domingo, 6 de novembro de 2011

SUS

A semana passou e o assunto que mais me impressionou foi a doença do Lula. Não que a doença me surpreenda, porque é relativamente comum um cancer daquele tipo numa pessoa que fuma muito, mas a forma como o fato se propagou. Perdemos uma ótima oportunidade de falar dos males do tabagismo para insinuar os males do sistema público de saúde.

Não questionarei se Lula deveria ou não usar o SUS ou qualquer outro serviço público, nem se é justo as pessoas usarem a grossa ironia para dizer que ele mentia quando falava das maravilhas implementadas no SUS durante a gestão que iniciou em 2003. Tancredo Neves usou o serviço público de saúde e o anterior, João Figueiredo, se não me falha a memória, chegou a fazer uma cirurgia espiritual num centro espírita na Penha, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. Cirurgia espiritual em centro espírita não é SUS, mas pode ser considerado um serviço público no lato sensu. Fora estes dois casos, não me recordo de nenhum presidente ou vice-presidente que tenha usado o sistema público de saúde ressaltando que a minha tenra idade só permite recordações a partir do governo Figueiredo (1979 - 1985). Aliás, por que o José de Alencar pode usar a rede privada sem críticas e o Lula não pode? Já que é para criticar e questionar, eu duvido que os filhos do governador Sergio Cabral (PMDB/RJ) possuam diplomas de segundo grau emitidos por uma escola pública estadual. O mesmo para os rebentos de Eduardo Paes (PMDB/RJ) e Cesar Maia (DEM/RJ).

Mas quando anônimos leitores de jornais dizem que "O Lula deveria se tratar no SUS" o que eles querem afirmar é que o sistema de saúde pública no Brasil é horrível e que o responsável por esta situaçao deveria padecer do mal que criou, como se todos os governantes atuais e anteriores também não fossem responsáveis pela situação do sistema público de saúde. É claro que estes também são responsáveis e Dilma, FHC, Sarney e todos os demais governantes federais, estaduais e municipais deveriam todos de tratar no SUS se é para seguir esta linha de pensamento.

Mas muitos dos que enfaticamente relatam esta suposta tragédia o fazem por meio de impressões e relatos de segunda mão, pois já abandonaram o sistema de saúde pública há muito tempo e acabam sendo como a criança que diz que não gosta de pera sem ter nunca experimentado. E boa parte só abandonou o sistema porque a empresa paga um plano de saúde privado. Este é o meu caso, embora eu não tenha abandonado o sistema.

Em 2005 eu estive na Espanha e a tia da minha esposa estava internada para operar o coração. Fomos conhecê-la no hospital que fica na cidade de Huesca. O que eu vi foi algo melhor que a Casa de Saúde São José, que tem o foco na classe média-alta carioca. Só não tinha quarto particular, mas o que eles chamavam de enfermaria era um confortável quarto dividido com mais uma senhora porque a terceira cama estava vaga. Realmente, se for comparar com o sistema de saúde da zona do euro naquela época, a distância do SUS é enorme.

Por outro lado, eu usei o sistema público de saúde no ano passado, quando fui à Goiânia, e para ir àquela região é preciso tomar a vacina contra febre amarela. Na verdade eu, a esposa, a sogra e a  filha fomos vacinados no posto de saúde municipal da Tijuca (cidade do Rio de Janeiro) e o atendimento foi ótimo, rápido, sem filas e quase sem dor. Os funcionários foram muito gentis e explicaram todos os detalhes biológicos e burocráticos da vacina. Não sabendo responder uma dúvida da minha esposa quanto à aplicação da vacina na minha filha, um deles ligou para a pediatra da prefeitura para elucidar o caso. Por fim, o nível que choro da minha filha foi menor que a das vacinas privadas, fazendo-me concluir que as enfermeiras do município tinham uma "mão melhor para aplicar injeção".

Sendo assim, eu não posso, pela minha experiência atual, afirmar que o sistema é ruim. Falar isso é propagar um mito nem sempre verdadeiro que só beneficia quem quer mais dinheiro para o sistema, mas não tem compromisso com a melhoria do SUS, em especial os corruptos.

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