segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Quem paga a conta?

O sr. Luiz está com setenta anos de idade e ainda trabalha. Apesar de possuir carro, optou pelo metrô como meio de transporte entre a sua residência e o local de labuta. Suas viagens são gratuitas, visto que o Brasil concede este benefício aos idosos.

Seria uma história trivial de um idoso que não se aposentou se esta pessoa não fosse o doutor Luiz Barsi, um dos homens mais ricos do país, com mais de um bilhão de reais investidos na bolsa de valores.

"Eu podia comprar 10 Mercedes, uma de cada cor (..). Para trabalhar, venho todos os dias de metrô. É mais seguro."

Eu não sei de onde surgiu este conceito que idoso não deveria pagar pelo transporte público. Não faz o mínimo sentido, a não ser que o idoso seja pobre e precise de deslocar para  um médico. Neste caso o foco deveria ser a pobreza e não a idade do beneficiado. Operar um sistema de transporte por trilhos tem um custo. Eletricidade, manutenção, depreciação das máquinas, pessoal etc. Não existe transporte gratuito, se alguém não está pagando por um produto ou serviço, outra pessoa está pagando mais caro.

Nunca se esqueça disso: se alguém diz que consegue algo gratuitamente, uma pessoa está bancando este benefício; se alguém diz que "É meu direito" indague "contra quem?" pois, por lógica, um direito para uma pessoa está umbilicalmente ligado a um dever de uma outra pessoa. Os direitos adiquiridos e às gratuidades elevam a nossa carga tributária, não seja inocente.


As pessoas adoram reclamar que pagam muitos impostos, a despeito da maioria das que eu conheço em algum momento do dia cometem algum tipo de sonegação. Normalmente é coisa boba, como não pedir a nota fiscal no sacolão ou na loja de ferragens, mas diariamente ocorrem pequenas sonegações.

Estas pessoas que poluem a minha Internet de reclamações são incapazes de apresentar uma proposta concreta. Reclamam da corrupção mas não sabem como minizá-la. É uma conversa que não se sustenta por trinta segundos. Faça a experiência: quando alguém reclamar que se paga muito imposto o assunto vai quase invariavelmente cair no tema "corrupção". Se a resposta for esta, siga a conversa perguntando: como diminuir a corrupção. É divertido. É Poker Face.

Mesmo que toda a corrupção fosse extinta eu aposto que o brasileiro ainda iria pagar muitos impostos pelo simples fato que nós não sabermos administrar. Atire o primeiro porcelanato aquele que fez obra no apartamento e o serviço terminou no custo e no prazo inicialmente previsto.

O disperdício de recursos dos impostos incluem vários benefícios inúteis, que só encarecem a vida de quem não é beneficiado. É até um pouco revoltante imaginar que o camelô do centro velho de São Paulo que não tem carteira assinada e pega metrô banca o transporte gratuito de um homem com um patrimônio superior a um bilhão de reais. Mas no Brasil isto é normal, é justo, é ser socialmente responsável

Vejamos outros dois exemplos:

(1) Desconto de 50% no cinema. Até uma pessoa com um bom emprego e fazendo doutorado tem direito a entrar no cinema com 50% de desconto. Alguns cometem crimes usando carteiras de estudante falsas. O custo de um cliente estudante e um não-estudante é o mesmo: o aluguel do espaço no shopping, a eletricidade, a manutenção, o salário do pessoal e os direitos autorais não ficam 50% mais baratos se a platéia for completamente formada por estudantes. O custo será o mesmo. O resultado é que as operadoras de sala de cinema subiram os preços para compensar as perdas imposta pela lei. Quem paga é quem não tem carteira de estudante. O legislador atirou no lucro dos operadores de cinema e acertou no bolso dos não-estudantes.

(2)  Farmácia popular: claro que ninguém quer que as pessoas tenham um derrame devido à hipertensão arterial. Existe um argumento técnico que até faz sentido: o custo de um remédio de pressão é infinitamente menor que o custo de um derrame para o SUS. Faz sentido. O que não faz é alguém com um salário de 10 mil reais e plano de saúde privado ter direito a subsídio de medicamentos pago pelos mais pobres.

O problema é que a nossa demagogia tenta fazer todos iguais, quando na verdade precisamos otimizar os recursos financeiros. O remédio grátis tem que ser só para os mais pobres, comprovado com uma séria análise da renda do candidato.

Outro dia eu li que está rolando um projeto de lei em São Paulo que dá 50% de desconto para quem fez cirurgia de redução de estômago.Alguém pode me passar o telefone do doutor Barroso?



Para bilionário da Bovespa, qualquer um pode ficar rico com ações - InfoMoney
Veja mais em: http://www.infomoney.com.br/onde-investir/acoes/noticia/2778098/para-bilionario-bovespa-qualquer-pode-ficar-rico-com-acoes
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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Freakonomis do sexo

O vereador Eliseu Kessler, assim como eu, deve estar incomodado com os anúncios que oferecem sexo colados nos telefones públicos da cidade do Rio de Janeiro e propôs uma lei na tentativa de solucionar o problema. O projeto de lei no. 334/2013, se aprovado, obrigará a companhia telefônica a retirar semanalmente a publicidade irregular de todos orelhões do município e, se não cumprir, pagará uma multa diária de R$ 5 mil.



A intenção é boa, o vereador muito provavelmente agiu de boa fé, mas a forma como ele pretende resolver a questão diz muito sobre o Brasil.

Vamos analisar o que está acontecendo. De um lado temos profissionais do sexo que querem divulgar o trabalho com um custo financeiro baixo. Eles vão a uma gráfica e contratam um serviço de impressão. São gerados milhares de anúncios. Estes anúncios poderiam ser colocados em caixas de correio ou distribuidos na rua, mas eles preferem colar nos telefones públicos da cidade, provavelmente por causa da alta exposição, exposição esta que tanto incomoda cristãos recatados como eu. Certamente, se conseguirem um cliente novo por semana por meio dessa forma de publicidade, o investimento em propaganda terá valido - e muito - a pena.

Vou organizar a mecânica do processo sob a forma de um jogo de ganha - perde para facilitar a análise da situação e propor soluções na minha opinião mais inteligentes e eficazes.

GANHA:
1) O profissional do sexo = propaganda de baixo custo com um bom retorno por parte dos clientes.
2) O cliente do profissional do sexo = acesso a vários anúncios que facilita a escolha e a comunicação com o profissional do sexo.

PERDE:
1) A companhia telefônica = os orelhões ficam sujos de publicidade e perda de receita por afastar os potenciais usuários dos orelhões.
2) A sociedade em geral = os anúncios são feios, agressivos e indecentes, mas acabamos vendo mesmo sem querer, inclusive as nossas crianças.

Fica claro que a companhia telefônica é uma vítima e não está ganhando nada com isto e o que o vereador propõe é justamente punir a vítima. Fica claro também é que a solução mais justa está em punir quem ganha e não quem perde. 

Desta premissa eliminamos a sociedade e a operadora de telefonia. Sobraram o profissional do sexo e o cliente. O cliente é vago: não dá telefone, CPF, nada. Ele pode fazer um único programa na casa dele e pagar em dinheiro. Nestas condições é praticamente impossível encontrar o cliente para puní-lo.

Sobrou o profissional do sexo. Ele, no seu anúncio, sempre coloca um telefone. Então eu proponho duas soluções: a primeira, mais complicada, seria um funcionário da prefeitura ligar para o profissional do sexo e marcar um encontro e, no encontro, multá-lo por sujar a cidade e danificar o patrimônio privado. Na prática esta solução é cara, demorada e pode ser ineficiente porque depois de um tempo os profissionais do sexo podem aprender a diferenciar entre um fiscal da prefeitura e um cliente de verdade.

A segunda solução mais simples e barata consiste em simplesmente fazer um convênio com todas as operadoras de telefonia e bloquear os números de telefone fornecidos nos anúncios. Sem telefone funcionando os clientes não tem como se comunicar e a publicidade, antes eficaz, torna-se infrutífera, estéril.

É evidente que com o tempo os profissionais do sexo tentarão se adaptar, fornecendo e-mail no lugar de telefone, por exemplo. Neste caso a estratégia não muda: convênios com as operadoras de e-mail para bloquear e-mails envolvidos com prostituição. Neste caso é bem mais difícil a punição, porque servidores de e-mail podem não estar sediados no Brasil, o que dificultaria a ação das autoridades, mas o fornecimento de e-mail também é desvantajoso para o profissional do sexo, simplesmente porque a voz é fundamental no processo de sedução e convencimento, sem falar que e-mail o cliente tem que aguardar a resposta, o que pode ser um tempo mais que suficiente para o arrependimento e o cancelamento do serviço.


A técnica é sempre a mesma e vale para outros problemas: jogar a conta para quem está levando vantagem com a situação que queremos acabar a ponto de cancelar a vantagem.

As duas soluções apresentadas não punem, de forma alguma a prática da prostituição, que não é ilícita, apenas tenta discipliná-la preservando o patrimônio privado e as pessoas que não querem ver este tipo de publicidade. 

Vereadores, deixem a operadora de telefonia em paz!


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Assinatura

O meu sogro era espanhol de Badalona, região metropolitana de Barcelona. Ainda pequeno a família se mudou para o norte do país em busca de uma vida melhor numa cidade que recebia uma nova fábrica de alumínio. A família do pai da minha esposa vive até hoje no reino de Aragão, nesta pequena cidade próxima a Huesca. São mais aragoneses que catalães, inclusive no temperamento, em parte pela miscigenação que ocorreu: a segunda geração casou com aragoneses, e a terceira também. Maria, filha da Merche, sobrinha do meu sogro e prima de segundo grau da Luiza, tem o desenho do rosto mais francês que aragonês.

(O dia que eles lerem isto vão querer me matar).

De fora a Espanha parece um país homogêneo, mas não é e nunca foi. Algumas regiões são separatistas e não há muita miscigenação interna. A imagem da mulher de rosto fino, cabelo ondulado e preso, sobrancelhas grossas e negras que temos da espanhola é, na verdade, a "típica" madrilenha. A mulher aragonesa apresenta uma feição bem diferente.

Sempre encaramos a cidadania da Mariah como um presente póstumo do meu sogro, uma jóia preciosa que ela poderia usar em momento de necessidade futura. Cuidamos desta jóia com todo o cuidado e não só validamos o nosso casamento no consulado espanhol como tiramos a cidadania da Mariah logo depois que nasceu, pois o presente não podia esperar.

Já estamos a caminho do terceiro passaporte já que crianças recebem passaportes com validade bem reduzida, porque elas mudam muito o desenho do rosto aragonês-catalão-carioca, porém já estamos colhendo os frutos: a Espanha é um dos poucos países do mundo que tem o privilégio de entrar nos EUA sem visto. É só preencher uma ficha pela Internet, aguardar a autorização por e-mail, imprimir e pronto. Ao invés de pagar 160 dólares para pleitear o visto norte-americano, pagamos 72 reais e tiramos o passaporte espanhol que dispensa o visto. Multiplicar por dois a economia, porque a Luiza também possui a bendita cidadania.

Semana passada nos dirigimos ao Consulado da Espanha no Rio de Janeiro para renovar o passaporte da Mariah. A funcionária, muito gentil, perguntou se ela já sabia escrever, minha esposa disse que não, que estava em processo de aprendizagem. A funcionária insistiu e perguntou se já sabia escrever o nome.

E foi assim, sem nenhum planejamento, a primeira assinatura da Mariah em um documento. Papai brasileiro está comovido até agora.




sábado, 10 de agosto de 2013

Exames

O meu amigo Ricardo Carrera, quando eu o contei da dieta que eu fazia, sugeriu um exame de sangue para comprovar que a dieta funciona. "É o Método Científico", afirmava. Eu sou pão duro o suficiente para não pagar os exames do meu bolso apenas para abastecer o ceticismo de um pobre baiano e também não queria ir a um médico só para pedir uma bateria de exames. Aguardei ansiosamente a convocação do periódico de saúde da empresa, quando tudo seria elucidado sem ônus para mim.

Na quarta-feira, 08 de agosto eu recebi a convocação para os exames. Nunca pensei que fosse ficar ansioso para tirar sangue e olhar laudos, mas o mundo dá voltas. Ontem eu fiz a coleta, aproveitando para mostrar para os mais íntimos o meu lindo xixi preso num tubo de plástico transparente. O resultado saiu hoje a noite.

Eu já esperava um leve aumento da glicose e uma melhora nos indicadores de colesterol.



 








O que eu tinha mais dúvida era sobre o ácido úrico. Sempre me falaram que o meu elevado ácido úrico era fruto de um consumo alto de proteínas. Deveria, portanto, aumentar, contudo está melhor que o valor apurado no periódico de saúde do ano passado e quase dentro do limite.



Acho que já posso chegar na minha varanda e gritar que funciona.

Parabéns ao laboratório Bronstein pela gentileza da funcionária Elem Cristine e pela surpreendente rapidez na execução do exame e na publicação dos resultados.