terça-feira, 9 de abril de 2013

Gelo seco

Ano passado eu estive em Manaus, AM, a trabalho. A empresa que eu visitei fica no antigo Polo Industrial, perto do onipresente encontro das águas.

Foi uma sensação estranha, pois as fábricas manauaras não são como as que eu estou acostumado: são simples galpões enormes. Não há caldeiras produzindo vapor, torres de destilação, subestações enormes abertas exibindo pujantes barramentos que distantes parecem uma teia cinza deitada. Não vi muitas pessoas andando na parte externa das plantas. As unidades industriais de Manaus são basicamente montadoras e o processo não consome muita energia nem muito vapor.

Eu pensei em tudo que passou na minha mão fabricado em Manaus. Pura nostalgia e melancolia.

- Onde era a fábrica da Sharp ?

- Fechou.

- Eu sei, mas onde ficava ?

- A gente vai passar perto.



Todo mundo querendo ver o acasalamento do Rio Negro com o Solimões, exceto eu, que me preocupo com o destino da fábrica da Sharp, da Evadin, da Telefunken e de todas as outras indústrias eletrônicas que carimbavam no painel traseiro o pássaro voando com a inscrição Produzido na Zona Franca de Manaus - Conheça o Amazonas. Eis-me aqui.

Do motorista só recebo tédio de alguém que entende bem como o princípio da seleção natural de Darwin se aplica plenamente à plantas industriais.

Na época do FHC a Zona Franca de Manaus perdeu o status e se transformou simplesmente em Polo Industrial. As importações já haviam sido liberadas no governo Collor e a cidade entrou em decadência. É possível perceber no centro, onde as pessoas aproveitavam para comprar produtos importados como se estivessem em outro país. O problema é que Manaus é inviável economicamente: uma Atlântida Florestal no meio do nada além do encontro das águas e energizada em grande parte por combustíveis fósseis.

O entediado diz que o governo Lula criou incentivos fiscais e a cidade está em processo de recuperação. Perguntei se era possível comprar produtos mais baratos diretamente na porta das fábricas e recebi um não. Imaginei uma moto entrando como bagagem no avião...

Ai eu lembrei que em Coelho Neto tudo era mais sofisticado e evoluido! Em Coelho Neto os meninos que vendiam picolé na rua conseguiam gelo seco diretamente da fábrica que funcionava ao lado. Para nós, crianças, gelo seco só servia para manter o picolé congelado na caixa térmica. Anos depois descobrimos que era usado também para ser colocado no caldeirão da bruxa nos filmes de Os Trapalhões e produzir aquela fumaça branca, densa e pesada.


Nada como ter vivido em um bairro de vanguarda.



Um comentário:

  1. Bairro de vanguarda: morri! Melhor ainda é Madureira, que virou DIVINO no folhetim das 22h... Ah, Newton, a gente andou um monte desde então, hein, meu camarada?
    Abraço! :D

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