segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Assinatura

O meu sogro era espanhol de Badalona, região metropolitana de Barcelona. Ainda pequeno a família se mudou para o norte do país em busca de uma vida melhor numa cidade que recebia uma nova fábrica de alumínio. A família do pai da minha esposa vive até hoje no reino de Aragão, nesta pequena cidade próxima a Huesca. São mais aragoneses que catalães, inclusive no temperamento, em parte pela miscigenação que ocorreu: a segunda geração casou com aragoneses, e a terceira também. Maria, filha da Merche, sobrinha do meu sogro e prima de segundo grau da Luiza, tem o desenho do rosto mais francês que aragonês.

(O dia que eles lerem isto vão querer me matar).

De fora a Espanha parece um país homogêneo, mas não é e nunca foi. Algumas regiões são separatistas e não há muita miscigenação interna. A imagem da mulher de rosto fino, cabelo ondulado e preso, sobrancelhas grossas e negras que temos da espanhola é, na verdade, a "típica" madrilenha. A mulher aragonesa apresenta uma feição bem diferente.

Sempre encaramos a cidadania da Mariah como um presente póstumo do meu sogro, uma jóia preciosa que ela poderia usar em momento de necessidade futura. Cuidamos desta jóia com todo o cuidado e não só validamos o nosso casamento no consulado espanhol como tiramos a cidadania da Mariah logo depois que nasceu, pois o presente não podia esperar.

Já estamos a caminho do terceiro passaporte já que crianças recebem passaportes com validade bem reduzida, porque elas mudam muito o desenho do rosto aragonês-catalão-carioca, porém já estamos colhendo os frutos: a Espanha é um dos poucos países do mundo que tem o privilégio de entrar nos EUA sem visto. É só preencher uma ficha pela Internet, aguardar a autorização por e-mail, imprimir e pronto. Ao invés de pagar 160 dólares para pleitear o visto norte-americano, pagamos 72 reais e tiramos o passaporte espanhol que dispensa o visto. Multiplicar por dois a economia, porque a Luiza também possui a bendita cidadania.

Semana passada nos dirigimos ao Consulado da Espanha no Rio de Janeiro para renovar o passaporte da Mariah. A funcionária, muito gentil, perguntou se ela já sabia escrever, minha esposa disse que não, que estava em processo de aprendizagem. A funcionária insistiu e perguntou se já sabia escrever o nome.

E foi assim, sem nenhum planejamento, a primeira assinatura da Mariah em um documento. Papai brasileiro está comovido até agora.




3 comentários:

  1. É, meu amigo... Ela está crescendo rápido. É inevitável...
    E deixa saudades.
    Vai curtindo. :D

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    1. Acredita que apagou da minha memória a Mariah bebê, engatinhando? Dá vontade de fazer outro.

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