terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Capitalismo primitivo

Assim diz a lenda: Woz e Jobs estavam soldando placas de circuito impresso e montando os computadores Apple numa garagem quando apareceu um homem de terno e gravata e se identificou como um investidor. Ele se interessou pelo produto da dupla e assim se tornou sócio da Apple.



Verdade ou ficção, este cenário é perfeitamente plausível nos Estados Unidos. Neste país, as taxas de juros são muito baixas e nunca compensa financiar o governo. O dinheiro flui para investimentos de verdade. O resultado é um mercado de capitais fortissimo e uma constante inovação, fruto do empreendedorismo coletivo. Diferente do Brasil, onde muitos iniciam pequenos negócios por absoluta necessidade ou falta de opção. É, novamente, uma questão cultural e eu vejo que o nosso capitalismo ainda é bastante primitivo. Ainda temos enormes dificuldades de lidar com os valores intangíveis, por exemplo.

No Brasil, as pessoas ainda estão na época do feudalismo, onde o processo de troca e pagamento se limitava a bens físicos. Eu tenho um boi, então eu vendo este boi e troco por uma carroça de madeira. O boi existe, a carroça existe e a negociação então é "justa", ato de compra e venda é "perfeito".



Temos enormes dificuldades em perceber os produtos e serviços que não são físicos. O ato de violar a propriedade intelectual de filmes e músicas é um exemplo claro. Alguns, com grande lucidez do seu status de idade média, ainda dizem que o músico tem que ganhar dinheiro algo físico, real, como shows e não com a música arquivada no celular (um conjunto de bits, algo imaterial).

Adoramos falar mal de bancos, mas não damos valor ao caixa eletrônico em Porto Seguro que usamos nas nossas férias. O fato de não existir sociedade moderna sem um sistema bancário eficiente prova que o sistema financeiro desenvolvido e atuante é fundamental.

Agora vamos voltar para os nossos personagens, Woz e Jobs. Você consegue imaginar, no Brasil, um investidor andando na rua e, ao ver numa garangem dois jovens montando algo novo e desconhecido, abrir o talão de cheques e virar sócio desta empresa? Eu não consigo imaginar, embora eu me considere uma pessoa com imaginação fértil.

Mas esta reflexão é pertinente porque o governo tenta baixar os juros e, se conseguir, a festa do dinheiro fácil e com baixo risco pode acabar. Pessoas com pequenas quantias acumuladas com o o suor do rosto terão que mudar os investimentos para conseguirem taxas melhores. Algumas soltarão fogos de subúrbio - aqueles que só fazem barulho e enchem o nosso saco, mas não iluminam - se conseguirem retornos de 3,5% ao ano acima da inflação. Um novo tempo talvez se inicie e se a nossa mentalidade medieval mudar poderemos gerar milhares de empregos e aquecer a economia, desde que percebamos o valor do Pequeno Sócio de Capital.



Chamo de Pequeno Sócio de Capital aquela pessoa de classe média com a partir de R$ 10 mil para investir em novos negócios. Este cidadão está num emprego relativamente estável e não precisa do dinheiro imediatamente, mas não possui tempo ocioso o suficiente para entrar de cabeça numa empreitada deste porte, pois ele precisa também dar atenção aos filhos e à esposa. Ele quer entrar com o dinheiro, mas não com o trabalho.



Nosso pequeno capitalista está disposto a investir em pequenos empreendimentos com segurança, sem ser chamado de explorador, safado ou espertalhão pelo outro sócio, seu dual: o Pequeno Sócio de Trabalho. Tudo o que o capitalista quer é participar da festa se o negócio der certo e para isto ele corre o risco da festa virar um grande velório. É o capitalismo puro e simples, o capitalismo de origem. Por outro lado, o Pequeno Sócio de Trabalho possui o conhecimento técnico e a disponibilidade para trabalhar. É possível que neste momento ele esteja desempregado ou ganhando um salário menor que R$ 1 mil por mês. Os dois, capitalista e trabalhador, se complementam e juntos podem decolar e até enriquecer. Separados não saem do sonho e da fantasia.

Vejo dezenas de oportunidades de investimento para pequenos sócios de capital. Não precisa começar do zero. O negócio pode já ter iniciado, mas falta dinheiro para a expansão e capital de giro. Eis algumas minas de ouro, muitas localizadas na Baixada Fluminense:

Confecção de roupas
Manutenção e instalação de ar condicionado
Pequenas reformas
Reforço escolar
Cursos rápidos
Restaurantes populares
Terceirização de manutenção
Oficinas mecânicas
Pousadas
Hotéis baratos para trabalhadores
Salões de beleza

Algum trabalhador talentoso de um dos setores acima quer o meu lindo dinheirinho?

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Feminista, mas só quando convém

Falar mal do machismo é, como dizia a minha mãe, "jogar água em um pato". As mulheres reclamam, os ouvintes acatam e tudo continua na mesma. Vai questionar o que? Machismo é péssimo para as mulheres.

Mais ou menos. O machismo tem várias faces, mas só é exibido o lado ruim para as mulheres. O lado conveniente para as mulheres é malandramente omitido.

Vejamos como é bom o machismo para as mulheres:

1) Aposentadoria mais cedo: É uma verdade estatística e atuarial que a expectativa de vida da mulher é maior que a do homem. Se a mulher vive mais ela então gera mais despesas para o INSS pois ficará mais tempo recebendo a aposentadoria. Então as mulheres deveriam contribuir com valores mensais maiores que os homens ou se aposentarem mais tarde. O que vemos na prática é exatamente o contrário: as mulheres se aposentam 5 anos antes. É claro que parte da crise de financiamento da Previdência Social também está relacionada com a maior inserção da mulher no mercado de trabalho. Nunca entendi o real motivo da mulher se aposentar mais cedo. Já me falaram de uma tal de "dupla jornada", pois além do trabalho a mulher arruma a casa, mas muitas mulheres que eu conheço não lavam um copo, pois tem empregada doméstica e muitos maridos ajudam nas tarefas domésticas. Outro fraco argumento foi que a mulher cria o filho. Novamente muitos maridos também exercem a tarefa de criar filhos e não há notícias de mulheres sem filhos que se aposentaram 5 anos mais tarde.



2) Trajes: trabalhei anos numa estatal e era proibido trabalhar de bermuda. Não havia nada documentado, mas a lei informal valia e muito. Os seguranças privados que ficam na porta da empresa simplesmente não deixam entrar e passar na catraca de ponto. Isto é válido se o funcionário for homem. Se for mulher vale tudo: bermuda, shortinho, saia curta que ao menor descuido deixava aparecer a calcinha, calça fina e apertada que destaca, sobe e modela os glúteos, decotes provocantes etc. A mulher pode tudo.

Se você ousasse reclamar e fosse homem, corria o risco de deboche e insinuações sobre a sua masculinidade.




3) Vagão das mulheres: com o argumento que as mulheres são sarradas no metro do Rio de Janeiro, criaram um vagão exclusivo justamente nos horários que os sistema de transporte está mais sobrecarregado. Nunca sarrei ninguém e nunca vi ninguém sarrar no metrô. A legislação diz que o sarro não-consensual é crime, logo a solução correta é a denúncia. Como ninguém quer fazer o certo, fazem o errado: agridem o artigo 5 da Constituição Federal e criam um privilégio para evitar um eventual sarro.

sábado, 14 de janeiro de 2012

O pessimista

Primeiro foi o Felipe Carbonel. Depois foi o Alexandre Souza. Dois na mesma semana. Não, não é nenhuma contabilidade sexual: eles não se conhecem mas deram o mesmo diagnóstico: sou pessimista.


Luiza, você me acha pessimista?

- Um pouco melancólico, talvez.

Mas, afinal, que mal tem em ser pessimista? É parte integrante, indissolúvel e imaculada da minha personalidade e eu vivo bem assim. Gosto de analisar cenários e trabalhar sempre com o pior possível. É só ler, está aí, no texto, no pensamento, na vida. Espero a China quebrar e o apocalipse econômico desde início de 2010.

Os otimistas não estão com nada. Provavelmente são mais simpáticos e, por isto, atraiam mais pessoas, não sei. A minha grande amiga de quase 20 anos, Dagmar, uma vez disse para mim que a alegria atrai as pessoas. É verdade, e provavelmente ela disse isto porque acreditava naquela época que eu era triste. Será que eu troquei nestas duas décadas a tristeza pela melancolia em convergência com o pessimismo? Se for, digo que gosto de mim assim mesmo e é um amor incondicional. :o)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Batizado da Anna Luiza

Só a Sandra para fazer a família Trololó sair da cama antes das 10:30h de um domingo chuvoso. Mas foi por uma causa nobre.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O Alçapão


Se a minha filha um dia afirmar que deseja estudar no CEFET-RJ eu terei uma reação dupla.

Não, nada a ver com o fato de eu e a minha esposa sermos ex-alunos do CEFET-RJ. Ela se formou no final de 1987, ano que eu entrei. Não nos conhecemos no CEFET-RJ, mas o seu rosto na carteira de identidade não é estranho.

Bem, sou da teoria que todas as fotos de carteira de identidade são estranhas.

Ficarei feliz se a minha filha desejar estudar numa escola pública e boa, bem cotada no ENEM e também com muito medo de ela cair na velha armadilha do curso técnico.

A armadilha do curso técnico é cruel e pega justamente os mais pobres. Estes, com a necessidade de ganhar dinheiro honesto e rápido, acabam fazendo um curso técnico. Arrumam um emprego que paga mal e que não tem muitas perspectivas de crescimento.

Já no alçapão da armadilha, sem condições de subir e chegar ao solo, vendo-se no máximo um supervisor de outros técnicos após muitos anos de dedicação ele conclui que a única saída é fazer engenharia.





Só que nesta altura dos acontecimentos afiados e profundos dentes de aço já penetraram na carne da perna direita e esta sangra e dói. Não é fácil escapar: os pais dependem do dinheiro dele para fechar as contas no final do mês, a namorada silenciosamente vai a Madureira com a mãe todo o sábado pela manhã para comprar o enxoval sonhando com o status de noiva e ainda tem 39 prestações do Palio 2009 com ar condicionado, vidros e travas elétricas.





Não convencido ele vai à Internet procurar escolas de engenharia que tenham cursos noturnos. Todas privadas, caríssimas e nenhum histórico de ex-alunos passando para concursos decentes. Ao final do terceiro período nosso pobre homem abandona a faculdade vítima dos boletos bancários e das notas em Cálculo.





Alguns, amargurados profundamente, criticam o sistema público de ensino superior, alegando que só os ricos estudam lá. Mas ele poderia estar entre os ricos e privilegiados se fosse orientado a não cair na armadilha.

Eu escapei, mas eu tive alguns diferenciais que são raros e me permitiram a libertação.

Primeiro, eu tenho um irmão 20 anos mais velho que eu e inteligentíssimo que lutou bravamente para eu não cair na armadilha. Caí, mas caí com um nível de consciência maior que os meus pares.

Segundo, eu caí na armadilha depois de ter entrado numa escola de engenharia federal. Meu curso durou um ano a mais que o normal por isso, mas quando eu comecei a trabalhar o funil do vestibular era passado e o ciclo básico da engenharia estava concluído.

Terceiro, o Bulha, sempre na vanguarda, já tinha caído na armadilha e saído. Quando eu caí na armadilha eu vi que poderia sair rápido também e voltar a estudar conforme mostra o próximo parágrafo.

Quarto, o meu trabalho era em turno de revezamento, o que permitiu que eu continuasse estudando no período diurno.

Quinto, só comprei carro faltando um ano para me formar.

Sexto, só namorei depois de formado.





Foi muito duro, foi muito difícil. Ainda tenho cicatrizes na minha perna direita e umas costelas quebradas quando caí no alçapão, porém sobrevivi e hoje colho os frutos. Só é chato ver as pessoas que não conhecem o meu passado acharem que eu sempre tive a vida mole e os governantes propondo novas escolas técnicas!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Amanhã é segunda-feira

Então nada como Fernando Pessoa para fazer refletir, mesmo no tom melancólico.

Ainda estou na fase da Mariah perguntar quem são as pessoas da foto. Ninguém morreu.

Só mesmo um grande amor para fazer um homem duro e com educação proletária como eu ler poesia.


Dedicatória aos Amigos...
Fernando Pessoa

Um dia a maioria de nós irá separar-se.

Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! "

Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito.

Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.

E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa
de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

As escolas de samba ainda são o reflexo do povo

"Todo dia ela faz tudo sempre igual:
Me sacode às seis horas da manhã,
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã"
(Chico Buarque)

Hoje, enquanto fazia aquele ritual matinal antes de sair para o trabalho, liguei a TV e tentava acompanhar o "Bom Dia Rio", o notíciário local da Rede Globo. O tema era a mudança no critério de julgamento do desfile das escolas de samba. Uma das mudanças é que o mestre-sala e a porta-bandeira passaram a ter duas avaliações distintas: a indumentária e o desemprenho coreográfico. É justo. Muito justo. Justíssimo.



Uma outra mudança é a nota, sempre a nota. Agora parece que o jurado só pode dar notas entre nove (9) e dez (10). Na prática isto é um eufemismo matemático porque o julgador que achou uma bateria ruim e não pode dar cinco passará a dar 9,5. O efeito prático de tirar 9,5 numa escala de 9 a 10 vai ser o mesmo que tirar 5 numa escala de 0 a 10, mas ofende menos tirar uma nota 9,5.

A reflexão que faço é: avaliação é um trauma do brasileiro. Nada sei das origens, mas nós - eu me incluo, sim - temos alguma dificuldade em avaliar o outro formalmente, em sermos avaliados e em lidar com o sucesso e o fracasso.

Deus não nos fez iguais. Não há ninguém igual a mim neste mundo de 7 bilhões e é natural que em algumas coisas eu seja melhor que as pessoas ao meu redor e em outras tarefas eu seja bem pior. A avaliação é apenas uma forma de documentar um fato da natureza divina na criação do homem: o Senhor não tem uma linha de produção de corpos e almas, ele faz um a um de uma forma artesanal e não há duas peças iguais.

Mas aqui o professor tem que tratar todos os alunos iguais mesmo que alguns sejam mais inteligentes e autodidatas, o pai tem que tratar os filhos iguais e jurar até o último dia da vida que não tinha um "preferido", a empresa tem que oferecer todos os benefícios iguais, o chefe tem que dar todas as tarefas e oportunidades iguais, o hospital tem que tratar todos os pacientes (quase escrevi clientes! eita!) de forma impessoal e igualitária e o padre tem que fazer a missa de sétimo dia igual.

Acho que o brasileiro relaciona a experiência de ser mal avaliado com ser fracassado ou rejeitado, no entanto avaliar mal é uma atividade diária: repudiamos certas marcas de café em pó, adoramos descer o malho em hotéis ruins no TripAdvisor, falamos mal de superiores hierárquicos e criticamos professores "que não querem nada". Avaliar mal é uma tarefa tão comum quanto avaliar bem, mas a etiqueta recomenda que o mal desempenho no Brasil só seja declarado em público na condição de anonimato.

O anonimato é o grande amigo do avaliador brasileiro. Adoramos usar nomes fortes como MadMax para nos esconder e colocar em fóruns e listas de discussão tudo o que realmente sentimos em relação a uma pessoa ou objeto. Que se dane o rastreamento, nos dirigimos para uma lan house num bairro pobre para dizer todas as verdades do mundo e continuar oculto. O login funciona como a máscara de um Zorro virtual e sua nobre causa: dar a nossa opinião sincera e avaliar mal.

Mas por que isto? Por que não ser sincero em todos os nossos passos? Por que não arcar com o peso das nossas opiniões e ganhar de brinde uma cabeça menos hipócrita? Podem falar mal de mim e me reprovar, eu não ligo. Eu sigo a filosofia do grande Johnnie Walker e me mantenho andando. Ninguém morre por causa de avaliação.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Hábitos

Um dos hobbies prediletos dos habitantes do grande Rio de Janeiro é emporcalhar a cidade onde vive. Acho engraçado que, quando mostramos fotos do dito Primeiro Mundo, sempre tem alguém que comenta "Olha! Não tem um papelzinho no chão". Deveria ser assim por aqui também; não é por falta de garis ou ineficiência da Comlurb. É povo porco mesmo.

O ano não poderia ser rompido (Setenv modo_duplo_sentido off rápido) sem a fina iguaria de sujar tudo com aquela maldita chuva de papel picado. Felizmente esta parece estar caindo em desuso, mas ainda há focos de resistência.




Por fim a última fila de metrô do ano...

Registros do Natal





terça-feira, 27 de dezembro de 2011

2012 será o ano da China - parte 3

Vamos continuar falando dos reflexos do crescimento da China. Uma das primeiras falas de Glenn Close em  "Atração Fatal" (1987) - filme que até hoje deixa muitos amantes morrendo de medo - perguntava a Dan Gallagher, personagem de Michael Douglas, que segurava um guarda-chuva que acabara de quebrar durante uma chuva inesperada:

-O seu guarda-chuva foi fabricado em Taiwan?

A frase original era uma afirmação e na época ocasionou um certo constrangimento na Ásia: "The umbrella must have been made in Taiwan".

No passado, os produtos japoneses eram conhecidos pela baixa qualidade. Akio Morita, fundador da Sony, em seu livro "Made in Japan" relata como se sentia envergonhado quando reclamavam da qualidade dos produtos japoneses. Isto ocorreu no pós segunda guerra, nos anos 1950. Nos anos 1980 o Japão já apresentava uma qualidade equivalente a Norte Americanos e Alemães, com um preço muito melhor e o vácuo de fornecedor global de quinquilharias baratas e de baixa qualidade foi preenchido por dois novos atores: Coréia do Sul e Taiwan e o fala de Alex Forrest, personagem brilhantemente interpretada por Close, nos ajuda a lembrar desta época.

Atualmente o quarda-chuva vagabundo está sendo fabricado na China e é tão grande que não me surpreendo se ela ocupar os dois papéis neste teatro do comércio internacional, fornecendo produtos de alta tecnologia e quinquilharias baratas. Há espaço para todos e a lógica o é lucro.

O mundo ocidental acompanha um processo de mais de 50 anos de desindustrialização. Este fenômeno se acelerou a partir da segunda metade dos anos 1980, com a abertura econômica da China. Hoje, nas gôndolas dos supermercados dos EUA, com exceção de produtos de higiene, limpeza e alimentares, é difícil encontrar um objeto que não seja fabricado na Ásia. Economistas e políticos da América do Norte dizem que estão migrando para uma "Nova Economia", com foco em produtos e serviços de alta tecnologia. Esta crença parte da suposição que a Ásia nunca desejará ou conseguirá produzir melhor e mais barato estes "produtos e serviços de alta tecnologia" e empresas como a Huawei desmistificam este pensamento.

Uma vez desindustrializado, a pergunta que se forma é o que podemos esperar do resto do mundo em termos políticos e econômicos, sabendo que um está fortemente entrelaçado com o outro. Se não há espaço para fábricas, a atividade econômica dos países que não dominam alta tecnologia que resta é o fornecimento de matérias-primas para as fábricas da Ásia e a disparada dos preços destes produtos a partir de 2002 cria a ilusão que estamos fazendo um ótimo negócio e no caminho certo. Ilusão porque só é bom no curto prazo e porque é politicamente desastroso.

No longo prazo, a desindustrialização do país força-o a migrar para os setores primários: mineração e agricultura. São setores que não geram muitos empregos, principalmente com a queda do preço das máquinas fabricadas na Ásia. Com máquinário mais barato, o empresário é estimulado a substituir parte das atividades executadas tradicionalmente por homens.

O maior empregador privado do Brasil foi uma fábrica de automóveis nos anos 1980 e hoje é uma rede de lanchonetes Fast Food.

Politicamente o cenário é pior: como Estados mais industrializados costumam eleger políticos mais modernos, com a desindustrialização destes Estados a população tenderá a escolher políticos mais conservadores. Ironicamente a China, menina dos olhos de muitos militantes de esquerda, está fazendo o Brasil ficar um pouco mais à direita.



domingo, 25 de dezembro de 2011

Contos de Natal

Uma vez, quando eu era criança, a minha mãe comprou uma bíblia enorme e inútil. O problema estava no fato deste exemplar ser feito para enfeitar e não para ser lida e estudada, um típico objeto de decoração das salas de famílias católicas do subúrbio do Rio de Janeiro. Era uma edição em capa dura preta, com fotos de pinturas de grandes mestres europeus (provavelmente da época do renascimento ou até anterior) que retratavam passagens importantes, como o profeta Daniel numa cova infestada de leões e Santa Ana encontrando Santa Maria grávida de Jesus. As pessoas deixavam o sagrado objeto aberto, normalmente na página que tinha o Salmo 23, em destaque numa estante e ninguém lia, principalmente por estar escrita em um português arcaico. A editora só queria ganhar dinheiro e sabia que ninguém leria o livro e "deixava rolar", isto é, não promovia uma atualização do texto ou usava uma versão mais moderna, como a Bíblia de Jerusalém.

Aquela edição da Bíblia deveria custar uma pequena fortuna, porque a minha mãe pagou em suaves prestações. Junto veio um outro livro de brinde, uma coletânea de contos de Natal. Lembro que tinha até um do Machado de Assis. Nunca fui estimulado a ler o livro. Nunca fomos estimulados e ler romances ou alguma literatura de prazer. Só éramos estimulados a ler livros técnicos e jornais. Recebemos uma típica educação proletária, onde o foco era arrumar um emprego estável o quanto antes. O resultado? Dos 6 filhos da dona Dalva, 6 trabalham em estatais ou são servidores públicos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Chegamos ao final do ano e ao cem.

A ideia inicial era fazer um relato do crescimento da Mariah. Já pensou que legal seria contar desde o momento que aquela tira de farmácia apresentou os ansiosamente esperados dois tracinhos vermelhos ao entrar em contato com a nobre urina da Luiza grávida? No entanto só tivemos este projeto familiar no início do ano de 2011 e partimos para os trabalhos e fotos.

Ocorre que tudo sempre distorce e um plano nunca é rigorosamente cumprido. E além de relatar a vida da Mariah aproveitei para escrever de tudo um pouco. Duas regras eu procurei seguir: adicionar sempre que possível imagens às postagens e textos curtos porque o público atual que usa a Internet não tem paciência para ler artigos muito longos e densos. Isto me lembra o meu amigo Bulha, que ao descrever um certo curso superior dizia que era "amplo como o oceano Pacífico, porém com a profundidade de uma piscina de criança"

Esta centésima postagem me enche de alegria, sem hipocrisias. Consegui melhorar a minha redação e a minha capacidade de expressão, consegui comover e ser comovido. Consegui comover o Google, que me enviou pela primeira vez na minha vida uma carta e colocou o E66.8 como terceiro retorno na sua pesquisa.




Cem postagens num ano dá uma mensagem nova a cada 3,6 dias! Nem eu imaginaria que fosse possível em Janeiro de 2011.


Aos meus silenciosos leitores, um feliz ano novo com muita paz, muita alegria e harmonia!

Feliz Natal

Para todos os meus silenciosos seguidores eu desejo um feliz Natal com muita paz e alegria. Jesus, o nosso Salvador, veio ao mundo para nos ensinar a amar, respeitar, buscar sempre a paz e a justiça.

"Tornei-me acaso vosso inimigo, porque vos disse a verdade?" (Gálatas 4:16)

2012 será o ano da China - parte 2

Outro dia estava lendo uma reportagem especial sobre o dr. Ulysses Guimarães (1916 - 1992) escrita pelo jornalista José Bastos Moreno e publicada no jornal O Globo. Ela contava a viagem oficial que Ulysses fez à China. Comercialmente o Brasil queria vender carros e os chineses, petróleo. Como o mundo é dinâmico! Hoje não passa um dia que eu não veja um carro chinês rodando na cidade do Rio de Janeiro e a China se tornou um feroz importador de petróleo.

O gráfico abaixo mostra a cotação de três commodities importantíssimas no comércio global: cobre, ferro e petróleo. Reparem como o Lula é sortudo: os preços das commodities dispararam a partir de 2002, ano da eleição do Lula.


Até o Lula entrar, uma tonelada métrica de cobre custava uns 2200 dólares. Hoje está em quase 10.000 dólares.





Até o Lula entrar...





Sem comentários. O danado subiu de menso de 30 dólatesqua
Mas o mago desta ereção financeira não se chama Luiz Inácio Lula da Silva, o mago é o dragão chinês. Lula foi um surfista que aproveitou a onda chamada China.

Vendo os gráficos é mais fácil bater em dois mitos: o primeiro foi que a privatização da Vale foi "criminosa". Não sei se os métodos de venda foram os melhores, se houve ou não corrupção, mas tecnicamente o preço do minério de ferro em 1997 (ano da privatização) estava baixo e estável desde 1993. É bem provável que a empresa tivesse problemas financeiros, o que justificaria o valor de venda baixo da empresa. O governo simplesmente foi azarado porque quem comprou viu o preço do minério de ferro disparar a partir de 2002. Analisar a venda da Vale sem também olhar pelo lado da cotação das commodities metálicas é má fé.

O segundo mito foi de que o Lula é um gênio. Predestinado pode até ser, ele realmente pegou a ecomonia numa situação muito boa para os fornecedores de matéria-prima, como o Brasil. A arrecadação de impostos disparou e os dólares das exportações fizeram a economia fazer a festa. Porém sem a onda provocada pelo dragão chinês, Lula conseguiria fazer um governo pior que o do Fernando Henrique Cardoso.

E se a China diminuir o ritmo de crescimento ou mesmo quebrar? A China é um grande consumidor de matérias-primas: ferro, alumínio, cobre, petróleo, soja (para alimentar animais), fertilizantes etc. O apetite da China é grande, crescente, mas não é ilimitado. Se a China diminuir o ritmo de crescimento - e ela tem que diminuir - o preço das commodities despencará bonito. O valor das empresas que vivem de fornecimento de matéria-prima vai despencar. Petrobras, Vale, Bunge. Não ficará pedra sobre pedra.

E é este cenário que eu vejo em 2012. Estou bem pessimista. E olha que eu supersticioso e adoro anos pares e odeio anos ímpares.

Vá com Deus, 2011. Eita aninho ruim!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Vida de Papai Noel

- Mariah, minha filha, o que você vai pedir ao Papai Noel?
- Um Lava Lava da Homeplay.
- O que?
- Um Lava Lava da Homeplay! - quase gritando, mas na verdade não é que nós estamos ficando com a audição debilitada; é porque nos surpreendemos.



É assim: você primeiro paga uma TV por assinatura para entreter a filha pequena com os inocentes e politicamente corretos (até demais) desenhos do Discovery Kids e de brinde leva toneladas de anúncios de fábricas de brinquedos até então desconhecidas.
Passam uns dias. Luiza, a terrorista do Natal, diz que não encontrou o brinquedo na Casa & Vídeo da Praça Saens Peña e...
- Tenta na Casa & Vídeo da Urugaiana!
Papai Noel deixa de almoçar - tarefa hercúlea para um E66.8 - e toma de procurar o tal brinquedo. Homem não gosta de pedir informação e isto tem um custo. O custo de perder tempo procurando o Lava Lava feito um doido. Vencido, humilhado e sucumbido pelos fatos, pergunto a uma funcionária magrinha pelo objeto tão desejado. Por que no comércio normalmente os gordos ficam no caixa e os magros ficam repondo e arrumando as mercadorias?
- Eu vi um Lava Lava perto do elevador.
Era o último da loja. Me senti mais que vencedor, como diz a música evangélica. Chego no caixa para pagar e o Lava Lava é o meu troféu.
- Esta caixa é muito grande, não dá para colocar no saco.
SETENV MODO_DUPLO_SENTIDO OFF
- Não tens saco maior?
- Não. Vou colocar uma tarja.
Tarja é um saco menor dobrado e preso com fita. Antigamente diziam que era para indicar aos seguranças da loja que você pagou e não roubou.
- Papai Noel leva o trombolho então para o trabalho, porque Mariah ainda não pode saber como é mundano a forma como as crianças recebem os presentes. Não há renas nem duendes, há Mastercard, Visa Elétron e dinheiro vivo.
Chego no trabalho e faço um arranjo ilógico para o brinquedo entrar dentro do armário branco asséptico. No meio do processo, a minha coordenadora arregala um olho enorme. Parece que aquelas bolas de gude castanhas saltarão no meu colo. Pensei que ela fosse reclamar de eu estar colocando objetos pessoais num móvel corporativo.
- Você está criando uma dona-de-casa!
- Mas foi ela quem pediu!
- Você tem que educar a sua filha para a vida! - discursa com aquela voz dramática e contundente que só os pernambucanos possuem.
No advento dos 40 anos eu ainda perco parte do meu final de semana abastecendo uma Electrolux LE750 para deixar a minha indumentária e da minha família com cheirinho de alfazema. Que mal tem brincar de lavar roupa?
E ficou no trabalho dias. Ontem levei para casa. Pega o 229, fica imprensado pelo brinquedo a viagem toda, tira um cochilo na altura da C&A, acorda, passa uns pontos e salta. Ladeira acima. Ladeira abaixo. Cheguei.
- Mariah está acordada. Jogarei a chave do carro.
- Quero ver papai!
- Não! Agora não dá.
Abro a garagem, abro a mala do carro e escondo a fina peça. Só falta embrulhar. Não sei como o Papai Noel ainda consegue ser gordo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

2012 será o ano da China

Anotem aí!

Anotem aí!

2012 será o ano da China. Da quebra da China.

Simplesmente não dá para crescer 10% ao ano indefinidamente, principalmente com a Europa e os Estados Unidos em crise econômica. Não dá para ampliar a oferta de energia elétrica 10% ao ano por muito mais tempo.

Não há água suficiente. O consumo predatório dos rios já conseguiu a façanha de fazer um dos principais rios da China, o Amarelo, simplesmente secar antes de desaguar no mar. O rio literalmente secou. Não é piada nem alarmismo, são fatos.

Clique no link acima e lerá que:

"O Rio Amarelo após fluir ininterruptamente por milhares de anos, em 1972 deixou de chegar ao mar por 15 dias. Desde 1997, ele chega de forma interrupta à Província de Shandong, a última que atravessa no seu percurso rumo ao mar e que é a mais importante região agrícola do país. Ela produz um quinto do milho e um sétimo do trigo chinês. Metade da água de irrigação vinha do Rio Amarelo, e metade de um aqüífero (fóssil) que cai 1,5 metro por ano!"


Sim, dependendo de como a China fizer este pouso, o mundo pode quebrar junto. De certo as empresas e países fornecedores de commodities (minério de ferro, petróleo, soja etc) sofrerão muito.


Realize o prejuízo, venda as suas ações e compre títulos do tesouro com juros pós-fixados. Depois é só acender um charuto e ficar assistindo The History Channel no sofá.

A grande vila militar

Nos Estados Unidos é aquilo que vemos em filmes e seriados na TV: bandeiras hasteadas nas casa, estendidas deitadas no alto dos galpões, concorrendo com as pontes rolantes e pessoas vestindo camisas que são bandeiras estilizadas e até rostos pintados com com vermelho, azul e branco.



Na primeira vez que eu estive nos Estados Unidos eu conheci um representante comercial brasileiro que constantemente viajava para lá. Não lembro como o assunto chegou neste ponto, pois foi aquela conversa mole sem pretenções dentro de um ônibus fretado que nos levava para um evento, porém uma parte da conversa me marcou e ficou na memória mesmo depois de quase cinco anos:

- Isto aqui (os EUA) é um grande quartel! Você olha as cidades, pelo avião, e tudo se assemelha a uma grande vila militar: as casas sempre são brancas com telhado cinza e na frente um gramado impecável. Quase todas estão equipadas com armas de fogo. A maioria dos executivos prestaram serviço militar em alguma guerra, em algum lugar do mundo, e os pilotos da Delta, United, American, todas elas, aprenderam a arte na Marinha ou na Força Aérea. Eu sempre digo, quando vou conversar com um cliente novo norte-americano, como quem não quer nada, que eu fui oficial da Marinha do Brasil e é impressionante como as portas se abrem e o comportamento do cliente muda completamente, como se fôssemos amigos de longa data, companheiros de caserna. A regra de ouro aqui é então se comportar sempre como um bom soldado. Se você estiver em dúvida de como se comportar em alguma situação nos Estados Unidos, simplesmente imagine que tu és um bom soldado e quase sempre obterás suceso.

Esta bela mulher quase foi vice-presidente dos Estados Unidos

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ampulheta


Terça-feira passada (13-12-2011) eu, sem querer, deixei cair o meu celular que estava no bolso da camisa e se desmontou todo. Não foi a primeira vez que isto aconteceu e era só questão de montá-lo de novo e a Nokia mostrar mais uma vez como são robustos os produtos desta marca, no entanto, em questão de milissegundos, acidentalmente pisei no display e o barulho do aparelho quebrando não sai da minha mente.

Voltei para casa só com o chip no bolso da carteira pensando que iria gastar uns 200 reais para comprar um celular novo. Bem, no “Boa Dica” há ofertas de celulares por menos de 50 reais. Imagino a qualidade. Neste meio tempo estou usando um celular chinês que eu comprei para a Luiza e é tão ruim que foi deixado de lado. É um autêntico  pato, daqueles que tem um pouco de tudo e não faz nada bem feito. Para piorar as coisas o plugue do carregador não faz mais contato e quando a bateria se esgotar será a morte definitiva. O indicativo de carga da bateria já perdeu uma barrinha. Parece uma ampulheta cibernética. Acho que eu na hora do almoço eu irei ao caixa eletrônico sacar R$ 50.