quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Jogatina

Esta semana o fato mais relevante foi o aprendizado das regras de um jogo. Foi por acaso, Mariah me chamou para brincar e apareceu com um dominó de baralho que veio como brinde de uma rede de fast food. É um baralho, mas no lugar de naipes temos um dominó.

Para jogar é preciso conhecer as regras e eu listei-as. Repetia as regras antes de cada início de uma nova partida:

- As cartas com as regras não entram na brincadeira
- Embaralhamos as cartas
- São sete cartas para mim
- São sete cartas para você
- O resto você coloca no banco
- Cada carta tem que encaixar numa igual
- Se não tiver a carta, pegue no banco até ter uma carta que sirva
- Ganha quem ficar sem cartas na mão primeiro

E fomos jogando umas oito partidas. A medida que ela aprendia o jogo e aplicava as regras ela ficava mais empolgada. A mãe chegou lá pela sexta partida.

- Mãe, eu estou chorando, mas é de alegria!

Citei novas regras a medida que os problemas surgiam, como quando o jogo não tinha mais solução e ganhava quem tinha menos cartas na mão.

Ontem Mariah chamou a mãe para brincar de dominó de baralho:

- As regras não entram no jogo... vou embaralhar... são sete cartas para mim e sete cartas para você... o que sobrou, mãe, a gente coloca no banco... Eu começo. Tem um ou nada?




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Tem certeza?

A velhice é algo engraçado: esquecemos de um monte de coisas recentes e lembramos outras muito antigas e marcantes. E distorcemos também. Muito mesmo. Os velhos adoram dizer que a escola de antigamente era boa e que a atual é um excremento fedorento. Ainda bem que o IBGE faz o favor de colocar dados de todos os censos em PDF para qualquer um consultar.



O último velho que soltou esta pérola tem mais de 60 anos. Então ele é dos anos 50. Como era a escola nos anos 60, na época que ele estudou? Aqui você tem o resultado do censo de 1960. São dados oficiais do governo brasileiro. A página 59 do PDF nos mostra que moravam no Brasil varonil 58.997.981 habitantes com mais de 5 anos e 27.578.971 eram analfabetos. Quase metade da população. Só isso já dá para afirmar que a escola no Brasil de 1960 era muito pior do que a de 2012 pelo simples fato que nenhuma escola é pior que a pior escola. O censo de 2010 nos mostra que o índice de analfabetos de 5 anos ou mais está em 10,8% e 9,6% entre os de 15 anos ou mais. Ainda uma vergonha, porém muito melhor que em 1960.



O velho fala estas besteiras por um processo psicológico de filtragem. Ele compara as escolas de excelência da época, como o colégio Pedro II, e mentalmente generaliza para todas as escolas públicas. O Pedro II sempre foi uma escola de elite e elite, por definição, é para poucos. O maior indicador que ocorreu o processo de filtragem é o segundo mito que ele propaga, de que a escola pública era melhor que a privada. Isto não faz sentido algum: por que diabos um pai e uma mãe colocariam o filho numa escola paga se ele teria uma escola melhor sem pagar nada?


O velho fala que na escola da época dele ensinavam francês e latim, mas eu nunca vi um velho realmente saber se comunicar em latim ou francês só com os conhecimentos da escola primária e secundária. Quem precisava realmente saber francês ou latim entrava em cursos de línguas ou faculdade de letras. Aliás, naquela época eram tão poucos com educação secundária que o ato de concluir este curso era garantia de um bom emprego. Quando eu entrei no curso técnico do CEFET-RJ, em 1987, estes velhos, que na época eram quase quarentões, profetizaram: "Terás bons empregos por toda a vida graças a este curso!" O velho também dizia que aprendia muita matemática, mas o seu comportamento econômico na época de inflação (a partir de 1980, quando ele já era adulto) mostrou que não sabe sequer o que é juro ou porcentagem.



Então vamos abrir esta Caixa de Pandora: os pais que moravam nos grandes centros urbanos colocavam os filhos em escolas privadas porque não existiam escolas públicas suficientes para todos. Em parte porque a sociedade nunca se interessou pela educação, em parte porque naquela época se faziam muitos filhos.



Existiam provas para entrar nas escolas públicas e, claro, cursos preparatórios para ajudar o candidato a passar, um verdadeiro vestibulinho. Ocorria um círculo virtuoso similar ao que acontece hoje nas universidades públicas de grife: os melhores preparados pelos cursos preparatórios passavam, o nível de ensino ficava mais alto, porém, na prática, só os extratos mais ricos da sociedade que eram admitidos.



Com uma forte demanda - os excluídos do sistema público -, os donos dos estabelecimentos de ensino privados  não precisavam fornecer um ensino de qualidade para ter muitos alunos. Isto ajudou a criar a lenda da escola privada deficiente. Mas uma escola privada ruim é melhor que nenhuma escola  pública. Os que moravam em áreas rurais em muitos casos não tinham opção nenhuma, o que explica o nível de analfabetismo historicamente alto nestas regiões.



O que mudou nesses 60 anos? O acesso a escola se democratizou, mas ainda existem escolas públicas de elite, o nível de ensino não é homogêneo. Ocorreu uma inversão parcial; as classes mais ricas migraram para as escolas privadas, mas continuam usufruindo das melhores escolas públicas, principalmente na educação superior (graduação e pós-graduação). Os pais, alunos e professores não acreditam como antigamente na escola e na educação como duas poderosas ferramentas de ascenção social.

A opção do governo de colocar todas as crianças na escola foi melhor que melhorar as escolas existentes? Sim, pois, como disse, uma escola ruim é melhor que nenhuma escola. O aumento das vagas e o movimento de tentar colocar todas as crianças na escola foi o correto naquele momento. O próximo passo é melhorar as escolas já existentes e aproveitar que as pessoas estão fazendo menos filhos para diminuir o número de alunos por classe, que em alguns casos ultrapassa de quarenta e torna inviável a realização de um bom trabalho. Fazer a escola melhorar é o passo mais difícil porque é um problema complexo que exige um esforço de todo mundo, inclusive dos professores, e de longo prazo, que o brasileiro tradicionalmente odeia.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

De filho para marido

Mariah adora brincar comigo. Basta eu chegar do trabalho para eu receber o convite. Raros são os dias que não brincamos nem um pouquinho de noite.


Quero ser um pai presente, então o que eu posso fazer no momento é brincar com ela. No futuro eu terei que migrar da brincadeira para o estudo, mas por hora Mariah só tem que brincar, ser criança e aprender por meio das atividades lúdicas.


A brincadeira sempre se repete. Ela é a mãe, a médica ou a professora e eu sou o filho, o paciente (pelo amor de Deus Pai, parem de chamar paciente de "cliente") ou o aluno. A relação é clara: há uma inversão nos papéis que ela sempre atua na vida real e ela quer, pelo menos nestes momentos, ser a superior hierárquica, ser o topo da cadeia alimentar. Alga de dia, atum de noite.

Os nomes das brincadeiras também são engraçados. A brincadeira que ela é a mãe ela chama de "Mãe & filho", a da médica, de "Doutora Eliana" - Eliana é o nome da pediatra - e a que ela é a professora, simplesmente "Escola".


Nas últimas semanas esta doce rotina mudou um pouco. Ela não quer mais que eu seja o filho da brincadeira Mãe & Filho: ela agora quer que eu seja o esposo e a boneca é a filha. A reprodução da vida da Luiza é cristalina e hoje de manhã demos ótimas gargalhadas com ela imitando na cama os exercícios de hidroginástica.

Não sei qual foi o causador desta mudança sutil, porém importante. Pode ser que ela agora esteja sedimentando o conceito de núcleo familiar e os papéis de casa um. No fundo, é apenas uma brincadeira, mas está me deixando muito pensativo e surpreso.

Dizem que o pai é o primeiro amor de toda a mulher e o meu bebê está crescendo.

sábado, 8 de setembro de 2012

Alguém tem que ceder

Tem coisas que só acontecem comigo e com a Luiza. No final de 2000 tivemos um lindo casamento e ficamos absolutamente duros. Orçamentos de um pobre técnico e uma pobre terceirizada de um jornal completamente comprometidos. A lua de mel foi adiada um ano, jogada no cantinho do final de 2001.

O primeiro ano de um casamento é quase sempre o Diabo ralado. É adaptação pura e a pratica de ceder em coisas que você até achava fundamental (tem que) vira(r) rotina. No final de 2001 já estávamos cansados, por precisar de férias, e adaptados um ao outro. E Luiza cedeu: fomos para a Serra Gaúcha num carro velho, no nosso tanque de guerra vermelho. O roteiro foi Rio de Janeiro / São Paulo / Curitiba / Blumenau / Nova Petrópolis. A volta prevista seria Nova Petrópolis / Curitiba / Rio de Janeiro.

Na primeira parada, ficamos 3 ou 4 dias. Antes de pegar a estrada para Curitiba, vi o nível da água do radiador, só que deixei a tampa do radiador em cima do motor e a perdi. Me dei conta logo depois, mas não achei a tampa. Deixamos o carro num posto e catamos uma loja de peças, mas parece que a tampa que nos venderam ou não era para o modelo ou não estava em boas condições, perdendo sempre água. Eu fiquei o resto da viagem acompanhando a temperatura do motor porque ela me fornecia uma boa noção de quando tinha que parar num posto para completar o nível. Não me pergunte o motivo de eu não ter comprado uma outra tampa original em Curitiba.

Depois de 4 dias em Curitiba seguimos para Blumenau. Era início de dezembro e a cidade estava vazia. Os moradores falavam da loucura dos dias de outubro, quando hordas de paulistas invadiam a cidade para beber cerveja. Aprendi a amar marrecos recheados com repolho roxo. O engraçado é que a gente se sentiu muito mal, muito estranho na cidade. Foi uma coisa espiritual mesmo, embora todos nos tenham nos tratado muito bem e seja uma cidade bastante turística. Totalmente incomum conosco. A Luiza também sentiu, mas só comentou quando eu toquei no assunto, já na volta para casa. Não lembro de passarmos por algo parecido em nenhuma outra cidade que conhecemos. Mais uns 2 ou 3 dias.

Depois de Blumenau longas horas até chegar à Serra Gaúcha. A cidade de Nova Petrópolis é linda, mais calma e bem mais barata que Gramado e ficava relativamente perto desta, não mais que uns 30km. Ficamos uns 10 dias e passamos o Natal lá.

A prova irrefutável que a Fiat Uno esteve na Serra Gaúcha


Na volta já estávamos cansados e decidimos tentar fazer em dois dias. No primeiro dia, como previsto, chegamos já no início da noite em Curitiba. Pernoitamos e saímos no final da manhã do dia seguinte. Ainda era claro quando passamos por São Paulo e pegamos a Rodovia Presidente Dutra. Só que um pouco antes de Aparecida caiu um temporal fortíssimo na estrada. E eu querendo chegar logo em casa e forçando a barra. Não dava mem para ver o que se passava uns 15m a frente e cada caminhão era uma cachoeira jogada no para-brisa. Decidimos entrar na cidade e estacionar no pátio da catedral para esperar a chuva passar. Depois de alguns minutos ela diminuiu e voltamos para o carro. Só que logo depois o temporal voltou e já era de tarde, acho que umas 15h ou 16h. Pelas minhas contas me notei que a gente iria passar por aquele trecho maldito da Serra das Araras no escuro. Então eu cedi e pernoitamos em Resende, já no estado do Rio de Janeiro.

De manhã pegamos rapidamente o caminho e chegamos em casa antes do almoço. Os cristais de Blumenau não quebraram na viagem, mas eu tinha me esquecido de alinhar o carro antes e perdi os dois pneus dianteiros por estarem muito desgastados por dentro. Ah, o excesso de calor me custou todas as borrachas da parte de refrigeração do motor. E a tampa do radiador, claro.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Em Oz, o Leão é gay

"Convidado para realizar um teste, Lucio Mauro Filho ganhou o papel do Leão, no primeiro musical de sua carreira. A pedido de Charles e Claudio, ele reforça as características gays do personagem. Situações que estavam no roteiro do filme mas não chegaram à tela foram incorporadas ao espetáculo, como o momento em que o Leão se senta no cilindro de óleo do Homem de Lata e não percebe." (http://oglobo.globo.com/cultura/superproducao-de-9-milhoes-leva-ao-palco-os-mitos-de-magico-de-oz-5097893)

Domingo passado, 02-09-2012, a família Trololó foi assistir à peça "O Mágico de Oz". A dupla Möeler e Botelho virou sinônimo de espetáculos caros, mas de qualidade. São os queridinhos da mídia: até a rigorosa Bárbara Heliodora elogiou o trabalho.




De fato, é tudo muito bem feito, com figurinos e cenários lindíssimos. Mariah nem piscava os olhos. Até entrar o Leão, meus únicos poréns eram que eu eventualmente não entendia as falas de alguns atores. Só os homens, porque as atrizes estavam com uma dicção muito boa. E a Maria Clara Gueiros achando que ainda estava atuando no Zorra Total e inserindo cacos desnecessários e que só tiravam a concentração. O público foi ao delírio quando a velha mal humorada interpretada por ela disse que tinha que sair pois estava na hora da aula de Pilates.



Até que entrou em cena o Leão.

O Leão, nesta peça, era gay.



Então vamos por partes. Primeiro, não é homofobia da minha parte. Não tenho nada contra qualquer preferência ou orientação sexual. O problema é que eles inseriram uma temática sexual que não existia na história original. Qual finalidade? O riso fácil porque os gays caricatos são supostamente engraçados? Se for, não há inovação nenhuma, porque o Costinha usou isto ad nauseum na clássica série de discos O Peru da Festa nos anos 80. Ou será que foi para compensar o fraco desempenho do ator Lúcio Mauro Filho? Ou foi ainda para dar um toque brasileiro e criar uma versão sexual? Arnaldo Jabor deve ter uma teoria sobre isso. A minha é que o mundo está virando uma grande Zorra Total na Praça é Nossa.



Segundo, por ter só 4 anos e por não ser estimulada com temática sexual, para a minha alegria a filhota não entendeu. Porém estavam na plateia dezenas de crianças com mais idade que ela. O que passou naquelas cabecinhas? Na história, cada um dos companheiros de viagem de Dorothy tem uma demanda. O Espantalho deseja um cérebro, o Homem de Lata, um coração e o Leão, coragem. E o Leão fala diversas vezes que vai pedir ao Mágico de Oz para ser corajoso. Será que as crianças vão interpretar uma eventual falta de coragem de um coleguinha de escola ou de uma prima como homossexualidade? Uma coisa não tem nada com a outra. Aliás, ainda é preciso muita coragem para declarar publicamente a homossexualidade.

Terceiro, a obra-prima de L. Fank Baum é ao mesmo tempo pioneira por ser de auto-ajuda, belíssima para uma obra infantil e ao mesmo tempo uma incrível metáfora política. Ele jamais colocaria algo sexual num livro infantil num país tão puritano como os Estados Unidos. Ainda hoje, na Flórida, prostituir-se e contratar os serviços de prostituição é crime e dá cadeia. Imagina se esta peça fosse encenada deste jeito lá: pararia todo mundo na sala do Xerife.

Mas sou eu que estou ficando um velho chato, homófobo e reacionário. Ninguém ligou para isso. Só eu e a minha esposa. O riso explodiu na plateia quando o Leão tirou o borrifador de óleo do Homem de Lata de dentro das nádegas. Mariah, curiosa, perguntou: "Mamãe, o que houve?"

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Não tenha medo do simples

As logomarcas atualmente estão um horror. É muita elipse para pouco cérebro. Não aguento mais ver elipses em logomarcas.

Aqui vão três pequenas obras primas, sendo duas feitas no Brasil para empresas estatais. A primeira é o antigo símbolo de Furnas que a Eletrobrás, ao unificar as subsidiárias, tirou de circulação para colocar algo que parece uma turbina faltando uma das lâminas.


A genialidade está na simplicidade. Com duas estrelas sobrepostas eles fizeram uma torre de transmissão de energia elétrica. Sintetizou o negócio da empresa (gerar e transmitir eletricidade) num elemento básico e que aprendemos a desenhar ainda crianças. Quem nunca encheu um papel em branco com um monte de estrelas de cinco pontas?

O segundo é o antigo logo da rede de emissoras de TV dos Estados Unidos CBS. É apenas um olho atento, igualzinho ao nosso olhar de telespectador. Este símbolo inspirou o da Rede Bandeirantes.



O terceiro é o da extinta Rede Ferroviária Federal. Duas linhas que se encontram. Ou uma linha que se divide, dependendo de como se vê. Mostra exatamente o conceito de uma rede usando um dos elementos básicos de uma linha férrea: o desvio.


Não tenha medo do simples. Na maioria das vezes, com um pouco de bom gosto, ele fica muito bom.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tenho orgulho de ser brasileiro

Esqueça o que você lê nas cartas que os leitores enviam para os jornais. Esqueça o que escrevem no Facebook. Tenha orgulho de ser brasileiro neste momento.

Na Rússia o czar Vladimir Putin bota o seu lado stalinista para fora e manda para a cadeia as cantoras da banda Pussy Riot que protestaram contra ele.

Na Índia o sistema de castas continua firme e forte há séculos.

Na China um exército de espiões fiscaliza a Internet enquanto o governo oprime qualquer movimento dissidente.

Por aqui, o STF julga o braço direito do ex-presidente mais popular das últimas décadas. Tudo dentro da constituição e do Estado Democrático de Direito. O resultado do julgamento é imprevisível, como deve ser.

Não ligue para o PIB e crescimento do PIB. Estamos provando que o Brasil é muito maior que eles.

Dia dos Pais

Sexta passada, iniciando as comemorações para o Dia dos Pais, tive a brilhante ideia de ir com a intrépida trupe conhecer o Bar do Adão da Tijuca. Mariah reclamou do barulho e da confusão. Aliás, todos ser incomodaram com o barulho e a confusão, mas a pequena não sabia que isto era normal. O chope estava delicioso, mas esqueceram um dos nossos pedidos e, somado com a lotação da casa, demorou horrores.

No sábado, 11-08-2012, a escola promoveu um evento para comemorar o Dia dos Pais. Mariah e as outras crianças ensaiaram por semanas e no final tudo que foi preparado for executado. Na medida do possível: Mariah ficou preocupada porque eu fico com as pernas dormentes se eu ficar muito tempo sentado no chão na posição de meditação e relatou para a professora. Ela ainda achou que eu não poderia correr e relatou para a professora. Coisas de quem tem pai "maior que quarenta":

IMC > 40
Idade > 40

O pior de tudo foi que mudaram algumas das brincadeiras por mim. Ai, que vergonha. Me senti um velho estraga-prazeres. O único pai da escola exageradamente assim. Me imaginei curvado com uma bengala e banguela. Felizmente Luiza só me contou horas depois de terminada a festa porque, de outro modo, morreria de constrangimento.

No domingo fomos curtir um pouco a vida pai-filha. Fizemos bolo de chocolate de caixinha, brincamos e levamos para andar de bicicleta na Praça dos Cavalinhos. O gari que cuida desta praça estava naquele exato momento em Londres, se apresentando na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de 2012.

Enquanto observávamos a nossa pequena ciclista dar voltas infinitas em torno do chafariz desligado, eu confessei à Luiza que sempre tenho a impressão que Mariah só vai lembrar do que fizemos juntos depois dos seis anos. Como eu perdi o meu pai com esta idade e lembro realmente muito pouco dele, acredito que com a Mariah será a mesma coisa. Claro que o amor e o relacionamento ficam no subconsciente para sempre. A educação e a formação também. Mas e as horas na minha corcunda ou brincando de "mãe & filho", "escola" e "médica"? É difícil avaliar porque antigamente - falo até os anos 1970 - os pais não brincavam muito com os filhos e talvez eu não lembre do meu pai brincando comigo porque simplesmente ele talvez não tenha brincado.

O tempo dirá e Mariah parece ter uma boa memória. Pelo menos ela lembrou que eu fico com as pernas dormentes quando fico muito tempo na "posição do chinezinho". Ai, que vergonha!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Estou voltando para casa

Ontem foi o primeiro dia após muitos que eu dormi numa cama de verdade, com pés, cabeceira e estrado. Em março começou uma grande reforma no meu apartamento e o meu irmão me emprestou o apartamento dele para a família trololó morar durante as obras. Fiquei com vergonha de falar a verdade - a previsão eram três ou quatro meses - e menti: disse que durariam dois meses. Está completanto o quinto e não acabou.

Já estava constrangido de ficar usufruindo de um favor tão longo e impagável. Hoje em dia é difícil encontrar quem faça isto pelos outros. A raridade provocou um certo constrangimento e a sensação de privilégio imerecido. Terá a minha eterna gratidão.

No início de junho ele mandou um e-mail que perguntava quando iria terminar o empreendimento. Conversei com a Luiza e Luiza conversou com o pedreiro. Mais duas semanas.e tudo estaria pronto. Marquei a devolução do apartamento no dia 22 de julho, domingo. As duas semanas a mais não foram suficientes, mas decidimos não mudar os planos. Há algo de curioso nas reformas domésticas: elas não acabam nunca; em algum momento desistimos e encerramos os trabalhos.

Na sexta, 20 de julho, iniciamos o processo de arrumar o apartamento do André e fazer a nossa volta. Mariah se recuperava de uma gripe que transmitiu para a Luiza que transmitiu para mim e para a minha sogra. O final de semana foi caótico e conturbado.O reparo do aquecedor do apartamento do meu irmão só foi concluído na segunda, quando ele já estava morando. Ainda tenho algumas pequenas pendências para resolver no imóvel dele, porém o mais urgente era proporcionar um banho quente.

No meio da bagunça conseguimos montar a cama da sogra no domingo. Luiza e Mariah dormiram num colchão inflável de casal que nós compramos há alguns meses. Eu dormi em um colchonete. Na verdade, de tão finos, eram dois, um em cima do outro e mesmo desta forma não ajudava em nada, era praticamente dormir no chão. Como eu durmo parte do sono de lado (gordo vive mudando de posição), o quadril está dolorido até agora. Por isso ontem a nossa meta de era limpar e montar a nossa cama ainda quando eu chegasse do trabalho. A meta de hoje é voltar com TV a cabo, telefone e Internet.

Fazer pós-graduação, cuidar de uma idosa e uma criança de quatro anos e meio e ainda fazer uma obra no apartamento estressa qualquer um. Eu tenho consciência que fiz tudo e não fiz nada bem feito. O possível é cúmplice do que não é proposital. Eu também tenho certeza que sobrecarreguei a Luiza em quase todos os momentos. Ela realmente é muito especial.

sábado, 21 de julho de 2012

Quarentão junior

Adoro ouvir a coluna do Max na CBN. Normalmente eu acompanho no site da rádio, porém é muito melhor ouvir dirigindo, no estressante fluxo do caos que são as vias brasileiras.Um dia um ouvinte mandou um e-mail dizendo que queria mudar "radicalmente" de profissão. Queria começar do zero.

Max afirmou que provavelmente ele estava por volta dos 40. Fiquei bolado e achei no primeiro momento algo muito preconceituoso.

Sábio Max, vários amigos meus estão nesta situação e por volta dos quarenta. Professores querendo algo mais artístico - e mais distante dos alunos-, psicólogos desejando ser inspetores de soldagem (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e por aí vai.

Existe um grupo que está cansado do tipo de trabalho e decepcionado com o retorno que a sociedade dá aos seus esforços. Estes eu tenho muita, mas muita pena. O outro grupo eu não tenho pena nenhuma. São pessoas que escolheram os cursos e carreiras sabendo que seria muito difícil se sustentar e ainda por cima estudaram em escolas fraquíssimas, sem nenhum valor para o mercado. Foi tudo consciente. Achavam-se mais espertos ou especiais a ponto de seu destino profissional ser totalmente diferente da média. Apostaram alto, em uma roleta viciada e, ao perderem até as roupas íntimas, declaram-se "decepcionados com a profissão".

Um dia o meu grande amigo Ailton Arruda suspirou diante de uma situação: "Tem gente que só aprende quando fica velho e se descobre sozinho... As vezes todo mundo abandona o velho e pensa que os amigos e parentes são safados. As vezes quem foi safado a vida toda foi o velho". Seguindo a lógica Arrudiana, o fracasso profissional pode não ter sido causado por azar, recessão, crueldade do mercado ou qualquer outro fator externo. O fracasso pode ter começado e se desenvolvido internamente, materializado nas nossas escolhas.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Gabriela tem um pé na TV Manchete

Eu vejo Gabriela e não consigo não lembrar das novelas da TV Manchete. A estética está toda lá, principalmente nas cenas de sexo e nudez. Como pode uma emissora de vida tão curta influenciar até hoje a história da teledramaturgia brasileira? Por que a Manchete conseguiu o nível que qualidade global tão rápido e precocemente?

Para esta segunda pergunta eu tenho uma teoria. Em primeiro lugar a Manchete foi criada do nada. A Bloch era um sólido grupo de mídia impressa e rádios que ganhou algumas concessões de canais de TV. Se ela começou do nada, todos os equipamentos eram novos, enquanto as concorrentes da época (Bandeirantes de SBT, que eu acho que na época se chamava TVS) possuiam equipamento em uso. Tudo novinho, calibrado e com garantia de fábrica, da câmera ao transmissor. Isto garantiu a qualidade da imagem e explica parte do fenômeno.

A outra parte é meramente econômica. Ao contrário das concorrentes Paulistas, a Manchete era Carioca e seus estúdios ficavam em Parada de Lucas e na Glória. E esta é a chave do cofre: por um custo muito baixo, tipo 20% a mais de salário, a Manchete conseguia levar fácil parte do corpo técnico que trabalhava na Globo. Ela absorveu toda a tecnologia que a Globo levou anos para formar e que estava no capital intelectual, isto é, na cabecinha do figurinista, do operador de áudio, do eletricista, do iluminador, do câmera e demais técnicos. Esta gente normalmente ganha pouco e 20% a mais faz toda a diferença.

Agora pense: por 20% a mais você sairia do Rio de Janeiro para ir para São Paulo? Teria que alugar apartamento, mudança, trocar escola do filho, conjuge pedindo demissão... A fonte técnica do povo da Bandeirantes e SBT era o conhecimento aprendido dentro da própria emissora e talvez um pouco da indústria cinematográfica. Só que deste jeito eles jamais absorviam a tecnologia da Globo.

O resultado é que em pouco tempo a Venus Platinada ficou realmente preocupada com as novelas da Manchete (principalmente Pantanal, linda e inovadora ) e absorveu parte da sua estética.

É a criatura ensinando o criador.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Pipoqueiro e Héstia

"Todo amor é eterno. Se não era eterno, não era amor"
 (Nelson Rodrigues)


Eu lembro ao certo quando conheci a deusa Héstia. Só não sei se foi em 1996 e 1997, quando caí na turma dela no IBEU de Madureira pois o curso que eu fazia na Cultura Inglesa acabara após seis períodos e eu queria continuar os estudos. Um dia trocamos telefones, eu, ela, e mais alguns alunos, mas não com segundas intenções, e Héstia junto com o número escreveu um convidativo "Me liga". Era inocente. Deve ter escrito para todos.

Posso ligar para ti?



Algum tempo depois eu liguei. Não sei se eu estava trabalhando no turno da noite ou se foi em casa.. Era uma fase que eu estava muito infeliz. Chorava horrores, tinha uma angústia tremenda. A psicoterapia também não deveria estar num momento bom. É difícil precisar uma dor local de quinze anos atrás, princpalmente quando a gente hoje está bem e feliz, é passado, até a posição exata das cicatrizes são controversas.



Menino chrão

Héstia me acolheu pelo telefone, A deusa foi o meu doce e caloroso colo virtual. Acho que conversamos por quase três horas, até as duas da manhã. A orelha, avermelhada, fervia do contato com o telefone tão longo. Eu precisava daquela acolhida; eu me sentia muito rejeitado e carente e Héstia me fazia sentir bem.


Héstia passou no vestibular e entrou na faculdade. Mesmo as aulas de inglês sendo aos sábados e tendo bolsa integral acabou desistindo. Mantive contato pelo telefone e chamei-a para almoçar. Estava me apaixonando pela deusa. Um dia ela aceitou, depois de muita relutância. Foi apenas um almço de dezenas que se seguiram, porém me descobri louco por Héstia que trocou um namoro com uma pessoa que só falava mal por um insosso bem mais velho que ela.. Na minha ética eu jamais poderia tentar namorar com uma mulher que estivesse namorando. Seria violar o Décimo Mandamento, mesmo que "o próximo" seja sem sal e não tão próximo.

Quer alguém com mais tempero?


Fiquei em stand by, esperei por anos a minha vez, isto é, ela terminar o namoro e ficar sem ninguém para eu tentar namorá-la. Na verdade, neste meio tempo até me interessei por uma amiga de faculdade, porém felizmente levei toco.

Doeu, mas no final foi o melhor para mim


E o tempo escorria, caindo dos braços para as mãos e das mãos para o ralo, só que Héstia não ficava sem ninguém: durante um periodo de muda que durou algumas semanas ela ficou com os dois; traindo o anterior com o novo. Isto foi antes de me conhecer. Parecia aqueles pedreiros muito requisitados que antes de terminar a obra na sua casa está iniciando a obra na casa do próximo cliente. O décimo mandamento foi criado para torturar os amantes.

No meio de 1999 eu conheci a Luiza, começamos a namorar e Héstia foi naturalmente perdendo espaço e aqueles inesquecíveis almoços foram ficando mais raros. Ciúme compreensível da Luiza, mas nunca trocamos um mísero beijinho. Não que eu não tivesse muita vontade. Como pano de fundo uma amizade que eu, ingênuo, julgava sólida e eterna, danado foi o Karl Marx que disse tudo que é sólido desmancha no ar.

As vezes acho que Héstia também estava gostando de mim. Se sim, nunca saberei ao certo. A vaidade me coça as costas e deixa sedento por tirar a dúvida. Mas a resposta negativa eu já tenho e a positiva hoje é inútil. E ontem também pois eu jamais seria o pedreiro muito requisitado do coração dela. Sou muito rigoroso em certas situações, mesmo que no curto prazo me prejudique. No longo prazo Deus abençoa e compensa.

This is the question


Considere também que quando o assunto é namoro eu sou um pipoqueiro com doutorado. A grande questão deste post, no entanto, não é a minha letargia e procrastinação; é a eterna dúvida de se é possivel existir uma amizade totalmente desinteressada entre um homem e uma mulher. Eu, sinceramente, me iludia e afirmava que sim. O ser humano é apimentado pelos interesses.

Relutante e inseguro


Em 02-12-2000 as montanhas de Nova Friburgo notaram a cara emburrada de Héstia na minha festa de casamento. Pode ser impressão minha. A deusa se formou e terminou o noivado insosso logo depois. A minha vez tinha chegado e era tarde.

O trem passou. Chegaste tarde.


Héstia voltou para o ex-noivo e terminou rapidamente. Acabou se casando com um médico no final de 2004 ou 2005, no último evento que eu a vi. O anterior foi a minha festa de aniversário que eu fiz no meu apartamento, também em 2004. Depois disso trocamos e-mails cada vez mais escassos e eu, como bom fofoqueiro, acompanhei a vida dela platonicamente no Orkut e depois no Facebook.

Desmanchou no ar como tudo que é sólido. A dor da perda foi terrível e durou anos. Contabilize mágoas, pois foi uma pessoa que eu só fiz o bem. Hoje eu aceito e até entendo que amizades não foram feitas para serem eternas.

Não sei se eu tivesse namorado com Héstia eu seria feliz. É difícil de avaliar. Acho que seria uma relação difícil, mas já pensei que ela fosse a tal mulher da minha vida. Escrever isto foi uma purga na alma, mas é tudo passado. Contudo se eu voltasse 15 anos no tempo, que se dane o décimo mandamento,  tascava-lhe um beijão.

Não dá para voltar no tempo.



terça-feira, 10 de julho de 2012

Dom Eugênio e a administração de problemas

Quem olha por fora pensa que é uma coisa só, homogênea, mas a Igreja Católica, por dentro, é bem segmentada. Existem Salesianos, Franciscanos, Carmelitas descalças, Jesuítas, Opus Dei. No fundo são diversas correntes unidas por uma doutrina maior única.

A obra de dom Eugênio Sales é uma bússola para perceber estas diferentes correntes e até estudar um pouco administração brasileira. Durante o governo militar uma parte da Igreja Católica no Brasil optou por gritar e se posicionar contra o sistema. A outra parte escolheu uma ação mais discreta. Eugênio ficou no segundo grupo e foi odiado pela esquerda.

É importante lembrar que a atuação política não é exclusividade dos sacerdotes católicos. O rabino Henry Sobel abraçou o grito e não deixou que Wladmir Herzog fosse sepultado na ala dos suicidas, conforme manda a Lei Judaica. O recado de Sobel foi: "Ninguém é otário por aqui; todo mundo sabe que ele foi torturado até a morte". Evidentemente que no Brasil ele será lembrado pelo resto da vida pelo episódio das gravatas e não por uma luta incansável pela justiça e pela dignidade humana.

Pastor evangélico lutando contra a ditadura eu não lembro de nenhum. Naquela época o slogan deles era "crente não se mete com política" e o atual é "irmão vota em irmão".

Eugênio cultivava bons relacionamentos com militares e empresários, com destaque para a longa amizade com a família Marinho cuja Santa Missa em Seu Lar talvez seja o maior símbolo. E a esquerda produzia bile. Anos depois descobrimos que Eugênio ajudou dezenas de refugiados políticos que chegavam ao Rio de Janeiro figindo das outras ditaduras que se espalhavam pelo continente, principalmente da Argentina.

O método eugeniano de administrar o problema salvou vidas, mas não ajudou a derrubar o sistema. Sua discrição e coragem evitou muitas mortes e constriu pontes, mas não derrubou a fortaleza.  Não estou totalmente certo que o outro método, o do grito, realmente contribuiu para o fim do período militar. Na verdade, estou crendo que quem realmente disparou os canhões contra a muralha foram os dois Choques do Petróleo e o Paul Volcker, que transferiu a conta salgada dos EUA para a América Latina.

Que Deus receba dom Eugênio na sua Santa Paz.

domingo, 8 de julho de 2012

Um cabra sortudo

No final da tarde de sábado o aquecedor de água para de funcionar e na madrugada de domingo chega uma frente fria.



Quinze graus Celsius na Praca Xavier de Brito às 22h.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Brava barba

Se existe uma coisa que me fazia morrer de vergonha era encontrar alguém que eu não via há muito tempo com a minha barba por fazer. Por outro lado, eu sempre fui muito prequiçoso para isto e a minha pele é muito fina, quase sempre me corto. Um dia o meu rosto ficou com uma ferida que não curava e eu deixei a barba crescer, esperando a cicatrização. E a barba crescendo, crescendo, toda branca, quase um Papai Noel.


Decidi ir a uma barbearia na esperança de um profissional não me cortar, mas sangrou justamente onde estava quase cicatrizando. Fiquei numa sinuca de bico. Aí eu decidi comprar um barbeador elétrico Mallory para ir me virando até a ferida curar. E não é que eu gostei? Estou fazendo a barba praticamente todo o dia. Aos 40 anos descobri que fazer a barba é uma questão de hábito.


Sábado passado, 29-06-2012, foi a festa de um ano da Anna Luiza, filha da Sandra e do Sérgio. Não estou um pedaço de mau caminho, como diria a minha mãe?





Só não sei se vou encontrar lâminas novas para comprar quando as em uso ficarem cegas. Ô mundo descartável.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Só vinte por cento

Em 1992, eu acho, fui na primeira formatura de um universitário da minha vida. Era o meu irmão #5 que estava se graduando em Economia. Os irmãos #1 a #3 não quiseram cerimônia de formatura -  uma grande mágoa do meu pai - e o #4 não tinha se formado.

Uma cerimônia simples, formal, até meio mecânica, no auditório da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. O que me chamou a atenção e eu nunca mais esqueci é que apenas oito estavam no palco do auditório para ganhar o merecido diploma.


Naquela época, falar de cotas para negros era comentar apenas o exemplo dos Estados Unidos e filosofar se era bom ou ruim aplicar no Brasil, praticamente uma conversa sem aplicação prática por aqui.


Mas entraram quarenta alunos no vestibular e os outros 32? Abandonaram o curso. Este fenômeno da evasão escolar acontece em todos anos e em todos cursos universitários. A maioria das pessoas por conveniência mental não vincula a evasão escolar com cotas. 80% de pessoas abandonarem um curso pago com o dinheiro público é normal. Dar 20% das vagas para os negros é um absurdo inaceitável, uma violação do princípio da igualdade e da meritocracia.


40 pessoas entraram num ótimo curso de ciências econômicas (meu irmão #5 hoje é economista do BNDES) e só 8 se formaram. Para mim tem algo de muito errado acontecendo. 32 pessoas ocuparam vagas, torraram o dinheiro do governo e não deram o retorno à sociedade.
80% deixaram um curso e ninguém reclama de nada.


O aluno simplesmente desiste, deixa de frequentar as aulas e segue a vida. Não precisa pagar multas e não precisa devolver o dinheiro que o governo investiu no curso superior dele. Tudo muito cômodo para a classe economicamente mais favorável que historicamente sempre foi maioria no ensino público superior.

Agora 20% para o negro todo mundo grita! É sempre assim. O preconceito não é só contra o negro, mas contra o pobre. Uma amiga minha uma vez reclamou que não passou para medicina. "Foi por causa das cotas", ela disse. Eu mostrei que o problema foi a evasão das pessoas que entraram, tiraram a vaga dela, e não se formarão. Mas, sinceramente, acho que ela continua colocando a culpa nos negros.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Aparelhos ideológicos da escola

Mas o doutor nem examina
Chamando o pai de lado
Lhe diz logo em surdina
O mal é da idade
Que prá tal menina
Não há um só remédio
Em toda medicina..."
 
(Luiz Gonzaga, Xote das Meninas) 


Alguns professores do ensino fundamental e médio aproveitam a profissão para fazer militância política. Acho que hoje isto não é tão intenso nem tão comum, mas eu nunca vi um professor de história de direita. Nos anos 80 era moda tacar ideologia até em triângulo retângulo. Em outras palavras, eles faziam exatamente o mesmo que tanto acusavam a mídia, só que jogando pelo lado esquerdo do campo.

O resultado é que certos artistas que não apresentavam um trabalho fortemente ideológico eram desprezados, principalmente os românticos que naquela época estavam migrando de rótulo: eram cafonas e agora são bregas. O professor Paulo Cesar Araújo escreveu um livro (Eu não sou cachorro, não - música popular cafona e ditaduta militar) muito interessante sobre as músicas e artistas românticos populares e como eles foram esquecidos ou sofreram uma simplificação da obra. Os casos mais emblemáticos foram Dom & Ravel e Odair José. O tema central do livro era que os artistas populares não eram parte de uma engrenagem que tentava alienar a população, nem deixaram de sofrer com a censura.



Nesta época que respirava-se política e revolta, a única obra de Luiz Gonzaga que era digna de entrar numa sala de aula era Asa Branca. Asa Branca dava orgasmos convulsionantes em professores de geografia. O resto, na cabeça deles, era descartado, lixo puro.

Ontem Mariah começou a cantarolar uma música de Luiz Gonzaga que ela está ensaiando para a festa junina da escola. Xote das Meninas.  Encontrei no You Tube e ela pediu para ouvir umas oito vezes. Nunca tinha prestado atenção na letra, meu Deus, é poesia pura. Viva Luiz Gonzaga e parem de usar a escola como uma ferramenta de doutrinação política.


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Namorados

Como eu disse aqui, no dia 08 de Junho de 1999 eu recebi um e-mail da Luiza. O encontro só rolou no dia 25, no NorteShopping que, por sinal, sabe-se lá o motivo, ela odeia.

Hoje, portanto, comemoramos 13 anos de namoro.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Joga fora e compra novo

Desde pequeno eu sempre gostei de manutenção. Sempre fui muito curioso e gosto de saber como as coisas funcionam, ver as soluções encontradas e descobrir novas máquinas. Adoro máquinas. Eu seria técnico a vida inteira se não fosse a questão financeira e de status.

Eu lembro que em 1985 o meu irmão #2 comprou por uma merreca um barbeador elétrico Philishave. Parece que alguém no trabalho dele tinha sido sorteado e, como não queria o prêmio, vendeu para o meu irmão. Era um aparelho simples, possuia apenas duas cabeças rotativas e não gozava de bareria recarregável interna: para operar deveria ficar ligado na tomada. O barbeador tinha um desempenho pífio e o meu maior prazer era montá-lo e desmontá-lo completamente. Ele era tão bem feito que as operações de desmontagem foram repetidas dezenas de vezes e nada de ruim acontecia.

Hoje em dia os produtos não são feitos para durar. A lógica é sempre trocar por um novo. Ao contrário do Philishave, ao desmontar muitas vezes danificamos o equipamento de forma irreversível porque é tudo colado ou encaixado e não mais aparafusado.

Quando era pequeno ouvia histórias de Norte Americanos que não consertavam geladeiras ou televisores, simplesmente descartavam na porta de suas casas brancas com telhados cinzas e grama impecavelmente aparada. Eles compravam novos! E eu não acreditava. No meu mundinho de subúrbio de grande cidade brasileira tudo era consertado ad eternum e eu não via lógica nenhuma em jogar fora uma televisão e acreditava que, tendo mão de obra tão barata, nosso país nunca seria assim. Tolinho.

Eu agora percebo que a indústria não ganha nada quando você conserta porque ela é uma montadora e quem fabrica a peça de reposição é uma outra empresa. O lucro está no ato de comprar um novo. As pessoas hoje entraram no jogo e compram coisas baratas, mas não percebem que esta redução de preço se dá, também, por meio da diminuição de peças sobressalentes em estoque, do número de oficinas autorizadas, da qualidade da montagem, da retirada breve do modelo no mercado, do uso de mão de obra chinesa e da compra de um produto de uma outra empresa e simplesmente colocando o nome da empresa supostamente conceituada (pratica conhecida como OEM). Estes procedimentos de fato diminuem o preço e permitem que mais pessoas consigam comprá-lo, porém tornam o aparelho descartável.

Três fatos recentes aconteceram comigo. O primeiro foi uma sanduicheira que estava queimando o sanduíche. Normalmente quando isto ocorre é porque o elemento de controle da temperatura falhou. Ao abrir a sanduicheira descobri que o chinês colocou um termostado de 150 graus Celsius. Com 150 graus não há pão que aguente. Tentei comprar um novo termostato, de 110 graus ou 120 graus, mas o que eu achei não era exatamente igual. Perdi a sanduicheira tentando adaptá-la para a peça não original que me custou R$ 12. Além disso gastei mais R$ 30 comprando uma nova sanduicheia.

O segundo foi que o antigo secador de cabelo da minha esposa parou de funcionar. É um Philips Professional maravilhoso, embora a desmontagem são seja tão simples e fácil como a do antigo Philishave. Foi somente o fio que partiu: reparo simples, mas, como eu estarei até meados do mês de julho sem todas as minhas ferramentas, optei por comprar um novo, só que portátil, para a minha esposa ir se virando. Como o Philips é enorme, um portátil para as nossas viagens acaba sendo uma boa solução. R$ 29 na Liquidação Maluca. A marca é a velha FAET do Rio Comprido, cidade do Rio de Janeiro, mas na caixa já dizia que era fabricado na China. OEM.

O terceiro fato foi o aquecedor de água do meu apartamento que está apresentando um pequeno gotejamento. Tudo indica que o defeito está no diafragma da válvula que "sente" quando a torneira é aberta e liga o aquecedor. O modelo, de uma marca famosa e comprado em 2004, está totalmente discontinuado. Só encontrei a peça para comprar numa loja virtual em Campinas, SP, por R$ 26. Some a isto o tempo perdido num equipamento que eu nunca reparei e o fato de, pela idade, a eficiência da caldeira provavlemente estar baixa. Na Amoedo tem um Komeco zerinho por R$ 199 com um ano de garantia . Acho que eu vou é jogar fora e comprar um novo.