quinta-feira, 24 de maio de 2012

Nixie fake

A comunidade eletrônica é muito engraçada e se apega a símbolos antigos. É meio contraditório uma profissão em que tudo muda rápido e quem tira dela o pão se prender a coisas antigas. Eu me incluo, basta lembrar que eu ainda vou montar um aplificador válvulado para a Mariah tocar guitarra.

Bem, na lista de microcontroladores que eu participo uma das paixões de alguns membros são os tubos Nixie. Numa época que se fala em LED, LCD e plaaaaaaaaaaasma eles ficam comprando tubo Nixie no Ebay. O dólar realmente deve estar muito barato.

A única aplicação "popular" que eu lembro das Nixies são os displays de elevador e até o início dos anos 2000 eram relativamente fáceis de encontrar em prédios antigos.

Andar alto...

Nem é preciso dizer que fazer qualquer coisa com Nixie é mais complicado que usar displays de LEDs. Primeiro porque são frágeis mecanicamente, segundo porque são caras e terceiro porque elas trabalham com tensão mais alta, acima de 100V. É vontade vintage demais para o meu gosto.

Hoje chegou um relógio cafonérrimo no GLB. Como poderia imaginar tudo leva a crer que esta nixie é falsa.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tijolo cobogó

Sebos
Eu parei de frequentar sebos desde que eu descobri a Estante Virtual. Primeiro porque pela Internet não há danos aos meu sistema respiratório ou imunológico e segundo porque acaba sendo mais fácil encontrar obras difíceis e usualmente é mais barato, a despeito das despesas postais. A desvantagem que você não pode avaliar o estado do livro nem foleá-lo.

Mas tudo tem uma exceção e é a banca-sebo na Tijuca, na esquina da Major Ávila com Conde de Bomfim, que eu ainda visito com uma certa frequência. O fato de ser em local aberto facilita a minha vida e, por ser bem compacto, uma garimpagem pode durar menos de três minutos. Na última vez que eu passei lá comprei por sete reais um livro do Mauro Halfeld. Eu lembro quando ele foi no programa Sem Censura, da antiga TVE, divulgar o livro que tratava exclusivamente de imóveis.


O tijolo cobogó
É incrível o poder dos livros. Por sete reais você tem uma espécie de consultoria com um doutor em economia e professor universitário. Até hoje eu estranho muito quando eu vou na casa de uma pessoa e não há livros. Para mim isto é um péssimo sinal.

O professor Cláudio de Moura Castro escreveu um texto na Veja que comentava como era difícil comprar estantes de livros no Brasil. Faz sentido: se na casa das pessoas não existem livros, se as pessoas não compram livros, então qual o sentido comprar estantes de livros? Para uma demanda tão pequena, qual o incentivo para a indústria moveleira criar, produzir e vender estantes de livros?

O meu irmão no. 1 fez comunicação social, o no. 2 fez engenharia e o no. 3 fez ciências sociais. Eu lembro de uma boa quantidade de livros que tinha lá em casa. É quase uma compulsão do Alceste (#1). Do Lúcio (#3) eu não lembro direito porque ele casou cedo e saiu de casa antes de fixar na minha memória. Num momento de dureza ele e a Salete foram morar na casa da minha mãe, mas foi por pouco tempo. O Paulinho (#2) tinha poucos livros, mas isto tem uma explicação: em engenharia um livro, como Calculo, pode ser usado em dois periodos (no caso, Cálculo 1, Cálculo 2 e em algumas faculdades, partes de outras matérias matemáticas). Então a referência de livros eram os do Alceste. Não precisa dizer que o seu apartamento é entupido de livros.

A improvisação é a mãe do acidente. O Alceste estava diante do mesmo problema do Moura Castro: muito livro para nenhuma estante. Mandar marceneiro fazer estava fora de cogitação por questões puramente financeiras e ele teve a genial ideia de pegar tijolos cobogós e tábuas de madeira de construção para fazer uma estante de vários andares. Nenhum prego, nenhuma fixação, nada. Eu tinha entre 5 e 7 anos e tive a brilhante vontade de escalar a estante. Desmoronou tudo em cima de mim, conquanto o Alceste, gritando, me alertasse que aquilo iria ocorrer. Não me machuquei muito não, não guardei cicatrizes do desmoronamento do saber. Provei na prática que uma estrutura grande tende a ser instável anos antes de ter aula de Controles na faculdade.

Voltando ao livro do Halfeld...
Economistas gostam de fazer previsões, porém não tem muito compromisso se a previsão vai ou não se concretizar. Ao prever em rádios, jornais ou televisão, elas tendem ao esquecimento, a menos que alguém faça uma pesquisa procurando as previsões para algum trabalho acadêmico ou qualquer outro motivo, porém, ao colocar as previsões em um livro e dez anos depois um curioso comprar e ler este livro, o autor estará diante de um risco considerável. Azar do Halfeld.


Estou quase terminando o livro. Bem didático, por sinal. É daqueles textos que você lê imaginando a voz do Halfeld respondendo e-mail na rádio CBN. O autor foi corajoso a recomendar fortemente a compra de imóveis em 2002. Era uma época que o mercado acionário estava dando grandes lucros e a Renda Fixa ainda pagava os juros de Fernando Henrique Cardoso. Os imóveis eram vistos como investimentos de idosos conservadores que não entendem nada de ganhar dinheiro para valer.

Quem aceitou esta consultoria quase grátis e comprou imóveis naquela época ganhou muito dinheiro com a valorização que ocorreu a partir de 2006. O meu eu comprei em fevereiro de 2004, mas o conselho foi da Luiza e prometo que em breve contarei esta história.

Com relação ao mercado imobiliário dos Estados Unidos, Mauro Halfeld não faz nenhum alerta. Ele apenas cita que o FED, o Banco Central dos EUA, estava baixando as taxas de juros e que os preços dos imóveis estavam subindo, porém o tom era otimista, um exemplo de como investir em imóveis era uma bom investimento - e esta é a mensagem principal do livro - e não como um prenúncio de uma explosiva bolha incendiária que detonaria no segundo mandato do George W. Bush.

Agora que a manada está inflacionando a bolha imobiliária brasileira e se endividando por vinte anos ou mais eu preciso urgente de um novo livro do Halfeld para me dizer qual é a boa dos próximos dez anos. Desta vez eu aceito pagar até quarenta reais por um livro novo.



sexta-feira, 18 de maio de 2012

Por dez longos anos

No final de abril de 2012 o consulado dos EUA mudou o procedimento para obtenção de visto. Todo mundo sabia, menos eu, que entrei de gaiato no navio e peguei justamente o processo de transição e quase sempre é um pouco confuso.

Na segunda, dia 07-12-2012, fui ao Humaitá tirar a foto e colher a impressão digital. Como no meu caso era renovação, eu poderia, a critério do consulado, ser isento ou não de entrevista. Só que já tinha agendado a entrevista no momento que eu agendei a coleta de digitais e ficou tudo impresso no mesmo papel. O certo - agora eu sei - seria eu consultar o andamento do meu processo on line para verificar se eu estava isento da entrevista. Eu estava e só descobri após perder um tempão na sede do consulado, no centro do Rio de Janeiro.

Ontem eu fui à DHL em São Cristóvão buscar o meu passaporte. O normal é a DHL entregar em casa, mas eu optei por pegar na empresa. Abri o envelope e estava tudo lá. Sem dúvida o ato de pleitear o visto ficou melhor, mais automatizado e mais rápido. Outra vantagem é que agora o visto pode ser válido por até 10 anos e - pelo menos no meu caso - consegui o visto de negócios junto com o de turismo, ou seja, é o famoso e mineiramente cobiçado B1/B2.

Estou precisando cortar o cabelo


Ao chegar em casa a primeira coisa que eu fiz foi mostrar o meu troféu à Luiza. Fisicamente o visto é um adesivo que ocupa toda uma folha do passaporte e contém a foto que eu tirei no dia 07.

- Ficou horrível! Você estava olhando para o lado! Para onde você estava olhando?

Mulher repara em tudo


- Não lembro, Alguma coisa me chamou a atenção na hora que a moça tirou a foto. Pior que eu vou ter que aguentar esta foto por dez longos anos.

 A moça tira a foto através de um vidro à prova de balas. Ele é tão espesso que tem uma boa reflexibilidade e no reflexo eu vi uma mulher linda de vestidinho curto aguardando a vez sentada.ao meu lado direito.

Lembrarei de ti por dez anos

Frase da semana

"As gazelas ao fugirem dos leões estão a garantir que, no longo prazo, haverá sempre alguma comida para os leões. Se não fugissem, os leões matavam-nas hoje todas e, amanhã, morreriam de fome."

terça-feira, 15 de maio de 2012

Previsões...


Quem leu este tópico aqui descobriu que a China tem um limitador de crescimento chamado água. O consumo de água e energia elétrica costuma crescer mais que a economia do país. No caso da China, isto significa mais de 10% ao ano.

Só que água doce é um bem limitado, não é como a economia que em termos teóricos pode crescer infinitamente.

O resultado já está aparecendo:

Ásia corre o risco de ver deflagrada uma guerra da água


Brincadeiras de criança

Domingo, 13, na hora de dormir, Mariah ficou na cama conversando. Lastimava que na escola imaginava um monte de brincadeiras diferentes e, quando estava comigo, só lembrava de "Escola" (ela é a professora e eu sou o aluno) e "Mãe & Filho".

Ontem, ela acordou reclamando de dor de ouvido. De otite eu entendo e achamos melhor levá-la no hospital. Ela tem uma mania de ficar pelada dentro de casa e o tempo mudou. O resultado não podia ser diferente.

Enquanto aguardávamos a nossa vez entrou uma menina de uns 3 anos com as duas mãos enfaixadas. Queimadura, estava evidente. Um dos pacientes, um menino de uns 5 anos que também aguardava ser chamado, quebrou o gelo e perguntou o que tinha acontecido. A menina respondeu que foi de algodão e a mãe explicou: ela passou Super Bonder no dedo pensando provavlemente que fosse esmalte e foi retirar com algodão e ocorreu uma reação química entre a cola de cianoacrilato e o algodão, queimando a menina.

Eu nunca tinha ouvido falar nisso, mas este site alerta que esta mistura pode irritar a pele, então faz um certo sentido. Fica o alerta para os pais.

Quando chegou a vez da Mariah a família Trololó foi toda para dentro do consultório e a médica começou a fazer os exames de rotina. Quando a médica virou a Mariah para ouvir o pulmão ela ficou de frente para nós e deu um sorriso bem safado. Foi uma telepatia que eu e Luiza entendemos muito bem: adivinhe qual foi a brincadeira proposta pela Maricota quando eu cheguei do trabalho.




sexta-feira, 11 de maio de 2012

Coisas que ninguém nunca viu

Nos primórdios da Internet eu recebi um e-mail que citava coisas que existem, mas que ninguém nunca tinha visto. Bobagem pura, porém isto está na minha cabeça até hoje. Tomei quase como um desafio pessoal: queria ser um descobridor de coisas dificeis e raras, no entanto possíveis.

Antes da receber a neurotizante lista no meu e-mail eu já tinha derrubado um item: o dos negros gêmeos. Estudei com duas gêmeas negras no segundo grau e elas eram tão parecidas que até hoje eu não sei quem era a Andréa e quem era a Adriana. O curioso que eu tinha 50% de chance de acertar, porém sempre errava e chamava a Andréa de Adriana e vice-versa.

O segundo desafio foram os filhotes de pombos. De fato, eu nunca tinha visto um filhote de pombo, só aqueles das praças, turbinados com milho e pipoca, mas estes eram considerados adultos. Um dia, recém casado, uma pomba ocupou um buraco de um ar condicionado de um apartamento desocupado do pombal em frente ao meu pombal (eram dois prédios, um ao lado do outro com 20 apartamentos por andar e eu morava no 216. Só de olhar o corredor já dava preguiça). Na verdade a pomba fez um ninho e nasceram filhotes. Pronto! Vi um filhote de pombo!

A lista não avançou durante anos e - pior - fui inserindo novos itens a serem descobertos. Um é uma psicóloga virgem. Juram que existe. O outro é uma festa de baiano sem música.

E não é que no sábado passado eu fui a um Chá de Bebê da filhota de um amigo meu "100% Baiano Certified" que nascerá no final de maio e não ouvi um único acorde, uma nota musical, nada. Como dizem os evangélicos, me senti mais que vencedor.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Carola Carolina

O bafafá da semana na parte "cabeça oca" dos jornais on line certamente foram as fotos com a Carolina Dieckman nua. Não dá para enfeitar o blog com uma pequena amostra das fotos porque tudo indica que elas são fruto de vários crimes e publicar uma foto sequer seria compactuar com o delito. Por incrível que pareça, a foto que eu mais gostei foi a da Mulher Maravilha.

As imagens estão na grande núvem. Não gastei nem cinco minutos de trabalho para achar. Sou um bicho curioso que só e, sem medo de críticas, adoro ver famosa nua. O brasileiro é muito mal resolvido sexualmente e, por favor, incluam-me. Nunca entendi porque topless não pode e fio dental pode, por exemplo. Nunca entendi, também, este tesão que brasileiro tem de ver mulher posando de calcinha arriada na altura um pouco acima da canela, sentada no vaso sanitário. A gente confunde este lado mal resolvido com hipocrisia, a palavra clichê padrão para o fenômeno, mas não é. É necessidade de uma longa e profunda psicoterapia.



(Imagina aqui, no Brasil, aqueles jovens pelados tomando sol nas praças como acontece na Europa)

Boa parte das fotos da Carolina Dieckman eram fazendo poses típicas de um ensaio para uma revista de mulher pelada, talvez por isso a revista Sexy tenha feito aquela piada, algo como "De graça, Carolina?" Por trás de uma boa piada sempre tem um fundo de verdade e o que eu interpretei foi que a Carolina sempre desejou posar nua, como a maioria das brasileiras.

O drama da Europa em sete parágrafos.

Imagine que você tenha uma fábrica de sal. O valor do sal é dado pelo mercado e você não tem controle nenhum. Um outro problema é que não faz sentido baixar o preço do seu sal porque as pessoas não salgarão mais a comida se o preço do sal baixar. Por fim, imagine que a sua fábrica é novíssima e usa o mais moderno maquinário do mundo de forma que é impossível aumentar a produtividade. A sua fábrica está apresentando um leve prejuizo todos os meses. De posse deste cenário me responda: como você pode fazer para reverter este prejuizo em lucro?

Não há muito como escapar: a única saída que eu vejo é reduzir o custo da mão de obra. Então temos três  alternativas: aumentar o número de horas trabalhadas por empregado, diminuir os salários ou diminuir o número de empregados, isto é, fazer com que 70 façam o trabalho que até ontem era feito por 100 pessoas.

Vendo num patamar mais amplo, isto é o que ocorre num cenário de recessão. No caso de um país existem outras formas de "resolver" este problema porque: (1) aumentar o número de horas por funcionário sem o pagamento de horas-extras é ilegal, (2) idem para diminuir o salário e (3) é politicamente desastroso aumentar o desemprego.

Qual a solução então? Simples: desvaloriza-se a moeda e com isso diminuimos o salário de todo mundo com relação aos salários dos outros países. Claro que se todos os paises do mundo desvalorizarem as suas respectivas moedas o resultado será nulo.

Em resumo este é o problema da Espanha, Portugal, Grécia e demais países da chamada Zona do Euro: eles não podem reduzir o salário por meio direto por ser ilegal, nem podem desvalorizar a moeda porque simplesmente não tem moeda.

"A Europa não estaria neste impasse atual se a Grécia ainda tivesse seu dracma, a Espanha, sua peseta, a Irlanda, sua libra irlandesa e assim por diante, porque Grécia e Espanha disporiam de algo que hoje não têm: uma maneira rápida de restaurar a competitividade de seus custos e elevar as exportações. A saber: desvalorizar suas moedas." (Paul Krungman, Nobel de Economia)

Só sobra então a alternativa (3) e tome desemprego!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Venus, a deusa do amor e da beleza

Ontem participamos da reunião periódica entre os pais e os professores. Como a Mariah já está nesta escola há anos e a turminha é praticamente a mesma, laços entre os pais foram criados e o encontro acaba sendo sempre bem legal.

A tia Renata tirou fotos dela vestida de Emília.



A conversa ia bem até que tocaram no assunto da visita à Feira do Livro Infantil. Todos passaram pelo mesmo furacão dos medos e das incertezas quando souberam do evento por meio de um bilhete na agenda solicitando autorização. No meu estilo exagerado, a medida que a ponta da caneta se aproximada do papel para colher a minha belíssima assinatura, capas de O Dia dos anos 1970 e de O Povo dos anos 90 não saiam da minha memória. É o mundo cão, a tragédia e a fatalidade que me fez pensar no pior e como aquela assinatura me tornava responsável, quase o mentor intelectual de tudo de pior que poderia ocorrer com a minha filha. Parece bobagem, pois não penso em besteiras quando embarco num avião para viajar de férias com a família e existe um risco real da aeronave cair e todos morrerem, no entanto a gente não controla totalmente os pensamentos. Principalmente os ruins.

A gente cria os filhos para a vida. A gente cria os filhos para a vida. A gente cria os filhos para a vida. Repeti o mantra e assinei. Do momento tão especial, a Luiza só colheu a foto do ônibus na chegada. O que a Mariah mais gostou foi a cortina.


Foto adicionada em 15-05-2012


A forra

A Mariah outro dia passou a tarde de um final de semana na casa da Ana Beatriz. Demos a forra sábado passado.



Milagre econômico

"É a economia, idiota!"

Dizem que este foi o lema do marketeiro que cuidou da vitoriosa campanha do Bill Clinton para a Casa Branca. O otimismo da população e a bonança econômica permitem que sejam feitos determinados atos políticos que a gente em condições normais não entenderia. Como aceitar a tortura e a repressão comendo solta no governo Médici? Simples: o país estava passando pelo Milagre Econômico da mesma forma que estamos passando hoje.

A Dilma sabe disso. Ela sabe que tudo pode naquele fortalece e o que está a fortalecendo o milagre econômico atual é a China, que fez o favor de disparar o preço das matérias primas que exportamos como petróleo, soja e ferro. A redução da remuneração da caderneta de poupança seria políticamente inviável em qualquer outra época e a mudança das regras de aposentadoria dos novos servidores públicos nem gerou muito assunto na Internet. É o céu de brigadeiro.

Com o país crescendo a demanda por engenheiros cresce. Aí descobrimos que nos anos 90 e 2000 abrimos muitas escolas de direito e administração e poucas escolas de engenharia. Criar um curso de engenhraria é naturalmente mais complicado porque o curso exige laboratórios, além do fato de não ser tão fácil achar professores.

A demanda por engenheiros cresce na mesma proporção que a ilusão das pessoas com o ofício. Claro que existem ilusões com a medicina e qualquer outra profissão, porém só com a  engenharia eu presencio esta uma mudança tão rápida na percepção das pessoas.

Mas hoje eu recebi um e-maiil de uma das listas de discussão que eu participo e consegui autorização do autor para publicar aqui. Não há edição, apenas alguns cortes na mensagem para filtrar só o que interessa ou preservar a privacidade das pessoas.

Para quem está prestando ENEM ou vestibular este ano, aqui está a realidade de um engenheiro eletrônico:

"Eu vejo assim, MSX, eletrônica, programação em Assembly e C, cafeína.... São vícios, não consigo largar. Eu olho pra minha cafeteira que custou 250 pilas e já fico imaginando um controlador de temperatura e pressão nela..."
 Comentário: igualzinho ao Newtinho, só que a minha cafeteira é bem mais barata.

"A minha escolha é bem racional. Acontece que após todo esse tempo na iniciativa privada, eu não consegui me encaixar numa empresa, num modelo, que me desse o retorno pessoal e financeiro desejado."
Comentário: É difícil se encaixar bem em qualquer emprego.

"Hoje, ser funcionário público me proporciona algumas benesses, como por exemplo um plano de saúde barato e excelente e direito real de tirar os merecidos 30 dias de férias ao ano. Claro que o trabalho burocrático e repetitivo é o ponto baixo. Mas, usando uma pequena parte da minha "CPU" eu consigo ser um funcionário honesto e excelente, e repouso todos os dias a cabeça tranquila no travesseiro, sabendo que outros no meu lugar não fariam um trabalho melhor.

E o que sobra de CPU fica pra usar no tempo livre."

"Antes de reclamar do meu emprego atual, eu lembro que:

- Passei por 5 empresas e não me deixaram tirar férias em nenhuma delas
- Fui mandado embora, apesar de ter desempenho excelente, só porque fizeram besteira em outros países e as ações caíram repentinamente de $87 para $2...
- Tive que desenvolver o software para um projeto com 4 MCUs [MCU é um pequeno processador] e 11 motores de passo usando o SDCC [SDCC é um software de programação gratuito] porque o sovina do meu ex-patrão, que estava construindo casa em condomínio fechado, trocava de carro importado todo ano, e viajava com a família pra Europa, não queria me comprar um compilador...
- Nesse projeto perdi 15 dias ouvindo abobrinha até descobrir que o SDCC não estava fazendo OR entre 2 bits corretamente...
- Nesse mesmo projeto, originalmente eu ia interligar as 4 placas por i2C e usar bibliotecas prontas mas aí o espertoman resolveu economizar 3 transistores e transformou uma das linhas em unidirecional, o que obrigou a reprogramar e debugar todo o protocolo... mais um mês de trabalheira...
- Durante uns 4 meses fiquei ouvindo que o software de acionamento dos motores de passo estava bugado, e batendo cabeça porque o motor perdia o passo, até que o infeliz viajou pra Europa e aí eu pude desmontar a parte mecânica e finalmente descobrir que pra economizar ele não tinha mandado fazer e colocar um espaçador de alumínio entre os 2 rolamentos do eixo principal. Os rolamentos estavam assentando tortos e sobrecarregando o eixo...
- No outro projeto no qual trabalhei 1 ano, ele arrumou um aparelho importado emprestado, o qual não podia ser aberto pois era novo. Usando um MCU antigo, tecnologia de uns 15 anos atrás que ele já tinha em estoque ele fez a placa e eu tive que me virar para copiar todas as funções do aparelho original, que havia acabado de ser lançado. Foi engenharia reversa sem ver o que tinha dentro. No final consegui deixar a cópia exatamente igual a original importada, e como sobrou um pouco de memória, acabei implementando funçoes extras. Como sempre, o patrão estava reclamando da demora no projeto. Eu mandei um e-mail pra fabricante original, dando um migué que era cliente e usava os produtos deles, perguntando algumas coisas. Eles me responderam que o projeto original ocupou uma equipe de 50 pessoas por aproximadamente 18 meses. Além de escrever o software, eu testei tudo e ainda fiz o manual, traduzido para PT-Br [português] e com as figurinhas escaneadas do manual original... Até hoje esse é um dos poucos produtos que tem um manual completo e decente no site da empresa.
Mudei de empresa - pra ganhar um pouco menos, mas queria sossego... Logo tava dando manutenção sozinho num código de 65.000 linhas do produto que representava 40% das vendas.
 - Outro projeto que desenvolvi com mais 1 engenheiro e mais 1 estagiário foi vendido pela empresa por 6 milhões de reais, e ganhamos PLR [participação nos lucros] de 1,5 salário enquanto o vendedor além da comissão ganhou um bônus de 150 mil...  Adivinha quem ficou dando suporte 2 anos depois sem ganhar nada mais por isso.
- O último projeto, para o qual orientei a confecção da placa e debuguei os protótipos. Sofri muito porque teve 6 versões de PCB [placa de circuito impresso, onde os componentes são soldados] . O PJ [pessoa jurídica] que fazia as placas era "pelego" e protegido do diretor, e apesar dos repetidos e consecutivos erros não era penalizado ou  trocado - eu requisitava as mudanças e ele não fazia ou fazia errado - e escrevi todo o software começando de um arquivo vazio com void main { void } foi vendido por 1,5 milhão e no final do ano a empresa fez uma manobra fiscal pra ter um leve prejuízo e não pagar PLR pra ninguém... Nessa última época eu era gerente, mas sem ter nenhum gerenciado. Eu tive que acompanhar os malas do comercial, fazer todo o serviço de relatórios e documentação pra ISO [acho que ele está citando a ISO-9000] do projeto,  fazer o projeto, e até que acompanhar implantação do mesmo em campo...

Por isso, se algum dia eu voltar a trabalhar para enriquecer alguém, esse alguém forçosamente será eu mesmo... :-)"

A Culpa é da lasanha

Esta sexta-feira eu tenho um monte de coisas para atualizar. Comecemos pelo e-mail que eu recebi esta manhã e que proprocionou lágrimas de tanto rir.

Eu almoço com certa frequência com o povo do suporte técnico de uma outra diretoria. É garantia de boas gargalhadas.

O problema é que o Lenz e o Índio Velho não se entendem . O Lenz sempre preferiu os restaurantes "naturais", com uma comida supostamente mais leve e mais saudável. O Índio Velho só tinha olhos para um restaurante chinês ou para um rodizio de massas. Quase 100% das vezes a escolha coletiva era o rodízio, que o Lenz sempre argumentava que engordava e fazia mal.

Com o tempo, a simples decisão de onde almoçar virou quase um debate ideológico. O rodízio era povão, "de esquerda" e o natural era elitizado, "de direita". Uma discussão que não fazia nenhum sentido e só gastava o nosso tempo.

Paralelamente, Índio Velho jogava sujo, afirmando que o restaurante natural era frequentado por pessoas com cara de doente e que só conversam sobre médicos e doenças. O curioso é que este e-mail do Lenz acaba confirmando a teoria do Índio Velho, que ele tanto refutava.


Eis, segundo o Lenz, o resultado (a imagem foi editada para preservar sobrenomes e demais informações)



sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sempre na vanguarda

Olha o que eu escrevi aqui:

Capitalismo primitivo

 "Mas esta reflexão é pertinente porque o governo tenta baixar os juros e, se conseguir, a festa do dinheiro fácil e com baixo risco pode acabar. Pessoas com pequenas quantias acumuladas com o o suor do rosto terão que mudar os investimentos para conseguirem taxas melhores. Algumas soltarão fogos de subúrbio - aqueles que só fazem barulho e enchem o nosso saco, mas não iluminam - se conseguirem retornos de 3,5% ao ano acima da inflação. Um novo tempo talvez se inicie e se a nossa mentalidade medieval mudar poderemos gerar milhares de empregos e aquecer a economia, desde que percebamos o valor do Pequeno Sócio de Capital."

e olha o que o professor da USP disse meses depois:

http://blog.kanitz.com.br/2012/04/governo-reduz-juro-em-25-num-%C3%BAnico-dia-tsunami-financeiro.html

"Ninguém se deu deu conta de que o Governo agora só vai pagar 2% ao ano, que agora vai sobrar dinheiro a rodo para gastar em investimentos e projetos sociais."

Ainda vou ganhar dinheiro cobrando consultoria.

O elo perdido

Mariah está apaixonada pela professora. Não estou com ciúmes, pelo contrário: estou muito feliz! É bom demais ver uma criança apaixonada pela escola e pelo ato de aprender.

- Vou escrever a letra que a minha tia Tathi me ensinou! - diz a pequena, com uma ponta de orgulho e amor próprio.

Mudo o foco para Luiza. Ela está refletindo e pergunta-me onde está o "elo perdido", em algum momento, por algum motivo, o professor vira um estorvo, um chato, quase um inimigo.

Já delimitei que este elo perdido ocorre certamente entre o infantil 4 e a faculdade de engenharia.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Comerciais para um PA



Num dos foruns que eu participo, estávamos discutindo a qualidade atual das máquinas de lavar roupa. Choro antecipadamente por todos os que compram certas marcas novas porque dentro de cinco anos não encontrarão peças e o destino será o gatilho e a amargura.

Mas eu procurava no YouTube informações sobre as antigas lavadoras White-Westinghouse - coisa de quarentão, pois os jovens nem sabem o que significa Sharp, Sanyo e Telefunken - e acabei encontrando um comercial que eu me lembro quando passava na TV. Aproveitei para buscar mais outro, o do condenado que desejava um Fiat 147 como seu último pedido. Coisas de quarentão que tem dificuldade de lembrar bobos compromissos de trabalho, porém não esquece comerciais da pré-adolescência.

Aliás, mulher gostosa de calcinha e sutiã era realmente inesquecível para os pré-adolescentes da época.






Reparem que o corte de cabelo evoluiu nestas duas décadas mais que o design da lingerie.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Tinker Bell

Ontem a Mariah recebeu o Henrique na nossa casa. Enquanto eu tentava ver o Fantástico um brinquedo pulava de mão em mão e me despertou a atenção. Era bastão com a fada Sininho em cima que girava umas luzes quando se apertava um botão.


Reparei que a pilha estava fraca e fui trocar. Só então percebi que o brinquedo usava a mesma pilha que foi fornecida quando compramos, e isto foi em setembro de 2010. A pilha foi esta, que, para variar, nunca vi à venda no Brasil.



Nem é preciso lembrar que, se fosse com pilhas que compramos no Brasil, o brinquedo já estaria perdido porque as pilhas teriam inundado o compartimento com aquela gosma corrosiva.

Enquanto pensava em escrever este tópico lembrei de um fato que ocorreu na nossas férias de 2005, na Espanha: os marinheiros de primeira viagem não levaram um carregador de pilhas adequado para 220V e, quando as pilhas recarregáveis se esgotaram, passamos a comprar pilhas alcalinas na máquina fotográfica e as pilhas da marca Kodak também tinham uma durabilidade incrível.

domingo, 15 de abril de 2012

Geração Z

Quando você opta por não bater, a educação de um filho torna-se mais difícil e mais cheia de dúvidas. O caminho da palmada é ruim, mas é certo e seguro de certa forma. Seguro no sentido de que o resultado é previsível, um adulto padronizado e adaptado à violência, opressão, hierarquia e insegurança.

A opção foi a não-violência e a baixa hierarquia. Tudo é negociado, explicado, justificado, exaustivamente debatido. Se dá trabalho com uma criança de quatro anos, eu temo pela adolescência. Mariah é um laboratório vivo e ativo. A metodologia funciona e nos adaptamos bem rápido: nos enojamos quando vemos uma mãe tratando um filho de forma rude e áspera, como se fosse um lixo inimigo, mesmo que sejam só palavras. Isto não é educar ou preparar um filho para a vida, é descontar nos mais fracos e vulneráveis as nossas frustrações. O curioso é que as mães, que são consideradas como a fonte de carinho de uma família é que costumam tratar mal os filhos na rua.

Quando as empresas começaram a ficar grandes, durante a Revolução Industrial, os empresários não tinham uma referência. Até então empresas grandes eram formadas basicamente por fazendas de monocultura, algo fisicamente distante para um inglês comum que pouco sabia de Antilhas e Barbados, embora adorassem o açúcar e o tabaco produzido naquelas terras. Sem falar que administrar uma fazenda muito grande com centenas de escravos é naturalmente uma adaptação do gerenciamento de uma fazenda média com dezenas de escravos e isto eles já sabiam desde antes do Império Romano. A referência, o norte então foram duas instituições seculares que aparentavam funcionar com elegância e harmonia: o exército e a Igreja. O resultado é que grandes organizações que hoje vendem pelo marketing que são modernas, no fundo são altamente tradicionais, conservadoras e hierarquizadas. Tudo que eu e a Luiza não estamos ensinando e doutrinando a Mariah.

Sinceramente não sei se a pequena vai se adaptar e se sujeitar ao sistema. Pode ser que sim, espero que não. Da mesma forma que a criação não está sendo tradicional, embora eu conheça muitos pais que criam os os filhos desta forma, a busca pela felicidade - que não se resume a um emprego seguro e bem remunerado numa empresa tradicional - também pode ser inovadora. Prefiro assim: ser um amigo e orientador presente e um pai abstrato que o contrário.