quarta-feira, 30 de outubro de 2013

As festas

Semana passada recebi dois convites. O primeiro foi do casamento de um amigo que eu não convivo há 23 anos eu irei com a maior alegria e comoção.

O segundo foi de uma festa paga. O convite para os homens sai por 120 reais e para as mulheres custa 90 reais. O preço para quem é homem é 33,3% mais caro.

Vamos relembrar duas coisas que eu já escrevi por aqui.

(a) O machismo só incomoda quando as mulheres estão na desvantagem, quando as mulheres estão levando alguma vantagem este machismo é imperceptível ou aceito com regozijo.

(a.1) Mulher não diz que é machismo serviço militar obrigatório só para homens.
(a.2) Mulher não diz que é machismo poder entrar de vestido colado-de-baile-funk-toda-hora-quase-aparecendo-a-calcinha numa empresa que não deixa homens trabalharem de bermuda.
(a.3) Mulher não diz que é machismo se aposentar 5 anos antes tendo estatísticamente uma expectativa de vida maior.

(b) Se uma pessoa ou um grupo está levando uma vantagem, alguma pessoa ou grupo está pagando por este benefício.

Me passei por bobo e andei perguntando o motivo desta difença de mais de 33%. Recebi sempre a mesma resposta: as mulheres comem e bebem menos.

Uma festa grande é formada diversos custos: o aluguel do espaço e das mesas, o pagamento da decoração, a contratação de garçons, DJ e demais trabalhadores entre outros. Será que o custo da comida e da bebida representam tanto a ponto de comer e beber um pouco menos representar uma redução nas despesas globais da festa em 33% ? Se for verdade, porque os homens que fizeram cirurgia bariátrica não recebem este desconto?


Não precisa nem dizer que na segunda festa eu não vou. Em silêncio, porque se eu questionar o desconto duvidarão da minha masculinidade, debocharão, me chamarão de anti-social e serei tripudiado. Hordas de mulheres ávidas por comer e beber pagando 33% menos que os homens tentarão me empalar!


É bom ser querido pelos amigos e é duro ser explorado pelas mulheres.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Jornada 6 - novos tempos

Avançando até meados de 2004, quando eu já nem me pesava mais, fui transferido de setor dentro da empresa, por ter sido promovido para engenheiro. Eu não me pesava há tempos. Acho que tangenciei os 140kg. A cirurgia bariátrica voltou a ser uma possibilidade real.

Ao comentar com o meu novo chefe, este deu-me de presente um livro desconhecido, de uma editora desconhecida, mas cheio de referências bibliográficas. Foi o primeiro contato com algo que tem fundamentação científica.

Um pouco depois apareceu um texto apócrifo traduzido do inglês que um colega de trabalho comentou e eu me interessei. O título da tradução não-oficial era: "E se tudo fosse uma grande e gorda mentira?" ("What if it's a all been a big fat lie?"), mas não dei importância ao artigo. Era revolucionário demais, apócrifo demais e o escritor era desconhecido demais. O mundo dá voltas. Mas o foco do artigo não era fornecer um procedimento para emagrecer, mas inocentar o dr. Atikins, a gordura, satanizar o carboidrato e dizer que os fatos mostravam que os médicos e nutricionistas estavam errados, motivo pelo qual a obesidade virou uma epidemia ocidental e as dietas fracassam para a maioria das pessoas. O bom é que pelo menos alguém apareceu para dizer que a culpa não era minha.


O livro era bem argumentado e livros estão em um patamar muito superior a um texto de tradução desconhecida. Hoje eu sei que a obra não tinha nada de novo, pareceu por ser o meu primeiro contato com o baixo carboidrato e eu procurei seguir o método. Funcionou. Perdi mais de 10 quilos. Fui finalmente iniciado no conceito de índice glicêmico, que ficou famoso, se não me engano com a Dieta de South Beach.



Fiquei naquela faixa de 123kg e me sentia feliz. Depois de um tempo a dieta parou de funcionar provavelmente por culpa ou falta de compreensão minha e eu fui levando a vida, estava feliz, até que, anos depois, quando a Mariah nasceu e eu passei a carregar peso com mais frequência, uma dor na perna surgiu. Queria acreditar que fosse o nervo ciático, mas meu sexto sentido me dizia que era uma hérnia.

Um dia a psicóloga da escola da Mariah aconselhou-a a levá-la em um ortopedista, com suspeita dela ter uma displasia na bacia e eu aproveitei e me consultei também. Hérnia. Sem conseguir emagrecer e sentindo dores ao andar ou mesmo ficar em pé por longos períodos, a cirurgia bariátrica voltou a ser uma opção real e prática. Andar por longos períodos, única atividade física que eu praticava e me dava prazer, foi inviabilizado pela dor. Iniciei então os procedimentos para operar. Estamos no segundo semestre de 2010.

O próximo capítulo é o último. Prometo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Status assimétrico

Os últimos dias os jornais estão dando bastante atenção à questão das biografias. O que vale mais: o direito à liberdade de expressão ou à privacidade?

No meio do embate de palavras, o Chico Buarque desmentiu no jornal O Globo o escritor Paulo Cesar de Araújo, autor da biografia "Roberto Carlos em detalhes", afirmando que nunca lhe concedeu uma entrevista. A sorte é que Araújo é uma pessoa organizada e mostrou não apenas fotos, mas um inquestionável vídeo com mais de 20 anos de idade. Sim, a entrevista ocorreu em 1992 e quem mentiu, traído pelo esquecimento, foi o Chico Buarque.

Bem aventurado o homem que guarda suas entrevistas em vídeo por toda a eternidade, pois eles herdarão a justiça e a verdade!

Se Araújo não tivesse estes arquivos impecáveis quem levaria a fama de mentiroso seria ele, de acordo com a minha Tese do Status Assimétrico.

Eu explico. Vamos viajar um pouco...
Imagine que você comprou um carro zero quilômetro. Você foi cuidadoso e o carro, embora com cinco anos de uso, está imaculado. Mas o carro está bem, pouco rodado, você fazia as manutenções com rigor, só usava gasolina de ótima qualidade e evitava ao máximo os buracos. Chegou a hora de vendê-lo. Você acha que ele vale 20 mil reais tendo em vista o seu excelente estado, mas só encontra quem pague 14 mil reais. Por que? Simples, a teoria da Assimetria da Informação explica: você sabe tudo do seu carro, o potencial comprador nunca te viu na vida, pois foi atraído por um anúncio de jornal. Você tem muito mais informações que ele (daí o termo "assimetria") e ele, na dúvida e com todo o risco de comprar uma bomba, joga o preço para baixo. Se for um carro bom, o negócio foi fantástico. Se for um carro ruim, perdeu pouco. Os 6 mil reais de diferença está associado ao risco gerado pela informação assimétrica.

Voltando
Chico Buarque é uma figura famosa e querida. Ele escreveu músicas lindas e inesquecíveis além de bons livros. Critico costumaz da ditadura e homem íntegro de reputação imaculada, é amado por quase todos os brasileiros. Araújo é um pobre professor de história. Antes de "Roberto Carlos em detalhes", eu o conhecia pelo livro "Eu não sou cachorro, não - música popula cafona e ditadura militar", que foi baseado na sua dissertação de mestrado. E só.



Existe então uma diferença tremenda de status no coração dos brasileiros entre Chico Buarque e Araújo. Nesta situação, que eu chamo de "Status Assimétrico", a gente tende a acreditar em quem tem o melhor status. Por esta teoria, quem levaria a fama de mentiroso seria Araújo, embora quem estivesse de posse da verdade não fosse o Chico Buarque.

E como esta teoria me afeta?
Toda esta reflexão surgiu hoje, quando eu percebi uma situação comum. Imagine que você trabalha numa grande empresa e é um ótimo funcionário, só que onde você está não há oportunidades de crescimento. Você saudavelmente ambicioso se candidata a uma vaga dentro da própria empresa. Dos dez candidatos, você foi o selecionado junto com mais dois colegas de empresa. Ambos foram ótimos na análise curricular e na entrevista. O novo gerente está realmente indeciso.

Ele liga para o seu gerente para falar de você. O seu gerente, com medo de te perder te detona até o último minuto da conversa numa última tentativa de evitar a sua saída.

Você é um simples funcionário com 3 anos de empresa e o seu gerente um senhor com 20 anos de empresa, 10 dos quais como elogiado gerente. Quem o gerente dono da vaga ouviria?


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Quem paga a conta?

O sr. Luiz está com setenta anos de idade e ainda trabalha. Apesar de possuir carro, optou pelo metrô como meio de transporte entre a sua residência e o local de labuta. Suas viagens são gratuitas, visto que o Brasil concede este benefício aos idosos.

Seria uma história trivial de um idoso que não se aposentou se esta pessoa não fosse o doutor Luiz Barsi, um dos homens mais ricos do país, com mais de um bilhão de reais investidos na bolsa de valores.

"Eu podia comprar 10 Mercedes, uma de cada cor (..). Para trabalhar, venho todos os dias de metrô. É mais seguro."

Eu não sei de onde surgiu este conceito que idoso não deveria pagar pelo transporte público. Não faz o mínimo sentido, a não ser que o idoso seja pobre e precise de deslocar para  um médico. Neste caso o foco deveria ser a pobreza e não a idade do beneficiado. Operar um sistema de transporte por trilhos tem um custo. Eletricidade, manutenção, depreciação das máquinas, pessoal etc. Não existe transporte gratuito, se alguém não está pagando por um produto ou serviço, outra pessoa está pagando mais caro.

Nunca se esqueça disso: se alguém diz que consegue algo gratuitamente, uma pessoa está bancando este benefício; se alguém diz que "É meu direito" indague "contra quem?" pois, por lógica, um direito para uma pessoa está umbilicalmente ligado a um dever de uma outra pessoa. Os direitos adiquiridos e às gratuidades elevam a nossa carga tributária, não seja inocente.


As pessoas adoram reclamar que pagam muitos impostos, a despeito da maioria das que eu conheço em algum momento do dia cometem algum tipo de sonegação. Normalmente é coisa boba, como não pedir a nota fiscal no sacolão ou na loja de ferragens, mas diariamente ocorrem pequenas sonegações.

Estas pessoas que poluem a minha Internet de reclamações são incapazes de apresentar uma proposta concreta. Reclamam da corrupção mas não sabem como minizá-la. É uma conversa que não se sustenta por trinta segundos. Faça a experiência: quando alguém reclamar que se paga muito imposto o assunto vai quase invariavelmente cair no tema "corrupção". Se a resposta for esta, siga a conversa perguntando: como diminuir a corrupção. É divertido. É Poker Face.

Mesmo que toda a corrupção fosse extinta eu aposto que o brasileiro ainda iria pagar muitos impostos pelo simples fato que nós não sabermos administrar. Atire o primeiro porcelanato aquele que fez obra no apartamento e o serviço terminou no custo e no prazo inicialmente previsto.

O disperdício de recursos dos impostos incluem vários benefícios inúteis, que só encarecem a vida de quem não é beneficiado. É até um pouco revoltante imaginar que o camelô do centro velho de São Paulo que não tem carteira assinada e pega metrô banca o transporte gratuito de um homem com um patrimônio superior a um bilhão de reais. Mas no Brasil isto é normal, é justo, é ser socialmente responsável

Vejamos outros dois exemplos:

(1) Desconto de 50% no cinema. Até uma pessoa com um bom emprego e fazendo doutorado tem direito a entrar no cinema com 50% de desconto. Alguns cometem crimes usando carteiras de estudante falsas. O custo de um cliente estudante e um não-estudante é o mesmo: o aluguel do espaço no shopping, a eletricidade, a manutenção, o salário do pessoal e os direitos autorais não ficam 50% mais baratos se a platéia for completamente formada por estudantes. O custo será o mesmo. O resultado é que as operadoras de sala de cinema subiram os preços para compensar as perdas imposta pela lei. Quem paga é quem não tem carteira de estudante. O legislador atirou no lucro dos operadores de cinema e acertou no bolso dos não-estudantes.

(2)  Farmácia popular: claro que ninguém quer que as pessoas tenham um derrame devido à hipertensão arterial. Existe um argumento técnico que até faz sentido: o custo de um remédio de pressão é infinitamente menor que o custo de um derrame para o SUS. Faz sentido. O que não faz é alguém com um salário de 10 mil reais e plano de saúde privado ter direito a subsídio de medicamentos pago pelos mais pobres.

O problema é que a nossa demagogia tenta fazer todos iguais, quando na verdade precisamos otimizar os recursos financeiros. O remédio grátis tem que ser só para os mais pobres, comprovado com uma séria análise da renda do candidato.

Outro dia eu li que está rolando um projeto de lei em São Paulo que dá 50% de desconto para quem fez cirurgia de redução de estômago.Alguém pode me passar o telefone do doutor Barroso?



Para bilionário da Bovespa, qualquer um pode ficar rico com ações - InfoMoney
Veja mais em: http://www.infomoney.com.br/onde-investir/acoes/noticia/2778098/para-bilionario-bovespa-qualquer-pode-ficar-rico-com-acoes
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