terça-feira, 8 de setembro de 2020

Quanto custava um multímetro antigamente?

    Tive acesso a uma nota fiscal de um multímetro Hioki modelo 3007. Este instrumento foi fruto de uma parceria entre a brasileira Motoradio e a japonesa Hioki e foi montado em Manaus

    Antigamente não existia muitas opções de multímetros. Eu lembro que os primeiros digitais populares, no sentido de um preço mais acessível, eram os MIC-2200, MIC-6600 e MIC-7000, mas mesmo com um preço mais convidativo, eram caros e eu confesso que eu só vi o MIC-6600 e o MIC-7000 em anúncios de revistas de eletrônica. O MIC-2200, a versão mais simples e barata, um amigo meu de infância ganhou do pai quando iniciou o curso técnico de eletrônica, em 1987.

    O técnico de TV da esquina usava multímetros analógicos. E as opções eram limitadas. Os modelos disponíveis se tornaram populares justamente pela pouca concorrência. Em resumo, quem iniciasse no ramo de consertos nos anos normalmente comprava os modelos SK-20 e SK100, montados pela Icel em parceria com a japonesa Kaise e os Hioki 3007, AF-105 a AS-100D. Claro que nos grandes centros de comércio eletrônico do Rio de Janeiro e de São Paulo com um pouco de disposição era possível encontrar outras opções, como Simpson e Sanwa, mas a força comercial da Icel e da Motorádio era perceptível.

    Em 27 de junho de 1983 uma pessoa comprou em São Paulo um Hioki 3007, talvez o modelo mais barato que a Motoradio tenha colocado no mercado brasileiro. E pagou por esta coisa linda Cr$30.900,00. A nota fiscal nos convida a uma pequena reflexão econômica.

 

 


 

    A primeira dúvida é qual é o valor atualizado destes Cr$30.900,00? Em 27/06/1983 um dólar correspondia a Cr$535,00. Convertendo para os dólares de quase 40 anos atrás US$57,76, porém temos que considerar a inflação norte-americana. O valor então sobe para US$150,26 nos dias de hoje. Considerando um câmbio de R$5,30, o nosso Hioki custou mais de R$796. Caro, mas nada exorbitante para o principal e mais caro instrumento do técnico reparador de campo, aquele que ia consertar a TV, normalmente pesadíssima, na casa do cliente, evitando hérnias.



    A segunda dúvida tem relação com o poder de compra. Quanto era o salário mínimo em junho de 1983? Resposta: Cr$34.766. Um salário mínimo valia US$65, aproximadamente, e um Hioki 3007 custava cerca de 87% de um salário mínimo.

   A terceira questão é o que aconteceria se este dinheiro fosse investido em ações? Vamos supor que uma pessoa não comprasse o multímetro e pegasse o dinheiro para investir em ações da Petrobras e Bradesco em proporções iguais. Quanto esta pessoa teria hoje se não tivesse tocado nas ações, nem reinvestido por conta própria e consumindo os dividendos (toda esta ladainha é para facilitar a minha vida pois só vou considerar a valorização dos papéis).

    A ação da Petrobras PN valia Cr$4,35 e a do Bradesco PN, Cr$4,15. Nosso homem de negócios então pegou Cr$30.900,00, dividiu em duas partes iguais de Cr$15.450,00 e comprou  3551 ações Petrobras PN e 3723 ações do Bradesco.

    Hoje a ação do Bradesco vale R$21,62 e Petrobras R$22,26. Este visionário teria em mãos R$79.045 reais em ações da Petrobras e  R$80.491 em ações do Bradesco, num total de quase R$160 mil. Considerando o salário mínimo, uma aplicação de 87% de um salário mínimo em 1983 se transformou em mais de 150 salários mínimos.

     Esqueça a eletrônica e compre ações.

    


 

 

 

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Osciloscópios analógicos - diodos de proteção

Estava estudando o circuito do osciloscópio que eu comprei usado e com defeito. O circuito vertical está inoperante. É um defeito bem comum, imagino que por falta de atenção colocam uma tensão muito alta na entrada do circuito.

Para aumentar a sensibilidade do circuito de entrada associado a baixo ruído, os fabricantes costumam usar circuitos com FETs na entrada. Como os FETs são bem sensíveis, existe um diodo na entrada funcionando como proteção. Ocorre que este diodo possui capacitância e corrente de fuga, o que distorce o sinal. Para evitar este problema, os fabricantes usam diodos especiais de baixa corrente de fuga e baixa capacitâcia. No caso do meu Philips PM3225 foi usado um BAV-45, obsoleto e impossível de se encontrar.

 

 

 

Procurei substtuitos mais modernos. Encontrei uma versão SMD, o BAS416, disponível em grandes lojas nos EUA.

Não satisfeito, comecei a procurar um diodo mais fácil de encontrar em osciloscópios equivalentes mais modernos. Felizmente alguns japoneses desta vez seguiram o pensamento do Leonardo da Vinci: ("A simplicidade é o último grau da sofisticação") e usaram como diodo simplesmente a junção base - coletor de um transistor. No modelo da Meguro foi usado um 2SC945 comum, no da Kikusui, um transistor de radiofrequência.

Meguro: 


Kikusui:

 

 E vamos de base-coletor de um BF494, se preciso for!