segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Jornada 3: causa e efeito

O post anterior era para continuar a história do ponto da cirurgia bariátrica, coisa que eu não fiz. Achei importante naquele momento contar que eu passei por um longo tratamento psicoterápico como uma forma alternativa - e ao mesmo tempo convencional para a época - de emagrecer. O problema é que as psicólogas que eu conheci não conseguiram definir direito o que é causa e o que é consequência.

Se você pegar dados dos 50 estados dos EUA nos anos 1970 e fizer uma tabela considerando o número de carros e a quantidade de estradas, em quilômetros, que cada estado possui vai descobrir uma forte correlação positiva: quanto mais carros, mais estradas. Agora responda:

(a) Constroem muitas estradas porque os habitantes possuem muitos carros?

ou

(b) Os habitantes compram muitos carros porque construiram muitas estradas (sistema viário excelente)?

O fato de serem correlacionados não informa quem é a causa e quem é a consequência. Você pode chutar, opinar pela lógica, mas não dá para afirmar com 100% de certeza entre (a) e (b). Aliás, pode nem mesmo existir relação de causa e efeito.

Eu afirmo que existe uma forte correlação entre auto-estima baixa e obesidade. Os psicólogos que eu conheci naquela época consideravam que a baixa auto-estima causava obesidade, mas olhando hoje eu vejo o contrário, isto é, a obesidade causa a baixa auto-estima. Pode parecer nítido para você, hoje, mas em 1984 não era muito claro. A nitidez daquela época indicava o contrário.

Mas o mundo quando eu fiz a minha primeira dieta, em 1984, era diferente. A epidemia de obesidade ainda não era muito nítida por aqui. Pesar mais de 100kg era escândalo e escárnio. Claro que temos que considerar nestes quase 30 anos que o povo brasileiro ficou mais alto, mas, seguindo o padrão de IMC máximo de 25 para não ser considerado obeso, uma pessoa com 100kg seria considerado com peso normal se sua altura fosse de 2 metros.

A parte psicológica e emocional dos brasileiros não mudou para pior nestas três décadas para justificar a explosão de obesidade. Pelo contrário, graças à China e ao real valorizado estamos numa fase de ego inflado coletivo, um delírio que lota o Prime Outlet de Orlando, com a classe média histérica em busca da loja da Tommy, bem diferente de 84, com crise, recessão, Delfim Netto e João Figueiredo.

Curiosamente, eu percebo mais pressão contra o gordo que a 30 anos. Basta olhar as atrizes de pornochanchada dos anos 1970 e 1980 que passa de noite no Canal Brasil para perceber que o padrão de beleza ficou mais esbelto. A mulher bonita migrou para a magra, sem curvas, mas com uma certa musculatura. Na prática, impossível de ser atingido para a maioria das brasileiras. Não vejo sentido especificar uma coisa que não pode ser conseguida, nem mesmo com um custo alto. A mulher "verdadeiramente bela" dos anos 2010 virou uma mentira, uma utopia, um Unobtainium, mas beleza é assim mesmo, não é uma fábrica onde se busca a repetência e a uniformidade. A beleza é feita para brilhar a exceção.

E a pressão é tão grande muitos fazem cirurgia bariátrica, que ficou para A Jornada 4.

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