terça-feira, 27 de dezembro de 2011

2012 será o ano da China - parte 3

Vamos continuar falando dos reflexos do crescimento da China. Uma das primeiras falas de Glenn Close em  "Atração Fatal" (1987) - filme que até hoje deixa muitos amantes morrendo de medo - perguntava a Dan Gallagher, personagem de Michael Douglas, que segurava um guarda-chuva que acabara de quebrar durante uma chuva inesperada:

-O seu guarda-chuva foi fabricado em Taiwan?

A frase original era uma afirmação e na época ocasionou um certo constrangimento na Ásia: "The umbrella must have been made in Taiwan".

No passado, os produtos japoneses eram conhecidos pela baixa qualidade. Akio Morita, fundador da Sony, em seu livro "Made in Japan" relata como se sentia envergonhado quando reclamavam da qualidade dos produtos japoneses. Isto ocorreu no pós segunda guerra, nos anos 1950. Nos anos 1980 o Japão já apresentava uma qualidade equivalente a Norte Americanos e Alemães, com um preço muito melhor e o vácuo de fornecedor global de quinquilharias baratas e de baixa qualidade foi preenchido por dois novos atores: Coréia do Sul e Taiwan e o fala de Alex Forrest, personagem brilhantemente interpretada por Close, nos ajuda a lembrar desta época.

Atualmente o quarda-chuva vagabundo está sendo fabricado na China e é tão grande que não me surpreendo se ela ocupar os dois papéis neste teatro do comércio internacional, fornecendo produtos de alta tecnologia e quinquilharias baratas. Há espaço para todos e a lógica o é lucro.

O mundo ocidental acompanha um processo de mais de 50 anos de desindustrialização. Este fenômeno se acelerou a partir da segunda metade dos anos 1980, com a abertura econômica da China. Hoje, nas gôndolas dos supermercados dos EUA, com exceção de produtos de higiene, limpeza e alimentares, é difícil encontrar um objeto que não seja fabricado na Ásia. Economistas e políticos da América do Norte dizem que estão migrando para uma "Nova Economia", com foco em produtos e serviços de alta tecnologia. Esta crença parte da suposição que a Ásia nunca desejará ou conseguirá produzir melhor e mais barato estes "produtos e serviços de alta tecnologia" e empresas como a Huawei desmistificam este pensamento.

Uma vez desindustrializado, a pergunta que se forma é o que podemos esperar do resto do mundo em termos políticos e econômicos, sabendo que um está fortemente entrelaçado com o outro. Se não há espaço para fábricas, a atividade econômica dos países que não dominam alta tecnologia que resta é o fornecimento de matérias-primas para as fábricas da Ásia e a disparada dos preços destes produtos a partir de 2002 cria a ilusão que estamos fazendo um ótimo negócio e no caminho certo. Ilusão porque só é bom no curto prazo e porque é politicamente desastroso.

No longo prazo, a desindustrialização do país força-o a migrar para os setores primários: mineração e agricultura. São setores que não geram muitos empregos, principalmente com a queda do preço das máquinas fabricadas na Ásia. Com máquinário mais barato, o empresário é estimulado a substituir parte das atividades executadas tradicionalmente por homens.

O maior empregador privado do Brasil foi uma fábrica de automóveis nos anos 1980 e hoje é uma rede de lanchonetes Fast Food.

Politicamente o cenário é pior: como Estados mais industrializados costumam eleger políticos mais modernos, com a desindustrialização destes Estados a população tenderá a escolher políticos mais conservadores. Ironicamente a China, menina dos olhos de muitos militantes de esquerda, está fazendo o Brasil ficar um pouco mais à direita.



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