segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Amigo oculto

Até ela nascer nós éramos desconhecidos. Um casal como qualquer outro que compra pão na padaria, vai ao supermercado, sai de carro no final de semana, caminha de mãos dadas na calçada e corre para atravessar a rua com o semáforo quase abrindo para os carros.

É bom ser normal e desconhecido e andar no meio da minha rua quase sem movimento, mas ela nasceu e nos deu o conceito de vizinhança, de comunidade. Na padaria todos conversam com ela e o vizinho de frente deu um bambolê de lembrança. Mariah, com a sua força incomparável, devolveu o sabor agradável de subúrbio que a Tijuca parecia ter perdido. Descobre-se então que outras pessoas queriam também sentir este sabor, interagir positivamente com os vizinhos e não só tolerá-los e fazer alguns deles amigos.

Luiza está promovendo uma brincadeira de "Amigo oculto" com os coleguinhas da escola e o sorteio será no nosso apartamento. As crianças estão ansiosas por brincar e conhecer a casa da Mariah. Não sei se vai dar tanta gente lá em casa. Vamos aproveitar para comemorar os nossos 11 anos de casados com os nossos amigos vizinhos.

domingo, 20 de novembro de 2011

Williamsburg

"1980: O seu computador pessoal era o seu cérebro"

"1954: você toleva a segregação nas escolas"

"1940: você não assistia TV"

"1920: você aceitava que as mulheres fossem proibidas de votar"

"1913: você não pagava imposto de renda e não recebia nenhuma seguridade social"

"1865: você conhecia pessoas que eram donas de outras pessoas"

"1820: você não podia viajar por terra mais que 70 milhas por dia"

"1800: quase tudo que você comia era colhido nas proximidades"

"1790: o seu jornal mais recente era de mais de uma semana atrás"

"1776: você estava sujeito à sua majestade, o rei"


Na cidade de Williamsburg, no Estado da Virgínia, um hotel e um centro de informações turísticas foram construídos num terreno ao lado do sítio histórico, porém separados por uma estrada. Foi edificada então uma passarela e a ideia era fazê-la um "tunel do tempo". Colocaram então placas no piso da passarela para criar o clima.

Reparem que os comentários da vida no passado eram sempre negativos (tirando o fato de não se pagar imposto de renda).

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Benjamin Franklin

Até eu ler A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber, Benjamin Franklin era uma pessoa que nunca despertou o meu interesse. Ele inventou o para-raios e isto é um fato importante para quem é engenheiro, mas fora isso e a sua atuação formação dos Estados Unidos, eu praticamente não sabia nada sobre ele.



O Franklin de Weber personifica o avarento e a pessoa que faz do ato de enriquecer a meta mais importante da vida. Não sou um estudioso da obra do sociólogo alemão, mas eu interpreto que Weber fez um perfil negativo e muito limitado de Franklin e embora o foco do seu livro não fosse a vida e o pensamento dele, Weber poderia ter sido um pouco mais amplo e justo.

No livro são citados uns pensamentos de Franklin e hoje, quase por acaso, descobri de onde sairam estes pensamentos. Eles vem de um almanaque que Franklin escreveu durante anos, uma obra que circulou nos Estados Unidos (na época uma colônia britânica) de 1732 a 1758 chamado Poor Richard's Almanack (Almanaque do Pobre Ricardo). Curioso como sempre, fui dar uma olhada no tal almanaque graças a ação de uma meiga e caridosa alma que digitalizou e disponibilizou na rede:

Poor Richard's Almanack

O fascinante é que Franklin além de jornalista, político, pensador e inventor era um grande criador de ditados! Sempre desejei saber quem inventou alguns ditados pois ditados são mágicos, são pétalas de sabedoria anônimas.

A sabedoria de Benjamin Franklin (tradução livre):

"Tempo é dinheiro" (Time is money)

"Coma para viver e não viva para comer" (Eat to live, and not live to eat)

"Quem tem janela de vidro não atira pedras na casa do vizinho" (Don't throw stones at your neighbours, if your own windows are glass)

"O bom pagador é o dono da bolsa alheia" (The good Paymaster is Lord of another man's Purse)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

And the winner is...

Certas ideias saem da boca do povo de uma forma tão melíflua que acabam ganhando ares de verdade. São as lendas populares. Claro que não são pensamentos sofisticados como a questão da ética protestante na formação da cultura dos Estados Unidos ou o conceito de mais-valia de Marx.

Uma lenda popular que já se consolidou é que os sorteios da Mega-sena são fraudados e uma das provas inquestionáveis é que o sorteado sempre é de uma cidade do interior, o que supostamente dificultaria uma averiguação da lisura do sorteio e o anúncio público do sorteado.

Num país com tantos crimes e sequestros é natural que uma pessoa que ganha R$ 20 milhões não queira aparecer. Rico midiático sempre é cercado de fiés seguranças.

A outra questão é que o Brasil é um país bem rural. Existem milhares de cidades com menos de 100 mil habitantes. Só no estado de Minas Gerais são mais de 600 munícípios, alguns tão pequenos quanto Nova Resende e Itutinga. Não me estranha de forma alguma que moradores destas cidades ganhem na Mega-sena com certa frequência até porque proporcionalmente as pessoas que vivem no interior jogam mais do que as pessoas que vivem nas grandes cidades. Porque em cidades do interior as prossibilidades de progresso econômico e enriquecimento são muito menores e porque as opções de lazer - e jogar em loteria é uma forma de lazer na opinião de muitos brasileiros - são bem menores que nas cidades do Rio de Janeiro e em São Paulo.

Esta questão me intrigou depois que um internauta deixou uma mensagem num dos foruns que eu participo dizendo que o único ganhador de um prêmio de R$ 30 milhões foi da pequena cidade que ele vivia e que a afiliada da Rede Globo estava a procura do felizardo. Surgiram comentários de todas as formas em resposta a esta mensagem, anguns bem engraçados, sugerindo que o internauta se perfumasse e fizesse a barba pois o boato era que a cidade ganhou uma nova rica viúva de 50 anos. O mistério acabou dias depois, quando o mesmo internauta anunciou que descobriram que o sortudo era um sergipano com sete irmãos. Dizem que o nordestino deu dois milhões de reais para cada irmão e ficou com o restante e todos voltaram felizes para o menor estado do Brasil. Que Deus os abençoe e os ilumine.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Alegria de pobre dura pouco

Parece que acabou o blog "Cem homens". É uma pena. Se ela tivesse mostrado o rosto, se identificado, pelo menos quando o blog ficou consolidado e famoso talvez ela estivesse numa situação financeira melhor hoje. Ou teria torrado definitivamente o seu futuro profissional

Seria uma aposta bem ousada.

Leituras

Ontem, 09-11-2011, eu e a Luiza fomos fazer a avaliação médica para entrar na academia. Mais uma vez. Mais do mesmo. Não sei como vou fazer caminhada na esteira com uma hérnia, no entanto vou tentar. Na volta, por volta das 20h, mortos de fome pois estava sem comer desde às 13h, não resisti e paramos no barzinho que fica bem no caminho da volta. Maná dos deuses.

Já em casa, abri o pacote que chegou do Itaú Cultural, com três livros que eu pedi pela Internet faz tempo. Os livros parecem que foram escolhidos pelo critério de menor peso e não apenas pela qualidade, pois eram bem leves e isto diminui as despesas postais.

Mariah ficou doida. Só que eu estava tão cansado que disse que iria ler apenas um dos três, e que era para escolher um, apenas um. Ela escolheu o do Chico Buarque. Nem sabia que Chico Buarque escrevia livros infantis.

Eu acabei lendo todos, porque a guria ficou tão apaixonada e carinhosa que me venceu. É tão nobre, tão paternal ler para os filhos.

domingo, 6 de novembro de 2011

SUS

A semana passou e o assunto que mais me impressionou foi a doença do Lula. Não que a doença me surpreenda, porque é relativamente comum um cancer daquele tipo numa pessoa que fuma muito, mas a forma como o fato se propagou. Perdemos uma ótima oportunidade de falar dos males do tabagismo para insinuar os males do sistema público de saúde.

Não questionarei se Lula deveria ou não usar o SUS ou qualquer outro serviço público, nem se é justo as pessoas usarem a grossa ironia para dizer que ele mentia quando falava das maravilhas implementadas no SUS durante a gestão que iniciou em 2003. Tancredo Neves usou o serviço público de saúde e o anterior, João Figueiredo, se não me falha a memória, chegou a fazer uma cirurgia espiritual num centro espírita na Penha, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. Cirurgia espiritual em centro espírita não é SUS, mas pode ser considerado um serviço público no lato sensu. Fora estes dois casos, não me recordo de nenhum presidente ou vice-presidente que tenha usado o sistema público de saúde ressaltando que a minha tenra idade só permite recordações a partir do governo Figueiredo (1979 - 1985). Aliás, por que o José de Alencar pode usar a rede privada sem críticas e o Lula não pode? Já que é para criticar e questionar, eu duvido que os filhos do governador Sergio Cabral (PMDB/RJ) possuam diplomas de segundo grau emitidos por uma escola pública estadual. O mesmo para os rebentos de Eduardo Paes (PMDB/RJ) e Cesar Maia (DEM/RJ).

Mas quando anônimos leitores de jornais dizem que "O Lula deveria se tratar no SUS" o que eles querem afirmar é que o sistema de saúde pública no Brasil é horrível e que o responsável por esta situaçao deveria padecer do mal que criou, como se todos os governantes atuais e anteriores também não fossem responsáveis pela situação do sistema público de saúde. É claro que estes também são responsáveis e Dilma, FHC, Sarney e todos os demais governantes federais, estaduais e municipais deveriam todos de tratar no SUS se é para seguir esta linha de pensamento.

Mas muitos dos que enfaticamente relatam esta suposta tragédia o fazem por meio de impressões e relatos de segunda mão, pois já abandonaram o sistema de saúde pública há muito tempo e acabam sendo como a criança que diz que não gosta de pera sem ter nunca experimentado. E boa parte só abandonou o sistema porque a empresa paga um plano de saúde privado. Este é o meu caso, embora eu não tenha abandonado o sistema.

Em 2005 eu estive na Espanha e a tia da minha esposa estava internada para operar o coração. Fomos conhecê-la no hospital que fica na cidade de Huesca. O que eu vi foi algo melhor que a Casa de Saúde São José, que tem o foco na classe média-alta carioca. Só não tinha quarto particular, mas o que eles chamavam de enfermaria era um confortável quarto dividido com mais uma senhora porque a terceira cama estava vaga. Realmente, se for comparar com o sistema de saúde da zona do euro naquela época, a distância do SUS é enorme.

Por outro lado, eu usei o sistema público de saúde no ano passado, quando fui à Goiânia, e para ir àquela região é preciso tomar a vacina contra febre amarela. Na verdade eu, a esposa, a sogra e a  filha fomos vacinados no posto de saúde municipal da Tijuca (cidade do Rio de Janeiro) e o atendimento foi ótimo, rápido, sem filas e quase sem dor. Os funcionários foram muito gentis e explicaram todos os detalhes biológicos e burocráticos da vacina. Não sabendo responder uma dúvida da minha esposa quanto à aplicação da vacina na minha filha, um deles ligou para a pediatra da prefeitura para elucidar o caso. Por fim, o nível que choro da minha filha foi menor que a das vacinas privadas, fazendo-me concluir que as enfermeiras do município tinham uma "mão melhor para aplicar injeção".

Sendo assim, eu não posso, pela minha experiência atual, afirmar que o sistema é ruim. Falar isso é propagar um mito nem sempre verdadeiro que só beneficia quem quer mais dinheiro para o sistema, mas não tem compromisso com a melhoria do SUS, em especial os corruptos.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Gordos, mórbida semelhança

Neste final de semana a Mariah, naquele papinho gostoso antes de dormir, pela primeira vez comentou que eu e a Luiza somos gordos. Era algo que eu esperava mais traumático ou até mesmo ofensivo, mas foi só um comentário, mais doce e simples que talvez nem numa fase otimista eu pensaria.

O dia chegou e por trás desta apreensão de quatro anos há o medo da rejeição. Fui muito rejeitado por ser obeso, mas hoje, quase 40 anos de idade e alguns anos de boa psicoterapia e cristianismo julgo-me parcialmente curado, mas ainda temo a rejeição das pessoas que eu mais amo, embora eu saiba que Mariah é louca por mim. Mesmo eu sendo gordo.

Hoje eu interpreto que a rejeição que eu sofria não era só pela obesidade. Era a combinação de obesidade com pobreza, mas deixa isto para um outro dia.

Existem fenômenos que basta estarmos vivos para ocorrerem: envelhecer e ser rejeitado são apenas dois exemplos. O gordo sofre de uma forma diferente o envelhecer porque vive pouco. O único obeso que está vivendo muito que eu tenho conhecimento é o Delfim Netto. A velhice é mais curta e mais dolorosa, acompanhada de diabetes, hipertensão e hérnia. Por outro lado, a rejeição que o fofinho sofre também é diferente, pelo nível, pela frequência e pela culpa. Culpa porque para os outros a única responsabilidade pela sua doença está nos seus hábitos alimentares e basta fazer uma dietinha, "ter força de vontade", "fazer uns exercícios" que você, gorducho, emagrecerá! Emagrecer é fácil. Tão fácil que estamos vivendo uma epidemia de obesidade no ocidente. Quando eu era criança, no início dos anos 1980, o fato de alguém pesar mais de cem quilos era motivo de escândalo e chacota e hoje alguém com este peso é, dependendo da altura, "normal" e socialmente aceito como beber uma taça de vinho uma vez por semana.

A rejeição muitas vezes é sutil, outras nem tanto. Numa festa de criança uma vez a minha esposa ouviu um convidado olhando para a Mariah e perguntando para a convidada ao lado: "Como pode uma menina tão bonita ter pais tão feios?". Como se gordos e feios não pudessem ter filhos bonitos, saudáveis e felizes. Somos condenados a não só sermos infelizes e execrados por toda a nossa deprimente existência como também termos filhos nas mesmas ou piores condições.

Mas hoje é dia de alegria, pois Mariah nos ama mesmo sendo gordinhos! E ontem, lendo a Revista dO Globo, descobri que existe um blog de uma jornalista que encarou o desafio de fazer sexo com cem diferentes homens durante um ano. Missão difícil pois dá uma média de quase um homem diferente a cada três dias. Parece que ela viu que não era tão fácil "cumprir a meta" e baixou para 50 homens, que dá um por semana aproximadamente.

"Sacanagem pura" - pensei - "Vou dar uma bisbilhotada neste blog safado!" Começo a ler e me desperta a inveja. Não por minha vida sexual não ser tão animada, mas porque a menina escreve bem. Tudo bem, eu não fiz faculdade de Comunicação Social e nem acho que eu tenha aquilo que chamam de talento. Lendo o blog da Letícia F. relembrei o dia que eu li "Os Donos do Poder", do Faoro: eu não conseguia me concentrar no texto, só pensava "PQP! Jamais vou escrever tão bem quanto ele!".

"PQP! Jamais vou escrever tão bem quanto a Letícia F.!"

E ela faz um relato muito interessante sobre ser obeso e vale a pena uma leitura carinhosa porque a mulher provavelmente sofre mais que o homem o drama dos fofos.

http://cemhomens.com/2011/10/sua-gorda/

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Tropa de Elite 2 vai para os EUA ganhar experiência

Deixe de patriotismo oco: Tropa de Elite 2 não tem a mínima chance de levar o Oscar. O que aconteceu é que eles querem corrigir um erro grave do passado que foi o descaso com o Tropa de Elite na indicação para o Oscar com um outro erro.

Tropa de Elite tinha humor e tensão. Era uma interessante montranha russa de emoções que tinha tudo para levar a estatueta de melhor filme estrangeiro. Tropa de Elite 2 é totalmente tenso e pessimista, não há praticamente humor e as referências escancaradas às pessoas reais se perdem quando um gringo que pouco sabe do Brasil aprecia o filme.

Sem chance. Tropa de Elite 2 é para "clientes" brasileiros, mas se eu fosse palestrante da área de gestão mostraria as últimas cenas de Tropa de Elite 2 e promoveria um acalorado debate. Repare que, no final, quem fica com a lancha, o controle da organização criminosa e as mulheres é o Tenente-Coronel Fábio Barbosa, personagem de Milhem Cortaz, o PM mais inseguro e medroso de todos!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Barcelona & Paris (2005)

Só pensa naquilo

Você é Cristão? Quer fazer uma experiência comigo? Então vamos lá! Pense nos últimos eventos que você participou da sua religião. Agora reflita quantas vezes o sacerdote falou em pecado sexual (adultério, prostituição, homossexualismo etc.). É bem provável que você relembre de diversas falas dele sobre este assunto. Este fenômeno da preocupação excessiva com o pecado sexual é antigo, mas nunca presenciei ninguém comentar sobre isto.

Conte agora quantas vezes o mesmo sacerdote do parágrafo anterior falou em pecados no local de trabalho e compare as duas contagens. O resultado da minha totalização foi assustador, como também foi assustador o resultado relatado pelas pessoas que eu fiz este desafio. Muitas responderam que o sacerdote nunca tocou no assunto "ambiente de trabalho".

As pessoas fazem sexo menos de duas vezes por semana, porém trabalham de segunda a sexta ou de segunda a sábado. Se esta proporção fosse seguida pelos sacerdotes cristãos na hora de definirem os assuntos dos discursos, talvez não encontrássemos tanta gente reclamando do local onde trabalha.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Cada louco com a sua mania

Eu tenho uma característica engraçada: eventualmente eu esqueço uma palavra, mas lembro a primeira letra ou (mais raramente) as primeiras letras da palavra esquecida. A partir da primeira letra eu fico forçando a memória para lembrar da palavra toda.

Atualmente eu estou tentando lembrar de uma empresa norte-americana que fabrica suporte de baterias tipo moeda. É Key...

Tio Google ajudou: Keystone e o que ela fabrica tem o lindo nome de "coin cell battery holders".

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cultura doméstica

Existe uma cultura que não é citada nos jornais. É a cultura doméstica, familiar, oculta, silenciosa que vem dos hábitos e das crenças dos pais. É algo muito instintivo e pouco teorizado.

O pai da amiga da Mariah é engenheiro como eu, só que o pai dele nunca teve patrão. O pai da amiga da Mariah na primeira oportunidade abriu uma pequena empresa e não tem patrão.

Mas, se for bom para ambas as partes, não há nada de errado em ter patrão, não é mesmo? Meu pai era anterior à CLT e tinha estabilidade numa empresa privada. Buscava estabilidade e segurança. Dos seis filhos que ele teve, cinco trabalham para o governo direta (Poder Executivo) ou indiretamente (estatais).

Concluo que o seio familiar do Trotta incentivou-o a empreender enquanto os meus pais valorizavam a segurança e a estabilidade.

Os tempos mudam e novos cenários surgem. Certamente a Mariah vai pegar um mercado de trabalho bem diferente do meu e eu não sei se o que foi bom para mim será o melhor para ela. Provavelmente não.

Largo do Machado

Ontem deixamos a Mariah na escola e corremos para o cinema. No Museu da República há uma pequena sala de projeção e compartilhamos o filme com mais umas seis pessoas. Era Meia Noite em Paris, do Woody Allen. Foi a primeira vez que eu fui ao cinema ver uma obra do Allen. Eu tenho um irmão que era apaixonado pelos filmes dele, e vi alguns daquela fase que ele ainda atuava e era basicamente humor. Depois Allen foi migrando para a direção e para filmes mais sofisticados que Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo mas tinha medo de perguntar, onde ele se veste de espermatozóide.

Mas o filme foi ótimo. Adoramos e entendemos porque o Lucio, meu irmão, adora o Woody Allen, embora a obra tenha muita semelhança com A Rosa Púrpura do Cairo, que eu não vi todo.  A missão agora é alugar o DVD de Match Point.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Fórmula do Amor

Eu tenho o gesto exato, sei como devo andar
Aprendi nos filmes pra um dia usar
Um certo ar cruel de quem sabe o que quer
Tenho tudo planejado pra te impressionar

Luz de fim de tarde, meu rosto em contra-luz
Não posso compreender, não faz nenhum efeito
A minha aparição será que errei na mão
As coisas são mais fáceis na televisão

Mantenho o passo alguém me vê
Nada acontece, não sei porque
Se eu não perdi nenhum detalhe
Onde foi que eu errei

Ainda encontro a fórmula do amor
Ainda encontro a fórmula do amor

Eu tenho a pose exata pra me fotografar
Aprendi nos livros pra um dia usar
Um certo ar cruel, de quem sabe o que quer
Tenho tudo ensaiado pra te conquistar

Eu tenho um bom papo e sei até dançar
Não posso compreender, não faz nenhum efeito
A minha aparição será que errei na mão
As coisas são mais fáceis na televisão

Eu jogo um charme, alguém me vê
Nada acontece, não sei porque
Se eu não perdi nenhum detalhe
Onde foi que eu errei

Ainda encontro a fórmula do amor
Ainda encontro a fórmula do amor

Descartáveis

Estou de férias. Aproveitei para consertar os três ferros de passar roupa da minha casa. Um é o tradidional GE antigão que era da minha sogra - a impressão que eu tenho é que toda classe média carioca já comprou pelo menos uma vez na vida o GE antigão -, o segundo é um FAET mais moderno e o terceiro um Black & Decker bonitão.

Este modelo de ferro de passar roupa deve ter uns trinta anos em linha de produção e agora está nas mãos da Black & Decker porque o Jack Welch virou a GE ao avesso quando assumiu a presidência mundial da holding e milhares de empregos foram cortados e dezenas de fábricas foram vendidas. Welch concentrou a ação da GE nos mercados mais lucrativos ou promissores, vendendo as unidades de negócio que não se encaixavam nesta nova estratégia. Quer negócio mais seleto e lucrativo que vender turbinas para a Boeing?


A unidade de aparelhos de ar condicionado foi então vendida para a Elgin e a fábrica de eletrodomésticos foi parar nas mãos da Black & Decker e esta produz o clássico - inclusive em termos de design - até hoje.

Mas as mãos da engenheirada da Black & Decker coçou e eles alteraram o projeto. Por fora está a mesmo projeto curvilíneo e sensual, quase uma obra do Oscar Niemeyer. Por dentro, tudo mudou e nada é compatível. Descobri isto fazem uns 2 anos, quando o termostato do ferro abriu o bico, como dizem as pessoas na terceira idade. Ao procurar um para substituir, me ofereceram um modelo que não tem nada a ver, tipo este:



O original é este:


Mas graças ao Google Imagens eu conheci a empresa Joardo e aproveitei para comprar várias outras peças do mesmo aparelho em quantidade para ter um ferro operante por mais uns 20 anos.

Mas o ferro estava com defeito e o culpado nestes modelos é o maldito fio que liga o ferro à tomada. Já troquei-o várias vezes e decidi dar uma solução definitiva: comprei um fio especial, chamado cabo PP. É um fio com duplo isolamento. O primeiro é o isolamento comum e o segundo é uma nova camada de borracha por fora. Aproveitei e coloquei logo um cabo de três metros e um fio 100% maior, passando de 0,75mm2 para 1,5mm2 de seção.


Resolvido o primeiro, passei para o segundo. Era um FAET que tinha aberto o fusível térmico. Fusível térmico é uma peça que interrompe o funcionamento de um circuito quando a temperatura ultrapassa um certo limite (no caso, 240C). A peça já estava comprada e só foi o trabalho de instalar. E que trabalho.

Resolvido o segundo, passei para um Black & Decker moderninho. Não aquecia o suficiente. Ao abrí-lo, constatei que o termostato estava com defeito. Hoje fomos na autorizada perto da minha casa e descobrimos que a peça custava R$ 25,00. Achei um desaforo (novamente como diria a terceira idade) e não comprei, pensando que encontraria fácil em alguma loja virtual por R$ 5,00. Fatality! Não achei a peça, mas também não vale a pena manter um ferro elétrico assim, com peças tão difíceis de encontrar e tão caras. Façamos então o jogo do chinês. Lixo com ele porque eu tenho mais dois. Fatality na Black & Decker!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Olhar de engenheiro

Olhe bem a foto abaixo, retirada da homepage da Band. Neste acidente morreram 5 pessoas e mais de 40 ficaram feridas. Este veículo é um patrimônio histórico tombado. Com trocadilhos.

http://imagem.band.com.br/zoom/f_61856.jpg
Minha esposa costuma dizer que engenheiros olham as coisas de uma forma diferente. Quando fomos visitar pela primeira vez uma creche para colocar a nossa filha, enquanto ela olhava as salas e os livros, eu procurava extintores de incêndio e imaginava como seria uma evacuação de emergência naquelas escadas apertadas de uma velha casa mal adaptada.

Mas voltemos à imagem. Repare que por baixo do bonde não há cabos rompidos, nem fios expostos. Isto significa que não existe nenhuma automação nem qualquer outro recurso tecnológico moderno embarcado. Ao lado da roda é possível observar o freio, que é uma simples sapata que encosta na roda, fazendo o veículo parar. Testemunhas disseram que o maquinista do bonde não conseguiu frear o coletivo numa ladeira com curva, indicando que a causa do acidente teria sido uma falha no sistema de frenagem.

A suspensão também é primitiva, lembrando antigas carroças inglesas. O próprio formato do bonde já transmite uma ideia de instabilidade: ele é alto e ao mesmo tempo estreito. Ele tende a tombar.

Não há o conceito de célula de sobrevivência no projeto, inventado décadas depois da primeira viagem desta bela máquina: o teto e a parte superior, onde ficavam os passageiros e o maquinista, ficaram completamente destruídos e desacoplados da parte de baixo.

Colocaram para transportar milhares de pessoas diariamente um veículo com mais de 100 anos sem qualquer modernização real. Sim, é um bem tombado e, sim, precisamos mantê-lo o mais original possível, porém esta bela peça não estava estática num museu, exposto para nós sentirmos saudades de uma época mais calma e mais romântica e ao mesmo tempo refletir como a nossa vida melhorou e ficou mais prática. Esta máquina transportava milhares de humanos todos os dias e a segurança não pode ser subjugada pela estética.

Com a tecnologia atual, poderíamos deixar os bondes com a aparência do século XIX por fora, mas com toda a segurança do século XXI.

Primeiro e mais importante: parece que o sistema do freio não funciona segundo o conceito de falha segura. Neste conceito, em caso de falha nos freios, o mesmo fica na posição de frenagem. É melhor ter um gigante de toneladas parado que andando sem freios. É claro que existiriam eventuais transtornos por usar este conceito. No caso deste bonde, ele ficaria parado no meio da rua impedindo o fluxo dos outros veículos até chegar a equipe de manutenção. Seria desagradável, mas cinco vidas seriam preservadas.

A segunda sugestão é implantar o conceito de célula de sobrevivência: em caso de tombamento, o compartimento dos passageiros deve ficar o mais preservado possível. Seria o grande desafio estético: colocar quilos de barras de ferro na cabine sem mudar a aparência original.

Terceiro: atualização elétrica, com motores controlados eletronicamente e que podem eventualmente funcionar como freios auxiliares.

Quarto: piloto automático. Um controlador eletrônico, com ajuda de um GPS saberia exatamente onde o bonde está num determinado momento e em qual velocidade. Se mapearem no GPS os pontos mais perigosos como ladeiras e curvas, este pode fazer o controlador eletrônico diminuir a velocidade do veículo caso o maquinista não o faça.

Quinto: sensor de peso. Um sensor de peso não deixaria o bonde partir ou limitaria a sua velocidade máxima caso o limite de peso seja excedido.

Todas estas cinco sugestões não são frutos da imaginação ou ficção científica. Já existe esta tecnologia e talvez seja mais barato que o valor total das indenizações.