Mariah aprendeu a andar de bicicleta. Com rodinhas.
Próxima aula: o uso do freio e suas implicações práticas... :o)
sábado, 21 de abril de 2012
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Tinker Bell
Ontem a Mariah recebeu o Henrique na nossa casa. Enquanto eu tentava ver o Fantástico um brinquedo pulava de mão em mão e me despertou a atenção. Era bastão com a fada Sininho em cima que girava umas luzes quando se apertava um botão.
Reparei que a pilha estava fraca e fui trocar. Só então percebi que o brinquedo usava a mesma pilha que foi fornecida quando compramos, e isto foi em setembro de 2010. A pilha foi esta, que, para variar, nunca vi à venda no Brasil.
Nem é preciso lembrar que, se fosse com pilhas que compramos no Brasil, o brinquedo já estaria perdido porque as pilhas teriam inundado o compartimento com aquela gosma corrosiva.
Enquanto pensava em escrever este tópico lembrei de um fato que ocorreu na nossas férias de 2005, na Espanha: os marinheiros de primeira viagem não levaram um carregador de pilhas adequado para 220V e, quando as pilhas recarregáveis se esgotaram, passamos a comprar pilhas alcalinas na máquina fotográfica e as pilhas da marca Kodak também tinham uma durabilidade incrível.
Reparei que a pilha estava fraca e fui trocar. Só então percebi que o brinquedo usava a mesma pilha que foi fornecida quando compramos, e isto foi em setembro de 2010. A pilha foi esta, que, para variar, nunca vi à venda no Brasil.
Nem é preciso lembrar que, se fosse com pilhas que compramos no Brasil, o brinquedo já estaria perdido porque as pilhas teriam inundado o compartimento com aquela gosma corrosiva.
Enquanto pensava em escrever este tópico lembrei de um fato que ocorreu na nossas férias de 2005, na Espanha: os marinheiros de primeira viagem não levaram um carregador de pilhas adequado para 220V e, quando as pilhas recarregáveis se esgotaram, passamos a comprar pilhas alcalinas na máquina fotográfica e as pilhas da marca Kodak também tinham uma durabilidade incrível.
domingo, 15 de abril de 2012
Geração Z
Quando você opta por não bater, a educação de um filho torna-se mais difícil e mais cheia de dúvidas. O caminho da palmada é ruim, mas é certo e seguro de certa forma. Seguro no sentido de que o resultado é previsível, um adulto padronizado e adaptado à violência, opressão, hierarquia e insegurança.
A opção foi a não-violência e a baixa hierarquia. Tudo é negociado, explicado, justificado, exaustivamente debatido. Se dá trabalho com uma criança de quatro anos, eu temo pela adolescência. Mariah é um laboratório vivo e ativo. A metodologia funciona e nos adaptamos bem rápido: nos enojamos quando vemos uma mãe tratando um filho de forma rude e áspera, como se fosse um lixo inimigo, mesmo que sejam só palavras. Isto não é educar ou preparar um filho para a vida, é descontar nos mais fracos e vulneráveis as nossas frustrações. O curioso é que as mães, que são consideradas como a fonte de carinho de uma família é que costumam tratar mal os filhos na rua.
Quando as empresas começaram a ficar grandes, durante a Revolução Industrial, os empresários não tinham uma referência. Até então empresas grandes eram formadas basicamente por fazendas de monocultura, algo fisicamente distante para um inglês comum que pouco sabia de Antilhas e Barbados, embora adorassem o açúcar e o tabaco produzido naquelas terras. Sem falar que administrar uma fazenda muito grande com centenas de escravos é naturalmente uma adaptação do gerenciamento de uma fazenda média com dezenas de escravos e isto eles já sabiam desde antes do Império Romano. A referência, o norte então foram duas instituições seculares que aparentavam funcionar com elegância e harmonia: o exército e a Igreja. O resultado é que grandes organizações que hoje vendem pelo marketing que são modernas, no fundo são altamente tradicionais, conservadoras e hierarquizadas. Tudo que eu e a Luiza não estamos ensinando e doutrinando a Mariah.
Sinceramente não sei se a pequena vai se adaptar e se sujeitar ao sistema. Pode ser que sim, espero que não. Da mesma forma que a criação não está sendo tradicional, embora eu conheça muitos pais que criam os os filhos desta forma, a busca pela felicidade - que não se resume a um emprego seguro e bem remunerado numa empresa tradicional - também pode ser inovadora. Prefiro assim: ser um amigo e orientador presente e um pai abstrato que o contrário.
A opção foi a não-violência e a baixa hierarquia. Tudo é negociado, explicado, justificado, exaustivamente debatido. Se dá trabalho com uma criança de quatro anos, eu temo pela adolescência. Mariah é um laboratório vivo e ativo. A metodologia funciona e nos adaptamos bem rápido: nos enojamos quando vemos uma mãe tratando um filho de forma rude e áspera, como se fosse um lixo inimigo, mesmo que sejam só palavras. Isto não é educar ou preparar um filho para a vida, é descontar nos mais fracos e vulneráveis as nossas frustrações. O curioso é que as mães, que são consideradas como a fonte de carinho de uma família é que costumam tratar mal os filhos na rua.
Quando as empresas começaram a ficar grandes, durante a Revolução Industrial, os empresários não tinham uma referência. Até então empresas grandes eram formadas basicamente por fazendas de monocultura, algo fisicamente distante para um inglês comum que pouco sabia de Antilhas e Barbados, embora adorassem o açúcar e o tabaco produzido naquelas terras. Sem falar que administrar uma fazenda muito grande com centenas de escravos é naturalmente uma adaptação do gerenciamento de uma fazenda média com dezenas de escravos e isto eles já sabiam desde antes do Império Romano. A referência, o norte então foram duas instituições seculares que aparentavam funcionar com elegância e harmonia: o exército e a Igreja. O resultado é que grandes organizações que hoje vendem pelo marketing que são modernas, no fundo são altamente tradicionais, conservadoras e hierarquizadas. Tudo que eu e a Luiza não estamos ensinando e doutrinando a Mariah.
Sinceramente não sei se a pequena vai se adaptar e se sujeitar ao sistema. Pode ser que sim, espero que não. Da mesma forma que a criação não está sendo tradicional, embora eu conheça muitos pais que criam os os filhos desta forma, a busca pela felicidade - que não se resume a um emprego seguro e bem remunerado numa empresa tradicional - também pode ser inovadora. Prefiro assim: ser um amigo e orientador presente e um pai abstrato que o contrário.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Filho de mim mesmo
Antigamente os adultos não dirigiam a palavra a crianças, a menos que a intenção fosse dar bronca. Contei isto uma vez para o meu sobrinho João, de 14 anos, e ele não acreditou. A vida muda tão devagar que nem notamos, mesmo o siginicativo.
Sabia que o Governo já definiu o preço de refrigerantes? Em 1986 uma garafa de 290ml de Coca-Cola custava Cz$1,90. Ridículo, não? Foi logo ali, em meados dos anos 80.
O meu pai teve vários irmãos, mas eu só conheci um: tio Nely, seu melhor amigo. Religiosa e quinzenalmente ele ia na nossa casa almoçar, mas eu lembro pouco dele, embora tenha morrido quando eu já era adulto, muitos anos depois de meu pai. Lembro detalhes pontuais e sem muita conexão: ele era solteirão, morava em Niterói na casa de um sobrinho e trabalhou muitos anos numa fábrica de tecidos que existia na Usina, a região da Tijuca que fica imediadamente antes do Alto da Boa Vista. O que eu conto além disso são relatos de segunda mão, fornecidos basicamente pelos meus irmãos Dalton e Paulinho. Não que não sejam fontes confiáveis, mas é natural do cérebro humano generalizar, omitir e distorcer, ainda que seja sem querer e só um pouquinho.
Os seis filhos que os meus pais fizeram não foi uma produção constante no tempo; entre o Lúcio e o Dalton existe uma lapso de 11 anos. A tabelinha funciona até certo ponto. Alceste é 20 anos mais velho que eu. Paulinho 18, Lúcio 17, Dalton 6 e André 3. Newton chega e logo depois a menopausa. Que sorte!
O Paulinho sempre dizia que o tio Nely só passou a falar com crianças um pouco depois que a gente nasceu, início dos anos 70. Até então ele só dirigia a palavra para os adultos da casa: meu pai, minha mãe e minha avó. Hoje isto soa completamente estranho, mas era absolutamente comum na época. Aliás, foi a Luiza quem me fez lembrar deste detalhe, pois na família dela este desprezo também acontecia.
Baseado no que o Paulinho falou, a mudança comportamental deve ter ocorrido entre o final dos anos 60 e o início dos anos 70. Hoje eu vejo que uma criança é uma máquina familiar de união, de fazer novas amizades, de ter mais contato com as pessoas próximas, de fazer a vizinha parar para dizer que ela está crescendo e lembrar que o tempo voa. São estas pessoas que nasceram no final dos anos 60 e início dos anos 70 que hoje chamamos de geração X. É tão bom rotular. Qual será a geração da Mariah? Z?
Outro dia o Joelmir Beting disse que gostaria de ter nascido nesta época, que queria ter sido filho dele mesmo. É um otimista: quando eu nasci, em 1972, o Brasil também vivia sua fase de otimismo excessivo. Era o Milagre Econômico. Dezoito anos depois, a coisa estava tão feia que nem estágio para conseguir o diploma de segundo grau a gente conseguia.
A expressão do Beting ficou na minha cabeça: "(...) queria ser filho de mim mesmo". Acho que ele está certo. Queria ter a vida boa que a Mariah leva. Pelo menos os tios sempre falaram com ela, desde quando apenas balbuciava.
Sabia que o Governo já definiu o preço de refrigerantes? Em 1986 uma garafa de 290ml de Coca-Cola custava Cz$1,90. Ridículo, não? Foi logo ali, em meados dos anos 80.
O meu pai teve vários irmãos, mas eu só conheci um: tio Nely, seu melhor amigo. Religiosa e quinzenalmente ele ia na nossa casa almoçar, mas eu lembro pouco dele, embora tenha morrido quando eu já era adulto, muitos anos depois de meu pai. Lembro detalhes pontuais e sem muita conexão: ele era solteirão, morava em Niterói na casa de um sobrinho e trabalhou muitos anos numa fábrica de tecidos que existia na Usina, a região da Tijuca que fica imediadamente antes do Alto da Boa Vista. O que eu conto além disso são relatos de segunda mão, fornecidos basicamente pelos meus irmãos Dalton e Paulinho. Não que não sejam fontes confiáveis, mas é natural do cérebro humano generalizar, omitir e distorcer, ainda que seja sem querer e só um pouquinho.
Os seis filhos que os meus pais fizeram não foi uma produção constante no tempo; entre o Lúcio e o Dalton existe uma lapso de 11 anos. A tabelinha funciona até certo ponto. Alceste é 20 anos mais velho que eu. Paulinho 18, Lúcio 17, Dalton 6 e André 3. Newton chega e logo depois a menopausa. Que sorte!
O Paulinho sempre dizia que o tio Nely só passou a falar com crianças um pouco depois que a gente nasceu, início dos anos 70. Até então ele só dirigia a palavra para os adultos da casa: meu pai, minha mãe e minha avó. Hoje isto soa completamente estranho, mas era absolutamente comum na época. Aliás, foi a Luiza quem me fez lembrar deste detalhe, pois na família dela este desprezo também acontecia.
Baseado no que o Paulinho falou, a mudança comportamental deve ter ocorrido entre o final dos anos 60 e o início dos anos 70. Hoje eu vejo que uma criança é uma máquina familiar de união, de fazer novas amizades, de ter mais contato com as pessoas próximas, de fazer a vizinha parar para dizer que ela está crescendo e lembrar que o tempo voa. São estas pessoas que nasceram no final dos anos 60 e início dos anos 70 que hoje chamamos de geração X. É tão bom rotular. Qual será a geração da Mariah? Z?
Outro dia o Joelmir Beting disse que gostaria de ter nascido nesta época, que queria ter sido filho dele mesmo. É um otimista: quando eu nasci, em 1972, o Brasil também vivia sua fase de otimismo excessivo. Era o Milagre Econômico. Dezoito anos depois, a coisa estava tão feia que nem estágio para conseguir o diploma de segundo grau a gente conseguia.
A expressão do Beting ficou na minha cabeça: "(...) queria ser filho de mim mesmo". Acho que ele está certo. Queria ter a vida boa que a Mariah leva. Pelo menos os tios sempre falaram com ela, desde quando apenas balbuciava.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Eduarda e Vitória
Semana santa fomos para Rio das Ostras, passar a Páscoa com a família do meu cunhado. Mariah estava doida de saudades. Ela também acha o máximo uma casa com escada e a casa da madrinha tem uma que dá acesso aos quartos.
Casa com escada é muito bonita em fotos de revistas de arquitetura e decoração. Com uma criança é exigida atenção redobrada por parte dos adultos. Considere também que o encanto passou logo nas primeiras horas de estadia, quando o sobe e desce cansativo começou pois a minha filha tem pouco mais de um metro de altura.
- Dinda, por que você não tem elevador? - inquiriu a nossa gotinha de gente.
E aquilo ficou na cabeçinha dela. Lá dentro, bem íntimo, e nós descobrimos no engarrafamento de domingo, quando passamos 6 longas horas até chegar em casa: na altura de Itaboraí, Mariah inventa uma brincadeira dentro do carro para passar o tempo. A sola do pé direito virou a Duda, e a sola do pé esquerdo virou a Vitória.
Ela alinhou as solas e iniciou a conversa, para o nosso deleite:
- Oiiiiiiiii, tudo bem? Eu sou a Duda!
- Oi, eu sou a Vitória!
- Sabia que eu moro numa casa com elevador e escada?
- Eu também estou fascinada porque eu moro numa casa com elevador e escada!
Casa com escada é muito bonita em fotos de revistas de arquitetura e decoração. Com uma criança é exigida atenção redobrada por parte dos adultos. Considere também que o encanto passou logo nas primeiras horas de estadia, quando o sobe e desce cansativo começou pois a minha filha tem pouco mais de um metro de altura.
- Dinda, por que você não tem elevador? - inquiriu a nossa gotinha de gente.
E aquilo ficou na cabeçinha dela. Lá dentro, bem íntimo, e nós descobrimos no engarrafamento de domingo, quando passamos 6 longas horas até chegar em casa: na altura de Itaboraí, Mariah inventa uma brincadeira dentro do carro para passar o tempo. A sola do pé direito virou a Duda, e a sola do pé esquerdo virou a Vitória.
Ela alinhou as solas e iniciou a conversa, para o nosso deleite:
- Oiiiiiiiii, tudo bem? Eu sou a Duda!
- Oi, eu sou a Vitória!
- Sabia que eu moro numa casa com elevador e escada?
- Eu também estou fascinada porque eu moro numa casa com elevador e escada!
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Existe almoço grátis
Meu cartão já estava ficando realmente velho. A carteira não ajudava e já tinha um quebrado na borda da tarja magnética que se alastrava. São muitas horas sendo sufocado numa carteira velha e comprimido por uma bunda gorda sentada. Pobre cartão: será quebrado em pedacinhos e jogado no lixo após anos de bons serviços prestados. Fico pensando no banhado de ouro que o contato do chip leva. Este ouro estará perdido.
Há cerca de um mês toda vez que eu ia sacar o meu suado dinheirinho aparecia uma mensagem que o meu cartão seria substituído, só que o novo não chegava. Decidi então parar de procrastinar e mudar de agência, porque a antiga fica em Botafogo, da época que eu trabalhava em Furnas. Quando eu saí da empresa, em 2006, por puro comodismo mantive a conta e ficou por isso mesmo. Nestes 6 anos não lembro de precisar ir na agência.
Mas achei que já era hora de ser cliente espacial. Na verdade descobri que a hora já tinha passado em 2010, quando fui com a família para os EUA e descobri que o cartão Visa Platinum paga o seguro do carro lá. C'est la vie... Fui na agência do outro lado da rua, fui atendido por uma gerente de relacionamento que me lembrava a Desirée Oliveira, atriz do Zorra Total, e me entreguei à burocracia. Estou nas nuvens pois sou cliente espacial.
Na verdade o meu sexto sentido sempre me dizia que a mudança iria ser de alguma forma traumática, mas ele também dizia que eu tinha que passar por isso. No dia 10-04-2012 uma funcionária me ligou dizendo que o meu cartão cheio de glamour estava pronto. Fui na agência, peguei o cartão e novamente abracei a burocracia. O token eu já tinha recebido. A funcionária avisou que não era possível sacar naquele momento porque a máquina estava sem dinheiro. Eu deveria ter ido em outra máquina.
Ontem, 11-04-2012, eu fui sacar e descobri que não havia dinheiro na conta. Na verdade me deram um cartão, porém o dinheiro não foi transferido de uma conta para a outra. Quando eu fui almoçar, não tinha dinheiro em espécie, mas portava dois cartões de crédito que não autorizaram o pagamento. Tentei inutilmente pagar com o Visa Eletron do cartão do banco e, como previsto, não foi liberado. Fiquei na pista. Fiquei na fila do restaurante.
Aguardei uns bons segundos para ver se a gerente se coçava e me liberava para pagar mais tarde. Almoço neste mesmo restaurante no mínimo duas vezes por semana e é impossível que ela não perceba no meu rosto uma figura familiar. Aliás, é para isto que eu sou gordo: para ser inesquecível e facilmente reconhecido. Nada, Poker face.
Peguei o celular com 14 reais de créditos e fui à guerra. Nestas horas eu esqueci o número de todos os meus amigos fisicamente próximos que poderiam me livrar deste constrangimento horrível. A única solução que eu encontrei foi ligar para o banco em busca de um fígado para comer vivo. Atendeu um homem e ele disse que a Desirée estava no almoço e enquanto eu tentava uma solução eu novamente descubro que o Altíssimo gosta muito de mim. Adivinha quem estava na fila para pagar o restaurante? A Desirée!
Devorei-a num esporro e ela pagou a minha conta. Coisa pouca, menos de 21 reais. Mas o pior foi a gerente, na maior cara de pau, do lado da Desirée, chega para mim e, como se não fosse com ela, começa a falar mal de banco. Levou um esporro para o lar, também.
Não, não vou colocar o banco na justiça e quem está me sustentando enquando não executam a tranferência de dinheiro entre contas é a minha amada esposa. Sempre sonhei em ser bancado por uma mulher bonita.
Há cerca de um mês toda vez que eu ia sacar o meu suado dinheirinho aparecia uma mensagem que o meu cartão seria substituído, só que o novo não chegava. Decidi então parar de procrastinar e mudar de agência, porque a antiga fica em Botafogo, da época que eu trabalhava em Furnas. Quando eu saí da empresa, em 2006, por puro comodismo mantive a conta e ficou por isso mesmo. Nestes 6 anos não lembro de precisar ir na agência.
Mas achei que já era hora de ser cliente espacial. Na verdade descobri que a hora já tinha passado em 2010, quando fui com a família para os EUA e descobri que o cartão Visa Platinum paga o seguro do carro lá. C'est la vie... Fui na agência do outro lado da rua, fui atendido por uma gerente de relacionamento que me lembrava a Desirée Oliveira, atriz do Zorra Total, e me entreguei à burocracia. Estou nas nuvens pois sou cliente espacial.
Gerente, como você pode entregar um cartão sem dinheiro na conta? |
Na verdade o meu sexto sentido sempre me dizia que a mudança iria ser de alguma forma traumática, mas ele também dizia que eu tinha que passar por isso. No dia 10-04-2012 uma funcionária me ligou dizendo que o meu cartão cheio de glamour estava pronto. Fui na agência, peguei o cartão e novamente abracei a burocracia. O token eu já tinha recebido. A funcionária avisou que não era possível sacar naquele momento porque a máquina estava sem dinheiro. Eu deveria ter ido em outra máquina.
Ontem, 11-04-2012, eu fui sacar e descobri que não havia dinheiro na conta. Na verdade me deram um cartão, porém o dinheiro não foi transferido de uma conta para a outra. Quando eu fui almoçar, não tinha dinheiro em espécie, mas portava dois cartões de crédito que não autorizaram o pagamento. Tentei inutilmente pagar com o Visa Eletron do cartão do banco e, como previsto, não foi liberado. Fiquei na pista. Fiquei na fila do restaurante.
Aguardei uns bons segundos para ver se a gerente se coçava e me liberava para pagar mais tarde. Almoço neste mesmo restaurante no mínimo duas vezes por semana e é impossível que ela não perceba no meu rosto uma figura familiar. Aliás, é para isto que eu sou gordo: para ser inesquecível e facilmente reconhecido. Nada, Poker face.
Gerente, deixa eu pagar depois? |
Peguei o celular com 14 reais de créditos e fui à guerra. Nestas horas eu esqueci o número de todos os meus amigos fisicamente próximos que poderiam me livrar deste constrangimento horrível. A única solução que eu encontrei foi ligar para o banco em busca de um fígado para comer vivo. Atendeu um homem e ele disse que a Desirée estava no almoço e enquanto eu tentava uma solução eu novamente descubro que o Altíssimo gosta muito de mim. Adivinha quem estava na fila para pagar o restaurante? A Desirée!
Devorei-a num esporro e ela pagou a minha conta. Coisa pouca, menos de 21 reais. Mas o pior foi a gerente, na maior cara de pau, do lado da Desirée, chega para mim e, como se não fosse com ela, começa a falar mal de banco. Levou um esporro para o lar, também.
Não, não vou colocar o banco na justiça e quem está me sustentando enquando não executam a tranferência de dinheiro entre contas é a minha amada esposa. Sempre sonhei em ser bancado por uma mulher bonita.
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Pictogramas
Sempre quis saber de onde vinham aquelas figuras famosas que é um boneco com a cabeça simbolizada por um círculo e sem pescoço. Era muito comum em banheiros públicos, para diferenciar o feminino do masculino. Depois a criatividade dos comerciantes foi aumentando e hoje colocam gravatas, chapéus e outros objetos no lugar dos simpáticos bonequinhos.
De onde eles vieram? Simples: durante os jogos olímpicos de Tóquio os espertos anfitriões sabiam que seria uma confusão danada conhecer a cidade durante os jogos para quem não dominasse o idioma japonês. Então eles usaram os geniais pictogramas. Os bonequinhos foram aprimorados nas olimpíadas de Munique e são estes que influenciaram até pouco tempo o design comercial.
Créditos à bela Nicole, minha designer predileta!
De onde eles vieram? Simples: durante os jogos olímpicos de Tóquio os espertos anfitriões sabiam que seria uma confusão danada conhecer a cidade durante os jogos para quem não dominasse o idioma japonês. Então eles usaram os geniais pictogramas. Os bonequinhos foram aprimorados nas olimpíadas de Munique e são estes que influenciaram até pouco tempo o design comercial.
Créditos à bela Nicole, minha designer predileta!
terça-feira, 3 de abril de 2012
Momento Diogo Mainardi
Quando uma pessoa diz que vai comprar um ar condicionado novo quase sempre ela suspira e diz, num murmúrio de prazer: split.
É curioso como o citoyen quer comprar um equipamento que ele não tem a mínima noção de como é e como funciona. O meu irmão achava que split era só a parte interna e levou um susto quando eu falei que existia uma unidade condensadora, aquela trolha que fica do lado de fora. Acho que o povo vê o dividido nos consultórios de conveniados da UNIMED e acha o máximo, até porque médico entende das coisas! De pâncreas a splits.
Uma instalação de qualidade de um split pode sair mais caro que o próprio aparelho.
A maioria dos splits operam em 220V, exigindo alterações nas instalações elétricas da maioria das residências.
A limpeza e higienização corretas de um split exigem a retirada do evaporador da parede e inclui remover o gás, executar a limpeza, usar bomba de vácuo durante um bom tempo na tubulação para retirar toda a umidade do sistema e instalá-lo novamente. O ideal é realizar este procedimento anualmente. Ah, tem que limpar a unidade condensadora, também.
Alguma vez na vida você já viu alguém fazer a higienização de um split do jeito que eu mostrei acima? Sua alergia também não.
Então a questão não é técnica, porque o split só é recomendado onde não é possível a instalação do modelo convencional. A escolha de um split deriva de influència, propaganda, apelo pelo "moderno" e beleza. Beleza? Splits são feios para diabo! Já reparou como é horrível um prédio cheio de splits pendurados na fachada? Bingo! O brasileiro está preocupdo com a beleza interna do quarto ou do consultório. Que se ferre o mundo exterior. Com isso o Rio de Janeiro vai ficando ainda mais feio.
Mas é esta a essência do Brasileiro: um ser egoista, individualista, descompromissado com o coletivo.
Tome agora um outro exemplo: o que você faz com a sua lâmpada fluorescente quando ela queima? Joga no lixo, provavelmente. Toda lâmpada fluorescente, inclusive as chamadas "eletrônicas", usam mercúrio na sua composição, um metal altamente tóxico. Como o custo de reciclar é mais caro que o lucro com venda do material reciclado, ninguém recicla. Só que nesta conta não é considerado os danos ao meio ambiente que, no final, todos pagam.
É curioso como o citoyen quer comprar um equipamento que ele não tem a mínima noção de como é e como funciona. O meu irmão achava que split era só a parte interna e levou um susto quando eu falei que existia uma unidade condensadora, aquela trolha que fica do lado de fora. Acho que o povo vê o dividido nos consultórios de conveniados da UNIMED e acha o máximo, até porque médico entende das coisas! De pâncreas a splits.
Uma instalação de qualidade de um split pode sair mais caro que o próprio aparelho.
A maioria dos splits operam em 220V, exigindo alterações nas instalações elétricas da maioria das residências.
A limpeza e higienização corretas de um split exigem a retirada do evaporador da parede e inclui remover o gás, executar a limpeza, usar bomba de vácuo durante um bom tempo na tubulação para retirar toda a umidade do sistema e instalá-lo novamente. O ideal é realizar este procedimento anualmente. Ah, tem que limpar a unidade condensadora, também.
Alguma vez na vida você já viu alguém fazer a higienização de um split do jeito que eu mostrei acima? Sua alergia também não.
Então a questão não é técnica, porque o split só é recomendado onde não é possível a instalação do modelo convencional. A escolha de um split deriva de influència, propaganda, apelo pelo "moderno" e beleza. Beleza? Splits são feios para diabo! Já reparou como é horrível um prédio cheio de splits pendurados na fachada? Bingo! O brasileiro está preocupdo com a beleza interna do quarto ou do consultório. Que se ferre o mundo exterior. Com isso o Rio de Janeiro vai ficando ainda mais feio.
Mas é esta a essência do Brasileiro: um ser egoista, individualista, descompromissado com o coletivo.
Tome agora um outro exemplo: o que você faz com a sua lâmpada fluorescente quando ela queima? Joga no lixo, provavelmente. Toda lâmpada fluorescente, inclusive as chamadas "eletrônicas", usam mercúrio na sua composição, um metal altamente tóxico. Como o custo de reciclar é mais caro que o lucro com venda do material reciclado, ninguém recicla. Só que nesta conta não é considerado os danos ao meio ambiente que, no final, todos pagam.
sexta-feira, 30 de março de 2012
O poder do cofrinho
Luiza comprou um chocolate cuja embalagem de metal poderia ser reaproveitada como um cofrinho. Virou uma curtição coletiva e em menos de um mês encheu (o cofrinho é pequeno).
R$ 63,70
Uhu!
R$ 63,70
Uhu!
quinta-feira, 29 de março de 2012
Como economizar o seguro do carro
No Rio de Janeiro, algumas pessoas estão substituindo o seguro do carro por um adesivo. A maioria nem professa a Umbanda.
Testemunhas dizem que funciona e não cobra franquia.
Testemunhas dizem que funciona e não cobra franquia.
quarta-feira, 28 de março de 2012
Vinte anos
Não são cinco, não são dez. São vinte anos. Em março de 1992 eu virei aprendiz de feiticeiro e comecei a estudar Cálculo Integral e Diferencial 1, Física 1 e outras insanidades úteis.
Esqueci de comentar e comemorar esta data com o Bulha. Aguardemos um outro Coliseu das Massas.
Aproveitei para relembrar com o Rafael, um amigo de trabalho e faculdade, o nome de todos os professores do primeiro periodo. Alguns esquecemos pois o velho Alzheimer não é tolerante conosco. Ou eles não foram importantes para nós.
Ainda lembro alguns professores dos meus contatos imediatos de primeiro, segundo e terceiro graus, outros eu esqueci completamente. Esta história que só lembramos dos dedicados é pura balela, pelo menos comigo: não vejo nenhuma correlação entre os que eu me recordo, pois estão na minha memória carismáticos, secos, antipáticos, alegres, conselheiros, dedicados e enroladores.
Eu vejo a Mariah na sala brincando sozinha, reproduzindo fielmente a aula com todos os trejeitos e falas da professora, incluindo broncas e gerenciamento da rodinha de alunos e fico refletindo como a escola é importante para a nossa formação. Ela é mutio observadora e eu sinto que ela adora a sala de aula e os coleguinhas - genes da Luiza - e atualmente as "melhores amigas" estão mudando, uma verdadeira dança das cadeiras afetiva. Realmente, no fundo, os adultos imitam as crianças.
Mas a despeito deste post aparentemente melancólico, eu não estou. Só estou um pouco surpreso como passou rápido e se alguém há 20 anos atrás, naquela sala de aula calorenta do bloco E do CEFET/RJ, me dissesse como seria a minha vida em 2012 eu ficaria eufórico.
Esqueci de comentar e comemorar esta data com o Bulha. Aguardemos um outro Coliseu das Massas.
Aproveitei para relembrar com o Rafael, um amigo de trabalho e faculdade, o nome de todos os professores do primeiro periodo. Alguns esquecemos pois o velho Alzheimer não é tolerante conosco. Ou eles não foram importantes para nós.
Ainda lembro alguns professores dos meus contatos imediatos de primeiro, segundo e terceiro graus, outros eu esqueci completamente. Esta história que só lembramos dos dedicados é pura balela, pelo menos comigo: não vejo nenhuma correlação entre os que eu me recordo, pois estão na minha memória carismáticos, secos, antipáticos, alegres, conselheiros, dedicados e enroladores.
Eu vejo a Mariah na sala brincando sozinha, reproduzindo fielmente a aula com todos os trejeitos e falas da professora, incluindo broncas e gerenciamento da rodinha de alunos e fico refletindo como a escola é importante para a nossa formação. Ela é mutio observadora e eu sinto que ela adora a sala de aula e os coleguinhas - genes da Luiza - e atualmente as "melhores amigas" estão mudando, uma verdadeira dança das cadeiras afetiva. Realmente, no fundo, os adultos imitam as crianças.
Mas a despeito deste post aparentemente melancólico, eu não estou. Só estou um pouco surpreso como passou rápido e se alguém há 20 anos atrás, naquela sala de aula calorenta do bloco E do CEFET/RJ, me dissesse como seria a minha vida em 2012 eu ficaria eufórico.
sexta-feira, 23 de março de 2012
Teatrinho 0800
Flávia conseguiu uns convites para uma peça de teatro no Shopping da Gávea. Na saída encontramos o professor de música.
Madrugada de sexta...
Cena 1/Quarto do casal/Madrugada de quinta para sexta
MARIAH: Posso dormir com vocês hoje?
LUIZA: Filha, a cama é pequena. Vai ficar muito apertado.
MARIAH: É só sair um.
MARIAH: Posso dormir com vocês hoje?
LUIZA: Filha, a cama é pequena. Vai ficar muito apertado.
MARIAH: É só sair um.
quarta-feira, 14 de março de 2012
Ser pão duro atrapalha o destino
No final de novembro de 1994 eu fui enviado para uma cidade no sudoeste mineiro que até então eu nem sabia que existia para fazer o curso de formação de operadores de Furnas. Eu tinha 22 anos e foi a primeira vez que eu saí de casa para morar em outro lugar.
Teoricamente era possível voltar toda a santa sexta-feira para o Rio de Janeiro, só que a logística era complicada. Para se ter uma ideia, o caminho mais conveniente era viajar de ônibus durante seis horas até São Paulo, SP, e depois pegar outro ônibus para ir para o Rio de Janeiro. Eram 12 horas indo, 12 horas voltando para um final se semana de apenas 2 dias. Não valia a pena e até final de fevereiro de 1995, quando terminou o curso, poucas vezes eu retornei ao Rio.
O curso era dentro da vila que foi construída ao lado da usina, um povoado isolado e um pouco decadente de menos de cinco mil pessoas que ainda guardava aquele estilo original de cidades pequenas dos Estados Unidos: ruas largas e quase sem trânsito de veículos, casas sem muro e muita, muita grama. Era bonito e tedioso. A cidade média mais próxima, com uns cem mil habitantes, Passos, estava a 40km de distância e o acesso era por meio de uma estrada que ficava entupida de caminhões na época da colheita da cana-de-açúcar.
Com o dinheiro entrando, foi possível desenvolver sofisticadas técnicas de economia. Alias, quando eu vi o meu nome na lista de aprovados publicada no Jornal dos Sports eu pensei no ato: "Beleza, trabalho duro durante 10 anos e monto a minha oficina autorizada da Philips ou da Philco e nunca mais terei patrão". Mas o tempo, o sábio, mostrou que isto era a coisa mais idiota que uma pessoa poderia pensar.
Poucas almas entendem, mas juntar dinheiro e vê-lo crescer é um prazer até maior que gastá-lo para algumas pessoas. Eu, por exemplo. Aliás, para quem gosta de juntar dinheiro, gastar é um tormento, a menos que:
1) Esteja realmente muito barato e precise do produto ou serviço;
2) Seja um sonho muito, muito antigo e, como tal, consolidado e sedimentado. Sua realização dará um prazer que superará o prazer de juntar dinheiro;
3) Seja para comprar algo que produza mais dinheiro, como uma autonomia de taxi. Eu nunca esqueço que brincava com a minha psicoterapeuta que o meu primeiro carro seria uma Kombi para ganhar dinheiro fazendo frete nas folgas.
O resultado é que em apenas 10 anos, já casado, conseguimos comprar um apartamento a vista. Eu tinha apenas 32 anos. Saudades desta época de juros altos do segundo governo Fernando Henrique e primeiro governo Lula e mais saudades do tempo que eu era uma máquina de juntar dinheiro. A máquina hoje está enferrujada.
Voltando ao curso de formação, o meu foi particularmente especial: pela primeira vez na história de Furnas duas mulheres estavam fazendo o curso para serem operadoras. Uma delas, a Dagmar, se tornou minha amiga-quase-irmã até hoje. Pena que ela mora em Goiânia.
Nossa afinidade e tão grande que ela sempre me telefonava quando eu estava triste, num momento difícil. Parece que ela adivinhava. Mas ninguém acredita nestas coisas espirituais mesmo, então deixa para lá.
O selo da nossa afinidade foi quando a filha dela nasceu no dia do meu aniversário. Não acredita? E se eu contar que a Mariah iria nascer no dia do aniversário da Dagmar? Sabe qual é a chance disto ocorrer ao acaso? Uma em 133 mil.
Mas por que a Mariah não nasceu no dia do aniversário dela? Porque o médico obstetra que acompanhou a gravidez da Luiza era um profissional conceituado, professor universitário, cuja tese de doutoramento foi sobre uma doença que a Luiza tinha. Ele cuidou do mal e do nosso problema de fertilidade. A Mariah é, sem duvida, uma testemunha da sua competência. Só que médicos assim são caros.
Quando a Luiza engravidou, a escolha do mesmo medico que nos tratou para ser o seu obstetra foi natural. A medida que a gestação chegava ao fim, eu comecei a perguntar à Luiza se o medico já tinha acertado com ela o valor dos honorários do parto. Como um bom "pão duro certified" eu sentia que a conta seria salgada como um bacalhau do Porto, porem não imaginava que fosse tao salgada.
Segundo a Luiza, ele só informou o valor dos honorários faltando uns 10 dias para o parto. Primeiro eu fiquei boquiaberto com o fato do parto estar marcado para o dia do Aniversário da Dagmar, depois eu fiquei mais boquiaberto quando vi os valores. Eram de 3 a 4 vezes o limite de cobertura do plano de saúde.
Na primeira noite nós não dormimos. Na segunda noite nós não dormimos. Na manhã terceiro dia nosso espiríto inconformista falou mais alto e partimos à ação. Por sorte, na época do parto da Mariah, muitos amigos também ganharam bebês. Pegamos o telefone de vários obstetras e começamos a tentar.
Depois de um ou dois dias a Luiza conseguiu o telefone de uma outra obstetra. Ela tinha feito o parto de um primo da minha esposa. Conseguimos marcar a consulta por encaixe e ela aceitou fazer o parto, só que como estava muito em cima, a data foi atrasada em 3 dias. Assim, Mariah quase nasceu no dia 25 de janeiro.
E como a médica era credenciada do nosso plano de saúde, não gastamos um tostão, apenas assinamos papéis. What a wonderful world.
Teoricamente era possível voltar toda a santa sexta-feira para o Rio de Janeiro, só que a logística era complicada. Para se ter uma ideia, o caminho mais conveniente era viajar de ônibus durante seis horas até São Paulo, SP, e depois pegar outro ônibus para ir para o Rio de Janeiro. Eram 12 horas indo, 12 horas voltando para um final se semana de apenas 2 dias. Não valia a pena e até final de fevereiro de 1995, quando terminou o curso, poucas vezes eu retornei ao Rio.
O curso era dentro da vila que foi construída ao lado da usina, um povoado isolado e um pouco decadente de menos de cinco mil pessoas que ainda guardava aquele estilo original de cidades pequenas dos Estados Unidos: ruas largas e quase sem trânsito de veículos, casas sem muro e muita, muita grama. Era bonito e tedioso. A cidade média mais próxima, com uns cem mil habitantes, Passos, estava a 40km de distância e o acesso era por meio de uma estrada que ficava entupida de caminhões na época da colheita da cana-de-açúcar.
Com o dinheiro entrando, foi possível desenvolver sofisticadas técnicas de economia. Alias, quando eu vi o meu nome na lista de aprovados publicada no Jornal dos Sports eu pensei no ato: "Beleza, trabalho duro durante 10 anos e monto a minha oficina autorizada da Philips ou da Philco e nunca mais terei patrão". Mas o tempo, o sábio, mostrou que isto era a coisa mais idiota que uma pessoa poderia pensar.
Poucas almas entendem, mas juntar dinheiro e vê-lo crescer é um prazer até maior que gastá-lo para algumas pessoas. Eu, por exemplo. Aliás, para quem gosta de juntar dinheiro, gastar é um tormento, a menos que:
1) Esteja realmente muito barato e precise do produto ou serviço;
2) Seja um sonho muito, muito antigo e, como tal, consolidado e sedimentado. Sua realização dará um prazer que superará o prazer de juntar dinheiro;
3) Seja para comprar algo que produza mais dinheiro, como uma autonomia de taxi. Eu nunca esqueço que brincava com a minha psicoterapeuta que o meu primeiro carro seria uma Kombi para ganhar dinheiro fazendo frete nas folgas.
O resultado é que em apenas 10 anos, já casado, conseguimos comprar um apartamento a vista. Eu tinha apenas 32 anos. Saudades desta época de juros altos do segundo governo Fernando Henrique e primeiro governo Lula e mais saudades do tempo que eu era uma máquina de juntar dinheiro. A máquina hoje está enferrujada.
Voltando ao curso de formação, o meu foi particularmente especial: pela primeira vez na história de Furnas duas mulheres estavam fazendo o curso para serem operadoras. Uma delas, a Dagmar, se tornou minha amiga-quase-irmã até hoje. Pena que ela mora em Goiânia.
Nossa afinidade e tão grande que ela sempre me telefonava quando eu estava triste, num momento difícil. Parece que ela adivinhava. Mas ninguém acredita nestas coisas espirituais mesmo, então deixa para lá.
O selo da nossa afinidade foi quando a filha dela nasceu no dia do meu aniversário. Não acredita? E se eu contar que a Mariah iria nascer no dia do aniversário da Dagmar? Sabe qual é a chance disto ocorrer ao acaso? Uma em 133 mil.
Mas por que a Mariah não nasceu no dia do aniversário dela? Porque o médico obstetra que acompanhou a gravidez da Luiza era um profissional conceituado, professor universitário, cuja tese de doutoramento foi sobre uma doença que a Luiza tinha. Ele cuidou do mal e do nosso problema de fertilidade. A Mariah é, sem duvida, uma testemunha da sua competência. Só que médicos assim são caros.
Quando a Luiza engravidou, a escolha do mesmo medico que nos tratou para ser o seu obstetra foi natural. A medida que a gestação chegava ao fim, eu comecei a perguntar à Luiza se o medico já tinha acertado com ela o valor dos honorários do parto. Como um bom "pão duro certified" eu sentia que a conta seria salgada como um bacalhau do Porto, porem não imaginava que fosse tao salgada.
Segundo a Luiza, ele só informou o valor dos honorários faltando uns 10 dias para o parto. Primeiro eu fiquei boquiaberto com o fato do parto estar marcado para o dia do Aniversário da Dagmar, depois eu fiquei mais boquiaberto quando vi os valores. Eram de 3 a 4 vezes o limite de cobertura do plano de saúde.
Na primeira noite nós não dormimos. Na segunda noite nós não dormimos. Na manhã terceiro dia nosso espiríto inconformista falou mais alto e partimos à ação. Por sorte, na época do parto da Mariah, muitos amigos também ganharam bebês. Pegamos o telefone de vários obstetras e começamos a tentar.
Depois de um ou dois dias a Luiza conseguiu o telefone de uma outra obstetra. Ela tinha feito o parto de um primo da minha esposa. Conseguimos marcar a consulta por encaixe e ela aceitou fazer o parto, só que como estava muito em cima, a data foi atrasada em 3 dias. Assim, Mariah quase nasceu no dia 25 de janeiro.
E como a médica era credenciada do nosso plano de saúde, não gastamos um tostão, apenas assinamos papéis. What a wonderful world.
segunda-feira, 12 de março de 2012
É um processo
Nas minhas fantasias, o desmame da Mariah seria algo meio radical: a partir de hoje não mama e pronto. Isto talvez funcione com crianças bem pequenas, com menos de um ano, entretanto com uma criança de quatro anos a coisa é mais complicada. Ou será que eu e a Luiza fizemos a coisa ficar mais complicada?
Um vídeo famoso do Youtube, que trata do consuminsmo e da poluição, afirmava que a amamentação é o mais nobre ato de nutrição da vida de uma pessoa. Eu digo que é bem mais que isto, porque amamentar é carinho, afeto, segurança, renúncia e, claro, nutrição.
Esta semana foi decisiva. A madrinha passou 5 dias conosco, fazendo um curso, e dormiu com a Mariah no quarto e desde segunda estamos indo muito bem. Aos poucos o mamilo vai perdendo o sentido e a vida continua.
Não podemos menosprezar a criança. Ela sente a pressão por todos os lados. É a pediatra, a escola, a mãe, o pai. A gente compreendia a dificuldade e procurava tornar o processo menos doloroso. Quando ela olhava nos meus olhos e dizia: "Mas, pai, eu não consigo!" dava vontade de abraçá-la com toda a minha força e chorar.
Mas tudo tem o seu tempo e Deus sabe o que faz. Este consolo nos dá uma grande tranquilidade. Agora é o momento e ela está bem, conseguindo.
Te amo muito, filha.
Um vídeo famoso do Youtube, que trata do consuminsmo e da poluição, afirmava que a amamentação é o mais nobre ato de nutrição da vida de uma pessoa. Eu digo que é bem mais que isto, porque amamentar é carinho, afeto, segurança, renúncia e, claro, nutrição.
Esta semana foi decisiva. A madrinha passou 5 dias conosco, fazendo um curso, e dormiu com a Mariah no quarto e desde segunda estamos indo muito bem. Aos poucos o mamilo vai perdendo o sentido e a vida continua.
Não podemos menosprezar a criança. Ela sente a pressão por todos os lados. É a pediatra, a escola, a mãe, o pai. A gente compreendia a dificuldade e procurava tornar o processo menos doloroso. Quando ela olhava nos meus olhos e dizia: "Mas, pai, eu não consigo!" dava vontade de abraçá-la com toda a minha força e chorar.
Mas tudo tem o seu tempo e Deus sabe o que faz. Este consolo nos dá uma grande tranquilidade. Agora é o momento e ela está bem, conseguindo.
Te amo muito, filha.
sábado, 3 de março de 2012
La dolce vita
O brasileiro consome 50 quilogramas de açúcar por ano.
http://www.usp.br/agen/?p=10067
Quando anunciaram isto na TV eu e a Luiza ficamos um tempo perplexos, olhando um para o rosto do outro. Aquela coisa do "não é possível!" que depois vira uma piada velha: "estão comendo açúcar por mim!".
Cinco gotas de adoçante equivalem a uma colher de açúcar. É o que está na maioria das embalagens. Se colocarem na contabilidade este açúcar travesti que atende pelo nome de aspartame, cliclamato, sucralose aí sim a gente precisaria de Araldite para o queixo.
Considerando o ano como 50 semanas mais duas de dietas fracassadas que quase todo brasileiro faz e facilita a minha conta, dá um quilograma por semana. Jesusmariajosé. É melhor pegar os 50 e dividir por 365.
setenv piada_idiota on
"366! Porque este ano é bissexto..."
setenv piada_idiota off
137 gramas por dia. Estou atormentado com o resultado. Será que eu não sou um brasileiro médio? Fiz as contas e uma lata de refrigerante tem de 20 a 25 gramas de açúcar, no entanto eu só bebo refrigerante sem açúcar e, mesmo assim, estou tentando diminuir. Bem, tem que lembrar que o pão, as conservas e diversos produtos industrializados usam açúcar na receita, ainda que o produto final não apresente gosto doce.
A verdade é que a indústria alimentícia infestou a nossa mesa de estimulantes sensoriais perigosos quando consumidos em excesso. Temos nos empanturrado destes produtos porque a fábrica quer vender e esta é, em última análise, a função destes aditivos. O mais famoso certamente é o sal, porque é eficaz e barato, assim como o açúcar e o glutamato monosódico.
Como um vício, com o tempo e sem perceber, passamos a exagerar quando preparamos os nossos alimentos e conscientemente tentamos nos livrar da indústria. Quando peço um suco na rua eu tento me policiar para não colocar adoçante antes de provar se o suco realmente precisa. É simples, sem custo extra e rápido: basta rasgar um ou dois (depende do seu nível de dependência) sachês e pronto: aqui está um delicioso e superadoçado suco de manga com leite. Este faz mal.
A comida da minha mãe sempre foi considerada como quase sem sal. Ela justificava dizendo que se habituou desde o primeiro enfarto do meu pai, mas eu nunca achei a comida da minha mãe salgada simplesmente porque o primeiro pire-paque do meu pai foi anterior ao meu nascimento e, por falta de grana, era muito raro a gente comer na rua e nunca liguei muito para salgadinhos industrializados.
Quando eu comecei a trabalhar, passei a me alimentar com frequência na rua e naturalmente a minha tolerância ao sal e aos outros aditivos foi aumentando. Depois eu conheci a Luiza, dominatrix de salgadinhos e tudo que é besteira deliciosa, e acabei com o pé na Jaca do Mau Caminho. Hoje qualquer um que não seja mexicano fica assustado com a minha desenvoltura com o molho Tabasco.
Sou da teoria que sal, açúcar e glutamato deveriam ter a carga tributária maior que o cigarro, para pagar os custos que o consumo exagerado destes alimentos geram ao sistema público de saúde. Mas já imaginou contrabandistas atravessando a Ponte da Amizade com sacos de sal?
http://www.usp.br/agen/?p=10067
Quando anunciaram isto na TV eu e a Luiza ficamos um tempo perplexos, olhando um para o rosto do outro. Aquela coisa do "não é possível!" que depois vira uma piada velha: "estão comendo açúcar por mim!".
Cinco gotas de adoçante equivalem a uma colher de açúcar. É o que está na maioria das embalagens. Se colocarem na contabilidade este açúcar travesti que atende pelo nome de aspartame, cliclamato, sucralose aí sim a gente precisaria de Araldite para o queixo.
Considerando o ano como 50 semanas mais duas de dietas fracassadas que quase todo brasileiro faz e facilita a minha conta, dá um quilograma por semana. Jesusmariajosé. É melhor pegar os 50 e dividir por 365.
setenv piada_idiota on
"366! Porque este ano é bissexto..."
setenv piada_idiota off
137 gramas por dia. Estou atormentado com o resultado. Será que eu não sou um brasileiro médio? Fiz as contas e uma lata de refrigerante tem de 20 a 25 gramas de açúcar, no entanto eu só bebo refrigerante sem açúcar e, mesmo assim, estou tentando diminuir. Bem, tem que lembrar que o pão, as conservas e diversos produtos industrializados usam açúcar na receita, ainda que o produto final não apresente gosto doce.
A verdade é que a indústria alimentícia infestou a nossa mesa de estimulantes sensoriais perigosos quando consumidos em excesso. Temos nos empanturrado destes produtos porque a fábrica quer vender e esta é, em última análise, a função destes aditivos. O mais famoso certamente é o sal, porque é eficaz e barato, assim como o açúcar e o glutamato monosódico.
Como um vício, com o tempo e sem perceber, passamos a exagerar quando preparamos os nossos alimentos e conscientemente tentamos nos livrar da indústria. Quando peço um suco na rua eu tento me policiar para não colocar adoçante antes de provar se o suco realmente precisa. É simples, sem custo extra e rápido: basta rasgar um ou dois (depende do seu nível de dependência) sachês e pronto: aqui está um delicioso e superadoçado suco de manga com leite. Este faz mal.
A comida da minha mãe sempre foi considerada como quase sem sal. Ela justificava dizendo que se habituou desde o primeiro enfarto do meu pai, mas eu nunca achei a comida da minha mãe salgada simplesmente porque o primeiro pire-paque do meu pai foi anterior ao meu nascimento e, por falta de grana, era muito raro a gente comer na rua e nunca liguei muito para salgadinhos industrializados.
Quando eu comecei a trabalhar, passei a me alimentar com frequência na rua e naturalmente a minha tolerância ao sal e aos outros aditivos foi aumentando. Depois eu conheci a Luiza, dominatrix de salgadinhos e tudo que é besteira deliciosa, e acabei com o pé na Jaca do Mau Caminho. Hoje qualquer um que não seja mexicano fica assustado com a minha desenvoltura com o molho Tabasco.
Sou da teoria que sal, açúcar e glutamato deveriam ter a carga tributária maior que o cigarro, para pagar os custos que o consumo exagerado destes alimentos geram ao sistema público de saúde. Mas já imaginou contrabandistas atravessando a Ponte da Amizade com sacos de sal?
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Humilhações
Ontem foi uma moradora de Duque de Caxias fazer faxina na minha casa. Como eu tinha um compromisso fora do meu local de trabalho, saí um pouco mais tarde e tive a oportunidade de conhecê-la brevemente. Estamos fazendo um test-drive porque procuramos uma empregada doméstica para assinar a carteira, mas ainda não encontramos uma que se enquadrasse bem nas nossas expectativas. Bem, na verdade encontramos, mas ela está empregada e relutante em sair.
Ao chegar em casa eu peguei as impressões que a minha esposa teve da profissional. Em algum momento da conversa Luiza relatou que, numa das residências em que esta senhora trabalhou, uma patroa jogou um pano de chão sujo no seu rosto.
Tratar os mais fracos e humildes desta forma indica bem o caráter de uma pessoa. Ainda existe muita cultura de senzala no relacionamento entre patroas e domésticas, algo que nunca me chamou muito a atenção. Descobri que só sendo negro para saber o que o negro sofre. O mesmo é válido para os gays, gordos e empregadas domésticas.
Poucos amigos meus sabem que eu sou neto de uma empregada doméstica. Acho a história de minha avó chocante e interessante, mas eu não lembro de ela relatar maus tratos e humilhações ( o que não quer dizer que ela não sofreu ).
É comum, nos jornais, compararem a atual crise iniciada em 2008 com a crise de 1929. Em breve teremos vários Newtinhos nascendo por aí. Eu explico: a minha avó materna era colona de uma fazenda no interior de Vassouras, região produtora da café na época. Os livros de história contam que a cotação do café despencou com a crise de 1929 e a situação financeira da fazenda ficou bastante difícil. Sobrou para a família da dona Dulce pagar parte do pato e sair da fazenda em direção ao Rio de Janeiro. Sem esta ajuda do cruel destino, a dona Dalva jamais teria conhecido o meu pai.
Por volta de 1931, quando a minha mãe estava com uns 5 anos, a minha avó migrou para a casa de uma irmã em Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O meu avô saiu de Vassouras antes, tentando sem sucesso a sorte na capital, e desapareceu. Anos depois, quando o Dalton, meu irmão no. 4, nasceu, uma lavadeira que apareceu para ajudar a minha mãe com as fraldas de pano disse que sonhou com o meu avô. Ela explicou que o sonho a deixou atordoada e que o meu avô tinha se tornado alcoólatra, foi atropelado por um caminhão de uma cervejaria e morreu, sendo em seguida enterrado como indigente. Ainda no sonho, o meu avô pedia perdão e orações.
Verdade ou ficção, a minha mãe sempre lembrava desta senhora lavadeira. Disse que passou a acreditar nela no dia anterior, quando relatou um outro sonho com a família da minha avó e falou o nome de vários tios e tias e esta senhora certamente não conhecia a família da minha avó.
Dona Dulce migrou para o Rio de Janeiro com a minha mãe e o meu tio. Imagine a barra de ser abandonada pelo marido e sair de uma fazenda para uma cidade hostil e sem nenhuma qualificação nos anos 30 e ainda com duas crianças com menos de 10 anos. Só lhe restou o trabalho como empregada doméstica. Pelo jeito trabalhava bem e tinha virtudes, pois um conceituado economista da primeira metade do século XX a contratou para cuidar da casa da amante e no enterro da minha avó os filhos da última patroa que ela ajudou a criar surpreendentemente apareceam, numa demonstração de gratidão maravilhosa. Eram pessoas que eu só conhecia de nome, pelas boas lembranças que a minha avó tinha da família e pela saudade que sentia dos pequenos que cuidou como se fosse a mãe.
Suas roupas mostravam que não eram do nosso mundo, afinal sair da Urca para um enterro em Inhaúma só com teletransporte. O Rio de Janeiro é tão grande que chega a ser cruel. Falam que a cidade é linda, mas eu sempre vi a cidade pelo meu cotidiano de subúrbio e baixada fluminense e a perspectiva de quem observa a cidade por este ângulo é péssima: muita construção, mas pouca arquitetura, muito cimento, mas pouca árvore. O Rio de Janeiro é feio para diabo.
A Carla era linda de levantar os defuntos das capelas vizinhas e o Luís Felipe era bem apessoado com o seu rosto de engenheiro. Acho que o pai deles também foi e consolou a minha mãe. "Ela cuidou dos meus filhos até o momento necessário", teria dito, segundo relatos de mamãe. Nesta última família a minha avó já estava com uma certa idade e foi naturalmente deslocada para cuidar das crianças. Uma outra empregada fazia o serviço mais pesado. Claro que o temperamento da minha avó não melhorou e as histórias de brigas entre as duas empregadas viraram clássicas anedotas no lar dos meus pais.
Fico imaginando quantos filhos de patroa foram nos enterros das babás. Provavelmente é um evento raro. Eu entendo que a profissionalização e os questionamentos na justiça mudaram muito o perfil da profissão de trabalhador doméstico. O carinho que raramente se via das patroas com as profissionais deve desaparecer, mas ontem constatei que a humilhação na senzala continua bem forte.
Ao chegar em casa eu peguei as impressões que a minha esposa teve da profissional. Em algum momento da conversa Luiza relatou que, numa das residências em que esta senhora trabalhou, uma patroa jogou um pano de chão sujo no seu rosto.
Tratar os mais fracos e humildes desta forma indica bem o caráter de uma pessoa. Ainda existe muita cultura de senzala no relacionamento entre patroas e domésticas, algo que nunca me chamou muito a atenção. Descobri que só sendo negro para saber o que o negro sofre. O mesmo é válido para os gays, gordos e empregadas domésticas.
Poucos amigos meus sabem que eu sou neto de uma empregada doméstica. Acho a história de minha avó chocante e interessante, mas eu não lembro de ela relatar maus tratos e humilhações ( o que não quer dizer que ela não sofreu ).
É comum, nos jornais, compararem a atual crise iniciada em 2008 com a crise de 1929. Em breve teremos vários Newtinhos nascendo por aí. Eu explico: a minha avó materna era colona de uma fazenda no interior de Vassouras, região produtora da café na época. Os livros de história contam que a cotação do café despencou com a crise de 1929 e a situação financeira da fazenda ficou bastante difícil. Sobrou para a família da dona Dulce pagar parte do pato e sair da fazenda em direção ao Rio de Janeiro. Sem esta ajuda do cruel destino, a dona Dalva jamais teria conhecido o meu pai.
Por volta de 1931, quando a minha mãe estava com uns 5 anos, a minha avó migrou para a casa de uma irmã em Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O meu avô saiu de Vassouras antes, tentando sem sucesso a sorte na capital, e desapareceu. Anos depois, quando o Dalton, meu irmão no. 4, nasceu, uma lavadeira que apareceu para ajudar a minha mãe com as fraldas de pano disse que sonhou com o meu avô. Ela explicou que o sonho a deixou atordoada e que o meu avô tinha se tornado alcoólatra, foi atropelado por um caminhão de uma cervejaria e morreu, sendo em seguida enterrado como indigente. Ainda no sonho, o meu avô pedia perdão e orações.
Verdade ou ficção, a minha mãe sempre lembrava desta senhora lavadeira. Disse que passou a acreditar nela no dia anterior, quando relatou um outro sonho com a família da minha avó e falou o nome de vários tios e tias e esta senhora certamente não conhecia a família da minha avó.
Dona Dulce migrou para o Rio de Janeiro com a minha mãe e o meu tio. Imagine a barra de ser abandonada pelo marido e sair de uma fazenda para uma cidade hostil e sem nenhuma qualificação nos anos 30 e ainda com duas crianças com menos de 10 anos. Só lhe restou o trabalho como empregada doméstica. Pelo jeito trabalhava bem e tinha virtudes, pois um conceituado economista da primeira metade do século XX a contratou para cuidar da casa da amante e no enterro da minha avó os filhos da última patroa que ela ajudou a criar surpreendentemente apareceam, numa demonstração de gratidão maravilhosa. Eram pessoas que eu só conhecia de nome, pelas boas lembranças que a minha avó tinha da família e pela saudade que sentia dos pequenos que cuidou como se fosse a mãe.
Suas roupas mostravam que não eram do nosso mundo, afinal sair da Urca para um enterro em Inhaúma só com teletransporte. O Rio de Janeiro é tão grande que chega a ser cruel. Falam que a cidade é linda, mas eu sempre vi a cidade pelo meu cotidiano de subúrbio e baixada fluminense e a perspectiva de quem observa a cidade por este ângulo é péssima: muita construção, mas pouca arquitetura, muito cimento, mas pouca árvore. O Rio de Janeiro é feio para diabo.
A Carla era linda de levantar os defuntos das capelas vizinhas e o Luís Felipe era bem apessoado com o seu rosto de engenheiro. Acho que o pai deles também foi e consolou a minha mãe. "Ela cuidou dos meus filhos até o momento necessário", teria dito, segundo relatos de mamãe. Nesta última família a minha avó já estava com uma certa idade e foi naturalmente deslocada para cuidar das crianças. Uma outra empregada fazia o serviço mais pesado. Claro que o temperamento da minha avó não melhorou e as histórias de brigas entre as duas empregadas viraram clássicas anedotas no lar dos meus pais.
Fico imaginando quantos filhos de patroa foram nos enterros das babás. Provavelmente é um evento raro. Eu entendo que a profissionalização e os questionamentos na justiça mudaram muito o perfil da profissão de trabalhador doméstico. O carinho que raramente se via das patroas com as profissionais deve desaparecer, mas ontem constatei que a humilhação na senzala continua bem forte.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Contando histórias
Quatro anos e Mariah mama. Ainda. No peito. Acho que é a única criança da creche que ainda não largou o seio da mãe. O consolo é que ela nunca gostou de chupeta e mamadeira.
A gente sente que ela quer parar, mas não consegue. É mais forte que ela este hábito com perfil de vício.
Ontem ela pediu para que eu deitasse do lado e contasse uma história. Contei a dos Três Porquinhos para mostrar o quanto eu sou criativo, o Sherazade da Tijuca. Terminada a história, após a queima do bumbum do lobo mau que tentou entrar na casa de pedra por meio da chaminé acesa, um silêncio tomou conta do quarto. Uns 40 segundos se passam e ela pede uma outra história. Contei então a da Bela e a Fera, porque vimos o filme no cinema recentemente e a trama estava viva na memória de todos. Dormiu antes da Fera voltar a ser o belo príncipe. Difícil foi o grande rei se levantar da cama sem acordar a princesa em processo de desmame.
A gente sente que ela quer parar, mas não consegue. É mais forte que ela este hábito com perfil de vício.
Ontem ela pediu para que eu deitasse do lado e contasse uma história. Contei a dos Três Porquinhos para mostrar o quanto eu sou criativo, o Sherazade da Tijuca. Terminada a história, após a queima do bumbum do lobo mau que tentou entrar na casa de pedra por meio da chaminé acesa, um silêncio tomou conta do quarto. Uns 40 segundos se passam e ela pede uma outra história. Contei então a da Bela e a Fera, porque vimos o filme no cinema recentemente e a trama estava viva na memória de todos. Dormiu antes da Fera voltar a ser o belo príncipe. Difícil foi o grande rei se levantar da cama sem acordar a princesa em processo de desmame.
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