sexta-feira, 27 de junho de 2014

Gratidão

Ontem, numa lista de discussão por e-mail, um dos amigos que eu só conheço virtualmente reclamou que foi à Nova Iorque apresentar um trabalho desenvolvido durante o curso de doutoramento e, como bom engenheiro, dirigiu-se a uma loja famosa nos anos 1980 e que hoje está em decadência e comprou um multímetro. Reclamava que multímetro era de péssima qualidade e só servirá como lembrança de viagem. Eu nunca imaginei um instrumento de medição poderia ser um suvenir.

Colecionamos pequenas canecas e ímãs de geladeira com o nome da cidade estrangeiras que visitamos, inclusive as que apenas pisamos por estar em processo de conexão. A gente sempre brinca quando compra os ímãs e as canequinhas assim que chega num país, ainda naquelas caras lojas de aeroporto, dizendo que o único real motivo seria a necessidade de trocar a o dinheiro em moeda estrangeira. "Vamos fazer troco?" é o nosso código secreto, fruto de uma experiência no aeroporto de Milão, quando a caixa da lanchonete quase nos matou quando pagamos uma garrafa de água mineral e um café com uma nota de 100 euros.




Ontem, ao voltar para casa e olhar para aquele branco cândido da minha porta da esperança, parei e fiquei bobo, estático, apreciando os ímãs. O de Paris em formato de pão se desmontou e me sinto na obrigação de voltar para comprar outro, em Madri não compramos e não sei o motivo e em Milão, nossa primeira conexão internacional, não éramos vorazes colecionadores.  Acho que está faltando mais algum que não estava preso no momento da foto.

Os demais estavam presentes, destacados no alvo e fixei-me como um idiota atrapalhando a passagem na cozinha para namorá-los. Agradeci a Deus e vi o quanto Ele é bom ao proporcionar a oportunidade de conhecer tantos lugares interessantes, paisagens e culturas.

Somente geladeira cheia deveria ser um grande motivo de gratidão. Confesso que esqueço, na inquietação diária, nas missões cotidianas, na loucura dos planos ambiciosos e megalomaníacos de simplesmente agradecer pelo alimento que está dentro desta caixa de metal pintado de branco, pelo teto próprio, pela vida feliz, por nada me faltar.

Uma vez satisfeita uma demanda, ela deixa de ser motivo de alegria, vira rotina, vira "meu patrimônio", como se o mundo tivesse a obrigação de eternamente nos fornecer sem custo estas vitórias. É lamentável como não lembramos que tudo é muito volátil e que devemos agradecer pelo que temos diariamente e pelo que é realmente importante.

Os melhores ímãs, os que merecem os agradecimentos mais vigorosos, são os três do canto superior direito. Obrigado, Senhor, pela melhor filha do mundo. Ser pai da Mariah é um privilégio. E uma viagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário