terça-feira, 10 de julho de 2012

Dom Eugênio e a administração de problemas

Quem olha por fora pensa que é uma coisa só, homogênea, mas a Igreja Católica, por dentro, é bem segmentada. Existem Salesianos, Franciscanos, Carmelitas descalças, Jesuítas, Opus Dei. No fundo são diversas correntes unidas por uma doutrina maior única.

A obra de dom Eugênio Sales é uma bússola para perceber estas diferentes correntes e até estudar um pouco administração brasileira. Durante o governo militar uma parte da Igreja Católica no Brasil optou por gritar e se posicionar contra o sistema. A outra parte escolheu uma ação mais discreta. Eugênio ficou no segundo grupo e foi odiado pela esquerda.

É importante lembrar que a atuação política não é exclusividade dos sacerdotes católicos. O rabino Henry Sobel abraçou o grito e não deixou que Wladmir Herzog fosse sepultado na ala dos suicidas, conforme manda a Lei Judaica. O recado de Sobel foi: "Ninguém é otário por aqui; todo mundo sabe que ele foi torturado até a morte". Evidentemente que no Brasil ele será lembrado pelo resto da vida pelo episódio das gravatas e não por uma luta incansável pela justiça e pela dignidade humana.

Pastor evangélico lutando contra a ditadura eu não lembro de nenhum. Naquela época o slogan deles era "crente não se mete com política" e o atual é "irmão vota em irmão".

Eugênio cultivava bons relacionamentos com militares e empresários, com destaque para a longa amizade com a família Marinho cuja Santa Missa em Seu Lar talvez seja o maior símbolo. E a esquerda produzia bile. Anos depois descobrimos que Eugênio ajudou dezenas de refugiados políticos que chegavam ao Rio de Janeiro figindo das outras ditaduras que se espalhavam pelo continente, principalmente da Argentina.

O método eugeniano de administrar o problema salvou vidas, mas não ajudou a derrubar o sistema. Sua discrição e coragem evitou muitas mortes e constriu pontes, mas não derrubou a fortaleza.  Não estou totalmente certo que o outro método, o do grito, realmente contribuiu para o fim do período militar. Na verdade, estou crendo que quem realmente disparou os canhões contra a muralha foram os dois Choques do Petróleo e o Paul Volcker, que transferiu a conta salgada dos EUA para a América Latina.

Que Deus receba dom Eugênio na sua Santa Paz.

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