quarta-feira, 14 de março de 2012

Ser pão duro atrapalha o destino

No final de novembro de 1994 eu fui enviado para uma cidade no sudoeste mineiro que até então eu nem sabia que existia para fazer o curso de formação de operadores de Furnas. Eu tinha 22 anos e foi a primeira vez que eu saí de casa para morar em outro lugar.

Teoricamente era possível voltar toda a santa sexta-feira para o Rio de Janeiro, só que a logística era complicada. Para se ter uma ideia, o caminho mais conveniente era viajar de ônibus durante seis horas até São Paulo, SP, e depois pegar outro ônibus para ir para o Rio de Janeiro. Eram 12 horas indo, 12 horas voltando para um final se semana de apenas 2 dias. Não valia a pena e até final de fevereiro de 1995, quando terminou o curso, poucas vezes eu retornei ao Rio.

O curso era dentro da vila que foi construída ao lado da usina, um povoado isolado e um pouco decadente de menos de cinco mil pessoas que ainda guardava aquele estilo original de cidades pequenas dos Estados Unidos: ruas largas e quase sem trânsito de veículos, casas sem muro e muita, muita grama. Era bonito e tedioso. A cidade média mais próxima, com uns cem mil habitantes, Passos, estava a 40km de distância e o acesso era por meio de uma estrada que ficava entupida de caminhões na época da colheita da cana-de-açúcar.

Com o dinheiro entrando, foi possível desenvolver sofisticadas técnicas de economia. Alias, quando eu vi o meu nome na lista de aprovados publicada no Jornal dos Sports eu pensei no ato: "Beleza, trabalho duro durante 10 anos e monto a minha oficina autorizada da Philips ou da Philco e nunca mais terei patrão". Mas o tempo, o sábio, mostrou que isto era a coisa mais idiota que uma pessoa poderia pensar.

Poucas almas entendem, mas juntar dinheiro e vê-lo crescer é um prazer até maior que gastá-lo para algumas pessoas. Eu, por exemplo. Aliás, para quem gosta de juntar dinheiro, gastar é um tormento, a menos que:

1) Esteja realmente muito barato e precise do produto ou serviço;

2) Seja um sonho muito, muito antigo e, como tal, consolidado e sedimentado. Sua realização dará um prazer que superará o prazer de juntar dinheiro;

3) Seja para comprar algo que produza mais dinheiro, como uma autonomia de taxi. Eu nunca esqueço que brincava com a minha psicoterapeuta que o meu primeiro carro seria uma Kombi para ganhar dinheiro fazendo frete nas folgas.

O resultado é que em apenas 10 anos, já casado, conseguimos comprar um apartamento a vista. Eu tinha apenas 32 anos. Saudades desta época de juros altos do segundo governo Fernando Henrique e primeiro governo Lula e mais saudades do tempo que eu era uma máquina de juntar dinheiro. A máquina hoje está enferrujada.

Voltando ao curso de formação, o meu foi particularmente especial: pela primeira vez na história de Furnas duas mulheres estavam fazendo o curso para serem operadoras. Uma delas, a Dagmar, se tornou minha amiga-quase-irmã até hoje. Pena que ela mora em Goiânia.

Nossa afinidade e tão grande que ela sempre me telefonava quando eu estava triste, num momento difícil. Parece que ela adivinhava. Mas ninguém acredita nestas coisas espirituais mesmo, então deixa para lá.


O selo da nossa afinidade foi quando a filha dela nasceu no dia do meu aniversário. Não acredita? E se eu contar que a Mariah iria nascer no dia do aniversário da Dagmar? Sabe qual é a chance disto ocorrer ao acaso?  Uma em 133 mil.



Mas por que a Mariah não nasceu no dia do aniversário dela? Porque o médico obstetra que acompanhou a gravidez da Luiza era um profissional conceituado, professor universitário, cuja tese de doutoramento foi sobre uma doença que a Luiza tinha. Ele cuidou do mal e do nosso problema de fertilidade. A Mariah é, sem duvida, uma testemunha da sua competência. Só que médicos assim são caros.

Quando a Luiza engravidou, a escolha do mesmo medico que nos tratou para ser o seu obstetra foi natural. A medida que a gestação chegava ao fim, eu comecei a perguntar à Luiza se o medico já tinha acertado com ela o valor dos honorários do parto. Como um bom "pão duro certified" eu sentia que a conta seria salgada como um bacalhau do Porto, porem não imaginava que fosse tao salgada.



Segundo a Luiza, ele só informou o valor dos honorários faltando uns 10 dias para o parto. Primeiro eu fiquei boquiaberto com o fato do parto estar marcado para o dia do Aniversário da Dagmar, depois eu fiquei mais boquiaberto quando vi os valores. Eram de 3 a 4 vezes o limite de cobertura do plano de saúde.

Na primeira noite nós não dormimos. Na segunda noite nós não dormimos. Na manhã terceiro dia nosso espiríto inconformista falou mais alto e partimos à ação. Por sorte, na época do parto da Mariah, muitos amigos também ganharam bebês. Pegamos o telefone de vários obstetras e começamos a tentar.



Depois de um ou dois dias a Luiza conseguiu o telefone de uma outra obstetra. Ela tinha feito o parto de um primo da minha esposa. Conseguimos marcar a consulta por encaixe e ela aceitou fazer o parto, só que como estava muito em cima, a data foi atrasada em 3 dias. Assim, Mariah quase nasceu no dia 25 de janeiro.

E como a médica era credenciada do nosso plano de saúde, não gastamos um tostão, apenas assinamos papéis. What a wonderful world.

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