O primeiro passo foi
selecionar um país que guardasse boa similaridade com Cuba para
comparar um país socialista com um capitalista. A nação escolhida
foi a República Dominicana pelos seguintes motivos: (a) Está
localizada no Caribe, (b) como Cuba, é uma ilha que vive basicamente
do turismo e da agricultura (c) Estão próximas, com clima e
geografia similares e (d) no número de habitantes e a densidade
demográfica são compatíveis.
O segundo passo foi selecionar alguns indicadores disponíveis num universo de mais de mil e
consultar a base de dados do Banco Mundial e avaliar os valores de
1960 (os mais antigos deste banco de dados) e os atuais.
Aos números:
Homicídios dolosos
por cem mil habitantes
Selecionei este
indicador para comparar o nível de violência.
A República Dominicana
só tem dados de 1995 a 2015. Nestes 20 anos houve um crescimento de
37% neste indicador de violência. O último valor registrado é de
17,4 homicídios / 100 mil habitantes.
Cuba só tem dados de
2004 a 2011. Este indicador diminuiu 13% no período e o último
valor registrado é de 4,7 homicídios / 100 mil habitantes.
Conclusão: não há
dúvidas que Cuba seja além um país menos violento que a República
Dominicana, esta tende ao crescimento enquanto Cuba está diminuindo.
Incidência de
tuberculose por cem mil habitantes
Selecionei este
indicador para avaliar a saúde pública e, de certa forma, as
condições sanitárias.
A República Dominicana
oferece dados de 2000 a 2017. O último valor é 60 casos / 100 mil
habitantes, com uma redução de 40% em 17 anos.
Cuba apresenta dados de
2000 a 2016. O último valor foi 6,9 casos / 100 mil habitantes, uma
redução de 43% em 16 anos.
Conclusão: Cuba tem
aproximadamente 1/10 dos casos de tuberculose da República
Dominicana, o que é uma grande vantagem, mas a taxa de queda tão
próxima (40% x 43%) indica que as medidas de tratamento do problema
são similares.
Percentual de
habitantes no mínimo usando serviços básicos de água potável
Selecionei este
indicador para avaliar as condições sanitárias.
República Dominicana:
dados de 2000 a 2015, 91,1% para 94,5% (crescimento de 3,7% no
período).
Cuba: dados de 2000 a
2015, de 93% para 95,2% (crescimento de 2,4%).
Conclusão: não
vejo diferenças significativas.
Consumo de álcool
Selecionei este
indicador por puro preconceito, tentando avaliar o nível de
insatisfação da população.
Cuba só tem dados de
2015, registrando 5,5 litros por habitante por ano. A República
Dominicana consome 7,6 litros por habitante por ano.
Não conclusivo. O
maior consumo na República Dominicana pode indicar simplesmente maior
poder de compra e como são dois países turísticos, o consumo dos
turistas é contabilizado como consumo interno.
Registros de
patentes
Selecionei este
indicador por estar relacionado com o nível de educação formal da
população.
Cuba registrou 32
patentes em 2016 e 8 patentes em 1963. A República Dominicana
registrou 15 em 1963 e 16 em 2016.
Conclusão:
registros de patentes são ótimos indicadores de nível educacional
e são fáceis de auditar, o que torna um indicador difícil de fraudar. A
produção de patentes da República Dominicana se manteve
praticamente constante enquanto Cuba quadruplicou no período,
indicando um salto educacional após a Revolução de 1959.
Taxa de suicídios
Selecionei este
indicador na tentativa de monitorar a insatisfação da população.
Cuba apresenta taxas
maiores, porém decrescentes, de 16,4 suicídios por cem mil
habitantes para 14 enquanto na República Dominicana os valores estão
constantes em 6,8 suicídios por cem mil habitantes.
Não conclusivo.
Cuba tem índices maiores que a República Dominicana mas compatíveis
com Alemanha e bem menores que o Japão, países de notória
qualidade de vida, o que indica que existe um fator cultural muito
mais forte que a insatisfação na decisão de encerrar a própria
vida.
Expectativa de vida
ao nascer
Selecionei este
indicador por ser recorrente nos debates sobre o desempenho de Cuba
após a Revolução de 1959 e um indicador de qualidade de vida da
população.
A expectativa de vida
atual em Cuba é 79,5 anos e na República Dominicana, 73,7 anos.
Neste aspecto há uma leve vantagem para Cuba, mas como os dois
países não são exatamente iguais, uma diferença de menos de 10%
talvez não seja significativa.
Em 1960 a expectativa
de vida na República Dominicana era de 51,8 anos e em Cuba 63,9
anos. Para fins de comparação, em 1960 esta expectativa de vida era
bem maior que a do Brasil (54,2) e México (57,1) e próxima da
Argentina (65,2), que à época era considerado um país próspero e
de boa qualidade de vida.
Isto nos leva a questionar se Cuba era
realmente um país ruim de se viver antes da Revolução. Países
notoriamente pobres apresentavam expectativa de vida bem menores em
1960 como, por exemplo Camboja e India (ambos com 41 anos), Quênia
(46) e Bolívia (42). O fato é que o cidadão cubano tinha uma
expectativa de vida ao nascer em 1960 superior à média da América
Latina e Caribe (56 anos) e próximo da média dos países da Europa
e Ásia Central (67 anos). É importante destacar que hoje Cuba
continua com uma expectativa de vida bem próxima, porém levemente
superior, à média destes países e a da República Dominicana está
acima da Rússia (71 anos) e levemente abaixo do Brasil (75).
Conclusão: Cuba já
tinha uma expectativa de vida grande antes da Revolução de 1959 e
esta aumentou num ritmo superior à da Europa e Ásia Central (24,4%
x 15%), mas bem inferior à Republica Dominicana (42%) o que indica
que já era um país bom de se viver antes da Revolução, comparável
com alguns países da Europa.
Imunização contra o
sarampo
Selecionei este
indicador para avaliar o sistema de saúde pública.
O dado mais antigo da
República Dominicana é de 1980, com apenas 30% de imunização e
cresceu até os 85% atuais.
A imunização em Cuba
era 48% em 1960 e 99% nos dias de hoje. O Brasil tinha 57% da
população imunizada em 1960 e 96% atualmente.
Conclusão:
aparentemente a Revolução de 1959 melhorou muito a saúde pública
em Cuba, mas não podemos dizer que esta era ruim antes da revolução
considerando o indicador anterior (“Expectativa de vida ao nascer”)
Conclusões:
(1) Ao contrário do que os meus professores de História disseram, Cuba, antes de 1959 não era um país miserável, pelo contrário, seus habitantes viviam quase tanto tempo com um europeu. Fidel, inclusive, tinha educação superior.
(2) A Esquerda não mente quando afirma que os maiores ganhos da Revolução foram na saúde e na educação.
(3) Como Cuba já era mais avançado que os congêneres e próximo aos países europeus sob certos aspectos não tenho a mínima ideia de como seria o país hoje se a Revolução não tivesse ocorrido. Mas é difícil imaginar tais cenários: o país, em 1960, também parecia com a então próspera Argentina.
Creio que apesar da boa intenção comparativa, a escolha da Republica Dominicana não foi muito feliz. Segundo as estatísticas oficiais do USCIS (United States Citizenship and Immigration Services), junto com o State Department, informação disponível, os imigrantes (incluindo ilegais) mais problemáticos nos Estados Unidos é exatamente os da República Dominicana, as maiores gangues armadas em New York são os dominicanos, até as gangues de pretos tem medo deles. Ou seja, os dominicanos possuem uma educação difícil de comparar com qualquer outro país. Para ter uma ideia, depois dos dominicanos vem os Mexicanos, devido aos problemas de contrabando de droga, por terceiro, pense bastante, pense muito mesmo, os brasileiros, devido aos problemas gerados em golpes no sistema bancário, abandono de dividas em empréstimos e cartões de crédito. Guatemala, Honduras e Costa Rica poderiam ser excelentes candidatos comparativos. Chile seria um excelente. Você esqueceu de citar que apesar de Cuba ter mais que o dobro de extensão territorial (109000km²) que a Republica Dominicana (48000km²), possui menos da metade do GDP per Capita (Republica Dominicana: $17,000, Cuba: $7,000), ambos com população semelhante (RD:10.8M, C:11,3M), e que, mais de 10% da população dominicana é composta por Haitianos. Ou seja, os Dominicanos ainda ganham dos brasileiros no GDP, Brasil: $10,000 per capita, que ganha dos Cubanos.
ResponderExcluirEm termos geográficos não encontrei nada melhor que a RD para comparara com Cuba. Não sou geólogo, mas arriscaria dizer que pertencem a mesma cadeia geologica.
ExcluirEu acho que a grande descoberta disso tudo é que Cuba provavelmente não era um país pobre. A esquerda inventou isso provavelmebte para valorizar a Revolução.
Parabéns!
ResponderExcluirMas ai fica a pergunta... se Cuba é comparavelmente boa com um pais "similar", porque os cubanos são doidos pra caírem fora de lá a ponto de arriscarem sua vida no mar para chegar aos EUA? Ou seja... números nem sempre indicam a satisfação do povo com seu pais.
ResponderExcluirMas os habitantes de outros ppaises da América Latina também imigram para os EUA. A diferença é que os outros tem passaporte. Outra coisa, para um país com 50% de residências sem.saneamento básico como o Brasil, a saude educação são valores. Para os.que emigram liberdade é um valor maior.
ExcluirExistem várias hipóteses: o embargo econômico sofrido por Cuba; terrorismo psicológico feito pelos EUA (fazendo-nos acreditar que a liberdade pregada por eles é realmente verdadeira e que nenhum país do mundo é tão bom quanto eles; insatisfação com relação o socialismo (qualquer pessoa em qualquer país pode (ou deve?) estar insatisfeito com o que é oferecido; etc, etc. Cuba tem uma pequena vantagem sobre nós: não se curvou ao modelo do capitalismo dependente imposto pelos EUA (imagina quanto a indústria farmacêutica não ganharia "nas costas" de Cuba). Mas pagam caro por isso...
ResponderExcluirObs: o comentário está relacionado ao questionamento do Luciano. Falha minha ao não especificar isso logo no início do comentário. Uma grande falácia que tenho lido ultimamente é que o socialismo não presta porque não deu certo. Mas não deu certo porque não presta ou não deu certo porque a guerra imposta (tanto física quanto ideológica) pelos países capitalistas é desproporcional. Vejam a atuação dos EUA no mundo. Promovem guerras, desestabilizam governos, sempre em nome da liberdade... e do livre acesso aos recursos naturais ou sociais (petróleo, rotas marítima, mão-de-obra barata, etc) dos países mais fracos. Cuba por exemplo, uma ilha belíssima, assediada constantemente por grandes grupos financeiros ligados ao turismo e hotelaria, além da indústria farmacêutica... Será mesmo que o socialismo não presta ou isso não passa de discurso para conquistar territórios mais fracos?
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