, sinceramente, me iludia e afirmava que sim. O ser humano é apimentado pelos interesses.

Relutante e inseguro


Em 02-12-2000 as montanhas de Nova Friburgo notaram a cara emburrada de Héstia na minha festa de casamento. Pode ser impressão minha. A deusa se formou e terminou o noivado insosso logo depois. A minha vez tinha chegado e era tarde.

O trem passou. Chegaste tarde.


Héstia voltou para o ex-noivo e terminou rapidamente. Acabou se casando com um médico no final de 2004 ou 2005, no último evento que eu a vi. O anterior foi a minha festa de aniversário que eu fiz no meu apartamento, também em 2004. Depois disso trocamos e-mails cada vez mais escassos e eu, como bom fofoqueiro, acompanhei a vida dela platonicamente no Orkut e depois no Facebook.

Desmanchou no ar como tudo que é sólido. A dor da perda foi terrível e durou anos. Contabilize mágoas, pois foi uma pessoa que eu só fiz o bem. Hoje eu aceito e até entendo que amizades não foram feitas para serem eternas.

Não sei se eu tivesse namorado com Héstia eu seria feliz. É difícil de avaliar. Acho que seria uma relação difícil, mas já pensei que ela fosse a tal mulher da minha vida. Escrever isto foi uma purga na alma, mas é tudo passado. Contudo se eu voltasse 15 anos no tempo, que se dane o décimo mandamento,  tascava-lhe um beijão.

Não dá para voltar no tempo.



terça-feira, 10 de julho de 2012

Dom Eugênio e a administração de problemas

Quem olha por fora pensa que é uma coisa só, homogênea, mas a Igreja Católica, por dentro, é bem segmentada. Existem Salesianos, Franciscanos, Carmelitas descalças, Jesuítas, Opus Dei. No fundo são diversas correntes unidas por uma doutrina maior única.

A obra de dom Eugênio Sales é uma bússola para perceber estas diferentes correntes e até estudar um pouco administração brasileira. Durante o governo militar uma parte da Igreja Católica no Brasil optou por gritar e se posicionar contra o sistema. A outra parte escolheu uma ação mais discreta. Eugênio ficou no segundo grupo e foi odiado pela esquerda.

É importante lembrar que a atuação política não é exclusividade dos sacerdotes católicos. O rabino Henry Sobel abraçou o grito e não deixou que Wladmir Herzog fosse sepultado na ala dos suicidas, conforme manda a Lei Judaica. O recado de Sobel foi: "Ninguém é otário por aqui; todo mundo sabe que ele foi torturado até a morte". Evidentemente que no Brasil ele será lembrado pelo resto da vida pelo episódio das gravatas e não por uma luta incansável pela justiça e pela dignidade humana.

Pastor evangélico lutando contra a ditadura eu não lembro de nenhum. Naquela época o slogan deles era "crente não se mete com política" e o atual é "irmão vota em irmão".

Eugênio cultivava bons relacionamentos com militares e empresários, com destaque para a longa amizade com a família Marinho cuja Santa Missa em Seu Lar talvez seja o maior símbolo. E a esquerda produzia bile. Anos depois descobrimos que Eugênio ajudou dezenas de refugiados políticos que chegavam ao Rio de Janeiro figindo das outras ditaduras que se espalhavam pelo continente, principalmente da Argentina.

O método eugeniano de administrar o problema salvou vidas, mas não ajudou a derrubar o sistema. Sua discrição e coragem evitou muitas mortes e constriu pontes, mas não derrubou a fortaleza.  Não estou totalmente certo que o outro método, o do grito, realmente contribuiu para o fim do período militar. Na verdade, estou crendo que quem realmente disparou os canhões contra a muralha foram os dois Choques do Petróleo e o Paul Volcker, que transferiu a conta salgada dos EUA para a América Latina.

Que Deus receba dom Eugênio na sua Santa Paz.

domingo, 8 de julho de 2012

Um cabra sortudo

No final da tarde de sábado o aquecedor de água para de funcionar e na madrugada de domingo chega uma frente fria.



Quinze graus Celsius na Praca Xavier de Brito às 22h.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Brava barba

Se existe uma coisa que me fazia morrer de vergonha era encontrar alguém que eu não via há muito tempo com a minha barba por fazer. Por outro lado, eu sempre fui muito prequiçoso para isto e a minha pele é muito fina, quase sempre me corto. Um dia o meu rosto ficou com uma ferida que não curava e eu deixei a barba crescer, esperando a cicatrização. E a barba crescendo, crescendo, toda branca, quase um Papai Noel.


Decidi ir a uma barbearia na esperança de um profissional não me cortar, mas sangrou justamente onde estava quase cicatrizando. Fiquei numa sinuca de bico. Aí eu decidi comprar um barbeador elétrico Mallory para ir me virando até a ferida curar. E não é que eu gostei? Estou fazendo a barba praticamente todo o dia. Aos 40 anos descobri que fazer a barba é uma questão de hábito.


Sábado passado, 29-06-2012, foi a festa de um ano da Anna Luiza, filha da Sandra e do Sérgio. Não estou um pedaço de mau caminho, como diria a minha mãe?





Só não sei se vou encontrar lâminas novas para comprar quando as em uso ficarem cegas. Ô mundo descartável.