quarta-feira, 23 de maio de 2012

Tijolo cobogó

Sebos
Eu parei de frequentar sebos desde que eu descobri a Estante Virtual. Primeiro porque pela Internet não há danos aos meu sistema respiratório ou imunológico e segundo porque acaba sendo mais fácil encontrar obras difíceis e usualmente é mais barato, a despeito das despesas postais. A desvantagem que você não pode avaliar o estado do livro nem foleá-lo.

Mas tudo tem uma exceção e é a banca-sebo na Tijuca, na esquina da Major Ávila com Conde de Bomfim, que eu ainda visito com uma certa frequência. O fato de ser em local aberto facilita a minha vida e, por ser bem compacto, uma garimpagem pode durar menos de três minutos. Na última vez que eu passei lá comprei por sete reais um livro do Mauro Halfeld. Eu lembro quando ele foi no programa Sem Censura, da antiga TVE, divulgar o livro que tratava exclusivamente de imóveis.


O tijolo cobogó
É incrível o poder dos livros. Por sete reais você tem uma espécie de consultoria com um doutor em economia e professor universitário. Até hoje eu estranho muito quando eu vou na casa de uma pessoa e não há livros. Para mim isto é um péssimo sinal.

O professor Cláudio de Moura Castro escreveu um texto na Veja que comentava como era difícil comprar estantes de livros no Brasil. Faz sentido: se na casa das pessoas não existem livros, se as pessoas não compram livros, então qual o sentido comprar estantes de livros? Para uma demanda tão pequena, qual o incentivo para a indústria moveleira criar, produzir e vender estantes de livros?

O meu irmão no. 1 fez comunicação social, o no. 2 fez engenharia e o no. 3 fez ciências sociais. Eu lembro de uma boa quantidade de livros que tinha lá em casa. É quase uma compulsão do Alceste (#1). Do Lúcio (#3) eu não lembro direito porque ele casou cedo e saiu de casa antes de fixar na minha memória. Num momento de dureza ele e a Salete foram morar na casa da minha mãe, mas foi por pouco tempo. O Paulinho (#2) tinha poucos livros, mas isto tem uma explicação: em engenharia um livro, como Calculo, pode ser usado em dois periodos (no caso, Cálculo 1, Cálculo 2 e em algumas faculdades, partes de outras matérias matemáticas). Então a referência de livros eram os do Alceste. Não precisa dizer que o seu apartamento é entupido de livros.

A improvisação é a mãe do acidente. O Alceste estava diante do mesmo problema do Moura Castro: muito livro para nenhuma estante. Mandar marceneiro fazer estava fora de cogitação por questões puramente financeiras e ele teve a genial ideia de pegar tijolos cobogós e tábuas de madeira de construção para fazer uma estante de vários andares. Nenhum prego, nenhuma fixação, nada. Eu tinha entre 5 e 7 anos e tive a brilhante vontade de escalar a estante. Desmoronou tudo em cima de mim, conquanto o Alceste, gritando, me alertasse que aquilo iria ocorrer. Não me machuquei muito não, não guardei cicatrizes do desmoronamento do saber. Provei na prática que uma estrutura grande tende a ser instável anos antes de ter aula de Controles na faculdade.

Voltando ao livro do Halfeld...
Economistas gostam de fazer previsões, porém não tem muito compromisso se a previsão vai ou não se concretizar. Ao prever em rádios, jornais ou televisão, elas tendem ao esquecimento, a menos que alguém faça uma pesquisa procurando as previsões para algum trabalho acadêmico ou qualquer outro motivo, porém, ao colocar as previsões em um livro e dez anos depois um curioso comprar e ler este livro, o autor estará diante de um risco considerável. Azar do Halfeld.


Estou quase terminando o livro. Bem didático, por sinal. É daqueles textos que você lê imaginando a voz do Halfeld respondendo e-mail na rádio CBN. O autor foi corajoso a recomendar fortemente a compra de imóveis em 2002. Era uma época que o mercado acionário estava dando grandes lucros e a Renda Fixa ainda pagava os juros de Fernando Henrique Cardoso. Os imóveis eram vistos como investimentos de idosos conservadores que não entendem nada de ganhar dinheiro para valer.

Quem aceitou esta consultoria quase grátis e comprou imóveis naquela época ganhou muito dinheiro com a valorização que ocorreu a partir de 2006. O meu eu comprei em fevereiro de 2004, mas o conselho foi da Luiza e prometo que em breve contarei esta história.

Com relação ao mercado imobiliário dos Estados Unidos, Mauro Halfeld não faz nenhum alerta. Ele apenas cita que o FED, o Banco Central dos EUA, estava baixando as taxas de juros e que os preços dos imóveis estavam subindo, porém o tom era otimista, um exemplo de como investir em imóveis era uma bom investimento - e esta é a mensagem principal do livro - e não como um prenúncio de uma explosiva bolha incendiária que detonaria no segundo mandato do George W. Bush.

Agora que a manada está inflacionando a bolha imobiliária brasileira e se endividando por vinte anos ou mais eu preciso urgente de um novo livro do Halfeld para me dizer qual é a boa dos próximos dez anos. Desta vez eu aceito pagar até quarenta reais por um livro novo.



sexta-feira, 18 de maio de 2012

Por dez longos anos

No final de abril de 2012 o consulado dos EUA mudou o procedimento para obtenção de visto. Todo mundo sabia, menos eu, que entrei de gaiato no navio e peguei justamente o processo de transição e quase sempre é um pouco confuso.

Na segunda, dia 07-12-2012, fui ao Humaitá tirar a foto e colher a impressão digital. Como no meu caso era renovação, eu poderia, a critério do consulado, ser isento ou não de entrevista. Só que já tinha agendado a entrevista no momento que eu agendei a coleta de digitais e ficou tudo impresso no mesmo papel. O certo - agora eu sei - seria eu consultar o andamento do meu processo on line para verificar se eu estava isento da entrevista. Eu estava e só descobri após perder um tempão na sede do consulado, no centro do Rio de Janeiro.

Ontem eu fui à DHL em São Cristóvão buscar o meu passaporte. O normal é a DHL entregar em casa, mas eu optei por pegar na empresa. Abri o envelope e estava tudo lá. Sem dúvida o ato de pleitear o visto ficou melhor, mais automatizado e mais rápido. Outra vantagem é que agora o visto pode ser válido por até 10 anos e - pelo menos no meu caso - consegui o visto de negócios junto com o de turismo, ou seja, é o famoso e mineiramente cobiçado B1/B2.

Estou precisando cortar o cabelo


Ao chegar em casa a primeira coisa que eu fiz foi mostrar o meu troféu à Luiza. Fisicamente o visto é um adesivo que ocupa toda uma folha do passaporte e contém a foto que eu tirei no dia 07.

- Ficou horrível! Você estava olhando para o lado! Para onde você estava olhando?

Mulher repara em tudo


- Não lembro, Alguma coisa me chamou a atenção na hora que a moça tirou a foto. Pior que eu vou ter que aguentar esta foto por dez longos anos.

 A moça tira a foto através de um vidro à prova de balas. Ele é tão espesso que tem uma boa reflexibilidade e no reflexo eu vi uma mulher linda de vestidinho curto aguardando a vez sentada.ao meu lado direito.

Lembrarei de ti por dez anos

Frase da semana

"As gazelas ao fugirem dos leões estão a garantir que, no longo prazo, haverá sempre alguma comida para os leões. Se não fugissem, os leões matavam-nas hoje todas e, amanhã, morreriam de fome."

terça-feira, 15 de maio de 2012

Previsões...


Quem leu este tópico aqui descobriu que a China tem um limitador de crescimento chamado água. O consumo de água e energia elétrica costuma crescer mais que a economia do país. No caso da China, isto significa mais de 10% ao ano.

Só que água doce é um bem limitado, não é como a economia que em termos teóricos pode crescer infinitamente.

O resultado já está aparecendo:

Ásia corre o risco de ver deflagrada uma guerra da água


Brincadeiras de criança

Domingo, 13, na hora de dormir, Mariah ficou na cama conversando. Lastimava que na escola imaginava um monte de brincadeiras diferentes e, quando estava comigo, só lembrava de "Escola" (ela é a professora e eu sou o aluno) e "Mãe & Filho".

Ontem, ela acordou reclamando de dor de ouvido. De otite eu entendo e achamos melhor levá-la no hospital. Ela tem uma mania de ficar pelada dentro de casa e o tempo mudou. O resultado não podia ser diferente.

Enquanto aguardávamos a nossa vez entrou uma menina de uns 3 anos com as duas mãos enfaixadas. Queimadura, estava evidente. Um dos pacientes, um menino de uns 5 anos que também aguardava ser chamado, quebrou o gelo e perguntou o que tinha acontecido. A menina respondeu que foi de algodão e a mãe explicou: ela passou Super Bonder no dedo pensando provavlemente que fosse esmalte e foi retirar com algodão e ocorreu uma reação química entre a cola de cianoacrilato e o algodão, queimando a menina.

Eu nunca tinha ouvido falar nisso, mas este site alerta que esta mistura pode irritar a pele, então faz um certo sentido. Fica o alerta para os pais.

Quando chegou a vez da Mariah a família Trololó foi toda para dentro do consultório e a médica começou a fazer os exames de rotina. Quando a médica virou a Mariah para ouvir o pulmão ela ficou de frente para nós e deu um sorriso bem safado. Foi uma telepatia que eu e Luiza entendemos muito bem: adivinhe qual foi a brincadeira proposta pela Maricota quando eu cheguei do trabalho.




sexta-feira, 11 de maio de 2012

Coisas que ninguém nunca viu

Nos primórdios da Internet eu recebi um e-mail que citava coisas que existem, mas que ninguém nunca tinha visto. Bobagem pura, porém isto está na minha cabeça até hoje. Tomei quase como um desafio pessoal: queria ser um descobridor de coisas dificeis e raras, no entanto possíveis.

Antes da receber a neurotizante lista no meu e-mail eu já tinha derrubado um item: o dos negros gêmeos. Estudei com duas gêmeas negras no segundo grau e elas eram tão parecidas que até hoje eu não sei quem era a Andréa e quem era a Adriana. O curioso que eu tinha 50% de chance de acertar, porém sempre errava e chamava a Andréa de Adriana e vice-versa.

O segundo desafio foram os filhotes de pombos. De fato, eu nunca tinha visto um filhote de pombo, só aqueles das praças, turbinados com milho e pipoca, mas estes eram considerados adultos. Um dia, recém casado, uma pomba ocupou um buraco de um ar condicionado de um apartamento desocupado do pombal em frente ao meu pombal (eram dois prédios, um ao lado do outro com 20 apartamentos por andar e eu morava no 216. Só de olhar o corredor já dava preguiça). Na verdade a pomba fez um ninho e nasceram filhotes. Pronto! Vi um filhote de pombo!

A lista não avançou durante anos e - pior - fui inserindo novos itens a serem descobertos. Um é uma psicóloga virgem. Juram que existe. O outro é uma festa de baiano sem música.

E não é que no sábado passado eu fui a um Chá de Bebê da filhota de um amigo meu "100% Baiano Certified" que nascerá no final de maio e não ouvi um único acorde, uma nota musical, nada. Como dizem os evangélicos, me senti mais que vencedor.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Carola Carolina

O bafafá da semana na parte "cabeça oca" dos jornais on line certamente foram as fotos com a Carolina Dieckman nua. Não dá para enfeitar o blog com uma pequena amostra das fotos porque tudo indica que elas são fruto de vários crimes e publicar uma foto sequer seria compactuar com o delito. Por incrível que pareça, a foto que eu mais gostei foi a da Mulher Maravilha.

As imagens estão na grande núvem. Não gastei nem cinco minutos de trabalho para achar. Sou um bicho curioso que só e, sem medo de críticas, adoro ver famosa nua. O brasileiro é muito mal resolvido sexualmente e, por favor, incluam-me. Nunca entendi porque topless não pode e fio dental pode, por exemplo. Nunca entendi, também, este tesão que brasileiro tem de ver mulher posando de calcinha arriada na altura um pouco acima da canela, sentada no vaso sanitário. A gente confunde este lado mal resolvido com hipocrisia, a palavra clichê padrão para o fenômeno, mas não é. É necessidade de uma longa e profunda psicoterapia.



(Imagina aqui, no Brasil, aqueles jovens pelados tomando sol nas praças como acontece na Europa)

Boa parte das fotos da Carolina Dieckman eram fazendo poses típicas de um ensaio para uma revista de mulher pelada, talvez por isso a revista Sexy tenha feito aquela piada, algo como "De graça, Carolina?" Por trás de uma boa piada sempre tem um fundo de verdade e o que eu interpretei foi que a Carolina sempre desejou posar nua, como a maioria das brasileiras.

O drama da Europa em sete parágrafos.

Imagine que você tenha uma fábrica de sal. O valor do sal é dado pelo mercado e você não tem controle nenhum. Um outro problema é que não faz sentido baixar o preço do seu sal porque as pessoas não salgarão mais a comida se o preço do sal baixar. Por fim, imagine que a sua fábrica é novíssima e usa o mais moderno maquinário do mundo de forma que é impossível aumentar a produtividade. A sua fábrica está apresentando um leve prejuizo todos os meses. De posse deste cenário me responda: como você pode fazer para reverter este prejuizo em lucro?

Não há muito como escapar: a única saída que eu vejo é reduzir o custo da mão de obra. Então temos três  alternativas: aumentar o número de horas trabalhadas por empregado, diminuir os salários ou diminuir o número de empregados, isto é, fazer com que 70 façam o trabalho que até ontem era feito por 100 pessoas.

Vendo num patamar mais amplo, isto é o que ocorre num cenário de recessão. No caso de um país existem outras formas de "resolver" este problema porque: (1) aumentar o número de horas por funcionário sem o pagamento de horas-extras é ilegal, (2) idem para diminuir o salário e (3) é politicamente desastroso aumentar o desemprego.

Qual a solução então? Simples: desvaloriza-se a moeda e com isso diminuimos o salário de todo mundo com relação aos salários dos outros países. Claro que se todos os paises do mundo desvalorizarem as suas respectivas moedas o resultado será nulo.

Em resumo este é o problema da Espanha, Portugal, Grécia e demais países da chamada Zona do Euro: eles não podem reduzir o salário por meio direto por ser ilegal, nem podem desvalorizar a moeda porque simplesmente não tem moeda.

"A Europa não estaria neste impasse atual se a Grécia ainda tivesse seu dracma, a Espanha, sua peseta, a Irlanda, sua libra irlandesa e assim por diante, porque Grécia e Espanha disporiam de algo que hoje não têm: uma maneira rápida de restaurar a competitividade de seus custos e elevar as exportações. A saber: desvalorizar suas moedas." (Paul Krungman, Nobel de Economia)

Só sobra então a alternativa (3) e tome desemprego!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Venus, a deusa do amor e da beleza

Ontem participamos da reunião periódica entre os pais e os professores. Como a Mariah já está nesta escola há anos e a turminha é praticamente a mesma, laços entre os pais foram criados e o encontro acaba sendo sempre bem legal.

A tia Renata tirou fotos dela vestida de Emília.



A conversa ia bem até que tocaram no assunto da visita à Feira do Livro Infantil. Todos passaram pelo mesmo furacão dos medos e das incertezas quando souberam do evento por meio de um bilhete na agenda solicitando autorização. No meu estilo exagerado, a medida que a ponta da caneta se aproximada do papel para colher a minha belíssima assinatura, capas de O Dia dos anos 1970 e de O Povo dos anos 90 não saiam da minha memória. É o mundo cão, a tragédia e a fatalidade que me fez pensar no pior e como aquela assinatura me tornava responsável, quase o mentor intelectual de tudo de pior que poderia ocorrer com a minha filha. Parece bobagem, pois não penso em besteiras quando embarco num avião para viajar de férias com a família e existe um risco real da aeronave cair e todos morrerem, no entanto a gente não controla totalmente os pensamentos. Principalmente os ruins.

A gente cria os filhos para a vida. A gente cria os filhos para a vida. A gente cria os filhos para a vida. Repeti o mantra e assinei. Do momento tão especial, a Luiza só colheu a foto do ônibus na chegada. O que a Mariah mais gostou foi a cortina.


Foto adicionada em 15-05-2012


A forra

A Mariah outro dia passou a tarde de um final de semana na casa da Ana Beatriz. Demos a forra sábado passado.



Milagre econômico

"É a economia, idiota!"

Dizem que este foi o lema do marketeiro que cuidou da vitoriosa campanha do Bill Clinton para a Casa Branca. O otimismo da população e a bonança econômica permitem que sejam feitos determinados atos políticos que a gente em condições normais não entenderia. Como aceitar a tortura e a repressão comendo solta no governo Médici? Simples: o país estava passando pelo Milagre Econômico da mesma forma que estamos passando hoje.

A Dilma sabe disso. Ela sabe que tudo pode naquele fortalece e o que está a fortalecendo o milagre econômico atual é a China, que fez o favor de disparar o preço das matérias primas que exportamos como petróleo, soja e ferro. A redução da remuneração da caderneta de poupança seria políticamente inviável em qualquer outra época e a mudança das regras de aposentadoria dos novos servidores públicos nem gerou muito assunto na Internet. É o céu de brigadeiro.

Com o país crescendo a demanda por engenheiros cresce. Aí descobrimos que nos anos 90 e 2000 abrimos muitas escolas de direito e administração e poucas escolas de engenharia. Criar um curso de engenhraria é naturalmente mais complicado porque o curso exige laboratórios, além do fato de não ser tão fácil achar professores.

A demanda por engenheiros cresce na mesma proporção que a ilusão das pessoas com o ofício. Claro que existem ilusões com a medicina e qualquer outra profissão, porém só com a  engenharia eu presencio esta uma mudança tão rápida na percepção das pessoas.

Mas hoje eu recebi um e-maiil de uma das listas de discussão que eu participo e consegui autorização do autor para publicar aqui. Não há edição, apenas alguns cortes na mensagem para filtrar só o que interessa ou preservar a privacidade das pessoas.

Para quem está prestando ENEM ou vestibular este ano, aqui está a realidade de um engenheiro eletrônico:

"Eu vejo assim, MSX, eletrônica, programação em Assembly e C, cafeína.... São vícios, não consigo largar. Eu olho pra minha cafeteira que custou 250 pilas e já fico imaginando um controlador de temperatura e pressão nela..."
 Comentário: igualzinho ao Newtinho, só que a minha cafeteira é bem mais barata.

"A minha escolha é bem racional. Acontece que após todo esse tempo na iniciativa privada, eu não consegui me encaixar numa empresa, num modelo, que me desse o retorno pessoal e financeiro desejado."
Comentário: É difícil se encaixar bem em qualquer emprego.

"Hoje, ser funcionário público me proporciona algumas benesses, como por exemplo um plano de saúde barato e excelente e direito real de tirar os merecidos 30 dias de férias ao ano. Claro que o trabalho burocrático e repetitivo é o ponto baixo. Mas, usando uma pequena parte da minha "CPU" eu consigo ser um funcionário honesto e excelente, e repouso todos os dias a cabeça tranquila no travesseiro, sabendo que outros no meu lugar não fariam um trabalho melhor.

E o que sobra de CPU fica pra usar no tempo livre."

"Antes de reclamar do meu emprego atual, eu lembro que:

- Passei por 5 empresas e não me deixaram tirar férias em nenhuma delas
- Fui mandado embora, apesar de ter desempenho excelente, só porque fizeram besteira em outros países e as ações caíram repentinamente de $87 para $2...
- Tive que desenvolver o software para um projeto com 4 MCUs [MCU é um pequeno processador] e 11 motores de passo usando o SDCC [SDCC é um software de programação gratuito] porque o sovina do meu ex-patrão, que estava construindo casa em condomínio fechado, trocava de carro importado todo ano, e viajava com a família pra Europa, não queria me comprar um compilador...
- Nesse projeto perdi 15 dias ouvindo abobrinha até descobrir que o SDCC não estava fazendo OR entre 2 bits corretamente...
- Nesse mesmo projeto, originalmente eu ia interligar as 4 placas por i2C e usar bibliotecas prontas mas aí o espertoman resolveu economizar 3 transistores e transformou uma das linhas em unidirecional, o que obrigou a reprogramar e debugar todo o protocolo... mais um mês de trabalheira...
- Durante uns 4 meses fiquei ouvindo que o software de acionamento dos motores de passo estava bugado, e batendo cabeça porque o motor perdia o passo, até que o infeliz viajou pra Europa e aí eu pude desmontar a parte mecânica e finalmente descobrir que pra economizar ele não tinha mandado fazer e colocar um espaçador de alumínio entre os 2 rolamentos do eixo principal. Os rolamentos estavam assentando tortos e sobrecarregando o eixo...
- No outro projeto no qual trabalhei 1 ano, ele arrumou um aparelho importado emprestado, o qual não podia ser aberto pois era novo. Usando um MCU antigo, tecnologia de uns 15 anos atrás que ele já tinha em estoque ele fez a placa e eu tive que me virar para copiar todas as funções do aparelho original, que havia acabado de ser lançado. Foi engenharia reversa sem ver o que tinha dentro. No final consegui deixar a cópia exatamente igual a original importada, e como sobrou um pouco de memória, acabei implementando funçoes extras. Como sempre, o patrão estava reclamando da demora no projeto. Eu mandei um e-mail pra fabricante original, dando um migué que era cliente e usava os produtos deles, perguntando algumas coisas. Eles me responderam que o projeto original ocupou uma equipe de 50 pessoas por aproximadamente 18 meses. Além de escrever o software, eu testei tudo e ainda fiz o manual, traduzido para PT-Br [português] e com as figurinhas escaneadas do manual original... Até hoje esse é um dos poucos produtos que tem um manual completo e decente no site da empresa.
Mudei de empresa - pra ganhar um pouco menos, mas queria sossego... Logo tava dando manutenção sozinho num código de 65.000 linhas do produto que representava 40% das vendas.
 - Outro projeto que desenvolvi com mais 1 engenheiro e mais 1 estagiário foi vendido pela empresa por 6 milhões de reais, e ganhamos PLR [participação nos lucros] de 1,5 salário enquanto o vendedor além da comissão ganhou um bônus de 150 mil...  Adivinha quem ficou dando suporte 2 anos depois sem ganhar nada mais por isso.
- O último projeto, para o qual orientei a confecção da placa e debuguei os protótipos. Sofri muito porque teve 6 versões de PCB [placa de circuito impresso, onde os componentes são soldados] . O PJ [pessoa jurídica] que fazia as placas era "pelego" e protegido do diretor, e apesar dos repetidos e consecutivos erros não era penalizado ou  trocado - eu requisitava as mudanças e ele não fazia ou fazia errado - e escrevi todo o software começando de um arquivo vazio com void main { void } foi vendido por 1,5 milhão e no final do ano a empresa fez uma manobra fiscal pra ter um leve prejuízo e não pagar PLR pra ninguém... Nessa última época eu era gerente, mas sem ter nenhum gerenciado. Eu tive que acompanhar os malas do comercial, fazer todo o serviço de relatórios e documentação pra ISO [acho que ele está citando a ISO-9000] do projeto,  fazer o projeto, e até que acompanhar implantação do mesmo em campo...

Por isso, se algum dia eu voltar a trabalhar para enriquecer alguém, esse alguém forçosamente será eu mesmo... :-)"

A Culpa é da lasanha

Esta sexta-feira eu tenho um monte de coisas para atualizar. Comecemos pelo e-mail que eu recebi esta manhã e que proprocionou lágrimas de tanto rir.

Eu almoço com certa frequência com o povo do suporte técnico de uma outra diretoria. É garantia de boas gargalhadas.

O problema é que o Lenz e o Índio Velho não se entendem . O Lenz sempre preferiu os restaurantes "naturais", com uma comida supostamente mais leve e mais saudável. O Índio Velho só tinha olhos para um restaurante chinês ou para um rodizio de massas. Quase 100% das vezes a escolha coletiva era o rodízio, que o Lenz sempre argumentava que engordava e fazia mal.

Com o tempo, a simples decisão de onde almoçar virou quase um debate ideológico. O rodízio era povão, "de esquerda" e o natural era elitizado, "de direita". Uma discussão que não fazia nenhum sentido e só gastava o nosso tempo.

Paralelamente, Índio Velho jogava sujo, afirmando que o restaurante natural era frequentado por pessoas com cara de doente e que só conversam sobre médicos e doenças. O curioso é que este e-mail do Lenz acaba confirmando a teoria do Índio Velho, que ele tanto refutava.


Eis, segundo o Lenz, o resultado (a imagem foi editada para preservar sobrenomes e demais informações)



sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sempre na vanguarda

Olha o que eu escrevi aqui:

Capitalismo primitivo

 "Mas esta reflexão é pertinente porque o governo tenta baixar os juros e, se conseguir, a festa do dinheiro fácil e com baixo risco pode acabar. Pessoas com pequenas quantias acumuladas com o o suor do rosto terão que mudar os investimentos para conseguirem taxas melhores. Algumas soltarão fogos de subúrbio - aqueles que só fazem barulho e enchem o nosso saco, mas não iluminam - se conseguirem retornos de 3,5% ao ano acima da inflação. Um novo tempo talvez se inicie e se a nossa mentalidade medieval mudar poderemos gerar milhares de empregos e aquecer a economia, desde que percebamos o valor do Pequeno Sócio de Capital."

e olha o que o professor da USP disse meses depois:

http://blog.kanitz.com.br/2012/04/governo-reduz-juro-em-25-num-%C3%BAnico-dia-tsunami-financeiro.html

"Ninguém se deu deu conta de que o Governo agora só vai pagar 2% ao ano, que agora vai sobrar dinheiro a rodo para gastar em investimentos e projetos sociais."

Ainda vou ganhar dinheiro cobrando consultoria.

O elo perdido

Mariah está apaixonada pela professora. Não estou com ciúmes, pelo contrário: estou muito feliz! É bom demais ver uma criança apaixonada pela escola e pelo ato de aprender.

- Vou escrever a letra que a minha tia Tathi me ensinou! - diz a pequena, com uma ponta de orgulho e amor próprio.

Mudo o foco para Luiza. Ela está refletindo e pergunta-me onde está o "elo perdido", em algum momento, por algum motivo, o professor vira um estorvo, um chato, quase um inimigo.

Já delimitei que este elo perdido ocorre certamente entre o infantil 4 e a faculdade de engenharia.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Comerciais para um PA



Num dos foruns que eu participo, estávamos discutindo a qualidade atual das máquinas de lavar roupa. Choro antecipadamente por todos os que compram certas marcas novas porque dentro de cinco anos não encontrarão peças e o destino será o gatilho e a amargura.

Mas eu procurava no YouTube informações sobre as antigas lavadoras White-Westinghouse - coisa de quarentão, pois os jovens nem sabem o que significa Sharp, Sanyo e Telefunken - e acabei encontrando um comercial que eu me lembro quando passava na TV. Aproveitei para buscar mais outro, o do condenado que desejava um Fiat 147 como seu último pedido. Coisas de quarentão que tem dificuldade de lembrar bobos compromissos de trabalho, porém não esquece comerciais da pré-adolescência.

Aliás, mulher gostosa de calcinha e sutiã era realmente inesquecível para os pré-adolescentes da época.






Reparem que o corte de cabelo evoluiu nestas duas décadas mais que o design da lingerie.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Tinker Bell

Ontem a Mariah recebeu o Henrique na nossa casa. Enquanto eu tentava ver o Fantástico um brinquedo pulava de mão em mão e me despertou a atenção. Era bastão com a fada Sininho em cima que girava umas luzes quando se apertava um botão.


Reparei que a pilha estava fraca e fui trocar. Só então percebi que o brinquedo usava a mesma pilha que foi fornecida quando compramos, e isto foi em setembro de 2010. A pilha foi esta, que, para variar, nunca vi à venda no Brasil.



Nem é preciso lembrar que, se fosse com pilhas que compramos no Brasil, o brinquedo já estaria perdido porque as pilhas teriam inundado o compartimento com aquela gosma corrosiva.

Enquanto pensava em escrever este tópico lembrei de um fato que ocorreu na nossas férias de 2005, na Espanha: os marinheiros de primeira viagem não levaram um carregador de pilhas adequado para 220V e, quando as pilhas recarregáveis se esgotaram, passamos a comprar pilhas alcalinas na máquina fotográfica e as pilhas da marca Kodak também tinham uma durabilidade incrível.

domingo, 15 de abril de 2012

Geração Z

Quando você opta por não bater, a educação de um filho torna-se mais difícil e mais cheia de dúvidas. O caminho da palmada é ruim, mas é certo e seguro de certa forma. Seguro no sentido de que o resultado é previsível, um adulto padronizado e adaptado à violência, opressão, hierarquia e insegurança.

A opção foi a não-violência e a baixa hierarquia. Tudo é negociado, explicado, justificado, exaustivamente debatido. Se dá trabalho com uma criança de quatro anos, eu temo pela adolescência. Mariah é um laboratório vivo e ativo. A metodologia funciona e nos adaptamos bem rápido: nos enojamos quando vemos uma mãe tratando um filho de forma rude e áspera, como se fosse um lixo inimigo, mesmo que sejam só palavras. Isto não é educar ou preparar um filho para a vida, é descontar nos mais fracos e vulneráveis as nossas frustrações. O curioso é que as mães, que são consideradas como a fonte de carinho de uma família é que costumam tratar mal os filhos na rua.

Quando as empresas começaram a ficar grandes, durante a Revolução Industrial, os empresários não tinham uma referência. Até então empresas grandes eram formadas basicamente por fazendas de monocultura, algo fisicamente distante para um inglês comum que pouco sabia de Antilhas e Barbados, embora adorassem o açúcar e o tabaco produzido naquelas terras. Sem falar que administrar uma fazenda muito grande com centenas de escravos é naturalmente uma adaptação do gerenciamento de uma fazenda média com dezenas de escravos e isto eles já sabiam desde antes do Império Romano. A referência, o norte então foram duas instituições seculares que aparentavam funcionar com elegância e harmonia: o exército e a Igreja. O resultado é que grandes organizações que hoje vendem pelo marketing que são modernas, no fundo são altamente tradicionais, conservadoras e hierarquizadas. Tudo que eu e a Luiza não estamos ensinando e doutrinando a Mariah.

Sinceramente não sei se a pequena vai se adaptar e se sujeitar ao sistema. Pode ser que sim, espero que não. Da mesma forma que a criação não está sendo tradicional, embora eu conheça muitos pais que criam os os filhos desta forma, a busca pela felicidade - que não se resume a um emprego seguro e bem remunerado numa empresa tradicional - também pode ser inovadora. Prefiro assim: ser um amigo e orientador presente e um pai abstrato que o contrário.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Filho de mim mesmo

Antigamente os adultos não dirigiam a palavra a crianças, a menos que a intenção fosse dar bronca. Contei isto uma vez para o meu sobrinho João, de 14 anos, e ele não acreditou. A vida muda tão devagar que nem notamos, mesmo o siginicativo.

Sabia que o Governo já definiu o preço de refrigerantes? Em 1986 uma garafa de 290ml de Coca-Cola custava Cz$1,90. Ridículo, não? Foi logo ali, em meados dos anos 80.



O meu pai teve vários irmãos, mas eu só conheci um: tio Nely, seu melhor amigo. Religiosa e quinzenalmente ele ia na nossa casa almoçar, mas eu lembro pouco dele, embora tenha morrido quando eu já era adulto, muitos anos depois de meu pai. Lembro detalhes pontuais e sem muita conexão: ele era solteirão, morava em Niterói na casa de um sobrinho e trabalhou muitos anos numa fábrica de tecidos que existia na Usina, a região da Tijuca que fica imediadamente antes do Alto da Boa Vista. O que eu conto além disso são relatos de segunda mão, fornecidos basicamente pelos meus irmãos Dalton e Paulinho. Não que não sejam fontes confiáveis, mas é natural do cérebro humano generalizar, omitir e distorcer, ainda que seja sem querer e só um pouquinho.

Os seis filhos que os meus pais fizeram não foi uma produção constante no tempo; entre o Lúcio e o Dalton existe uma lapso de 11 anos. A tabelinha funciona até certo ponto. Alceste é 20 anos mais velho que eu. Paulinho 18, Lúcio 17, Dalton 6 e André 3. Newton chega e logo depois a menopausa. Que sorte!



O Paulinho sempre dizia que o tio Nely só passou a falar com crianças um pouco depois que a gente nasceu, início dos anos 70. Até então ele só dirigia a palavra para os adultos da casa: meu pai, minha mãe e minha avó. Hoje isto soa completamente estranho, mas era absolutamente comum na época. Aliás, foi a Luiza quem me fez lembrar deste detalhe, pois na família dela este desprezo também acontecia.

Baseado no que o Paulinho falou, a mudança comportamental deve ter ocorrido entre o final dos anos 60 e o início dos anos 70. Hoje eu vejo que uma criança é uma máquina familiar de união, de fazer novas amizades, de ter mais contato com as pessoas próximas, de fazer a vizinha parar para dizer que ela está crescendo e lembrar que o tempo voa. São estas pessoas que nasceram no final dos anos 60 e início dos anos 70 que hoje chamamos de geração X. É tão bom rotular. Qual será a geração da Mariah? Z?

Outro dia o Joelmir Beting disse que gostaria de ter nascido nesta época, que queria ter sido filho dele mesmo. É um otimista: quando eu nasci, em 1972, o Brasil também vivia sua fase de otimismo excessivo. Era o Milagre Econômico. Dezoito anos depois, a coisa estava tão feia que nem estágio para conseguir o diploma de segundo grau a gente conseguia.

A expressão do Beting ficou na minha cabeça: "(...) queria ser filho de mim mesmo". Acho que ele está certo. Queria ter a vida boa que a Mariah leva. Pelo menos os tios sempre falaram com ela, desde quando apenas balbuciava.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Eduarda e Vitória

Semana santa fomos para Rio das Ostras, passar a Páscoa com a família do meu cunhado. Mariah estava doida de saudades. Ela também acha o máximo uma casa com escada e a casa da madrinha tem uma que dá acesso aos quartos.

Casa com escada é muito bonita em fotos de revistas de arquitetura e decoração. Com uma criança é exigida atenção redobrada por parte dos adultos. Considere também que o encanto passou logo nas primeiras horas de estadia, quando o sobe e desce cansativo começou pois a minha filha tem pouco mais de um metro de altura.

- Dinda, por que você não tem elevador? - inquiriu a nossa gotinha de gente.

E aquilo ficou na cabeçinha dela. Lá dentro, bem íntimo, e nós descobrimos no engarrafamento de domingo, quando passamos 6 longas horas até chegar em casa: na altura de Itaboraí, Mariah inventa uma brincadeira dentro do carro para passar o tempo. A sola do pé direito virou a Duda, e a sola do pé esquerdo virou a Vitória.

Ela alinhou as solas e iniciou a conversa, para o nosso deleite:

- Oiiiiiiiii, tudo bem? Eu sou a Duda!

- Oi, eu sou a Vitória!

- Sabia que eu moro numa casa com elevador e escada?

- Eu também estou fascinada porque eu moro numa casa com elevador e escada!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Existe almoço grátis

Meu cartão já estava ficando realmente velho. A carteira não ajudava e já tinha um quebrado na borda da tarja magnética que se alastrava. São muitas horas sendo sufocado numa carteira velha e comprimido por uma bunda gorda sentada. Pobre cartão: será quebrado em pedacinhos e jogado no lixo após anos de bons serviços prestados. Fico pensando no banhado de ouro que o contato do chip leva. Este ouro estará perdido.

Há cerca de um mês toda vez que eu ia sacar o meu suado dinheirinho aparecia uma mensagem que o meu cartão seria substituído, só que o novo não chegava. Decidi então parar de procrastinar e mudar de agência, porque a antiga fica em Botafogo, da época que eu trabalhava em Furnas. Quando eu saí da empresa, em 2006, por puro comodismo mantive a conta e ficou por isso mesmo. Nestes 6 anos não lembro de precisar ir na  agência.

Mas achei que já era hora de ser cliente espacial. Na verdade descobri que a hora já tinha passado em 2010, quando fui com a família para os EUA e descobri que o cartão Visa Platinum paga o seguro do carro lá. C'est la vie... Fui na agência do outro lado da rua, fui atendido por uma gerente de relacionamento que me lembrava a Desirée Oliveira, atriz do Zorra Total, e me entreguei à burocracia. Estou nas nuvens pois sou cliente espacial.

Gerente, como você pode entregar um cartão sem dinheiro na conta?


Na verdade o meu sexto sentido sempre me dizia que a mudança iria ser de alguma forma traumática, mas ele também dizia que eu tinha que passar por isso. No dia 10-04-2012 uma funcionária me ligou dizendo que o meu cartão cheio de glamour estava pronto. Fui na agência, peguei o cartão e novamente abracei a burocracia. O token eu já tinha recebido. A funcionária avisou que não era possível sacar naquele momento porque a máquina estava sem dinheiro. Eu deveria ter ido em outra máquina.

Ontem, 11-04-2012, eu fui sacar e descobri que não havia dinheiro na conta. Na verdade me deram um cartão, porém o dinheiro não foi transferido de uma conta para a outra. Quando eu fui almoçar, não tinha dinheiro em espécie, mas portava dois cartões de crédito que não autorizaram o pagamento. Tentei inutilmente pagar com o Visa Eletron do cartão do banco e, como previsto, não foi liberado. Fiquei na pista. Fiquei na fila do restaurante.

Aguardei uns bons segundos para ver se a gerente se coçava e me liberava para pagar mais tarde. Almoço neste mesmo restaurante no mínimo duas vezes por semana e é impossível que ela não perceba no meu rosto uma figura familiar. Aliás, é para isto que eu sou gordo: para ser inesquecível e facilmente reconhecido. Nada, Poker face.

Gerente, deixa eu pagar depois?


Peguei o celular com 14 reais de créditos e fui à guerra. Nestas horas eu esqueci o número de todos os meus amigos fisicamente próximos que poderiam me livrar deste constrangimento horrível. A única solução que eu encontrei foi ligar para o banco em busca de um fígado para comer vivo. Atendeu um homem e ele disse que a Desirée estava no almoço e enquanto eu tentava uma solução eu novamente descubro que o Altíssimo gosta muito de mim. Adivinha quem estava na fila para pagar o restaurante? A Desirée!

Devorei-a num esporro e ela pagou a minha conta. Coisa pouca, menos de 21 reais. Mas o pior foi a gerente, na maior cara de pau, do lado da Desirée, chega para mim e, como se não fosse com ela, começa a falar mal de banco. Levou um esporro para o lar, também.

Não, não vou colocar o banco na justiça e quem está me sustentando enquando não executam a tranferência de dinheiro entre contas é a minha amada esposa. Sempre sonhei em ser bancado por uma mulher bonita.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pictogramas

Sempre quis saber de onde vinham aquelas figuras famosas que é um boneco com a cabeça simbolizada por um círculo e sem pescoço. Era muito comum em banheiros públicos, para diferenciar o feminino do masculino. Depois a criatividade dos comerciantes foi aumentando e hoje colocam gravatas, chapéus e outros objetos no lugar dos simpáticos bonequinhos.



De onde eles vieram? Simples: durante os jogos olímpicos de Tóquio os espertos anfitriões sabiam que seria uma confusão danada conhecer a cidade durante os jogos para quem não dominasse o idioma japonês. Então eles usaram os geniais pictogramas. Os bonequinhos foram aprimorados nas olimpíadas de Munique e são estes que influenciaram até pouco tempo o design comercial.


Créditos à bela Nicole, minha designer predileta!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Momento Diogo Mainardi

Quando uma pessoa diz que vai comprar um ar condicionado novo quase sempre ela suspira e diz, num murmúrio de prazer: split.

É curioso como o citoyen quer comprar um equipamento que ele não tem a mínima noção de como é e como funciona. O meu irmão achava que split era só a parte interna e levou um susto quando eu falei que existia uma unidade condensadora, aquela trolha que fica do lado de fora. Acho que o povo vê o dividido nos consultórios de conveniados da UNIMED e acha o máximo, até porque médico entende das coisas! De pâncreas a splits.

Uma instalação de qualidade de um split pode sair mais caro que o próprio aparelho.

A maioria dos splits operam em 220V, exigindo alterações nas instalações elétricas da maioria das residências.

A limpeza e higienização corretas de um split exigem a retirada do evaporador da parede e inclui remover o gás, executar a limpeza, usar bomba de vácuo durante um bom tempo na tubulação para retirar toda a umidade do sistema e instalá-lo novamente. O ideal é realizar este procedimento anualmente. Ah, tem que limpar a unidade condensadora, também.

Alguma vez na vida você já viu alguém fazer a higienização de um split do jeito que eu mostrei acima? Sua alergia também não.

Então a questão não é técnica, porque o split só é recomendado onde não é possível a instalação do modelo convencional. A escolha de um split deriva de influència, propaganda, apelo pelo "moderno" e beleza. Beleza? Splits são feios para diabo! Já reparou como é horrível um prédio cheio de splits pendurados na fachada? Bingo! O brasileiro está preocupdo com a beleza interna do quarto ou do consultório. Que se ferre o mundo exterior. Com isso o Rio de Janeiro vai ficando ainda mais feio.

Mas é esta a essência do Brasileiro: um ser egoista, individualista, descompromissado com o coletivo.

Tome agora um outro exemplo: o que você faz com a sua lâmpada fluorescente quando ela queima? Joga no lixo, provavelmente. Toda lâmpada fluorescente, inclusive as chamadas "eletrônicas", usam mercúrio na sua composição, um metal altamente tóxico. Como o custo de reciclar é mais caro que o lucro com venda do material reciclado, ninguém recicla. Só que nesta conta não é considerado os danos ao meio ambiente que, no final, todos pagam.

sexta-feira, 30 de março de 2012

O poder do cofrinho

Luiza comprou um chocolate cuja embalagem de metal poderia ser reaproveitada como um cofrinho. Virou uma curtição coletiva e em menos de um mês encheu (o cofrinho é pequeno).



R$ 63,70

Uhu!

quinta-feira, 29 de março de 2012

Como economizar o seguro do carro

No Rio de Janeiro, algumas pessoas estão substituindo o seguro do carro por um adesivo. A maioria nem professa a Umbanda.

Testemunhas dizem que funciona e não cobra franquia.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Vinte anos

Não são cinco, não são dez. São vinte anos. Em março de 1992 eu virei aprendiz de feiticeiro e comecei a estudar Cálculo Integral e Diferencial 1, Física 1 e outras insanidades úteis.


Esqueci de comentar e comemorar esta data com o Bulha. Aguardemos um outro Coliseu das Massas.

Aproveitei para relembrar com o Rafael, um amigo de trabalho e faculdade, o nome de todos os professores do primeiro periodo. Alguns esquecemos pois o velho Alzheimer não é tolerante conosco. Ou eles não foram importantes para nós.

Ainda lembro alguns professores dos meus contatos imediatos de primeiro, segundo e terceiro graus, outros eu esqueci completamente. Esta história que só lembramos dos dedicados é pura balela, pelo menos comigo: não vejo nenhuma correlação entre os que eu me recordo, pois estão na minha memória carismáticos, secos, antipáticos, alegres, conselheiros, dedicados e enroladores.


Eu vejo a Mariah na sala brincando sozinha, reproduzindo fielmente a aula com todos os trejeitos e falas da professora, incluindo broncas e gerenciamento da rodinha de alunos e fico refletindo como a escola é importante para a nossa formação. Ela é mutio observadora e eu sinto que ela adora a sala de aula e os coleguinhas - genes da Luiza - e atualmente as "melhores amigas" estão mudando, uma verdadeira dança das cadeiras afetiva. Realmente, no fundo, os adultos imitam as crianças.



Mas a despeito deste post aparentemente melancólico, eu não estou. Só estou um pouco surpreso como passou rápido e se alguém há 20 anos atrás, naquela sala de aula calorenta do bloco E do CEFET/RJ, me dissesse como seria a minha vida em 2012 eu ficaria eufórico.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Teatrinho 0800

Flávia conseguiu uns convites para uma peça de teatro no Shopping da Gávea. Na saída encontramos o professor de música.



Aniversário da Luiza

Para não deixar passar em branco, um bolinho de chocolate faz milagres.



Madrugada de sexta...

Cena 1/Quarto do casal/Madrugada de quinta para sexta

MARIAH: Posso dormir com vocês hoje?

LUIZA: Filha, a cama é pequena. Vai ficar muito apertado.

MARIAH: É só sair um.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ser pão duro atrapalha o destino

No final de novembro de 1994 eu fui enviado para uma cidade no sudoeste mineiro que até então eu nem sabia que existia para fazer o curso de formação de operadores de Furnas. Eu tinha 22 anos e foi a primeira vez que eu saí de casa para morar em outro lugar.

Teoricamente era possível voltar toda a santa sexta-feira para o Rio de Janeiro, só que a logística era complicada. Para se ter uma ideia, o caminho mais conveniente era viajar de ônibus durante seis horas até São Paulo, SP, e depois pegar outro ônibus para ir para o Rio de Janeiro. Eram 12 horas indo, 12 horas voltando para um final se semana de apenas 2 dias. Não valia a pena e até final de fevereiro de 1995, quando terminou o curso, poucas vezes eu retornei ao Rio.

O curso era dentro da vila que foi construída ao lado da usina, um povoado isolado e um pouco decadente de menos de cinco mil pessoas que ainda guardava aquele estilo original de cidades pequenas dos Estados Unidos: ruas largas e quase sem trânsito de veículos, casas sem muro e muita, muita grama. Era bonito e tedioso. A cidade média mais próxima, com uns cem mil habitantes, Passos, estava a 40km de distância e o acesso era por meio de uma estrada que ficava entupida de caminhões na época da colheita da cana-de-açúcar.

Com o dinheiro entrando, foi possível desenvolver sofisticadas técnicas de economia. Alias, quando eu vi o meu nome na lista de aprovados publicada no Jornal dos Sports eu pensei no ato: "Beleza, trabalho duro durante 10 anos e monto a minha oficina autorizada da Philips ou da Philco e nunca mais terei patrão". Mas o tempo, o sábio, mostrou que isto era a coisa mais idiota que uma pessoa poderia pensar.

Poucas almas entendem, mas juntar dinheiro e vê-lo crescer é um prazer até maior que gastá-lo para algumas pessoas. Eu, por exemplo. Aliás, para quem gosta de juntar dinheiro, gastar é um tormento, a menos que:

1) Esteja realmente muito barato e precise do produto ou serviço;

2) Seja um sonho muito, muito antigo e, como tal, consolidado e sedimentado. Sua realização dará um prazer que superará o prazer de juntar dinheiro;

3) Seja para comprar algo que produza mais dinheiro, como uma autonomia de taxi. Eu nunca esqueço que brincava com a minha psicoterapeuta que o meu primeiro carro seria uma Kombi para ganhar dinheiro fazendo frete nas folgas.

O resultado é que em apenas 10 anos, já casado, conseguimos comprar um apartamento a vista. Eu tinha apenas 32 anos. Saudades desta época de juros altos do segundo governo Fernando Henrique e primeiro governo Lula e mais saudades do tempo que eu era uma máquina de juntar dinheiro. A máquina hoje está enferrujada.

Voltando ao curso de formação, o meu foi particularmente especial: pela primeira vez na história de Furnas duas mulheres estavam fazendo o curso para serem operadoras. Uma delas, a Dagmar, se tornou minha amiga-quase-irmã até hoje. Pena que ela mora em Goiânia.

Nossa afinidade e tão grande que ela sempre me telefonava quando eu estava triste, num momento difícil. Parece que ela adivinhava. Mas ninguém acredita nestas coisas espirituais mesmo, então deixa para lá.


O selo da nossa afinidade foi quando a filha dela nasceu no dia do meu aniversário. Não acredita? E se eu contar que a Mariah iria nascer no dia do aniversário da Dagmar? Sabe qual é a chance disto ocorrer ao acaso?  Uma em 133 mil.



Mas por que a Mariah não nasceu no dia do aniversário dela? Porque o médico obstetra que acompanhou a gravidez da Luiza era um profissional conceituado, professor universitário, cuja tese de doutoramento foi sobre uma doença que a Luiza tinha. Ele cuidou do mal e do nosso problema de fertilidade. A Mariah é, sem duvida, uma testemunha da sua competência. Só que médicos assim são caros.

Quando a Luiza engravidou, a escolha do mesmo medico que nos tratou para ser o seu obstetra foi natural. A medida que a gestação chegava ao fim, eu comecei a perguntar à Luiza se o medico já tinha acertado com ela o valor dos honorários do parto. Como um bom "pão duro certified" eu sentia que a conta seria salgada como um bacalhau do Porto, porem não imaginava que fosse tao salgada.



Segundo a Luiza, ele só informou o valor dos honorários faltando uns 10 dias para o parto. Primeiro eu fiquei boquiaberto com o fato do parto estar marcado para o dia do Aniversário da Dagmar, depois eu fiquei mais boquiaberto quando vi os valores. Eram de 3 a 4 vezes o limite de cobertura do plano de saúde.

Na primeira noite nós não dormimos. Na segunda noite nós não dormimos. Na manhã terceiro dia nosso espiríto inconformista falou mais alto e partimos à ação. Por sorte, na época do parto da Mariah, muitos amigos também ganharam bebês. Pegamos o telefone de vários obstetras e começamos a tentar.



Depois de um ou dois dias a Luiza conseguiu o telefone de uma outra obstetra. Ela tinha feito o parto de um primo da minha esposa. Conseguimos marcar a consulta por encaixe e ela aceitou fazer o parto, só que como estava muito em cima, a data foi atrasada em 3 dias. Assim, Mariah quase nasceu no dia 25 de janeiro.

E como a médica era credenciada do nosso plano de saúde, não gastamos um tostão, apenas assinamos papéis. What a wonderful world.

segunda-feira, 12 de março de 2012

É um processo

Nas minhas fantasias, o desmame da Mariah seria algo meio radical: a partir de hoje não mama e pronto. Isto talvez funcione com crianças bem pequenas, com menos de um ano, entretanto com uma criança de quatro anos a coisa é mais complicada. Ou será que eu e a Luiza fizemos a coisa ficar mais complicada?

Um vídeo famoso do Youtube, que trata do consuminsmo e da poluição, afirmava que a amamentação é o mais nobre ato de nutrição da vida de uma pessoa. Eu digo que é bem mais que isto, porque amamentar é carinho, afeto, segurança, renúncia e, claro, nutrição.

Esta semana foi decisiva. A madrinha passou 5 dias conosco, fazendo um curso, e dormiu com a Mariah no quarto e desde segunda estamos indo muito bem. Aos poucos o mamilo vai perdendo o sentido e a vida continua.

Não podemos menosprezar a criança. Ela sente a pressão por todos os lados. É a pediatra, a escola, a mãe, o pai. A gente compreendia a dificuldade e procurava tornar o processo menos doloroso. Quando ela olhava nos meus olhos e dizia: "Mas, pai, eu não consigo!" dava vontade de abraçá-la com toda a minha força e chorar.

Mas tudo tem o seu tempo e Deus sabe o que faz. Este consolo nos dá uma grande tranquilidade. Agora é o momento e ela está bem, conseguindo.

Te amo muito, filha.

sábado, 3 de março de 2012

La dolce vita

O brasileiro consome 50 quilogramas de açúcar por ano.

http://www.usp.br/agen/?p=10067


Quando anunciaram isto na TV eu e a Luiza ficamos um tempo perplexos, olhando um para o rosto do outro. Aquela coisa do "não é possível!" que depois vira uma piada velha: "estão comendo açúcar por mim!".

Cinco gotas de adoçante equivalem a uma colher de açúcar. É o que está na maioria das embalagens. Se colocarem na contabilidade este açúcar travesti que atende pelo nome de aspartame, cliclamato, sucralose aí sim a gente precisaria de Araldite para o queixo.

Considerando o ano como 50 semanas mais duas de dietas fracassadas que quase todo brasileiro faz e facilita a minha conta, dá um quilograma por semana. Jesusmariajosé. É melhor pegar os 50 e dividir por 365.

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"366! Porque este ano é bissexto..."

setenv piada_idiota off

137 gramas por dia. Estou atormentado com o resultado. Será que eu não sou um brasileiro médio? Fiz as contas e uma lata de refrigerante tem de 20 a 25 gramas de açúcar, no entanto eu só bebo refrigerante sem açúcar e, mesmo assim, estou tentando diminuir. Bem, tem que lembrar que o pão, as conservas e diversos  produtos industrializados usam açúcar na receita, ainda que o produto final não apresente gosto doce.



A verdade é que a indústria alimentícia infestou a nossa mesa de estimulantes sensoriais perigosos quando consumidos em excesso. Temos nos empanturrado destes produtos porque a fábrica quer vender e esta é, em última análise, a função destes aditivos. O mais famoso certamente é o sal, porque é eficaz e barato, assim como o açúcar e o glutamato monosódico.



Como um vício, com o tempo e sem perceber, passamos a exagerar quando preparamos os nossos alimentos e conscientemente tentamos nos livrar da indústria. Quando peço um suco na rua eu tento me policiar para não colocar adoçante antes de provar se o suco realmente precisa. É simples, sem custo extra e rápido: basta rasgar um ou dois (depende do seu nível de dependência) sachês e pronto: aqui está um delicioso e superadoçado suco de manga com leite. Este faz mal.

A comida da minha mãe sempre foi considerada como quase sem sal. Ela justificava dizendo que se habituou desde o primeiro enfarto do meu pai, mas eu nunca achei a comida da minha mãe salgada simplesmente porque o primeiro pire-paque do meu pai foi anterior ao meu nascimento e, por falta de grana, era muito raro a gente comer na rua e nunca liguei muito para salgadinhos industrializados.

Quando eu comecei a trabalhar, passei a me alimentar com frequência na rua e naturalmente a minha tolerância ao sal e aos outros aditivos foi aumentando. Depois eu conheci a Luiza, dominatrix de salgadinhos e tudo que é besteira deliciosa, e acabei com o pé na Jaca do Mau Caminho. Hoje qualquer um que não seja mexicano fica assustado com a minha desenvoltura com o molho Tabasco.


Sou da teoria que sal, açúcar e glutamato deveriam ter a carga tributária maior que o cigarro, para pagar os custos que o consumo exagerado destes alimentos geram ao sistema público de saúde. Mas já imaginou contrabandistas atravessando a Ponte da Amizade com sacos de sal?

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Humilhações

Ontem foi uma moradora de Duque de Caxias fazer faxina na minha casa. Como eu tinha um compromisso fora do meu local de trabalho, saí um pouco mais tarde e tive a oportunidade de conhecê-la brevemente. Estamos fazendo um test-drive porque procuramos uma empregada doméstica para assinar a carteira, mas ainda não encontramos uma que se enquadrasse bem nas nossas expectativas. Bem, na verdade encontramos, mas ela está empregada e relutante em sair.

Ao chegar em casa eu peguei as impressões que a minha esposa teve da profissional. Em algum momento da conversa Luiza relatou que, numa das residências em que esta senhora trabalhou, uma patroa jogou um pano de chão sujo no seu rosto.

Tratar os mais fracos e humildes desta forma indica bem o caráter de uma pessoa. Ainda existe muita cultura de senzala no relacionamento entre patroas e domésticas, algo que nunca me chamou muito a atenção. Descobri que só sendo negro para saber o que o negro sofre. O mesmo é válido para os gays, gordos e empregadas domésticas.

Poucos amigos meus sabem que eu sou neto de uma empregada doméstica. Acho a história de minha avó chocante e interessante, mas eu não lembro de ela relatar maus tratos e humilhações ( o que não quer dizer que ela não sofreu ).



É comum, nos jornais, compararem a atual crise iniciada em 2008 com a crise de 1929. Em breve teremos vários Newtinhos nascendo por aí. Eu explico: a minha avó materna era colona de uma fazenda no interior de Vassouras, região produtora da café na época. Os livros de história contam que a cotação do café despencou com a crise de 1929 e a situação financeira da fazenda ficou bastante difícil. Sobrou para a família da dona Dulce pagar parte do pato e sair da fazenda em direção ao Rio de Janeiro. Sem esta ajuda do cruel destino, a dona Dalva jamais teria conhecido o meu pai.




Por volta de 1931, quando a minha mãe estava com uns 5 anos, a minha avó migrou para a casa de uma irmã em Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O meu avô saiu de Vassouras antes, tentando sem sucesso a sorte na capital, e desapareceu. Anos depois, quando o Dalton, meu irmão no. 4, nasceu, uma lavadeira que apareceu para ajudar a minha mãe com as fraldas de pano disse que sonhou com o meu avô. Ela explicou que o sonho a deixou atordoada e que o meu avô tinha se tornado alcoólatra, foi atropelado por um caminhão de uma cervejaria e morreu, sendo em seguida enterrado como indigente. Ainda no sonho, o meu avô pedia perdão e orações.


Verdade ou ficção, a minha mãe sempre lembrava desta senhora lavadeira. Disse que passou a acreditar nela no dia anterior, quando relatou um outro sonho com a família da minha avó e falou o nome de vários tios e tias e esta senhora certamente não conhecia a família da minha avó.

Dona Dulce migrou para o Rio de Janeiro com a minha mãe e o meu tio. Imagine a barra de ser abandonada pelo marido e sair de uma fazenda para uma cidade hostil e sem nenhuma qualificação nos anos 30 e ainda com duas crianças com menos de 10 anos. Só lhe restou o trabalho como empregada doméstica. Pelo jeito trabalhava bem e tinha virtudes, pois um conceituado  economista da primeira metade do século XX a contratou para cuidar da casa da amante e no enterro da minha avó os filhos da última patroa que ela ajudou a criar surpreendentemente apareceam, numa demonstração de gratidão maravilhosa. Eram pessoas que eu só conhecia de nome, pelas boas lembranças que a minha avó tinha da família e pela saudade que sentia dos pequenos que cuidou como se fosse a mãe.

Suas roupas mostravam que não eram do nosso mundo, afinal sair da Urca para um enterro em Inhaúma só com teletransporte. O Rio de Janeiro é tão grande que chega a ser cruel. Falam que a cidade é linda, mas eu sempre vi a cidade pelo meu cotidiano de subúrbio e baixada fluminense e a perspectiva de quem observa a cidade por este ângulo é péssima: muita construção, mas pouca arquitetura, muito cimento, mas pouca árvore. O Rio de Janeiro é feio para diabo.

A Carla era linda de levantar os defuntos das capelas vizinhas e o Luís Felipe era bem apessoado com o seu rosto de engenheiro. Acho que o pai deles também foi e consolou a minha mãe. "Ela cuidou dos meus filhos até o momento necessário", teria dito, segundo relatos de mamãe. Nesta última família a minha avó já estava com uma certa idade e foi naturalmente deslocada para cuidar das crianças. Uma outra empregada fazia o serviço mais pesado. Claro que o temperamento da minha avó não melhorou e as histórias de brigas entre as duas empregadas viraram clássicas anedotas no lar dos meus pais.


Fico imaginando quantos filhos de patroa foram nos enterros das babás. Provavelmente é um evento raro. Eu entendo que a profissionalização e os questionamentos na justiça mudaram muito o perfil da profissão de trabalhador doméstico. O carinho que raramente se via das patroas com as profissionais deve desaparecer, mas ontem constatei que a humilhação na senzala continua bem forte.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Contando histórias

Quatro anos e Mariah mama. Ainda. No peito. Acho que é a única criança da creche que ainda não largou o seio da mãe. O consolo é que ela nunca gostou de chupeta e mamadeira.

A gente sente que ela quer parar, mas não consegue. É mais forte que ela este hábito com perfil de vício.

Ontem ela pediu para que eu deitasse do lado e contasse uma história. Contei a dos Três Porquinhos para mostrar o quanto eu sou criativo, o Sherazade da Tijuca. Terminada a história, após a queima do bumbum do lobo mau que tentou entrar na casa de pedra por meio da chaminé acesa, um silêncio tomou conta do quarto. Uns 40 segundos se passam e ela pede uma outra história. Contei então a da Bela e a Fera, porque vimos o filme no cinema recentemente e a trama estava viva na memória de todos. Dormiu antes da Fera voltar a ser o belo príncipe. Difícil foi o grande rei se levantar da cama sem acordar a princesa em processo de desmame.