quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Cabeça de Turco - comentários

Um dia, após um cineminha, bem antes da Mariah nascer, eu e a Luiza fomos a uma livraria que ficava em frente. Um livro exposto me chamou a atenção, mas eu não comprei: "Cabeça de Turco". Ele entrou na fila dos livros que eu um dia leria, junto com "Baile de Máscaras" e 'Miséria à Americana". Adoro mundo-cão.

Ao voltar de férias eu achei o "Cabeça de Turco" num sebo e comprei por R$ 10,00. Um bom negócio, a despeito do estado meio nojento do exemplar. Não considere as letras seguintes como uma resenha. São apressadas reflexões antes que eu esqueça o conteúdo.

Depois de tanto tempo a seco, preciso lubrificar o estilo e peço um pouco de tolerância neste aspecto.

Alemanha.
1983.

Depois de anos de prosperidade, a nação enfrenta uma forte recessão e desemprego. Nos anos de bonança, milhares de imigrantes chegam em busca de trabalho. A maioria turcos pois o país enfrenta uma forte ditadura. O turco é o latino dos Norte Americanos e ou boliviano das confecções clandestinas de São Paulo. É a mão-de-obra barata, em muitos casos escrava, longe dos seus vínculos e perto das humilhações e preconceitos.

Neste cenário Günter Wallraff escreve "Ganz unten" ("Cabeça de Turco", da Editora Globo). Wallkaff se disfarça de turco e passa dois anos vivendo como tal no melhor estilo de jornalismo investigativo. Trabalha de caseiro numa fazenda, funcionário do McDonalds e cobaia humana da indústria farmacêutica. Mas o que recebe maior atenção na obra foi a experiência como trabalhador terceirizado numa siderúrgica.

Como (quase) todo livro-denúncia, a obra é chata de ler, ousaria dizer que é mal escrita. Ou mal traduzida. O contexto parece ser bem distante do nosso, mas o tema não. Eu lia e não parava de pensar nos mexicanos e bolivianos, embora os turcos possuam uma maior distância cultural dos alemães que os mexicanos dos norte americanos. A idade da obra incomoda pela atualidade do relato, pela insensibilidade dos que estão com o poder e com o dinheiro. É quase uma psicopatia.

Paralelamente a isto, o autor ainda nos pincela com a saudade de alguns alemães do nazismo e dos seus símbolos humanos Hitler e Mengele.

Repare que a Editora Globo foi cordial: não só mudou o título do livro como alterou a capa, talvez para preservar a siderúrgica alemã dos que não lerão o livro. Compare:

Capa original alemã: na cabeça imunda de Wallraff um capacete com um símbolo bem familiar. Ao fundo, a fumaça da siderúrgica.
Primeira versão da Editora Globo: aumentaram o contraste e a sujeira no rosto não é mais tão evidente. Somem o capacete com a logomarca e a siderúrgia ao fundo.

Versão atual do livro. Wallraff sai de cena.


2 comentários:

  1. voces conhecem algum site em que possa ler este livro ou fazer download?

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    1. Acho que ainda tem novo para comprar. Se não achar, certamente a Estante Virtual tem um exemplar usado em bom estado para vender.

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