quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tijolo cobogó

Sebos
Eu parei de frequentar sebos desde que eu descobri a Estante Virtual. Primeiro porque pela Internet não há danos aos meu sistema respiratório ou imunológico e segundo porque acaba sendo mais fácil encontrar obras difíceis e usualmente é mais barato, a despeito das despesas postais. A desvantagem que você não pode avaliar o estado do livro nem foleá-lo.

Mas tudo tem uma exceção e é a banca-sebo na Tijuca, na esquina da Major Ávila com Conde de Bomfim, que eu ainda visito com uma certa frequência. O fato de ser em local aberto facilita a minha vida e, por ser bem compacto, uma garimpagem pode durar menos de três minutos. Na última vez que eu passei lá comprei por sete reais um livro do Mauro Halfeld. Eu lembro quando ele foi no programa Sem Censura, da antiga TVE, divulgar o livro que tratava exclusivamente de imóveis.


O tijolo cobogó
É incrível o poder dos livros. Por sete reais você tem uma espécie de consultoria com um doutor em economia e professor universitário. Até hoje eu estranho muito quando eu vou na casa de uma pessoa e não há livros. Para mim isto é um péssimo sinal.

O professor Cláudio de Moura Castro escreveu um texto na Veja que comentava como era difícil comprar estantes de livros no Brasil. Faz sentido: se na casa das pessoas não existem livros, se as pessoas não compram livros, então qual o sentido comprar estantes de livros? Para uma demanda tão pequena, qual o incentivo para a indústria moveleira criar, produzir e vender estantes de livros?

O meu irmão no. 1 fez comunicação social, o no. 2 fez engenharia e o no. 3 fez ciências sociais. Eu lembro de uma boa quantidade de livros que tinha lá em casa. É quase uma compulsão do Alceste (#1). Do Lúcio (#3) eu não lembro direito porque ele casou cedo e saiu de casa antes de fixar na minha memória. Num momento de dureza ele e a Salete foram morar na casa da minha mãe, mas foi por pouco tempo. O Paulinho (#2) tinha poucos livros, mas isto tem uma explicação: em engenharia um livro, como Calculo, pode ser usado em dois periodos (no caso, Cálculo 1, Cálculo 2 e em algumas faculdades, partes de outras matérias matemáticas). Então a referência de livros eram os do Alceste. Não precisa dizer que o seu apartamento é entupido de livros.

A improvisação é a mãe do acidente. O Alceste estava diante do mesmo problema do Moura Castro: muito livro para nenhuma estante. Mandar marceneiro fazer estava fora de cogitação por questões puramente financeiras e ele teve a genial ideia de pegar tijolos cobogós e tábuas de madeira de construção para fazer uma estante de vários andares. Nenhum prego, nenhuma fixação, nada. Eu tinha entre 5 e 7 anos e tive a brilhante vontade de escalar a estante. Desmoronou tudo em cima de mim, conquanto o Alceste, gritando, me alertasse que aquilo iria ocorrer. Não me machuquei muito não, não guardei cicatrizes do desmoronamento do saber. Provei na prática que uma estrutura grande tende a ser instável anos antes de ter aula de Controles na faculdade.

Voltando ao livro do Halfeld...
Economistas gostam de fazer previsões, porém não tem muito compromisso se a previsão vai ou não se concretizar. Ao prever em rádios, jornais ou televisão, elas tendem ao esquecimento, a menos que alguém faça uma pesquisa procurando as previsões para algum trabalho acadêmico ou qualquer outro motivo, porém, ao colocar as previsões em um livro e dez anos depois um curioso comprar e ler este livro, o autor estará diante de um risco considerável. Azar do Halfeld.


Estou quase terminando o livro. Bem didático, por sinal. É daqueles textos que você lê imaginando a voz do Halfeld respondendo e-mail na rádio CBN. O autor foi corajoso a recomendar fortemente a compra de imóveis em 2002. Era uma época que o mercado acionário estava dando grandes lucros e a Renda Fixa ainda pagava os juros de Fernando Henrique Cardoso. Os imóveis eram vistos como investimentos de idosos conservadores que não entendem nada de ganhar dinheiro para valer.

Quem aceitou esta consultoria quase grátis e comprou imóveis naquela época ganhou muito dinheiro com a valorização que ocorreu a partir de 2006. O meu eu comprei em fevereiro de 2004, mas o conselho foi da Luiza e prometo que em breve contarei esta história.

Com relação ao mercado imobiliário dos Estados Unidos, Mauro Halfeld não faz nenhum alerta. Ele apenas cita que o FED, o Banco Central dos EUA, estava baixando as taxas de juros e que os preços dos imóveis estavam subindo, porém o tom era otimista, um exemplo de como investir em imóveis era uma bom investimento - e esta é a mensagem principal do livro - e não como um prenúncio de uma explosiva bolha incendiária que detonaria no segundo mandato do George W. Bush.

Agora que a manada está inflacionando a bolha imobiliária brasileira e se endividando por vinte anos ou mais eu preciso urgente de um novo livro do Halfeld para me dizer qual é a boa dos próximos dez anos. Desta vez eu aceito pagar até quarenta reais por um livro novo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário