Aquele túnel da máquina de Ressonância Magnética me
incomoda, mas não tenho certeza se pode ser classificado como uma claustrofobia
e nada se comparava ao medo de altura. Um terraço incomodava quando eu me
aproximava da beirada. Fobia a lugares fechados e a altura é muito limitante
para engenheiros, mas com o tempo foi passando, sem psicoterapia e com Ciência.
Em 2006 eu conheci um técnico que trabalhou com automação no
antigo parque Terra Encantada. Conversamos sobre os brinquedos e o assunto
acabou migrando para o tema manutenção. Perguntei se era bem feita e respondeu que
sim, inclusive cada brinquedo contava com três CLPs redundantes controlando tudo.
CLP é um pequeno computador industrial de alta
confiabilidade usado em automação e controle industrial. Hoje em dia
encontramos CLPs em praticamente todas as máquinas dada a sua robustez,
flexibilidade e baixo custo. Talvez o exemplo de equipamento mais próximo que
usa CLP seja o elevador. Quatro anos depois, em 2010, eu criei coragem e passei
a viajar nas montanhas russas. A partir deste encontro eu percebi o quanto nós
não confiamos na Ciência e ainda estamos na era das trevas. Lembrar-se da Ciência, de freios, travas e
sensores quando estamos caindo a 60 metros de altura realmente não é fácil, mas
o medo não pode deixar a vida parar e muito menos atrapalhar a carreira. Não conheço
ninguém que morreu numa montanha russa, mas conheço pessoas que morreram
eletrocutadas na cozinha, atropeladas e em acidentes automobilísticos.
Procurei então um método científico - com trocadilho, por
favor - para medir superficialmente a (des)confiança das pessoas na Ciência sem
precisar tomar muito o tempo e sem grandes explicações. Fazer a pergunta
correta é uma arte:
- Se fosse solteiro(a) você faria sexo com uma pessoa linda
e interessante, mas que fosse portadora do vírus da AIDS?
A ciência diz que usar preservativo evita a contaminação
pelo vírus da AIDS e outros microrganismos nocivos. Talvez muitos de nós em
algum momento da vida tenhamos feito sexo com portadores do vírus da AIDS.
Tecnicamente não vejo muita diferença entre fazer sexo usando preservativo com
uma pessoa que não conhecemos bem e pode estar contaminada e outra que temos a
certeza que está contaminada, mas, para a minha surpresa, somente uma pessoa
respondeu que sim, faria sexo com uma pessoa ciente que esta parceira era
portadora do vírus HIV.
Todos os respondentes tem curso superior, alguns mestrado e
até doutorado, são pessoas intelectualmente da elite neste país cheio de
analfabetos e com sérios problemas no nosso sistema educacional. Pessoas que
conhecem a Ciência e o Método Científico e alguns até debocham de quem duvida
da chegada do homem à lua. Mas duvidar da conquista do espaço é, na essência, o
mesmo que duvidar da capacidade de proteção da camisinha.
Quando duvidamos da Ciência nos tornamos um pouco reféns. Eu
fui liberto da fobia de montanha russa que minha mãe imputou quando criança,
mas poderia ser escravo até hoje. E a escravidão pode não ser tão irrelevante
quanto o medo por um brinquedo de parque de diversões; ela pode te matar.
O caso clássico é o medo de viajar de avião, que envolve uma
das mais poderosas ferramentas que o homem inventou e é fundamental para a Ciência,
a Estatística. Por medo de avião, muitos optam por fazer o trecho de 450 quilômetros
que separa o Rio de Janeiro de São Paulo por via terrestre. A questão poderia
envolver o custo econômico, pois a passagem aérea costuma ser bem mais cara que
a passagem de ônibus ou os custos da viagem de carro, porém pessoas com alto
poder aquisitivo optam por ir de carro por medo de morrer de avião. Mas a
Ciência Estatística diz que é muito mais difícil morrer de avião que de carro
ou ônibus. Não importa. Questionadas se confiam na Matemática e na Ciência
estas pessoas provavelmente responderiam que sim.
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