terça-feira, 19 de julho de 2011

A balança do Nelson Rodrigues

Muitas pessoas colecionam antiguidades. Acho que é uma atividade em que o hobby, o consumismo e a nostalgia se encontam e dançam apaixonadamente. Por outro lado, eu sou avarento o bastante para procurar uma coleção que tivesse um custo baixo. Inventei de colecionar pequenos objetos dos anos 80, ainda no início da década de 2000, mas os anos 80 entraram na moda e encareceram o meu colecionismo, inviabilizando-o. Até hoje não tenho um Atari 2600.



A vida, sempre ela, sempre culpada por todos as nossas fraquezas, nos oferece velharias a um custo baixo. E a coleção vai aumentando e junto com a tensão de colocar mais tralhas num apartamento com declarados 94 metros quadrados no boleto do IPTU. Mas o destino e o coração sempre fazem a Luiza encontrar um cantinho para as minhas loucuras.

Uma vez eu estava acompanhando a Luiza no ginecologista, numa das várias consultas para um longo tratamento de fertilidade que resultou na Mariah. O médico, bonitão de doer, tornava imprescidível a minha presença naqueles encontros quase rodrigueanos. Observei que o consultório do médico era moderno, mas a Mensageira das Más Notícias, a balança que pesava as pacientes, era uma Filizola do tempo do ronca, daquelas que usam dois contra-pesos correndo em trilhos.


Em algum momento da consulta, para descontrair, meio brincando, meio sério, disse que, se um dia ele fosse comprar uma balança nova, eu poderia comprar a balança Filizola.

Numa tarde, a secretária dele ligou para a minha casa e a minha esposa descobriu que ele levou a sério a minha oferta e fechamos negócio. Lá foi o Uno vermelhinho na Barra da Tijuca em m uma das suas últimas missões numa manhã de sábado.

"É a balança que eu me pesava quando fazia tratamento para engravidar!", sempre repete a minha esposa, eufórica, ao apresentar a nossa Mensageira das Más Notícias. Acho que Nelson Rodrigues me chamaria de paspalhão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário