segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Olhar de engenheiro

Olhe bem a foto abaixo, retirada da homepage da Band. Neste acidente morreram 5 pessoas e mais de 40 ficaram feridas. Este veículo é um patrimônio histórico tombado. Com trocadilhos.

http://imagem.band.com.br/zoom/f_61856.jpg
Minha esposa costuma dizer que engenheiros olham as coisas de uma forma diferente. Quando fomos visitar pela primeira vez uma creche para colocar a nossa filha, enquanto ela olhava as salas e os livros, eu procurava extintores de incêndio e imaginava como seria uma evacuação de emergência naquelas escadas apertadas de uma velha casa mal adaptada.

Mas voltemos à imagem. Repare que por baixo do bonde não há cabos rompidos, nem fios expostos. Isto significa que não existe nenhuma automação nem qualquer outro recurso tecnológico moderno embarcado. Ao lado da roda é possível observar o freio, que é uma simples sapata que encosta na roda, fazendo o veículo parar. Testemunhas disseram que o maquinista do bonde não conseguiu frear o coletivo numa ladeira com curva, indicando que a causa do acidente teria sido uma falha no sistema de frenagem.

A suspensão também é primitiva, lembrando antigas carroças inglesas. O próprio formato do bonde já transmite uma ideia de instabilidade: ele é alto e ao mesmo tempo estreito. Ele tende a tombar.

Não há o conceito de célula de sobrevivência no projeto, inventado décadas depois da primeira viagem desta bela máquina: o teto e a parte superior, onde ficavam os passageiros e o maquinista, ficaram completamente destruídos e desacoplados da parte de baixo.

Colocaram para transportar milhares de pessoas diariamente um veículo com mais de 100 anos sem qualquer modernização real. Sim, é um bem tombado e, sim, precisamos mantê-lo o mais original possível, porém esta bela peça não estava estática num museu, exposto para nós sentirmos saudades de uma época mais calma e mais romântica e ao mesmo tempo refletir como a nossa vida melhorou e ficou mais prática. Esta máquina transportava milhares de humanos todos os dias e a segurança não pode ser subjugada pela estética.

Com a tecnologia atual, poderíamos deixar os bondes com a aparência do século XIX por fora, mas com toda a segurança do século XXI.

Primeiro e mais importante: parece que o sistema do freio não funciona segundo o conceito de falha segura. Neste conceito, em caso de falha nos freios, o mesmo fica na posição de frenagem. É melhor ter um gigante de toneladas parado que andando sem freios. É claro que existiriam eventuais transtornos por usar este conceito. No caso deste bonde, ele ficaria parado no meio da rua impedindo o fluxo dos outros veículos até chegar a equipe de manutenção. Seria desagradável, mas cinco vidas seriam preservadas.

A segunda sugestão é implantar o conceito de célula de sobrevivência: em caso de tombamento, o compartimento dos passageiros deve ficar o mais preservado possível. Seria o grande desafio estético: colocar quilos de barras de ferro na cabine sem mudar a aparência original.

Terceiro: atualização elétrica, com motores controlados eletronicamente e que podem eventualmente funcionar como freios auxiliares.

Quarto: piloto automático. Um controlador eletrônico, com ajuda de um GPS saberia exatamente onde o bonde está num determinado momento e em qual velocidade. Se mapearem no GPS os pontos mais perigosos como ladeiras e curvas, este pode fazer o controlador eletrônico diminuir a velocidade do veículo caso o maquinista não o faça.

Quinto: sensor de peso. Um sensor de peso não deixaria o bonde partir ou limitaria a sua velocidade máxima caso o limite de peso seja excedido.

Todas estas cinco sugestões não são frutos da imaginação ou ficção científica. Já existe esta tecnologia e talvez seja mais barato que o valor total das indenizações.




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