segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O engenheiro que não sabia matemática

Existem dezenas - talvez centenas - de livros classificados como autoajuda. Boa parte tenta ensinar o sucesso, a riqueza e a prosperidade com felicidade. Dentre as várias sugestões, todos tem em comum a importância da persistência, que é fundamental nos negócios, nos relacionamentos e no desenvolvimento de uma nova habilidade.

Talvez o livro mais popular sobre a persistência dos últimos anos seja o Outliers, de Malcolm Gladwell. Embora não seja este o único tema tratado, nem o considere um livro de autoajuda, a obra contribui muito ao enfatizar que para ser realmente bom em alguma atividade são necessárias dez mil horas de diligente treino. Convenhamos que para estudar ou treinar todo este tempo sugerido por Gladwell é fundamental uma persistência incrível.



Se a persistência é tão importante, ela deveria ser ensinada no lar e na escola para já estar sedimentada quando o jovem entrar no mercado de trabalho. Mas eu só vejo a persistência ser estimulada e levada a sério em dois casos no Brasil: na música e no futebol. Talvez seja por isso que a música e o futebol brasileiro sejam respeitados e admirados fora do nosso país.

Parte da nossa tragédia ocorre justamente por esta falta de ensinar e estimular a persistência, contudo o que eu vou relatar não tem valor científico, é meramente observacional, uma constatação de quem convive com muitos professores no âmbito familiar e social e é casado com uma pedagoga: ao chegar no final do ensino médio, principalmente no último ano, o estudante se depara com a necessidade de escolher o curso superior e, se ele apresentou um resultado medíocre em matemática, os pais e professores são uníssonos e desaconselham a escolher engenharia. E o inverso também ocorre: os classificados como bons em matemática são constantemente sugeridos a seguir engenharia.

Dificuldades em matemática na infância e adolescência quase todos nós tivemos, mas nossos pais e professores confortam-se, não estimulam a persistência no aprendizado da matemática e muitas vezes nem tentam encarar o problema como uma questão educacional e de insistência num trabalho duro, mas fundamental. O aluno tem ou não tem jeito para a matemática e pronto. Aceita porque será menos doloroso.

Neste ponto que o livro do Gladwell abre sem querer um horizonte e se encaixa no nosso problema: para ser realmente bom em matemática preciso treinar, estudar e fazer muitos exercícios. Dez mil horas é um bom número. Mas isto não acontece no Brasil, afinal decorar, fazer muitos exercícios e estudar com afinco é coisa de asiático. Não por acaso eles estão dominando o nosso mundo cheio de ocidentais preguiçosos.

Segue a dança. Os apenas bons em matemática poderão se tornar péssimos engenheiros, os que não tem a verdadeira vocação, mas, na esperança de ganhar dinheiro em cima deste dom tão raro no Brasil, conseguem o sonhado diploma. Não por acaso temos tantos engenheiros fazendo trabalhos que não são de engenheiros. São programadores, analistas de sistemas, trabalhadores do mercado financeiro e administradores. As faculdades de engenharia perdem os ruins em matemática, mas que seriam ótimos engenheiros, a despeito das dificuldades dos dois anos iniciais.

E os ruins em matemática? Estes são usualmente estimulados a seguirem carreiras das chamadas Ciências Sociais. Serão sociólogos, historiadores, políticos, advogados e juízes. Sua dificuldade inicial em matemática que poderia ser resolvida por meio de dedicação e foco, se revelará em análises ruins e conclusões erradas pois, sem a matemática, as filhas mais importantes nas Ciências Sociais, a estatística e a financeira, são barreiras intransponíveis e eles não conseguem entender o mundo a sua volta, que é justamente a proposta da Ciência Social. Como uma pessoa péssima em matemática pode julgar um processo de cobrança de impostos entre o governo e uma empresa ou uma dívida entre uma pessoa jurídica e uma física? Como um político pode propor leis tributárias que estimulem empregos sem uma boa base matemática?

A dança ainda não acabou. Os ruins em matemática acabam ocupando os postos mais estratégicos do Estado, como promotores, juízes, políticos e ministros. São profissões muito bem remuneradas o que, aos olhos de um jovem estudante, parecem bem atraentes. O recado que a sociedade transmite para este adolescente é que estudar matemática e ciências vale menos a pena que ter boa retórica. Esqueça os argumentos técnicos e matemáticos e use a garganta e a subjetividade, se possível, deboche com sutileza de quem quer mostrar a solução de um problema por meio de números, dados estatísticos e planilhas. Certamente neste momento o texto o fará lembrar de um professor, um médico, um político ou mesmo um chefe. E não é o seu cérebro te enganando.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Previsões 2018

Declaração de isenção de responsabilidade: este texto foi escrito de boa fé apenas e exclusivamente como um exercício de analise da minha capacidade de prever cenários no prazo de um ano. Não use estas informações para orientar qualquer tomada de decisão, principalmente de investimentos. Existem vários profissionais muito mais qualificados que eu. Desta forma, não me responsabilizo pelo uso das informações e opiniões contidas no meu blog e em especial neste post.

Primeiro a prestação de contas.

No final de 2016 eu publiquei aqui as previsões para o ano de 2017. Estava bem otimista e realmente foi um ano melhor que muitos esperavam. O que ninguém imaginava foram os dois "cisnes negros": a escalada de preços do Bitcoin e a delação do Joesley Batista. O Bitcoin não afetou as previsões mas o Joesley gerou uma crise. Previ 2% de crescimento do PIB e ficamos em 1%. Joesley me levou ao erro, mas é importante lembrar que poucos acreditavam em 2016 que 2017 teríamos algum crescimento. Posso dizer que foi um "meio acerto".

Previ que o Temer não perderia o mandato e acertei

Previ que a CLT seria reformada. Acertei

Previ que o Lula seria condenado em meados do ano de 2017. Acertei na mosca pois ele foi condenado em Julho.

Previ que a Previdência seria reformada. Errei.

Eficiência de 3,5/5 = 70% nada mau. Minha meta é acertar 80% ou mais em 2018.

Para quem quer confirmar as minhas previsões, eis o link:

http://npessoa.blogspot.com.br/2016/12/previsoes-2017.html

Agora as previsões 2018:

Inflação entre 5% e 7%.

Crescimento entre 2% e 2,5%.

Cotação do dolar entre 3,30 e 3,50 reais.

O melhor "investimento" do ano ainda será o Bitcoin.

O segundo melhor investimento do ano será a Bolsa de Valores.

Ibovespa vai chegar entre 80 mil e 87 mil pontos. Recorde nominal.

Agora a mais difícil e polêmica: como será a corrida presidencial?

Eu acho que vai acontecer o seguinte: o TRF4 confirma a condenação do Lula em janeiro ou fevereiro e, ato contínuo, o STF mantém a prisão para condenados em segunda instância. Lula fica preso e fora da disputa. A parte da esquerda que tradicionalmente vota em Lula converge silenciosamente para Ciro Gomes, o plano B, esta somada aos votos no nordeste e parte da região norte levam Ciro ao segundo turno.

Marina fica chupando o dedo pois o seu principal discurso, a questão ambiental, está totalmente fora de moda este ano. Consegue uns 3% ou 4% de votos que migrarão para Ciro.

Bolsonaro tem o discurso relevante da segurança pública que os concorrentes silenciam por ignorância e tenta captar o voto liberal e o jovem de direita, mas não tem estrutura partidária, apoio de governadores e prefeitos nem tempo de TV. Depende muito das redes sociais, um mundo novo que não é trabalhado com a máxima eficácia. Leva uns 10% a 12% dos votos e morre na praia, em terceiro lugar. Vendo que Ciro amealhou o apoio da esquerda, os eleitores de Bolsonaro migram no segundo turno em manada para...

Geraldo Alkimin se firma candidato de centro-direita (embora ele nunca fosse isto), moderado e equilibrado. Vende o peixe de pacificador e administrador e consegue grande parte dos votos de SP e MG. Tem um partido estruturado, que já teve a presidência nas mãos e sabe como o jogo funciona. Tem muito tempo de TV e conseguirá aglomerar os partidos nanicos como nenhum outro. Certamente vai para o segundo turno numa votação apertada e finalmente vence Ciro Gomes no segundo turno, se consagrando presidente.

Meirelles, Amoedo e os demais não decolam.




sábado, 5 de agosto de 2017

Tegimboeji #3

Enfim a Tegimboeji #3 chegou na minha casa enviado pelo Navarro.

Contribui com os seguintes componentes:

 

Recebi a caixa assim, entupida de coisas de sorte que eu tive que arrumar uma caixa maior.




Retirei as seguintes peças:




terça-feira, 30 de maio de 2017

Quinto casamento após um funeral

Me considero o homem dos cinco casamentos. O primeiro foi o casamento no papel e na Igreja, há quase 17 anos. O segundo começou quando compramos o nosso apartamento e sogra1 e sogra2 vieram morar com a gente. O terceiro casamento se inicia quando a Maricota nasce. O quarto com a morte da sogra2 e anteontem, com o falecimento da sogra1, começou o quinto.

O sexto enlace conjugal será quando Mariah sair de casa. Será o pior de todos.

Em cada casamento eu e Luiza, como rabos de lagartixas, éramos cortados e nascíamos de novo, com novos hábitos, novas regras, novos problemas e novas demandas.

Olhando em retrospectiva, todos os quatro casamentos foram muito difíceis e não há sinalização que este quinto matrimônio será moleza, porém certamente será tão divertido quanto estes quase 20 anos de união frenética e piadas incorretas.

Sogra1 morreu, mas desta vez foi diferente: o Alzheimer faz morrer um tiquínho por dia. A morte oficial, aquela que consta nas certidões, missas e lápides, é apenas a conclusão melancólica de uma história previsível, onde os personagens, mesmo os principais, são esquecidos aos poucos, o olhar fica vago e distante e o vocabulário se resume a uma dúzia de palavras.

Eu e Luiza seguimos no luto e na adaptação ao novo matrimônio. Ainda temos nesta semana a missa e alguma burocracia.

Outro dia eu estava na cama com a Mariah quando ela fez um gesto, quase um cacoete, típico da minha mãe. Levei um susto, deu vontade de chorar. Mariah não conheceu a minha mãe e eu não tenho o hábito de fazer aquele gesto específico. Só podia ser a genética. Mariah é 25% minha mãe e, de certa forma, a minha mãe vive no corpo da Mariah.

Mariah é Damaso, Maria Esther, Newton e Dalva em partes genéticas iguais e vocês quatro estão vivos dentro da minha filha. Quem disse que a Ciência não conforta os corações tristes? Saber que a Mariah, o nosso futuro, é a fusão perfeita dos antepassados é o melhor consolo para estes dias tristes.

domingo, 21 de maio de 2017

Terceiro livro de 2017

Eu imagino que os raros leitores deste blog, uma ferramenta, convenhamos, já fora de moda, fiquem refletindo sobre qual é o critério de seleção dos meus livros. A princípio o único pré-requisito é não ser relacionado com o meu trabalho, mas isto não significa que eu não leio livros da minha área, significa somente que estes livros não serão contabilizados na meta anual de livros nem serão exibidos neste espaço. Os livros da meta anual são para desenvolver áreas da mente normalmente ociosas nos humildes engenheiros, como eu.

A partir do momento que atende ao pré-requisito do parágrafo acima, digo que não existe um critério preciso. Pode ser de história, ciência, romance, economia, administração etc. Mas normalmente é derivado de alguma cuiriosidade ou indicação direta ou indireta. Conta pontos se o livro for um clássico pois certamente impressiona os meus leitores uma suposta erudição minha e se for sem custo. Entenda por "sem custo" no sentido amplo, não como pirataria, que eu sou radicalmente contra. São exemplos de conseguir livros sem custo: empréstimos em biblioteca, doações e descarte, empréstimo de amigos e obras de domínio público disponíveis na Internet.

O terceiro livro explica bem o proceso: eu sigo a fan page do professor Stephen Kanitz que, apesar do nome, é brasileiro, e, num post do mês passado, ele deu uma visão não convencional da situação da mulher e das crianças da Inglaterra durante a Rrevolução Industrial. Como prova ele sugeriu ler Charles Dickens. Kanitz não falou qual obra de Dickens ele se referia. Uma breve pesquisa me indicou "Oliver Twist" e "Tempos Difíceis". Procurei na Internet e só encontrei Oliver Twist e comecei a ler.

A versão que eu encontrei disponível na Internet era apenas da parte do livro traduzida pelo Machado de Assis. Por algum motivo o livro, de 53 capítulos, só foi traduzido pelo Bruxo até o capítulo 28. Fiquei na mão.

Neste meio tempo comprei e li todo o livro do post anterior, porém Oliver continuava na minha garganta. Me rendi e comprei a versão impressa do livro, com outra tradução, adaptada para o público jovem, por 33 reais.






De Dickens eu só sabia que o Tio Patinhas foi inspirado em um personagem de um conto de Natal. Que vergonha, não?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Metas 2017

Último e mais aguardado post do ano!

1) Ler 10 livros fora da minha área. Baixei a bola e estou mais realista.
2) Perder 10 quilos.
3) Fazer um curso na área artística. Estou pensando entre teatro ou desenho artístico.
4) Terminar de escrever o livro
5) Começar a escrever outro livro.
6) Aumentar o total dos meus investimentos em 20%
7) Fazer vasectomia
8) Aposentar a velha guerreira Electrolux LE750 e comprar um "robozinho"  lava e seca LG.

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Previsões 2017

O Brasil vai crescer 2% em 2017. O pior da crise já passou e poucos perceberam.

1) Ao contrário da Grécia e do que os pessimistas pregam, a nossa economia é forte e somos globalmente bons em setores tão distintos como agronegócio, aviação, minério de ferro, tecnologia bancária e construção civil. O dia que melhorarmos a educação e diminuirmos o governo este país virará uma Austrália em termos de qualidade de vida.

2) A liberação das contas inativas do FGTS vai irrigar a economia no curto prazo. Boa parte deste dinheiro vai para o consumo e quitar dívidas. Parte da dívida que será paga provavelmente será aluguel atrasado. Este dinheiro vai para o locador e este pode gastar uma parte com consumo.

3) A PEC 241 começa a valer em 2017 o que deve frear os gastos do governo e isto significa que ele consumirá menos recursos, liberando dinheiro para o setor produtivo e abrindo o caminho para a queda dos juros. Claro que nos primeiros anos o efeito será imperceptível, mas a partir de 2020 o impacto na economia será, talvez, maior que o Plano Real.

4.1) Não creio que o Temer irá cair. Ele tem o Congresso apoiando e para mim está claro que decidiu ser um novo Itamar Franco (o presidente do Plano Real e certamente o mais sortudo da História) e não um Sarney.

Temer vai reformar a Previdência e da CLT. A reforma da Previdência fará as pessoas aderirem à Previdência Privada, jogando bilhões no setor produtivo e vai deixar pessoas produtivas trabalhando mais tempo, o que é ótimo para o país. A reforma da CLT vai dinamizar o mercado de trabalho e gerará emprego e renda.

4.2) A implantação da aposentadoria por idade incentivará o trabalhador a entrar no trabalho mais tarde ao mesmo tempo que incentiva a ficar mais tempo estudando sem trabalhar. Isto gera um aumento da produtividade a longo prazo. Quem fez engenharia trabalhando sabe o quanto é difícil e ruim para a formação.

5) Lula vai ser preso e não vai conseguir candidatar-se a presidente. A conta é simples: Moro deve condená-lo em meados de 2017. As convenções dos partidos para escolherem os candidados serão no primeiro semestre de 2018. Mesmo que ele seja inocentado em segunda instância e solto (é uma possibilidade não muito remota), não haverá tempo hábil para ele sair da cadeia e se tornar o escolhido numa convenção partidária.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Perguntas, perguntas e mais perguntas

Um bom professor faz uma grande diferença no desenvolvimento do aluno. Mariah está agora me fazendo perguntas difíceis e o pior é que eu não encontro respostas no Google, I love you, professora Virgínia:

"Se você e meus tios estudaram em escolas que não se pagava nada, quem pagava os salários dos professores?"

- Senta aqui porque precisamos falar sobre impostos.

"Por que você vive dizendo para eu fazer medicina se você fez engenharia"

(Esta parece mole, mas também é profunda. Usei a solução universal e joguei a culpa nos outros e me dei uma valorizada)

- Fui mal orientado. E medicina é muito difícil de entrar, mas o curso de engenharia é mais difícil.

" O que é DNA?"

- É uma parte da célula que... Ops, você sabe o que são células?

" O que é transar?"

- Lulu, chega aqui, por favor!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Teste de pontaria

No início do ano passado eu fiz uma carteira fictícia para confirmar ou refutar a minha habilidade em prever quais ações tinham um bom potencial em 2016. As escolhidas foram: Grendene, Alpargatas, Paraná Banco, Guararapes, Schulz, Cetip e Porto Seguro.

Supondo que eu tivesse comprado no primeiro dia útil de janeiro e sacado tudo hoje, sem nenhuma movimentação nesta carteira, e que todas as ações tinham o mesmo peso, o resultado foi decepcionante: o Ibovespa, que é a referência do setor, subiu 37%, mais que o dobro a minha carteira fictícia (18%). Uma vergonha.

A boa notícia é que a carteira fictícia nunca foi real. Minhas posições foram: sair da Cemig PN com prejuízo, sair da Cetip ON com um bom lucro e me concentrar em Bradesco PN.

Bradesco PN subiu este ano incríveis 57%, o que prova que em termos de mercado acionário, eu estou escolhendo melhor que em janeiro.


domingo, 20 de novembro de 2016

Oitavo livro

Novembro terminando e é hora de rever as metas do post de fevereiro de 2016.

Ler 12 livros, Perder 15 quilos, escrever um livro e fazer um curso breve.

Acabei de ler o oitavo livro, "O jeito Warren Buffett de investir". Livro mais ou menos.






Não devo atingir a meta, mas volto a reclamar que um livro de quase 700 páginas vale por três, mas tudo bem.

Perdi até agora 5 quilos. Estou meio estacionado. Mas não estou muito chateado com isso, pois acho que estou bem e não quero ficar estressado, exigindo muito de mim. Seguir dieta é ser contra o mundo e o mundo é muito grande.

Curso breve eu fiz no trabalho mesmo, de três dias. O livro segue a passos lentos, porém possíveis. A meta de leitura de livros acabou concorrendo com a meta de escrever o livro. Para escrever um livro você tem que estudar muito. O medo de escrever besteiras é enorme. A nova meta do livro é meados de 2017. Vamos que vamos!

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Biografias falsas

O meu interesse por Administração surgiu lendo biografias de grandes empreendedores e revistas Exame. Tudo parecia tão fácil, lógico e mágico, como se lidar com pessoas e convergir forças para uma direção comum fosse fácil. Mas eu gostava, era “literatura de saguão de aeroporto” pura, um mundo onde tudo caminha para o sucesso de forma linear.

Biografias de homens acima da média atraem, principalmente, quando envolvem dinheiro. Não conheço ninguém que leu sobre a vida do Einstein, aliás nem sei se existe alguma biografia do Einsten, mas nos anos 1980 e 1990 ficaram famosas as de personalidades como  Akio Morita e Lee Iacocca – esta obra em particular eu achei um porre -. Atraem porque levam a um mundo de fantasia, onde homens poderosos, constantemente bafejados pela sorte, com uma habilidade sem igual nos negócios e uma percepção aguda das oportunidades do futuro os levam inexoravelmente ao sucesso e à riqueza.

É tudo tão certinho, tão preciso, tão sequencial em direção ao podium que não pode ser real, não pode ser verídico. E não é: Tony Swartz, biógrafo de Donald Trump, candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, disse que o livro que tornou o empresário famoso nos EUA como gênio nos negócios – A arte da negociação – é totalmente falso, um festival de adulterações de fatos sem precedentes. “Passei batom num porco”, cometou sutilmente à esquerdista The New Yoker.









http://www.newyorker.com/magazine/2016/07/25/donald-trumps-ghostwriter-tells-all

Pensando bem, talvez tenha precedentes. Talvez passar um batom bem vermelho no porco seja o habitual. Talvez quase todas as biografias sejam um festival de mentiras. Fico imaginando como idiotas devem se sentir aquelas pessoas que leem biografias de famosos na esperança de um dia ficarem famosos e ricos um dia. A moda agora é dizer que leem para “copiar o mindset”: acreditam que copiando um suposto jeito de pensar de um vencedor se tornarão vencedores. Neste jogo só quem vence são as editoras e o autores dos livros.

Uma vez uma brilhante professora de administração chamou a Exame de “a revista Contigo de empresários”. Hoje eu acredito que ela chamaria biografias de empreendedores de livros de Harry Potter.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Sétimo livro

Este livro paradidático de aprendizagem de inglês estava disponível e serviu para eu criar coragem de ler um dos doze livros da meta deste ano em inglês. Depois do livro do professor Landes me concedi um refresco.

Ainda estou pesquisando qual livro em inglês eu conseguirei encarar até o final pois será uma experiência ótima:

- Aumentará a minha confiança na língua
- Aprenderei coisas novas
- Quebrará um tabu


sexta-feira, 15 de julho de 2016

Sexto livro

Acho que este foi o mais longo que já li: 600 páginas. Excelente, mas confesso que foi cansativo.


quarta-feira, 13 de julho de 2016

Mais 50 fatos desinteressantes

101) Tenho a pisada do tipo supinada. A sola dos meus calçados desgastam bem mais na parte lateral externa.



102) Nunca consegui terminar um cubo mágico. Andei aprendendo por tutoriais do YouTube, mas o meu cubo era tão vagabundo e duro que desmontou devido ao manuseio rápido e embrutecido.

103) Recebemos educação proletária: o básico do básico para termos um emprego relativamente bom e estável. Dito e feito: dos 6 irmãos, 6 são servidores públicos ou concursados de estatais. Nenhum empreendeu.

104) Ratificando o 103, Não pratiquei esportes nem aprendi a tocar um instrumento musical na infância e adolescência. Não tenho interesse atualmente em nenhum dos dois, mas na juventude desejei aprender a tocar violão principalmente porque existia à época uma lenda que atraía garotas.

105) Entre idas e vindas, fiz 10 anos de psicoterapia. Queria fazer um recall breve de um ano - se é que isto existe - mas perdi totalmente o contato com a psicoterapeuta.

106) Desfrutei de relativa sorte com pedagogas, inclusive casei com uma. Devo ter uma conversa interessante ou ser uma versão gorda do professor Paulo Freire.

107) Perdi a conta de quantas vezes levei choque elétrico de aparelhos energizados e queimaduras de ferros de soldar.

108) Descobri em 2005, na subestação de Ivaiporã, PR, que quanto tensão é muito alta (750 mil volts) se você andar muito rápido leva uma pequena descarga elétrica que parece uma picada de formigano calcanhar.

109) Quando eu estou falando no telefone com uma folha em branco, sempre desenho um rosto masculino bem primitivo. Sempre sorridente.

110) Nunca teria coragem de fazer uma tatuagem no meu corpo. Área é que não falta, mas quase todas as tatuagens que eu vejo são feias e de um mal gosto atroz.

111) Não gosto da comida que no Brasil chamam de "japonesa". Amo a comida que no Brasil chamam de "chinesa". Não sei comer com o hashi.

112) Tenho horror à arquitetura oriental tradicional. Amo, me emociono e fico intrigado com a obra de Gaudi.

113) A pintura que eu mais gosto é "As Meninas", de Velazquez. Tenho uma gravura no corredor do meu apartamento. No mesmo corredor há uma gravura da irmã do Salvador Dali de costas olhando pela janela. Apesar de espanhola, ela tinha um, digamos, "quadril à brasileira".



114) Já fui à Duas Barras, RJ, só para comer um bacalhau supostamente maravilhoso. Não valeu a viagem, no entanto pelo menos conheci o museu do Martinho da Vila.

115) A pior parte da cirurgia de redução de hipermetropia e astigmatismo foi quando senti um consistente cheiro de carne queimando e lembrei que era o meu olho.

116) Falo relativamente rápido e tenho um pouco de dificuldade de ensinar.

117) Conheci duas plataformas de petróleo, em 2006. A sensação de estar enclausurado foi bastante forte.

118) Ainda não tive a audácia de roubar um cartão de segurança que toda aeronave tem disponível para o passageiro consultar em caso de emergência.



119) Um dia depois do meu primeiro encontro com a minha esposa, em 25 de junho de 1999, eu peguei uma forte gripe.

120) Até hoje viro o rosto para não ver a agulha do exame ou da doação de sangue entrar no meu braço.

121) Fazer a coleta para um espermograma pode ser um pouco constrangedor.

122) Entre comprar uma gravura interessante e emoldurá-la o lapso de tempo pode ser tão grande quanto 10 anos.

123) Já fomos sorteados para uma feijoada na quadra da Beija Flor. Já comi melhores, mas a experiência foi divertida.

124) Som muito alto me irrita. Não precisa dizer que eu não gosto de boates e quadras de escolas de samba.

125) Mariah já possuiu quatro carrinhos. Três foram doados e um vendido pela Internet.

126) Passei a ter medo de avião somente após me tornar pai.

127) O único jogo on line que eu participei com relativa frequência foi sinuca virtual, no início dos anos 2000. Desenvolvi uma certa destreza, porém, como não era assinante do site, esperava horrores a minha vez de jogar, a menos que fosse desafiado por um assinante, algo que raramente acontecia. Por acaso observei que era desafiado muito mais rápido se usasse nomes femininos. O efeito inesperado foi a revelação que muitas lésbicas adoravam sinuca virtual. No final eu entrava no site mais interessado em conversar com as minhas colegas me passando por uma jovem quase se descobrindo lésbica, mas indecisa.

128) Só li um livro de Machado de Assis: "Dom Casmurro", e somente em 2015. Capitu nunca cometeu adultério, isto é coisa da cabeça do Bento. Quero ler "Memórias póstumas de Brás Cubas"

129) Sou canhoto, minha esposa é canhota e minha filha é destra.

130) O melhor hotel que eu me hospedei no Brasil foi o Meliá de Brasília. Nos corredores colocaram fotos das celebridades anteriormente hospedadas. Lembro somente da foto do Hugo Chávez. No exterior, o melhor e mais bonito hotel foi o Williamsburg Woodlands, na Virgínia.



131) Em meados dos anos 1990 eu voei num bimotor da Embraer pela primeira vez. O comandante, após contornar o morro do Pão de Açúcar, ligou o piloto automático e começou a ler o Jornal do Brasil sem a menor cerimônia. Todos os passageiros testemunharam porque ele deixou a porta da cabine escancarada.

132) Já ganhamos por sorteio ingressos para um espetáculo de dança da Deborah Colker. Num outro sorteio ganhamos um carrinho de bebê. E só. Em sorteios considero a minha família azarada.

133) O único momento que eu não gosto de chamegos da minha filha é quando eu estou fazendo uma refeição.

134) Nunca dei a menor importância à Espanha e sua cultura até conhecer a minha esposa. O meu caso de amor com o presunto jamón foi tardio.



135) Odeio falar ao telefone.

136) Uma única vez na vida eu tive o orgulho de ser o primeiro lugar em um concurso público nacional. Engenheiro eletrônico de Furnas, concurso de 2004.

137) Os dois livros que mais me impressionaram são "A ética protestante e o espírito do capitalismo" e "Sapiens: uma breve história da humanidade".

138) Tenho um pouco de nojo por chá preto. Não sei o motivo.

139) Uma das minhas fantasias é namorar uma ruiva legítima, com direito a sardas em todo o rosto e cabelos longos e um pouco ondulados.

140) Adoro visitar fábricas e linhas de produção. Já conheci desde pardieiros calorentos que enrolavam transformadores à mão a fábricas grandes, como a antiga unidade da Siemens na Lapa (São Paulo, SP), hoje desativada, se não me engano.

141) A vida eventualmente me reserva tarefas irritantes. Instalar ventiladores de teto e passar fios elétricos em conduítes, por exemplo.

142) Até pouco tempo eu pensava em ser dublador para complementar renda e – principalmente – vaidade, porém para exercer o ofício é necessário antes fazer curso de ator e ser registrado no sindicato correspondente, o que torna os meus fúteis desejos de ter a voz em milhares de lares muito caros e trabalhosos.

143) Detesto quando erram a escrita do meu nome.

144) Por influência da minha mãe, tenho um pouco de receio de comer comida pronta enlatada, mais este sentimento não me impediu de saborear uma feijoada e sopa de tomate Campbell's. A feijoada estava realmente horrível e a sopa de tomate me deu a sensação de eu ser um quadro de Andy Warhol.



145) Ainda fico ansioso ao receber cartas.

146) Já dividi a mesa com um anão num restaurante de beira de estrada no interior do Paraná em 2005. Foi a única vez na vida que eu tive a oportunidade de fazer uma refeição ao lado de um anão.

147) Residências sem muitos livros me incomodam.

148) Quando criança, roubei balas nas Lojas Americanas de Madureira. Não virei bandido, mas só confessei agora porque o crime prescreveu.

149) Planejo quebrar um tabu pessoal e ler um livro que não seja da minha área de trabalho escrito em inglês este ano. Mesmo após dois cursos ainda acho o meu inglês muito ruim.

150) Escrever estes fatos foi mais difícil que eu imaginava. Mais difícil até que encontrar coragem para publicá-los.


segunda-feira, 11 de julho de 2016

Concentre

O que uma aposta na loteria, um trabalho voluntário para um grande evento esportivo e ser sócio torcedor de um clube de futebol tem em comum?

Uma aposta de loteria tem um custo baixo, uma aposta típica no Brasil custa em torno de um dólar somente. Não pesa no bolso nem fará ninguém mais pobre ou menos classe média. Talvez seja apenas um refrigerante em lata que deixou de ser bebido para virar um papel carregado de esperança. Se ganhar, o dono deste papel ficará imediatamente milionário. Sim, prêmios das loterias da Caixa Econômica Federal podem ultrapassar os 20 milhões de dólares, quando acumulados. A probabilidade, a chance do sonho se realizar é bem baixa e chega a uma em 50 milhões. Compare com a chance média de uma pessoa qualquer morrer num acidente aéreo, algo em torno de uma chance em 10 milhões. É cinco vezes mais fácil morrer viajando de avião comercial que acertar as seis dezenas.

Do outro lado da cidade, uma pessoa se candidata a ser voluntário em algum evento esportivo. Os motivos que levam uma pessoa a gastar o seu bem mais precioso – o tempo – em ensaios e na atividade voluntária para mim são nebulosos. Os argumentos são sempre emotivos, como era de se esperar: “participar”, “fazer história” ou mesmo “chegar bem perto do meu herói”. Por “herói”, considere normalmente uma pessoa famosa por seu desempenho esportivo fenomenal e por isso recebe uma remuneração vultosa amealhada por patrocínios e publicidade.

Por fim, um amigo meu disse todo orgulhoso que era sócio torcedor de um clube carioca. “Qual é a vantagem? ”, perguntei. Ele respondeu de pronto “Nenhuma. Não ganho ingresso grátis para jogos, não ganho acesso às dependências do clube, nada. É só para ajudar o time de futebol”. Ele contribui com 20 reais todo o mês para ajudar o clube a pagar um salário de 6 dígitos ao atacante.

O nome disso tudo é concentração de renda. Sim, nós estamos acostumados a criticar a concentração de renda, de ver nos jornais que o país é supostamente injusto por concentrar renda ou ouvir economistas falando que inflação concentra renda.

A sociedade adora concentrar renda. Você comprando um bilhete de loteria transfere renda do seu bolso e dos demais jogadores para o ganhador do prêmio. Bom, pelo menos neste caso você pode ser o ganhador e neste caso remoto, o beneficiado por der você, mas trabalhar de voluntário num grande evento esportivo ou ser sócio torcedor de um grande clube é, sem dúvida alguma, concentrar propositalmente renda sem nada objetivo em troca.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Uma noite com os pobres

Certas lições necessitam ser revistas periodicamente pois nos acostumamos fácil com o ambiente quando melhoramos de vida.

Esta semana eu prometi à Mariah que iria comprar o Disney Gogo's do Mickey e Minie dourados e que foram uma febre no ano passado. Encontrei por 18 reais o par e, para economizar nas despesas postais, decidi buscar pessoalmente num bairro próximo ao meu trabalho e a minha casa, porém um tanto contra-mão, como chamam popularmente aqueles locais de difícil acesso a despeito de perto.

Procurei na internet, mas as linhas de ônibus, o trânsito e o sentido das ruas mudaram tanto na cidade nos últimos meses que eu me senti inseguro. Algumas informações claramente estavam desatualizadas. Felizmente eu tenho a amizade do Farinha, a maior autoridade viva quando o assunto é deslocamento pelo subúrbio carioca.

- Pega o 313 que não tem erro!

Eu, acostumado com o relativo conforto dos ônibus que eu pego diariamente, embora imundos, pichados com textos pornográficos e velhos, não são superlotados e estressantes. Esqueci completamente como as condições de vida de quem mora no subúrbio profundo são ruins. Entrei uns 2 ou 3 pontos do início da viagem e isto me gerou a doce ilusão que não iria lotar apesar do relógio marcar umas 18h. Acreditei que não seria necessário sentar próximo à porta de saída. Ao chegar na Central o desengano desapareceu. Alguns metros depois nova parada num ponto próximo a uma universidade privada e mais passageiros. "Não, não deve entrar mais ninguém na Leopoldina", pensei, já preocupado e montando um mentalmente um sofisticado procedimento para saltar logo depois.

O ônibus estava tão cheio que o deslocamento foi quase impossível e eu considerava a possibilidade de saltar depois do local desejado. A educação fica em segundo plano e o empurrão forçando a passagem entre pessoas sofridas e exaustas que estão em pé no corredor vem logo em seguida do pedido de licença. Vamos em frente até a proximidade da escada. Parando o ônibus tenho que aguardar as pessoas levantarem da escada de descida e saírem do ônibus temporariamente para me deixar passar. No solo, mas não mais seguro. As lojas já estavam fechadas e o ambiente me lembrava cenário de filmes do submundo de Nova Iorque dos anos 1980. Embaixo da Linha Vermelha, o que eu via eram sucateiros, lixo, população de rua e iluminação deficiente.

De fato, a dica do Farinha foi providencial e certeira, estava a apenas cem metros do endereço de destino. Comprei os Gogo's e saí. Com um pouco de medo e cheguei a considerar a possibilidade de pegar um táxi, porém a economia por ir buscar pessoalmente se perderia e segui em frente, rumo ao ponto do 665. Prostitutas já estavam nos seus postes e árvores de costume e o meu destino era longe, em frente ao hospital Quinta D'Or. No meio da caminhada um taxista parou logo na minha frente e rapidamente fechou negócio com uma garota de programa morena, que com eficiência entra no carro e partem.

No ponto, um trecho mal iluminado da margem da Quinta da Boa Vista, um casal com roupa de escola do municipal namora encostados nas grades. Mais dois colegas de sofrimento aguardam o ônibus com paciência e este milagrosamente chega rápido. Estava com o interior tão escuro que eu cheguei a pensar que estava indo para a garagem. Fiz sinal, parou, embarquei e além do motorista mais dois passageiros seriam os meus colegas de viagem nos próximos minutos. O veículo, com defeito no câmbio, irritava o motorista por não aceitar a terceira marcha e eu, reflexivo, relembrei como a vida dos pobres é difícil e como a ascensão social é quase uma lenda no Brasil.

As pessoas que pegam o 313 e o 665 são pobres, moram em lugares longínquos como Complexo do Alemão ou Pavuna, seus trabalhos são basicamente braçais, não intelectuais. É tudo contra: durante a jornada de trabalho ele não tem como dar uma escapadinha e estudar, o ônibus, lotado, trafega um vias congestionadas o que faz a viagem se tornar uma longa tortura. Não dá para ler pois a maioria viaja em pé e, mesmo que estivesse sentado, a iluminação interna do ônibus é péssima. Ao chegar em casa será quase um morto vivo com uma série de tarefas domésticas pendentes. Seus vizinhos e amigos de bairro são tão pobres e carentes quanto ele. O circulo se fecha ao não conseguir estimular o filho a ler. Talvez não tenha a mínima noção que a única saída deste inferno é investindo em conhecimento. Dele e dos filhos.

Jesus disse aos apóstolos, respondendo a um questionamento de Judas que "pois os pobres vocês sempre terão consigo, mas a mim vocês nem sempre terão" (Mt 26:11). A passagem de Jesus pela Terra foi curta, menos de 40 anos e os pobres são eternos. É paradoxal e surpreendente que Jesus diga categoricamente que Ele, Deus em carne, não esteja para sempre presente, convivendo com eles, mas o pobre, sim. Não vejo aqui uma crítica ao capitalismo, até porque a qualidade de vida dos pobres do tempo de Jesus são infinitamente melhores hoje. Isto é mérito principalmente da ciência, do aumento da produtividade e da economia de mercado. Uma vacina é um exemplo clássico de melhor ciência, que leva ao descobrimento da prevenção de doenças, com o capitalismo, que a permite chegar à população. Os pobres são vítimas eternas de um sistema cruel que os próprios pobres de certa forma participam. E participam por ignorância, conformismo e perpetuação reprodutiva. Vejamos cada uma.

A ignorância faz com que o pobre cometa pequenos delitos crendo que está a vingar-se ou que é inofensivo. O caso mais clássico é o roubo de sinal de TV por assinatura. Neste caso ele acredita que é indolor para a operadora porque o sinal já está lá e o seu consumo não afeta em nada o serviço prestado aos outros, além do fato dele deixar de pagar ser uma queda de receita ínfima. A sensação de vingança ocorre quando ele testemunha notícias de corrupção e se julga mais esperto que os políticos e empresários pirateando o serviço. O mesmo ocorre com outros serviços como eletricidade e água ou o jogo de videogame pirata. O ponto é que, se ele não tivesse acesso ao serviço de TV por assinatura nem ao videogame ele poderia estar usando este tempo para ler, estudar e aprender coisas novas. No lugar de melhorar como pessoa e tornar a sua mão de obra mais qualificada e produtiva e, como tal, mais valiosa e desejada pelas empresas, ele se emburrece cada vez mais, tornado-se mais vulnerável ao desemprego e aos salários mais baixos. A suposta economia com a TV a cabo e o jogo de videogame na verdade tem um curso altíssimo a longo prazo.

O conformismo faz o pobre aceitar a sua condição baseado no medo e em pessoas próximas. Isto não isto não é exclusivo de alguma classe social; a classe média é medrosa de doer, mas é no pobre que o conformismo tem os seus efeitos mais nefastos porque a classe média, por definição, tem uma vida melhor e mais confortável que o pobre e permanecer na mesma situação ad infinitum não é de todo mal. O pobre típico tem a autoestima baixa, ele não acredita que pode porque ele olha os seus amigos e generaliza. Se estamos todos no mesmo barco, o que eu tenho de especial para me destacar dos meus vizinhos? Absolutamente nada! O nosso cérebro é craque em generalizações.

O terceiro problema é o mais cruel, a perpetuação reprodutiva. Normalmente os pobres geram filhos mais cedo, quando a estabilidade econômica é um sonho remoto e a maturidade plena ainda não chegou. Boa parte destes filhos são indesejados, mas mesmo os desejados estão em condição de desvantagem antes de nascer. A quantidade de filhos por família também é maior entre os mais pobres, o que diminui a atenção individual que os pais podem dar. Os pais pobres conversam menos com os filhos e passam pouco tempo com eles, o que não os estimulam.

Não quero dar uma visão pessimista ou justificar a pobreza. Pelo contrário, eu modestamente sou um exemplo de como sair da maldição de Mateus 26:11. Meus pais  tinham pouca educação formal e papai morreu quando eu tinha seis anos (ignorância), morando num bairro muito pobre (conformismo) e geraram seis filhos (perpetuação reprodutiva). Qual o meu segredo? Qual o caminho de saída deste Labirinto de Creta?

Meu pai era filho de professor e valorizava a educação. Quando ele morreu o meu irmão número 1 tinha 26 anos e o número 2, 24. Ambos solteiros, fui tutorado e estimulado intelectualmente. Aos 14, o número 2 pagou um curso preparatório e me incentivou fortemente a tentar estudar numa escola melhor. O salto começou naquele distante março de 1986. Ao estudar numa escola de classe média em um bairro de classe média rompi definitivamente com a ignorância e o conformismo. Lembro de uma vez, por estímulo de um amigo, fazer a prova para sargentos do Exército. O irmão número 1 me deu uma bronca inesquecível: se quiser ser militar, que seja oficial e dispute uma vaga para a Academia Militar das Agulhas Negras.

Pense grande, pois você pode estando preparado estudando muito. Descobri, prematuramente no segundo grau, que a classe média não tem nada de diferente de mim na essência. A maioria dos meus colegas de bairro só descobriram a classe média ao entrar no mercado de trabalho, adultos, onde a soberba e humilhações são bem maiores. Não viram a semelhança.

Outros fatores, importantes, mas que eu considero menores: fui pai tardio, tenho apenas uma única filha e consegui um bom emprego que me permitiu fazer um curso superior numa escola federal.

Mas eu continuo conformista. Tenho a certeza que atingi o meu limite. Está bom. O próximo degrau quem pode subir é a Mariah. Ela esta sendo preparada desde antes do nascimento para este salto. Procuro ser o melhor e mais estimulante pai do mundo. Espero que não dê tudo errado e ela não vire uma adulta chata e mimada.