quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Vida de Papai Noel

- Mariah, minha filha, o que você vai pedir ao Papai Noel?
- Um Lava Lava da Homeplay.
- O que?
- Um Lava Lava da Homeplay! - quase gritando, mas na verdade não é que nós estamos ficando com a audição debilitada; é porque nos surpreendemos.



É assim: você primeiro paga uma TV por assinatura para entreter a filha pequena com os inocentes e politicamente corretos (até demais) desenhos do Discovery Kids e de brinde leva toneladas de anúncios de fábricas de brinquedos até então desconhecidas.
Passam uns dias. Luiza, a terrorista do Natal, diz que não encontrou o brinquedo na Casa & Vídeo da Praça Saens Peña e...
- Tenta na Casa & Vídeo da Urugaiana!
Papai Noel deixa de almoçar - tarefa hercúlea para um E66.8 - e toma de procurar o tal brinquedo. Homem não gosta de pedir informação e isto tem um custo. O custo de perder tempo procurando o Lava Lava feito um doido. Vencido, humilhado e sucumbido pelos fatos, pergunto a uma funcionária magrinha pelo objeto tão desejado. Por que no comércio normalmente os gordos ficam no caixa e os magros ficam repondo e arrumando as mercadorias?
- Eu vi um Lava Lava perto do elevador.
Era o último da loja. Me senti mais que vencedor, como diz a música evangélica. Chego no caixa para pagar e o Lava Lava é o meu troféu.
- Esta caixa é muito grande, não dá para colocar no saco.
SETENV MODO_DUPLO_SENTIDO OFF
- Não tens saco maior?
- Não. Vou colocar uma tarja.
Tarja é um saco menor dobrado e preso com fita. Antigamente diziam que era para indicar aos seguranças da loja que você pagou e não roubou.
- Papai Noel leva o trombolho então para o trabalho, porque Mariah ainda não pode saber como é mundano a forma como as crianças recebem os presentes. Não há renas nem duendes, há Mastercard, Visa Elétron e dinheiro vivo.
Chego no trabalho e faço um arranjo ilógico para o brinquedo entrar dentro do armário branco asséptico. No meio do processo, a minha coordenadora arregala um olho enorme. Parece que aquelas bolas de gude castanhas saltarão no meu colo. Pensei que ela fosse reclamar de eu estar colocando objetos pessoais num móvel corporativo.
- Você está criando uma dona-de-casa!
- Mas foi ela quem pediu!
- Você tem que educar a sua filha para a vida! - discursa com aquela voz dramática e contundente que só os pernambucanos possuem.
No advento dos 40 anos eu ainda perco parte do meu final de semana abastecendo uma Electrolux LE750 para deixar a minha indumentária e da minha família com cheirinho de alfazema. Que mal tem brincar de lavar roupa?
E ficou no trabalho dias. Ontem levei para casa. Pega o 229, fica imprensado pelo brinquedo a viagem toda, tira um cochilo na altura da C&A, acorda, passa uns pontos e salta. Ladeira acima. Ladeira abaixo. Cheguei.
- Mariah está acordada. Jogarei a chave do carro.
- Quero ver papai!
- Não! Agora não dá.
Abro a garagem, abro a mala do carro e escondo a fina peça. Só falta embrulhar. Não sei como o Papai Noel ainda consegue ser gordo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário