O sistema prisional brasileiro está falido. Acho que li em algum lugar que até alguns juízes relutam em mandar certos tipos de criminosos para a cadeia porque sabem que não há vagas, as condições são péssimas e eles sairão bem pior que entraram.
Se por um lado prender custa caro em termos psicológicos, sociais e financeiros, não prender também não é barato porque dá a sensação de impunidade.
O momento eleitoral incentiva a pensar nos problemas brasileiros e imaginar soluções criativas e de custo o mais baixo possível para todos. Para mim, parte da solução é a criação de novas cadeias privadas concorrendo com as cadeias públicas atuais e o preso decidindo livremente se quer migrar para a penitenciária privada.
Os custos e o lucro da prisão privada seriam pagos pelo trabalho do preso que ali cumpre pena. Para evitar concorrência desleal com a mão de obra dos trabalhadores livres, eu imaginei um "mercado de trabalho paralelo" onde a mão de obra, os consumidores e a produção do mercado dos livres não interfeririam no mercado dos presos. É um esboço, um exercício de imaginação e solução de problemas e não sei se a OMC (Organização Mundial do Comércio) e a OIT (Organização Internacional do Trabalho) aceitariam.
O primeiro passo é saber o que os atores envolvidos no problema desejam:
A população quer:
1. Que o preso fique um tempo longo na cadeia, mas não se corrompa e saia melhor que entrou;
2. Que as condições das cadeias sejam dignas;
3. Que o custo para a sociedade de manter o condenado preso seja o menor possível; e
4. Que o criminoso pague pelo crime e pela estadia na cadeia
O Poder Judiciário quer:
1. Que as condições das cadeias sejam dignas;
2. Que existam cadeias suficientes para todos os condenados, sem superlotação;
3. Que o custo de manter o condenado preso seja o menor possível; e
4. Que o preso saia do sistema prisional melhor que entrou.
A empresa e o investidor privado querem:
1. Mão de obra barata;
2. Boas oportunidades de negócio;
3. Melhoria na segurança pública; e
4. Ambiente de negócios estável, previsível e com risco controlado.
O criminoso quer:
1. Que as condições das cadeias sejam dignas;
2. Que a sua saúde e condição física não seja degradada durante o período na cadeia;
3. Que não fique estigmatizado quando terminar de cumprir a pena e sair da cadeia e
4. Que as condições do sistema prisional sejam dignas;
Os trabalhadores e sindicatos querem:
1. Melhores condições de trabalho;
2. Não fazer trabalhos chatos e repetitivos; e
3. Que os presos não concorram com os livres no mercado de trabalho
Os defensores dos Direitos Humanos querem:
1. Que os presos tenham condições dignas nas cadeias;
2. Que os presos não sejam obrigados a trabalhar (ausência de trabalhos forçados);
3. Que sua saúde e condição física do preso não seja degradada durante o período na cadeia; e
4. Que o preso não fique estigmatizado quando terminar de cumprir a pena e sair da cadeia.
De posse de todas estas demandas eu modelei e defendo o seguinte sistema:
(a) Qualquer empresa ilibada poderia construir e operar uma cadeia privada, em qualquer lugar do território nacional. Junto com a cadeia, esta empresa construiria um ou mais galpões industriais para que os presos trabalhem e paguem pela sua estadia. O lucro da cadeia não viria do governo, mas do uso da mão de obra do preso;
(b) O Governo não daria um centavo à cadeia privada, mas poderia financiar por meio do BNDES. A cadeia privada fornecerá ao preso segurança, alimentação, saúde e moradia;
(c) Só poderiam se candidatar a trabalhar nas cadeias privadas os presos com histórico de bom comportamento e que pagam por crimes de baixa periculosidade e sem uso da violência como corrupção e furto. Presos considerados violentos ou com problemas psiquiátricos não poderiam se candidatar;
(d) O preso é quem decidiria se prefere continuar na cadeia pública ou na cadeia privada. Um preso pode migrar de uma cadeia pública para uma cadeia privada e vice-versa imediatamente, quantas vezes quiser, num processo rápido e sem burocracia. O custo da transferência sempre será pago pela cadeia privada que usará a mão de obra do preso;
(e) A cadeia privada pode selecionar livremente os presos que ela quer. O critério de escolha do preso e o processo seletivo será todo feito pela cadeia privada.e o governo e o preso não podem interferir no processo seletivo e nos critérios de escolha;
(f) A cadeia privada pagaria por todo o treinamento necessário para o preso executar o trabalho, inclusive os cursos de normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho, quando aplicável;
(g) A cadeia privada pagaria um plano de saúde para o preso e sua família;
(h) O preso receberia um valor previamente acertado com a cadeia privada pelas horas trabalhadas no galpão da cadeia seria renegociado anualmente;
(i) A cadeia privada não pagaria nenhum imposto ou contribuição aos governos municipais, estaduais ou federais ou mesmo à Justiça pelo uso da mão de obra do preso. Nada de INSS, FGTS etc.;
[o item acima gera uma concorrência desleal com os trabalhadores livres, pois o empresário paga vários benefícios diretos, indiretos e impostos pela mão de obra livre]
(j) Para remediar o problema da concorrência desleal com os trabalhadores livres, a produção dos presos não poderia ser vendida no mercado interno nem nos países membros do Mercosul (para evitar reclamação dos Hermanos). Todos os produtos seriam exportados;
(k) Não existiria salário mínimo nem máximo para os presos na cadeia privada;
(l) O preso não terá contato com o dinheiro na cadeia. O dinheiro do salário seria depositado numa Caderneta de Poupança que seria liberada para saque no primeiro dia de liberdade do preso;
[isto é uma tentativa de evitar que este dinheiro financie crimes e organizações criminosas e ainda garante o poder de compra do dinheiro];
(m) Mensalmente representantes do Ministério do Trabalho, Ministério da Saúde, Ministério Público e Justiça Federal auditariam e vistoriariam as condições de trabalho e de saúde das cadeias privadas.
(m1) Entidades de Direitos Humanos também teriam livre acesso;
(n) Cada quarenta horas trabalhadas reduziria a pena em 1 dia;
(o) A jornada não poderia exceder a doze horas por dia e acima de oito horas por dia a cadeia privada teria que pagar hora-extra de 50%;
(p) A cadeia privada poderia dispensar o preso a qualquer momento, por qualquer motivo, e o Governo seria obrigado a recebê-lo, exceto pelo seguinte;
(q) Em caso de doença o preso será sustentado pela cadeia privada até a recuperação total, sem custo para o preso e sem salário. A cadeia privada não pode dispensar um preso doente e devolve-lo ao Governo sem que a saúde do preso esteja em perfeitas condições atestada por, no mínimo, dois médicos do Ministério do Trabalho;
(r) Em caso de acidentes de trabalho ou mortes, a cadeia privada pagaria indenização previamente definida pela Justiça e este valor seria depositado na Caderneta de Poupança citada acima;
(s) O preso não pagaria Imposto de Renda pelo dinheiro ganho trabalhando na cadeia privada;
(t) O preso pode mudar de uma cadeia privada para outra por qualquer motivo (maior salário, melhor condição de “hospedagem”, melhor “ambiente de trabalho” etc.);
(u) As visitas são liberadas para a família a qualquer momento;
(v) A única ação contra o preso que a cadeia privada pode fazer seria a dispensa. A cadeia privada não poderia ter qualquer ação contra a indisciplina, baixa produtividade, conspiração etc.além da dispensa;
(w) O preso não estaria vinculado a qualquer lei trabalhista enquanto estiver cumprindo pena;
(x) O preso não poderia se sindicalizar enquanto estiver cumprindo pena;
(y) A cadeia privada e o preso teriam que assinar um contrato de trabalho com todas as regras acordadas entre as partes por escrito, mas nenhuma poderia violar alguma regra acima.
(z) O contrato terá que ser referendado por um representante do Ministério do Trabalho e um representante do Poder Judiciário.
(aa) O preso teria direito a assessoria jurídica do Ministério do Trabalho e da Justiça antes de assinar o contrato de trabalho;
(bb) Os galpões da cadeia privada não poderiam empregar trabalhadores livres.
Acho que funciona. Se tudo correr bem, o mercado de trabalho dos presos funcionará como qualquer mercado onde a lei da oferta e da procura ajusta automaticamente.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Aeroportos
Existirá um lindo dia em que os cientistas descobrirão que
as regiões do cérebro responsáveis pela cleptomania e pelo colecionismo são incrivelmente
próximas, com uma grande interseção de neurônios. Eu imagino que mais de sessenta
por cento dos meus neurônios colecionistas exercem dupla jornada e desejam
roubar por puro prazer.
Toda a vez que eu sento no banco do avião eu tenho dois
pensamentos. O primeiro é que se existe uma coisa que não muda nesta vida é o
fecho de cinto de segurança de aeronave. O dia que eu descobrir como investir
na Bolsa de Valores de Nova Iorque a minha primeira compra serão as ações da
empresa que fabrica os fechos dos cintos de segurança da Boeing. Deve ser o
melhor negócio do mundo: pouca concorrência, nenhuma evolução tecnológica, mercado
em constante crescimento, tudo de bom. Esta empresa deve ser o que os investidores chamam de "vaca leiteira", por provavelmente pagar generosos dividendos.
O segundo pensamento é que eu poderia roubar o cartão de segurança
da aeronave e iniciar uma próspera coleção. É uma ideia fixa, maior até que o meu medo de voar e de alguém ocupar o assento do meio. Meus neurônios ficam excitadíssimos
com este pensamento atordoante de um criminoso em potencial.
Por pura sorte o anjinho do meu ombro direito nunca permitiu que o diabinho do ombro esquerdo vencesse este conflito, convencendo-me a praticar o furto. Provocador frequente e maldito, o diabinho lembra que, se eu tivesse cedido desde o primeiro voo, teria peças hoje raras como o do MD-11 da Varig ou de um avião da Transbrasil que valeriam um bom dinheiro nos sites de leilões ou, aumentando a coleção e esperando o tempo passar e os crimes prescreverem, fazer uma exposição numa galeria de arte ou até mesmo criar um museu. Existe o museu do Neon e o museu do pinball. Por que não um museu do cartão de segurança?
Por pura sorte o anjinho do meu ombro direito nunca permitiu que o diabinho do ombro esquerdo vencesse este conflito, convencendo-me a praticar o furto. Provocador frequente e maldito, o diabinho lembra que, se eu tivesse cedido desde o primeiro voo, teria peças hoje raras como o do MD-11 da Varig ou de um avião da Transbrasil que valeriam um bom dinheiro nos sites de leilões ou, aumentando a coleção e esperando o tempo passar e os crimes prescreverem, fazer uma exposição numa galeria de arte ou até mesmo criar um museu. Existe o museu do Neon e o museu do pinball. Por que não um museu do cartão de segurança?
O anjinho recomenda sossegar, aproveitar a viagem e pegar a revista da companhia aérea para
esquecer a compulsão por surrupiar. Fico olhando as pessoas. São sempre os mesmos tipos, independe do destino e da companhia aérea: a velhinha simpática, o casal de férias, uma mãe com um bebê no colo inquieto, uma gostosa com decote e calcinha marcando a calça de tecido fino, o gordo - eu -, o homem de terno, a mulher com uma mala enorme que deveria ser despachada, a comissária com cara de tédio, o marombado que chega por último e viola as leis da física socando a mochila enorme no bagageiro e a adolescente hipnotizada pelo celular.
Pego a revista, a capa é linda e mostra um país exótico. No conteúdo, toneladas de propaganda de produtos sofisticados, churrascarias e hotéis em São Paulo com diária de 170 reais no final de semana. Descubro que uma pessoa que viaja de avião como eu tem um nível econômico bastante elevado e, segundo as propagandas da revista, merece usar perfumes Chanel, relógios Breitling e blusas Michael Kors. Não existem anúncios de produtos populares com que estão disponíveis nas Lojas Americanas. No Brasil ainda resiste a imagem que somente os abundantemente ricos viajam de avião, embora o Galeão já tenha destruído todo o glamour.
Pego a revista, a capa é linda e mostra um país exótico. No conteúdo, toneladas de propaganda de produtos sofisticados, churrascarias e hotéis em São Paulo com diária de 170 reais no final de semana. Descubro que uma pessoa que viaja de avião como eu tem um nível econômico bastante elevado e, segundo as propagandas da revista, merece usar perfumes Chanel, relógios Breitling e blusas Michael Kors. Não existem anúncios de produtos populares com que estão disponíveis nas Lojas Americanas. No Brasil ainda resiste a imagem que somente os abundantemente ricos viajam de avião, embora o Galeão já tenha destruído todo o glamour.
Aeroportos brasileiros e revistas de bordo de empresas de aviação representam os maiores símbolos e as maiores provas da existência de uma oculta
exploração dos mais ricos. Da exploração do pobre e da classe média todo mundo sabe,
mas poucos comentam da exploração dos ricos.
A TV de plasma, quando surgiu, custava uma fortuna, somente os mais ricos podiam comprar. Pelo menos no Brasil. E os ricos, juntos com alguns traficantes de drogas dos morros cariocas, compraram. A indústria se aproveita do fetiche pelo ter, do desejo de status, da vontade de causar inveja, desejos e vaidades para meter a mão no bolso dos mais ricos com um argumento pífio: o valor dos lançamentos seria propositalmente alto e serve para pagar os investimentos em pesquisa e em novos equipamentos, porém este argumento só reforça a tese que os ricos são explorados: por que somente os mais ricos devem bancar maquinário novo e um conjunto de pesquisas se todos se beneficiam? O mesmo se aplica a itens de luxo: a alta costura sustenta os melhores estilistas que tem linhas populares mais baratas e a operadora de TV por assinatura tem um plano popular para favelas, embora o custo do serviço seja basicamente o mesmo do asfalto.
A TV de plasma, quando surgiu, custava uma fortuna, somente os mais ricos podiam comprar. Pelo menos no Brasil. E os ricos, juntos com alguns traficantes de drogas dos morros cariocas, compraram. A indústria se aproveita do fetiche pelo ter, do desejo de status, da vontade de causar inveja, desejos e vaidades para meter a mão no bolso dos mais ricos com um argumento pífio: o valor dos lançamentos seria propositalmente alto e serve para pagar os investimentos em pesquisa e em novos equipamentos, porém este argumento só reforça a tese que os ricos são explorados: por que somente os mais ricos devem bancar maquinário novo e um conjunto de pesquisas se todos se beneficiam? O mesmo se aplica a itens de luxo: a alta costura sustenta os melhores estilistas que tem linhas populares mais baratas e a operadora de TV por assinatura tem um plano popular para favelas, embora o custo do serviço seja basicamente o mesmo do asfalto.
Remédios também são feitos para explorar os mais ricos pois o preço despenca depois que a patente vence e patente existe para, mais uma vez, remunerar as pesquisas e os equipamentos de produção, tornando viável e lucrativa a indústria farmacêutica. Claro que se eu comentar do preço do Viagra provavelmente serei rotulado pelos meus inimigos de reclamão - o que é verdade - e sem muita virilitade - o que é uma absoluta mentira. Pode-se argumentar que o rico está na verdade sendo privilegiado por ter acesso ao remédio antes do pobre, mas na verdade é o oposto: se as patentes durassem mais tempo os custos seriam diluídos e todos os doentes pagariam um preço mais justo e seriam beneficiados antes pelos avanços da medicina.
As pessoas não ligam, não querem nem saber, não é com o bolso delas e dane-se que
o primo consumista que comprou a TV de plasma por uma fortuna assim que ela foi
lançada no mercado e ficou com um rombo na conta de eletricidade e a imagem
borrada meses depois.
Somos programados para não perceber a exploração dos mais ricos. Ignoramos até o dia que pisamos no território dos ricos, o aeroporto, e descobrimos que um prato com um pouco de purê de batatas e um bife à parmegiana visivelmente descongelado no microondas, sem sabor, sem beleza, sem nutrição, sem valor, sem volume e sem quantidade pode custar mais de quarenta e cinco reais.
Esqueceram de avisar aos restaurantes dos aeroportos que as classe média e baixa hoje viajam de avião. Se eu contar que a loja mais barata que vendia a boneca da Ariel da coleção Animators’ ficava no Aeroporto de Orlando alguém acreditará?
Somos programados para não perceber a exploração dos mais ricos. Ignoramos até o dia que pisamos no território dos ricos, o aeroporto, e descobrimos que um prato com um pouco de purê de batatas e um bife à parmegiana visivelmente descongelado no microondas, sem sabor, sem beleza, sem nutrição, sem valor, sem volume e sem quantidade pode custar mais de quarenta e cinco reais.
Esqueceram de avisar aos restaurantes dos aeroportos que as classe média e baixa hoje viajam de avião. Se eu contar que a loja mais barata que vendia a boneca da Ariel da coleção Animators’ ficava no Aeroporto de Orlando alguém acreditará?
sexta-feira, 27 de junho de 2014
Gratidão
Ontem, numa lista de discussão por e-mail, um dos amigos que eu só conheço virtualmente reclamou que foi à Nova Iorque apresentar um trabalho desenvolvido durante o curso de doutoramento e, como bom engenheiro, dirigiu-se a uma loja famosa nos anos 1980 e que hoje está em decadência e comprou um multímetro. Reclamava que multímetro era de péssima qualidade e só servirá como lembrança de viagem. Eu nunca imaginei um instrumento de medição poderia ser um suvenir.
Colecionamos pequenas canecas e ímãs de geladeira com o nome da cidade estrangeiras que visitamos, inclusive as que apenas pisamos por estar em processo de conexão. A gente sempre brinca quando compra os ímãs e as canequinhas assim que chega num país, ainda naquelas caras lojas de aeroporto, dizendo que o único real motivo seria a necessidade de trocar a o dinheiro em moeda estrangeira. "Vamos fazer troco?" é o nosso código secreto, fruto de uma experiência no aeroporto de Milão, quando a caixa da lanchonete quase nos matou quando pagamos uma garrafa de água mineral e um café com uma nota de 100 euros.
Ontem, ao voltar para casa e olhar para aquele branco cândido da minha porta da esperança, parei e fiquei bobo, estático, apreciando os ímãs. O de Paris em formato de pão se desmontou e me sinto na obrigação de voltar para comprar outro, em Madri não compramos e não sei o motivo e em Milão, nossa primeira conexão internacional, não éramos vorazes colecionadores. Acho que está faltando mais algum que não estava preso no momento da foto.
Os demais estavam presentes, destacados no alvo e fixei-me como um idiota atrapalhando a passagem na cozinha para namorá-los. Agradeci a Deus e vi o quanto Ele é bom ao proporcionar a oportunidade de conhecer tantos lugares interessantes, paisagens e culturas.
Somente geladeira cheia deveria ser um grande motivo de gratidão. Confesso que esqueço, na inquietação diária, nas missões cotidianas, na loucura dos planos ambiciosos e megalomaníacos de simplesmente agradecer pelo alimento que está dentro desta caixa de metal pintado de branco, pelo teto próprio, pela vida feliz, por nada me faltar.
Uma vez satisfeita uma demanda, ela deixa de ser motivo de alegria, vira rotina, vira "meu patrimônio", como se o mundo tivesse a obrigação de eternamente nos fornecer sem custo estas vitórias. É lamentável como não lembramos que tudo é muito volátil e que devemos agradecer pelo que temos diariamente e pelo que é realmente importante.
Os melhores ímãs, os que merecem os agradecimentos mais vigorosos, são os três do canto superior direito. Obrigado, Senhor, pela melhor filha do mundo. Ser pai da Mariah é um privilégio. E uma viagem.
Colecionamos pequenas canecas e ímãs de geladeira com o nome da cidade estrangeiras que visitamos, inclusive as que apenas pisamos por estar em processo de conexão. A gente sempre brinca quando compra os ímãs e as canequinhas assim que chega num país, ainda naquelas caras lojas de aeroporto, dizendo que o único real motivo seria a necessidade de trocar a o dinheiro em moeda estrangeira. "Vamos fazer troco?" é o nosso código secreto, fruto de uma experiência no aeroporto de Milão, quando a caixa da lanchonete quase nos matou quando pagamos uma garrafa de água mineral e um café com uma nota de 100 euros.
Ontem, ao voltar para casa e olhar para aquele branco cândido da minha porta da esperança, parei e fiquei bobo, estático, apreciando os ímãs. O de Paris em formato de pão se desmontou e me sinto na obrigação de voltar para comprar outro, em Madri não compramos e não sei o motivo e em Milão, nossa primeira conexão internacional, não éramos vorazes colecionadores. Acho que está faltando mais algum que não estava preso no momento da foto.
Os demais estavam presentes, destacados no alvo e fixei-me como um idiota atrapalhando a passagem na cozinha para namorá-los. Agradeci a Deus e vi o quanto Ele é bom ao proporcionar a oportunidade de conhecer tantos lugares interessantes, paisagens e culturas.
Somente geladeira cheia deveria ser um grande motivo de gratidão. Confesso que esqueço, na inquietação diária, nas missões cotidianas, na loucura dos planos ambiciosos e megalomaníacos de simplesmente agradecer pelo alimento que está dentro desta caixa de metal pintado de branco, pelo teto próprio, pela vida feliz, por nada me faltar.
Uma vez satisfeita uma demanda, ela deixa de ser motivo de alegria, vira rotina, vira "meu patrimônio", como se o mundo tivesse a obrigação de eternamente nos fornecer sem custo estas vitórias. É lamentável como não lembramos que tudo é muito volátil e que devemos agradecer pelo que temos diariamente e pelo que é realmente importante.
Os melhores ímãs, os que merecem os agradecimentos mais vigorosos, são os três do canto superior direito. Obrigado, Senhor, pela melhor filha do mundo. Ser pai da Mariah é um privilégio. E uma viagem.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Deu na CBN
Eu fui um cético do primeiro medida certa, nunca levei fé na dieta que fizeram e, a julgar pelo corpo atual do Zeca, posso dizer que foi um completo fracasso pois hoje me parece mais gordo que antes. Mas, como sempre, coloquemos a culpa não na dieta, mas no paciente e tudo bem. Gordo tem mais é que se ferrar mesmo.
Se não serve para emagrecer, a dieta convencional pode nos divertir - e muito: dia 10/06/2014 eu estava indo trabalhar, depois de deixar Mariah na escola, quando ouço o comentário da estrela do Medida Certa, Marcio Atalla, na rádio CBN.
Eu tinha que transcrever aquilo. É tudo muito engraçado! A ouvinte comenta que esta voluntariamente evitando comer proteína e, em consequência, aumentando o consumo de carboidratos e descobriu que está... inchada e engordando! E pede conselhos ao Atalla.
Repare que ela já disse o que aconteceu: o carboidrato está fazendo ela engordar. Atkins explica este fenômeno ao povão desde o início dos anos 1970, mas parece que Atalla, não leu Atkins e dá uma explicação tosca e joga a culpa na paciente: ela está se exercitando pouco e comendo muito.
Leia a transcrição e dê boas gargalhadas.
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Transcrição do comentário de Marcio Atalla transmitido pela rádio CBN dia 10/06/2014. Embora esta transcrição seja feita de boa fé, não posso garantir que não existam erros, em casos de dúvidas, solicito que ouça diretamente no site da CBN o áudio do comentário.
http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/marcio-atalla/2014/06/10/PESSOAS-QUE-NAO-COMEM-CARNE-PODEM-SER-SAUDAVEIS-MAS-DEVEM-BUSCAR-ORIENTACAO-DE-UM-NUT.htm
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Se não serve para emagrecer, a dieta convencional pode nos divertir - e muito: dia 10/06/2014 eu estava indo trabalhar, depois de deixar Mariah na escola, quando ouço o comentário da estrela do Medida Certa, Marcio Atalla, na rádio CBN.
Eu tinha que transcrever aquilo. É tudo muito engraçado! A ouvinte comenta que esta voluntariamente evitando comer proteína e, em consequência, aumentando o consumo de carboidratos e descobriu que está... inchada e engordando! E pede conselhos ao Atalla.
Repare que ela já disse o que aconteceu: o carboidrato está fazendo ela engordar. Atkins explica este fenômeno ao povão desde o início dos anos 1970, mas parece que Atalla, não leu Atkins e dá uma explicação tosca e joga a culpa na paciente: ela está se exercitando pouco e comendo muito.
Leia a transcrição e dê boas gargalhadas.
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Transcrição do comentário de Marcio Atalla transmitido pela rádio CBN dia 10/06/2014. Embora esta transcrição seja feita de boa fé, não posso garantir que não existam erros, em casos de dúvidas, solicito que ouça diretamente no site da CBN o áudio do comentário.
http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/marcio-atalla/2014/06/10/PESSOAS-QUE-NAO-COMEM-CARNE-PODEM-SER-SAUDAVEIS-MAS-DEVEM-BUSCAR-ORIENTACAO-DE-UM-NUT.htm
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Milton: Muito bom dia para você, Marcio Atalla!
Atalla: Bom dia, Milton, bom dia ouvintes da CBN
Milton: Ana Carolina Albuquerque traz aqui um problemão para
você resolver. Começa com um “parabéns” pelo programa, o que já é um bom sinal,
diz que escuta quase todos os dias, escutar todos os dias resolve, mas quase
todos os dias também dá.
Atalla: Quase resolve (risos)
Milton: É, mas ela disse que nunca escutou uma dica para
quem não come carne. Por isto vai a pergunta: “Faz quase um ano que não como
mais carne e nem frango e no máximo uma vez por semana como peixe. Não gosto
muito de soja e acho bem complicado encontrar lugares onde tem opções de soja
substituindo a carne e eu acabo comendo muitos carboidratos, mas sempre que
possível troco por carboidratos integrais.
Tenho me sentido mais inchada e engordei um pouco depois da substituição”.
Atividade física dela – a única atividade física, como ela mesma ressalta –
fazer equitação aos domingos. “Que conselho você me daria para substituir esta
proteína e manter o peso?” diz aqui a Ana Carolina Albuquerque que fecha a
mensagem com um “beijo para vocês”.
Atalla: Bom, Milton, vamos lá, a primeira coisa que uma
pessoa como a Ana, que deixa de comer carne, ela pode ser extremamente
saudável, mas é muito importante que ela busque orientação de um nutricionista
porque ela deixando de comer carne, ainda mais ela que evita frango e come
peixe muito raramente, ela vai ter uma certa dificuldade em conseguir a necessidade diária de proteína, como
ela já vem encontrando. Não só de proteína, mas como de alguns outros
nutrientes como a vitamina B, como o ferro. Então é muito importante que ela
procure um nutricionista para dentro destas opções que, claro, tem coisas que
ela gosta, tem coisas que ela não gosta, tentar encontrar um equilíbrio. O fato
de ela ganhar peso, estar um pouco inchada, enfim, tem pouco a ver com a
quantidade de carboidrato que ela esta comendo, enfim, pela substituição do carbo pela proteína porque
eles tem a mesma quantidade de calorias: um grama de carboidrato e um grama de
proteína tem a mesma quantidade de calorias, lembrando que, quando ela come
carne vermelha, por exemplo, não é só proteína: tem bastante gordura que tem
muita caloria. Então, ela tem problema de estar comendo em excesso, na verdade,
em relação ao que ela está gastando em atividade física, como ela mesma relata,
só equitação aos domingos a gente sabe que é pouco. Então eu acho que ela tem que tomar algumas
medidas. A primeira coisa é procurar um
nutricionista, muito menos pelo peso, muito mais pela deficiência de
nutrientes. A segunda coisa que ela precisa fazer é aumentar um pouco o nível
de atividade física dela. Em relação a fontes proteicas que ela pode encontrar
na alimentação ela pode ter leite, ela pode ter ovo, a combinação arroz-feijão também
é muito interessante como fonte de proteína, mas como eu disse: só um
nutricionista mesmo pode avaliar o quanto ela está comendo de proteína hoje e o
quanto ela precisa incorporar realmente no cardápio, Milton.
Milton: Independentemente da alimentação, só fazer atividade
física uma vez por semana não é exatamente o melhor caminho para tentar manter
a saúde.
Atalla: Exatamente. E aí tem um agravante: se ela come pouca
proteína e não faz atividade física regular, se ela tem mais de 30 anos, ela
entra naquele processo de perder massa muscular, e aí o nosso metabolismo vai ficando mais
lento porque o músculo gasta muita caloria
para se manter e acaba virando uma bola de neve: você gasta menos caloria e você
acaba comendo um pouquinho mais, você acaba engordando. E vai perdendo massa muscular porque não come
proteína e não faz atividade física. Então é muito importante que ela realmente
aumente um pouquinho a quantidade de atividade física e procure um
nutricionista para adequar esta quantidade de proteínas.
Milton: Ou seja, seguindo aquela nossa recomendação, além dos parabéns e dos
beijos na mensagem, tem que fazer atividade física também.
Atalla: É
Milton: Está tudo associado
Atalla: Está tudo junto
Milton: Mas não pode faltar os parabéns e os beijos
Atalla: Não (risos)
Milton: Obrigado e até mais
Atalla: Abraços!
Milton: Tchau, tchau!
sábado, 14 de junho de 2014
Os descrentes
Aquele túnel da máquina de Ressonância Magnética me
incomoda, mas não tenho certeza se pode ser classificado como uma claustrofobia
e nada se comparava ao medo de altura. Um terraço incomodava quando eu me
aproximava da beirada. Fobia a lugares fechados e a altura é muito limitante
para engenheiros, mas com o tempo foi passando, sem psicoterapia e com Ciência.
Em 2006 eu conheci um técnico que trabalhou com automação no
antigo parque Terra Encantada. Conversamos sobre os brinquedos e o assunto
acabou migrando para o tema manutenção. Perguntei se era bem feita e respondeu que
sim, inclusive cada brinquedo contava com três CLPs redundantes controlando tudo.
CLP é um pequeno computador industrial de alta
confiabilidade usado em automação e controle industrial. Hoje em dia
encontramos CLPs em praticamente todas as máquinas dada a sua robustez,
flexibilidade e baixo custo. Talvez o exemplo de equipamento mais próximo que
usa CLP seja o elevador. Quatro anos depois, em 2010, eu criei coragem e passei
a viajar nas montanhas russas. A partir deste encontro eu percebi o quanto nós
não confiamos na Ciência e ainda estamos na era das trevas. Lembrar-se da Ciência, de freios, travas e
sensores quando estamos caindo a 60 metros de altura realmente não é fácil, mas
o medo não pode deixar a vida parar e muito menos atrapalhar a carreira. Não conheço
ninguém que morreu numa montanha russa, mas conheço pessoas que morreram
eletrocutadas na cozinha, atropeladas e em acidentes automobilísticos.
Procurei então um método científico - com trocadilho, por
favor - para medir superficialmente a (des)confiança das pessoas na Ciência sem
precisar tomar muito o tempo e sem grandes explicações. Fazer a pergunta
correta é uma arte:
- Se fosse solteiro(a) você faria sexo com uma pessoa linda
e interessante, mas que fosse portadora do vírus da AIDS?
A ciência diz que usar preservativo evita a contaminação
pelo vírus da AIDS e outros microrganismos nocivos. Talvez muitos de nós em
algum momento da vida tenhamos feito sexo com portadores do vírus da AIDS.
Tecnicamente não vejo muita diferença entre fazer sexo usando preservativo com
uma pessoa que não conhecemos bem e pode estar contaminada e outra que temos a
certeza que está contaminada, mas, para a minha surpresa, somente uma pessoa
respondeu que sim, faria sexo com uma pessoa ciente que esta parceira era
portadora do vírus HIV.
Todos os respondentes tem curso superior, alguns mestrado e
até doutorado, são pessoas intelectualmente da elite neste país cheio de
analfabetos e com sérios problemas no nosso sistema educacional. Pessoas que
conhecem a Ciência e o Método Científico e alguns até debocham de quem duvida
da chegada do homem à lua. Mas duvidar da conquista do espaço é, na essência, o
mesmo que duvidar da capacidade de proteção da camisinha.
Quando duvidamos da Ciência nos tornamos um pouco reféns. Eu
fui liberto da fobia de montanha russa que minha mãe imputou quando criança,
mas poderia ser escravo até hoje. E a escravidão pode não ser tão irrelevante
quanto o medo por um brinquedo de parque de diversões; ela pode te matar.
O caso clássico é o medo de viajar de avião, que envolve uma
das mais poderosas ferramentas que o homem inventou e é fundamental para a Ciência,
a Estatística. Por medo de avião, muitos optam por fazer o trecho de 450 quilômetros
que separa o Rio de Janeiro de São Paulo por via terrestre. A questão poderia
envolver o custo econômico, pois a passagem aérea costuma ser bem mais cara que
a passagem de ônibus ou os custos da viagem de carro, porém pessoas com alto
poder aquisitivo optam por ir de carro por medo de morrer de avião. Mas a
Ciência Estatística diz que é muito mais difícil morrer de avião que de carro
ou ônibus. Não importa. Questionadas se confiam na Matemática e na Ciência
estas pessoas provavelmente responderiam que sim.
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