domingo, 25 de dezembro de 2011

Contos de Natal

Uma vez, quando eu era criança, a minha mãe comprou uma bíblia enorme e inútil. O problema estava no fato deste exemplar ser feito para enfeitar e não para ser lida e estudada, um típico objeto de decoração das salas de famílias católicas do subúrbio do Rio de Janeiro. Era uma edição em capa dura preta, com fotos de pinturas de grandes mestres europeus (provavelmente da época do renascimento ou até anterior) que retratavam passagens importantes, como o profeta Daniel numa cova infestada de leões e Santa Ana encontrando Santa Maria grávida de Jesus. As pessoas deixavam o sagrado objeto aberto, normalmente na página que tinha o Salmo 23, em destaque numa estante e ninguém lia, principalmente por estar escrita em um português arcaico. A editora só queria ganhar dinheiro e sabia que ninguém leria o livro e "deixava rolar", isto é, não promovia uma atualização do texto ou usava uma versão mais moderna, como a Bíblia de Jerusalém.

Aquela edição da Bíblia deveria custar uma pequena fortuna, porque a minha mãe pagou em suaves prestações. Junto veio um outro livro de brinde, uma coletânea de contos de Natal. Lembro que tinha até um do Machado de Assis. Nunca fui estimulado a ler o livro. Nunca fomos estimulados e ler romances ou alguma literatura de prazer. Só éramos estimulados a ler livros técnicos e jornais. Recebemos uma típica educação proletária, onde o foco era arrumar um emprego estável o quanto antes. O resultado? Dos 6 filhos da dona Dalva, 6 trabalham em estatais ou são servidores públicos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário