terça-feira, 18 de junho de 2013

A jornada 5: o operador maluco

Desistindo da bariátrica e aguardando uma inundação de cirurgiões cobrando a tabela da AMB, relaxei e deixei o controle do peso para escanteio. Pequeno privilégio de homem casado.

Naquela época eu trabalhava em turno, então foi entre 2001 e 2004. Um novo concurso tinha surgido e entraram mais 4 operadores para o meu setor. Um deles, J., era um viciado em livros e um pouco idiossincrático. A maioria o taxava de louco, mas esta avaliação era em parte fruto da ignorância. De qualquer forma, uma coisa que eu aprendi cedo foi que é ótimo ter um amigo assim, diferente, porque ele vê o que ninguém vê e de um ângulo muito particular, que pode levar a soluções interessantes e análises criativas dos fatos. Resumindo: conversava muito com o J. Só que J. estava engordando muito e a gente ficava brincando sobre este problema.


Um dia ele disse que "aquilo não era normal" e que iria emagrecer. O método não poderia ser convencional. J. esbravejava que médico não sabia de nada e que um amigo perdeu 40kg com a Dieta do Atum e ele iria fazer o mesmo. Perdeu uns 35kg no intervalo de meses, talvez um ano. Claro que no início ele foi alvo de deboche, mas diante de 35kg perdidos todos respeitam, pois ele mostrou no corpo dele que estava correto e que conseguiria emagrecer. Um dia, um operador muito amigo nosso, o Valdenir, apareceu com uma caneta e uma folha de papel em branco e foi perguntar como era a tal Dieta do Atum do J. e este, muito simpático e diria até feliz por ajudar, disse:

- De manhã você come o que quiser.

- Espera! Estou escrevendo: "De manhã pode comer o que quiser". Ok, e depois?

- No almoço você come uma latinha de atum light, mas tem que ser light, na água e sal, e uma saladinha de alface e tomate.

- "Almoço: atum e salada de alface e tomate". E depois? E no jantar?

- Não tem jantar. Você deve correr para cama e dormir bem cedo para no dia seguinte poder comer tudo o que quiser no café da manhã.

Deu pena da cara de desânimo do pobre do Valdenir. Acho que ele não seguiu a dieta do J.

Até hoje eu procuro ver a lógica da dieta do J. Ainda que ele fosse louco, tecnicamente, o corpo de um louco tem a mesma fisiologia e comportamento de uma pessoa normal, a diferença do louco para o são está no cérebro, pois o corpo do louco tem coração, pâncreas, perna e pulmão rigorosamente comuns.

O que o fez emagrecer afinal? Ele dizia que atum tinha alguma coisa que tirava a fome, que no início da jornada sentia-se faminto, porém, depois de uns dias, tudo passou. Aos olhos de hoje, eu tenho algumas pistas do quebra-cabeça que fez a dieta funcionar, mas na época nada fazia sentido. Ele não fazia pequenas refeições de três em três horas, não suprimiu açúcar, não ficou com fome e não abandonou a jornada no meio do caminho. O que diabos aconteceu que simplesmente fez aquela coisa de doido funcionar?


Um comentário:

  1. De vez em quando passo por aqui e leio vários posts de uma só vez. Hoje tive que comentar, essa dieta do atum foi demais.

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