sexta-feira, 22 de junho de 2012

Joga fora e compra novo

Desde pequeno eu sempre gostei de manutenção. Sempre fui muito curioso e gosto de saber como as coisas funcionam, ver as soluções encontradas e descobrir novas máquinas. Adoro máquinas. Eu seria técnico a vida inteira se não fosse a questão financeira e de status.

Eu lembro que em 1985 o meu irmão #2 comprou por uma merreca um barbeador elétrico Philishave. Parece que alguém no trabalho dele tinha sido sorteado e, como não queria o prêmio, vendeu para o meu irmão. Era um aparelho simples, possuia apenas duas cabeças rotativas e não gozava de bareria recarregável interna: para operar deveria ficar ligado na tomada. O barbeador tinha um desempenho pífio e o meu maior prazer era montá-lo e desmontá-lo completamente. Ele era tão bem feito que as operações de desmontagem foram repetidas dezenas de vezes e nada de ruim acontecia.

Hoje em dia os produtos não são feitos para durar. A lógica é sempre trocar por um novo. Ao contrário do Philishave, ao desmontar muitas vezes danificamos o equipamento de forma irreversível porque é tudo colado ou encaixado e não mais aparafusado.

Quando era pequeno ouvia histórias de Norte Americanos que não consertavam geladeiras ou televisores, simplesmente descartavam na porta de suas casas brancas com telhados cinzas e grama impecavelmente aparada. Eles compravam novos! E eu não acreditava. No meu mundinho de subúrbio de grande cidade brasileira tudo era consertado ad eternum e eu não via lógica nenhuma em jogar fora uma televisão e acreditava que, tendo mão de obra tão barata, nosso país nunca seria assim. Tolinho.

Eu agora percebo que a indústria não ganha nada quando você conserta porque ela é uma montadora e quem fabrica a peça de reposição é uma outra empresa. O lucro está no ato de comprar um novo. As pessoas hoje entraram no jogo e compram coisas baratas, mas não percebem que esta redução de preço se dá, também, por meio da diminuição de peças sobressalentes em estoque, do número de oficinas autorizadas, da qualidade da montagem, da retirada breve do modelo no mercado, do uso de mão de obra chinesa e da compra de um produto de uma outra empresa e simplesmente colocando o nome da empresa supostamente conceituada (pratica conhecida como OEM). Estes procedimentos de fato diminuem o preço e permitem que mais pessoas consigam comprá-lo, porém tornam o aparelho descartável.

Três fatos recentes aconteceram comigo. O primeiro foi uma sanduicheira que estava queimando o sanduíche. Normalmente quando isto ocorre é porque o elemento de controle da temperatura falhou. Ao abrir a sanduicheira descobri que o chinês colocou um termostado de 150 graus Celsius. Com 150 graus não há pão que aguente. Tentei comprar um novo termostato, de 110 graus ou 120 graus, mas o que eu achei não era exatamente igual. Perdi a sanduicheira tentando adaptá-la para a peça não original que me custou R$ 12. Além disso gastei mais R$ 30 comprando uma nova sanduicheia.

O segundo foi que o antigo secador de cabelo da minha esposa parou de funcionar. É um Philips Professional maravilhoso, embora a desmontagem são seja tão simples e fácil como a do antigo Philishave. Foi somente o fio que partiu: reparo simples, mas, como eu estarei até meados do mês de julho sem todas as minhas ferramentas, optei por comprar um novo, só que portátil, para a minha esposa ir se virando. Como o Philips é enorme, um portátil para as nossas viagens acaba sendo uma boa solução. R$ 29 na Liquidação Maluca. A marca é a velha FAET do Rio Comprido, cidade do Rio de Janeiro, mas na caixa já dizia que era fabricado na China. OEM.

O terceiro fato foi o aquecedor de água do meu apartamento que está apresentando um pequeno gotejamento. Tudo indica que o defeito está no diafragma da válvula que "sente" quando a torneira é aberta e liga o aquecedor. O modelo, de uma marca famosa e comprado em 2004, está totalmente discontinuado. Só encontrei a peça para comprar numa loja virtual em Campinas, SP, por R$ 26. Some a isto o tempo perdido num equipamento que eu nunca reparei e o fato de, pela idade, a eficiência da caldeira provavlemente estar baixa. Na Amoedo tem um Komeco zerinho por R$ 199 com um ano de garantia . Acho que eu vou é jogar fora e comprar um novo.

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