segunda-feira, 8 de abril de 2013

Serviço remunerado

Há poucos dias o Congresso aprovou uma lei que amplia os direitos das domésticas. O assunto conseguiu mais exposição da mídia que merecia e, como as redações estão tomadas por mulheres, o viés foi bem curioso. Olha só a capa da Veja:

Um homem, supostamente um executivo ou um funcionário de escritório que antigamente era chamado de "colarinho branco", lavando louça. A ideia é clara: divisão de tarefas do lar.

Algumas matérias falavam da necessidade do aumento de creches e asilos públicos, além da implantação de escolas públicas em horário integral, como no O Globo de ontem (07 de abril de 2013), mas a maior parte da mídia se concentrou em divisão de tarefas.

"Queremos homens colocando roupas na máquina de lavar, limpando banheiro e passando roupas!"

Se a divisão de tarefas é tão importante para as mulheres por que não virou pré-requisito para casar? Acho estranho que este tema não tenha sido debatido durante o periodo pré-conjugal. Se não entrou, a omissão foi um ato silencioso de concordar em não dividir as tarefas domésticas.

"Só caso se você se comprometer a lavar a louça"


Sim, existem homens que ajudam muito em casa. Este cara sou eu.

(Uma vez uma fã disse que eu era "o marido, o pai e o genro que toda mulher gostaria de ter". O pavão abriu a pluma. Parecia o antigo símbolo da NBC).



O que a mídia não lembrou é que este trabalho doméstico é remunerado. Pergunte à qualquer mulher: "Por que a mulher se aposenta antes do homem, mesmo tendo expectativa de vida maior?" e ela sempre responderá que é para "compensar a dupla jornada". O que elas chamam de dupla jornada é a suposição que toda a mulher que trabalha é casada e faz todo o serviço sozinha quando chega do trabalho. Por esta lógica, quem sempre teve empregada doméstica não deveria ter aposentadoria 5 anos antes. Tampouco quem sempre morou com os pais e nunca lavou uma louça.

Ao argumentar que a aposentadoria precoce (em relação aos homens) é para compensar a dupla jornada as mulheres estão automaticamente justificando o machismo e a posição do homem que não faz nada em casa. Já presenciou alguma feminista propor o fim da aposentadoria precoce para as mulheres? Eu nunca vi.

Mas esta aposentadoria tem um custo e quem paga é toda a sociedade! Sim, existe, por exemplo, um imposto chamado COFINS que é pago indiretamente por todos nós. Se as mulheres vivem mais, o certo seria que elas contribuissem mais com a Previdência Social ou se aposentassem mais tarde. É assim que funciona na Previdência Privada, que está se lixando se a mulher tem ou não dupla jornada.

Simulei um plano de previdência privada vinculado a um dos maiores bancos do Brasil. Disse que tinha 41 anos e que queria contribuir por mais 30 anos e estava disposto a depositar mensalmente mil reais. O simulador do banco me ofereceu uma remuneração média de 8% ao ano (delírio que só otário acredita). Aos 71 anos, nesta simulação, eu receberia mensalmente os seguintes valores:

Se eu fosse homem: R$ 8.628,65
Se eu fosse mulher: R$ 7.768,34

As mulheres receberiam 7,4% a menos neste banco.

Não fiquei satisfeito fui agora em um outro simulador. Novamente um plano vinculado a outro banco gigante. Mantive os parâmetros da simulação anterior na medida do possível, pois eles não são totalmente idênticos. Novamente disse que tinha 41 anos e que queria contribuir até os 71 anos e que a minha meta era embolsar R$ 8 mil por mês. Nestas condições:

Se eu fosse homem eu teria que depositar todo o santo mês R$ 1.669,27

Se eu fosse mulher eu teria que depositar todo o santo mês R$ 1.951,18

As mulheres teriam que pagar aproximadamente 17% a mais para ganhar os mesmos R$ 8.000,00 por mês aos 71 anos.

Procurei um lugar para informar ao simulador que, como mulher casada, tenho dupla jornada porque o meu marido não faz nada em casa e ainda deixa a toalha molhada na cama, mas não foi disponibilizado este recurso ou eu não o encontrei no simulador on line.

Agora deixa eu terminar este post pois tenho uma pia cheia pratos para lavar.

Um comentário:

  1. Newton,

    Qdo se fala em divisão de tarefas, penso que não precisamos levar tão ao pé da letra. Cada casal tem a sua realidade, como você falou. Tem casal sem filhos (significa menos tarefas a cumprir), tem casal que tem a sorte de poder contratar uma doméstica, que agora e cada vez mais vai virar artigo de luxo, tem casal cujo homem é melhor na cozinha do que a mulher (eu e Sergio por ex...rsrsrs). Mas o que ocorre com a grande maioria não é isso. As mulheres em geral trabalham (e muito) dentro de casa, principalmente as de classe mais baixa. E tem sim dupla jornada quando trabalham fora.

    E normalmente a educação dos filhos fica mais sob a responsabilidade da mãe na grande maioria das vezes.

    Fico imaginando a mãe da minha afilhada que não tinha marido, muito menos empregada, tinha que cuidar da casa e de duas crianças pequenas e ainda trabalhava fora pois a pensão que recebia não era suficiente.

    Particularmente, se o problema é a diferença de tempo de aposentadoria, eu não ligo se igualar. Graças a Deus tenho a sorte de gostar do que faço. Infelizmente nem todos tem esta sorte. Muitos trabalham por necessidade e contam os dias pra chegar os finais de semana, quem dirá a aposentadoria.

    Dividir tarefas, como eu disse, não precisa ser tão ao pé da letra, isso vai de cada casal. Quem cozinha melhor, quem tem mais paciência pra lavar a louça, quem gosta mais de organização (essa sou eu)... Sem radicalismo mas com um pouco de bom senso de ambas as parte né?

    Beijos,
    Sandra

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