quarta-feira, 18 de julho de 2012

Gabriela tem um pé na TV Manchete

Eu vejo Gabriela e não consigo não lembrar das novelas da TV Manchete. A estética está toda lá, principalmente nas cenas de sexo e nudez. Como pode uma emissora de vida tão curta influenciar até hoje a história da teledramaturgia brasileira? Por que a Manchete conseguiu o nível que qualidade global tão rápido e precocemente?

Para esta segunda pergunta eu tenho uma teoria. Em primeiro lugar a Manchete foi criada do nada. A Bloch era um sólido grupo de mídia impressa e rádios que ganhou algumas concessões de canais de TV. Se ela começou do nada, todos os equipamentos eram novos, enquanto as concorrentes da época (Bandeirantes de SBT, que eu acho que na época se chamava TVS) possuiam equipamento em uso. Tudo novinho, calibrado e com garantia de fábrica, da câmera ao transmissor. Isto garantiu a qualidade da imagem e explica parte do fenômeno.

A outra parte é meramente econômica. Ao contrário das concorrentes Paulistas, a Manchete era Carioca e seus estúdios ficavam em Parada de Lucas e na Glória. E esta é a chave do cofre: por um custo muito baixo, tipo 20% a mais de salário, a Manchete conseguia levar fácil parte do corpo técnico que trabalhava na Globo. Ela absorveu toda a tecnologia que a Globo levou anos para formar e que estava no capital intelectual, isto é, na cabecinha do figurinista, do operador de áudio, do eletricista, do iluminador, do câmera e demais técnicos. Esta gente normalmente ganha pouco e 20% a mais faz toda a diferença.

Agora pense: por 20% a mais você sairia do Rio de Janeiro para ir para São Paulo? Teria que alugar apartamento, mudança, trocar escola do filho, conjuge pedindo demissão... A fonte técnica do povo da Bandeirantes e SBT era o conhecimento aprendido dentro da própria emissora e talvez um pouco da indústria cinematográfica. Só que deste jeito eles jamais absorviam a tecnologia da Globo.

O resultado é que em pouco tempo a Venus Platinada ficou realmente preocupada com as novelas da Manchete (principalmente Pantanal, linda e inovadora ) e absorveu parte da sua estética.

É a criatura ensinando o criador.

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